quinta-feira, 18 de abril de 2024

22/04/2024-Segundaf Da IV Semana Da Páscoa

JESUS É A PORTA PELA QUAL ENTRARAMOS NA ETERNIDADE

Segunda-Feira da IV Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 11,1-18

Naqueles dias, 1 os apóstolos e os irmãos, que viviam na Judeia, souberam que também os pagãos haviam acolhido a Palavra de Deus. 2 Quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis de origem judaica começaram a discutir com ele, dizendo: 3 “Tu entraste na casa de pagãos e comeste com eles!” 4 Então, Pedro começou a contar-lhes, ponto por ponto, o que havia acontecido: 5 “Eu estava na cidade de Jope e, ao fazer oração, entrei em êxtase e tive a seguinte visão: Vi uma coisa parecida com uma grande toalha que, sustentada pelas quatro pontas, descia do céu e chegava até junto de mim. 6 Olhei atentamente e vi dentro dela quadrúpedes da terra, animais selvagens, répteis e aves do céu. 7Depois ouvi uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro, mata e come’. 8 Eu respondi: ‘De modo nenhum, Senhor! Porque jamais entrou coisa profana e impura na minha boca’. 9 A voz me disse pela segunda vez: ‘Não chames impuro o que Deus purificou’.  10 Isso se repetiu por três vezes. Depois a coisa foi novamente levantada para o céu. 11 Nesse momento, três homens se apresentaram na casa em que nos encontrávamos. Tinham sido enviados de Cesaréia à minha procura. 12 O Espírito me disse que eu fosse com eles sem hesitar. Os seis irmãos que estão aqui me acompanharam e nós entramos na casa daquele homem. 13 Então ele nos contou que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa e dizer: ‘Manda alguém a Jope para chamar Simão, conhecido como Pedro. 14 Ele te falará de acontecimentos que trazem a salvação para ti e para toda a tua família’. 15 Logo que comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, da mesma forma que desceu sobre nós no princípio. 16 Então eu me lembrei do que o Senhor havia dito: ‘João batizou com água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo’. 17 Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós que acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus?” 18 Ao ouvirem isso, os fiéis de origem judaica se acalmaram e glorificaram a Deus, dizendo: “Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!”

Evangelho: Jo 10,1-10

Naquele tempo, disse Jesus: 1“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”. 6Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. 7Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. 8Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. 9Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.

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A Salvação De Deus É Para Todos Os Convertidos

Lucas, o autor dos Atos dos Apóstolos, dá muita importância ao episódio do pagão convertido, Cornélio, em seu livro. Para este assunto Lucas dedica os capítulos 10 e 11 dos Atos. Hoje lemos, como Primeira Leitura da missa, At 11,1-18, em que Pedro é obrigado a explicar todo o episódio, pois a comunidade de Jerusalém questiona sobre o comportamento de Pedro em deixar os pagãos se tornarem cristãos.

Nestes textos (At 10 e 11) se fala de um assunto muito importante para Lucas: admitir ou não admitir os pagãos à fé cristã, e com que condição? A conversão de Cornélio (era pagão) e sua família à fé cristã é o protótipo para outros casos, como foi o episódio do eunuco Etíope convertido com o diácono Filipe.  

A exegese descobre neste relato duas tradições distintas referindo-se a dois problemas diferentes. Uma tradição admite a entrada dos pagãos na Igreja (At 10,1-18; 18,26; 11,1.11-18). Outra tradição, que se preocupa mais com a pureza ritual, trata das relações entre cristãos circuncidados (judeu-cristãos) cristãos incurcindados (At 10,10-16; 11,2-10). Trata-se de uma tradição mais fechada e intransigente com as novidades. Essa tradição defende os costumes judeus. Posteriormente, os adeptos dessa tradição darão o que falar, pois deles saem os grupos judaizantes que criarão dificuldades sérias em algumas das comunidades evangelizadas por Paulo. As perspectivas das duas tradições permanecem bastante autônomas. 

Vemos o processo de mudança que se dá em Pedro. Por sua formação judaica, Pedro não podia admitir tão facilmente a abertura universal da Igreja ao mundo pagão simbolizada na visão da toalha e os alimentos que não se podiam comer: “De modo nenhum, Senhor! Porque jamais entrou coisa profana e impura na minha boca!”, reagiu Pedro. Recordamos a recusa de Pedro quando Jesus estava para lavar seus pés (Jo 13,6-11). Agora chegou a mudança. O argumento que convence Pedro, logo a comunidade também, é que Deus tomou a iniciativa: “Não chames impuro o que Deus purificou” (referente às comidas). “João batizou com água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo. Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós que acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus?”, argumentou Pedro diante da comunidade judeu-cristã em Jerusalém (desta vez referido à admissão dos pagãos). O Espirito Santo vai guiando Pedro para a universalidade da fé cristã. Já que os Apóstolos não se decidiam, foi o próprio Espirito Santo que batizou a família de Cornélio, com o “novo Pentecostes” que agora sucede na casa de um pagão.

Outra dado admirável merece ser notado é que Pedro, autoridade máxima, aceita a interpelação crítica de alguns membros da comunidade de Jerusalém. Pedro não se precipita em tomar decisão. Ele dá explicações oportunas para a comunidade. E a comunidade as aceita, reconhecendo que “Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!”.

A lição da abertura da comunidade apostólica, superando as dificuldades que surgiam por sua formação anterior, é sempre atual para a Igreja. Isto supõe que a Igreja em geral e cada membro da Igreja em particular sejam dóceis aos sinais com que o Espirito Santo nos quer conduzir para as fronteiras sempre além do habitual. A razão é simples, mas profunda: Deus quer salvar todos os seres humanos. Da parte de Deus há abertura permanente. A porta da salvação é aberta para quem decidir entrar. Ser pagão não é questão pertencer ou não pertencer a uma crença. Ser pagão é questão de modo de viver fraternalmente. Quando vir no rosto do outro meu próprio rosto e no seu coração, o meu próprio coração, logo pertenço a Deus mesmo que eu não faça parte de uma crença ou religião (leia Mt 25,31-46). 

Aprendemos também de Pedro e da comunidade de Jerusalém que o diálogo sincero resolve um momento de tensão causada pelos conflitos, que poderia se tornar muito grave. A palavra “conflito” provem do latim “conflictu” significa, “choque; embate; luta”. O conflito é uma situação que envolve um problema, uma dificuldade e pode resultar posteriormente em confrontos, geralmente entre duas partes ou mais, cujos interesses, valores e pensamentos observam posições absolutamente diferentes e opostas. Mas através de um diálogo sincero haverá o encontro em vez de confronto. Em cada diálogo há encontro. Mas em cada confronto há guerra. Numa guerra ninguém sai vitorioso, pois de dois lados há vítimas que não são poucos. Em tudo é preciso ficarmos dóceis ao Espirito Santo para que tudo seja resolvido na paz do Senhor.

Fica para nós pergunta: será que somos dóceis aos sinais com que o Espirito Santo nos quer conduzir para além do habitual de acordo com o plano missionário e universal de Deus? Será que somos vítimas de ataduras de nossa formação anterior, como Pedro no seu caminho inicial para a abertura da Igreja para o mundo pagão? Será que praticamos discriminações que são contrárias ao amor universal de Deus e à vontade ecumênica de Seu Espirito? Como resolvemos os conflitos e as tensões inevitáveis que surgem numa comunidade ou simplesmente na comunidade da qual fazemos parte? Sabemos dialogar ou só queremos impor? Estamos no mundo atual em que tudo se acelera. A mudança do tempo nos leva ao tempo de mudança: nossos conceitos, nossa mentalidade, nossos hábitos e assim por diante. É preciso pedirmos a inspiração do Espirito de Deus para que tenhamos o discernimento diante dos acontecimentos. 

Jesus É a Porta Para a Vida Abundante

O discurso de Jesus sobre a porta das ovelhas e o Bom Pastor se apresenta como continuação lógica da perícope imediatamente anterior, sobre o cego de nascença (Jo 9) que termina com a acusação de cegueira dirigida (por Jesus) aos fariseus. Para Jesus os fariseus são os guias cegos e falsos pastores para o povo. Em contrapartida, Jesus se apresenta como o Bom Pastor.

O texto do evangelho de hoje é o início do discurso de Jesus sobre o Bom Pastor. Na passagem do evangelho deste dia, Jesus se identifica explicitamente com a porta das ovelhas: Em verdade, em verdade eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas (v.7).

Na época todos os rebanhos do mesmo pastor ficavam no mesmo curral. E o pastor procurava deitar-se na entrada desse curral por onde os rebanhos entravam e saíam, tornando-se assim a própria porta do curral (redil). O pastor é quem levava os rebanhos para as pastagens e trazia de volta para o redil (curral). Isto nos indica a função do pastor sobre os rebanhos como guia, protetor e guarda dos mesmos. 

Eu sou a Porta”, diz Jesus. A porta, o portão e o portal, analogicamente à ponte, eram na antiguidade figurações da passagem deste mundo para a vida após a morte, da esfera profana para a sagrada, da escuridão para a luz. Outros simbolos relacionados à porta é a porta trancada que se refere a um segredo escondido e também à proibição. E a porta aberta é um convite para passar ou também um mistério revelado.

Eu sou a Porta”. A porta sugere a ideia da passagem, do limiar entre o conhecido e o desconhecido, o aquém e o além, a luz e as trevas, a privação e o tesouro. Ela se abre para um mistério; ao mesmo tempo leva psicologicamente para a ação: uma porta sempre convida a ultrapassá-la para sair através dela ou para se proteger dentro dela. Neste sentido, a porta significa como barreira/segurança e proteção (observe bem as portas das casas do mundo moderno: fortes com um intuito de dificultar a entrada de ladrões/assaltantes). Era na porta da cidade que recebiam os que chegavam e se despediam, os que partiam. Por isso, a porta era o símbolo de acolhimento ou carinho.          

Quando Jesus declara que é a porta das ovelhas, evidentemente esta expressão tem significado funcional enquanto indica a missão salvífica de Cristo, a mediação universal para a vida e para a revelação divina. Jesus, ao proclamar-se a porta das ovelhas, apresenta-se como o lugar no qual encontra a vida e a salvação. Em Jo 10,9 Jesus esclarece que para sermos salvos e termos a vida em abundância devemos passar pela porta, que é a sua pessoa divina; o escopo da sua vinda ao mundo é o dom da vida e salvação plena (v.10). “Eu sou a porta”, Jesus está nos dizendo que somente por ele entramos na cidade de Deus, e somente nele encontramos o abrigo, a segurança e a proteção (cf. Mt 11,28). Ele nos acolhe cada vez que recorrermos a ele: “... quem vem a mim eu não o rejeitarei” (Jo 6,37). As imagens de Cristo nas portas medievais referem-se à frase de Cristo “Eu sou a porta”. A Virgem Maria é frequentemente invocada com o epíteto “porta do céu”, entrada humana e divina através da qual o Filho de Deus adentrou no mundo.     

Mas não podemos ficar presos neste sentimento de segurança e de consolo. Temos que nos esforçar para que possamos conhecer o Senhor Jesus e seus caminhos, pois este conhecimento nos leva ao autoconhecimento. Ao conhecer o Senhor e seus caminhos, nós saberemos quem somos nós e quais são caminhos pelos quais temos que passar e seguir. Para conhecer Jesus e seus caminhos nós, como bons rebanhos, precisamos estar sempre com ele: através da oração sem cessar e da meditação da Palavra de Deus para captarmos melhor os sinais da presença de Deus na nossa vida e ao nosso redor.          

Essa doutrina cristológica contém mensagem de importância excepcional para nossa vida de fé e nossa missão de guia ou pastores. Jesus Cristo é o mediador perfeito em sentido descendente e ascendente; na direção vertical e horizontal. O Pai comunica a revelação de sua vida de amor ao homem por meio de seu Filho (cf. Jo 1,17s); a salvação é dada ao homem somente por meio do Filho unigênito (Jo 3,14ss); a vida divina foi trazida ao mundo por meio de Jesus (Jo 14,6). E o homem pode subir até Deus unicamente por meio do seu Filho, que é a vida (Jo 14,2-6); a vida de comunhão com o Pai só é possível através de Jesus Cristo.                     

Um outro aspecto do discurso é o de ternura ou afetividade: “...as ovelhas escutam a sua voz porque conhecem a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora” (vv.3-4). Jesus se apresenta numa atitude de ternura com as ovelhas. Ternura é amor respeitoso, delicado, concreto, atento e alegre. Ela é amor sensível, aberto à reciprocidade, não ávido nem ganancioso, nem pretensioso ou possessivo, mas forte na sua fraqueza, eficaz e vitorioso, desarmado e desarmante.  Na nossa vida facilmente desvalorizamos a dimensão afetiva. Dedicamos muito mais atenção à dimensão do fazer, do produzir, do ter, esquecendo-nos das outras dimensões ligadas às afetivas. Isto pode acontecer dentro de família, pois cada um acaba correndo atrás de seus compromissos, descuidando de cultivar os relacionamentos afetivos entre as pessoas. Podemos imaginar as consequências negativas mais tarde.

P. Vitus Gustama,svd

IV Domingo Da Páscoa,21/04/2024

JESUS É O BOM PASTOR E DEVEMOS SER BOAS OVELHAS

IV Domingo Da Páscoa Do Ano “B”

Primeira Leitura: At 4,8-12

Naqueles dias, 8 Pedro, cheio do Espírito Santo, disse: "Chefes do povo e anciãos: 9 hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado.10 Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, — aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos — que este homem está curado, diante de vós. 11 Jesus é a pedra, que vós, os construtores, desprezastes, e que se tornou a pedra angular. 12 Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome  dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos".

Segunda Leitura: 1Jo 3,1-2

Caríssimos: 1 Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. 2 Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.

Evangelho: Jo 10,11-18

Naquele tempo, disse Jesus: 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi de meu Pai”.

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O quarto domingo da Páscoa é conhecido como “o Domingo do Bom Pastor”, porque em cada um dos três anos do ciclo litúrgico (Ano A-Mateus; Ano B-Marcos e Ano C-Lucas) é lida uma passagem do capítulo 10 do Evangelho de João, no qual é desenvolvido o tema do “Bom Pastor”.        

Como o pano de fundo de Jo 10 é necessário ler dois textos do AT: Ez 34,1ss e Jr 23,1ss (leia também o Sl 23(22) sobre o bom Pastor. Nestes textos fala-se da denúncia profética contra os maus pastores (dirigentes). Os maus pastores são denunciados por estarem mais preocupados em se alimentar do que em fornecer alimento para as ovelhas confiadas ao seu cuidado; preocupados mais em cuidar da própria vida do que da vida do rebanho. Em vez de tomar conta das ovelhas, eles se omitiram, e sacrificavam “as mais gordas” para se deliciar da sua carne e se vestir com sua lã. Os maus pastores estão preocupados com o seu conforto, com o seu bem estar, preocupados em salvar a situação pessoal e familiar, e deixam o restante, o rebanho se perder. Os maus pastores se preocupam em usar do poder para o proveito próprio. 

Esses pastores se esquecem de que eles não são donos das ovelhas; são apenas “funcionários”, “encarregados” de Deus, pois as ovelhas são de Deus (compare Jo 21,15-17: Jesus confia a Pedro a tarefa de apascentar as ovelhas de Jesus: apascenta as minhas ovelhas). Por isso, o profeta Ezequiel repete expressivamente o possessivo “minhas ovelhas” no capítulo 34 do seu livro. Evita-se, assim, a tendência de querer se considerar o dono das ovelhas, o dono da pastoral ou de movimento, o dono do ministério, o dono da comunidade, o dono da paróquia, e assim por diante. Quem se considera dono da comunidade ou da paróquia ou qualquer cargo, tem dificuldade de dialogar com os outros para resolver os problemas do rebanho. O dono das ovelhas é o próprio Deus: “Apascenta minhas ovelhas!”. A Igreja é de Jesus Cristo. Se nos esquecermos disto, nos tornaremos novos tiranos e ditadores; nos preocuperamos em manter “status” como sacerdote. E as ovelhas se tornarão vítimas ou serão sacrificadas em nome do poder destruidor do seu líder.          

E os pastores de hoje (sacerdotes/padres, religiosos, pastores, líderes de comunidades), são melhores ou são piores do que os antigos pastores? Será que temos interesse por “ovelhas gordas” mais do que por “ovelhas magras” na comunidade? Seja gorda ou marga, a ovelha é de Deus.  E Deus quer que as apascentemos de igual maneira. Quanto mais magra for uma ovelha, mais atenção deverá ser prestada a ela.          

Além de ler os textos acima citados, para entender a mensagem de Jo 10,1-18 é necessário situar o texto dentro do contexto de Jo cap. 7-10 num contexto de confronto entre Jesus e os judeus. Ele é o “Eu sou”. A vinda de Jesus para o meio dos homens os força a definir-se. Diante da afirmação “Eu sou”, uns rejeitam Jesus, outros o aceitam. Daí começam as controvérsias.  Jesus se torna, assim, sinal de contradição. Contradição que o leva à Paixão.

E o discurso de Jesus sobre a porta das ovelhas e o Bom Pastor (Jo 10) se apresenta como continuação lógica da perícope imediatamente anterior, sobre o cego de nascença (Jo 9). Se lemos Jo 9,41 e o começo do sermão sobre o Bom Pastor (Jo 10,1) percebemos que não há nenhuma separação cronológica nem mudança de cenário. O homem que voltou a enxergar por obra de Jesus foi expulso da sinagoga e excomungado por causa de sua fé em Jesus Messias. Apesar disto, o cego iluminado encontrou o Bom Pastor e partir de então ele não viverá como ovelha desgarrada.          

O uso metafórico do substantivo “pastor” (poimén em grego) aparece pelo menos 14 vezes no NT (Mt 9,36;25,32;26,31;Mc 6,34;14,27;Jo 10,2.11.12.14.16;Ef 4,11;Hb 13,20;1Pd 2,25). Lucas nunca usa o termo “pastor” em sentido figurado, mas só em sentido próprio (cf. Lc 2,8.15.20). Também na parábola da ovelha perdida (Lc 15,4-6) ele não chama o protagonista de “poimén”, “pastor”, como o faz Mt, mas simplesmente de ánthropos, “homem”.      

No evangelho de João, a palavra “pastor” faz parte do vocabulário da auto-revelação do Messias; ela é precedida da afirmação “egó eimí”, “Eu sou” (Em Jo, sete vezes, Jesus toma a palavra para se autoproclamar: 6,35: Eu sou o pão da vida; 8,12: Eu sou a luz do mundo; 10,7: Eu sou a porta; 10,11: Eu sou o bom pastor; 11,25: Eu sou a ressurreição e a vida; 14,6: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; 15,1: Eu sou a videira verdadeira).          

O pastor de Jo 10 assume o comportamento do guia: conduzir para fora, levar para fora, caminhar adiante(v.4) e os aspectos de providência e salvação: quem entra pela porta, que é Jesus(v.9) será salvo, pois ele veio para que as suas ovelhas “tenham a vida em abundância” (v.10). O bom pastor arrisca ou expor a vida frente a um perigo que ameaça outrem.          

Essa doutrina cristológica contém mensagem de importância excepcional para nossa vida de fé e nossa missão de guia ou pastores. Jesus Cristo é o mediador perfeito em sentido descendente e ascendente; na direção vertical e horizontal. O Pai comunica a revelação de sua vida de amor ao homem por meio de seu Filho(cf. Jo 1,17s); a salvação é dada ao homem somente por meio do Filho unigênito(Jo 3,14ss); a vida divina foi trazida ao mundo por meio de Jesus(Jo 14,6). E o homem pode subir até Deus unicamente por meio do seu Filho, que é a vida(Jo 14,2-6); a vida de comunhão com o Pai só é possível através de Jesus Cristo. Enfim, o homem pode exercer função pastoril e salvífica somente se comungar com eles por meio de Cristo, a única porta do redil de Deus (Jo 10,7ss).          

A mensagem desta doutrina é dirigida tanto para todos os cristãos em geral como, particularmente, para os que exercem função de guia no seio da comunidade. Para ser instrumento de vida e salvação para os irmãos e irmãs, é necessário estar em contato íntimo e vital com aquele que é a salvação personificada: o Senhor Jesus. Para a função pastoral ser exercida com fruto, torna-se indispensável uma comunhão profunda com Cristo, o pastor supremo do rebanho de Deus; exige-se amor forte e concreto à sua pessoa.          

Alguns elementos importantes do texto para a nossa reflexão: 

1. Jesus É O Meu Bom Pastor          

No evangelho Jesus diz: “Eu sou o Bom Pastor”(v.11). Temos três elementos para se explicar: “Eu sou”, “ bom” e “pastor”.          

O “Eu sou” é a expressão máxima da liderança que dá a vida. E “Eu sou” é carregado de sentido teológico, porque o “Eu sou” é uma abreviatura do nome de Deus/Javé: “Eu sou Aquele que sou”(Êx 3, 14). Jesus se coloca em pé de igualdade com Deus. Quem é este Deus ? No êxodo ele tirou o povo hebreu do curral do Egito, conduziu-o no deserto e introduziu-o para a Terra prometida. Ao dizer “Eu sou o Bom Pastor”, Jesus, de fato, faz o que o Pai sempre fez. Jesus é a presença viva do Deus que conduz cada um de nós para fora de tudo o que nos oprime e que diminui e lesa a vida. Jesus tira as pessoas de todos os tipos de exclusão.          

“Eu sou o bom pastor”. Em grego usa-se o termo “kalós” (Egó eimi o poimèn o kalos) que em si significa “belo”, mas se traduz com o termo “bom” em português. “Kalós” pode significar também alguma coisa excelente, excepcional; ou pode significar a qualidade de uma coisa ou de uma pessoa que corresponde plenamente à sua função ou a adequação à finalidade de objetos, situações, pessoas e ações (cf. Mt 13,8;7,17s;Jo 2,10;10,32;1Pd 4,10;2Tm 2,3 etc.). Jesus que se dedica total e exclusivamente às ovelhas pode ser chamado o “bom” pastor por excelência. A figura do pastor no AT é o símbolo da dedicação, do cuidado e do amor desinteressado. O pastor é aquele que está plenamente desperto, vigilante, prevenido, pronto, atento e aplicado. É uma pessoa devotada, no sentido próprio: vive com e para seu rebanho. Essa imagem é muitas vezes aplicada a Javé (cf. Is 40,11;Sl 23,1;80,2) para exprimir o amor de Deus na eleição e direção de seu povo, Israel. 

Em Jesus a figura do pastor vai mais longe do que o significado profissional, pois  estaa figra significa também “guia”, “condutor”, “legislador”. Em Jesus se encontram tais qualidades. Além destes significados há outro significado da palavra “pastor”: a providência divina como fala o Salmo 23(22): “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Neste salmo 23(22) está a vida de Jesus como bom Pastor. Ao falar das “verdes pastagens” a fim de alimentar as ovelhas, Jesus declara ser a fonte de água viva, e quem dela beber jamais terá sede (Jo 4,14). Se o Sl 23(22) fala da reanimação da vida, Jesus afirma que aquele que n´Ele crer viverá para sempre (Jo 6,40). Se o Sl 23(22) fala das sendas da jutificação, Jesus afirma que Ele perdoa os pecados, provando com o sangue derramado na cruz, o sangue para a remissão dos pecados (Mt 26,28). Se o Sl 23(22) fala que mesmo caminhando no vale escuro sem medo, pois Deus está ao lado, Jesus promete a presença permenente diariamente na vida de quem crê n´Ele: “Estarei convoso até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Quando o Sl 23(22) fala de uma mesa preparada, Jesus se reúne com seus apóstolos ao redor da mesa da Última Ceia e isntitui a Mesa Eucarística (Mt 26,20). Jesus é realmente e verdadeiramente o Bom Pastora. Jesus é a Providência divina para suas criaturas, de modo especial e particular para todos os seres humanos. 

Com razão, o Bom Pastor opõe-se com toda severidade a qualquer outro pastor e declara-os salteadores/assaltantes, mercenários e estranhos, pois o bom não se encontra nada neles. Em outras palavras, Jesus aplica a si mesmo a imagem do bom pastor, porque ele sabe muito bem que existem maus pastores. Eles são chamados no Evangelho de hoje com palavras muito fortes: mercenários, ladrões e assaltantes. Ou seja, alguém que se serve do povo para manter seus interesses e privilégios, deixando o povona miséria e deixa-o morrer. Usa-se também outro termo “lobo”. O lobo representa um perigo mortal para as ovelhas ou adversário. Biblicamente “lobo” representa pessoas maléficas (cf. Hab 1,8; Ez 22,27; Sf 3,3). Não é por acaso que temos um dito “Homo homini lupus est”, o homem é (capaz de ser) um lobo para outro homem. O profeta Isaías até sonhou com o tempo ideal em que “o lobo habitará com o cordeiro” (Is 11,6;65,25). Temos, então, aqui uma oposição entre bom pastor e mau pastor.      

Para quem tem um coração de mercenário, o mais importante é ater-se às condições mínimas estipulados em contrato. Quem tem o coração de verdadeiro pastor não fica fazendo contas: aonde chegam os meus direitos, onde terminam as minhas obrigações. Ele segue uma única lei: o amor. Aquele que não ama, nunca vai entender Jesus e seu amor louco que aceitou morrer na cruz para resgatar a humanidade.          

Como sabemos que todo pastor tem direitos sobre o rebanho: veste-se com a lã das ovelhas e alimenta-se com a carne e o leite delas. O rebanho sustenta a vida do pastor. Jesus é um pastor diferente. Ele é o Bom Pastor porque ele é, literalmente, não retém nada para si; ele não exige nada das ovelhas. Pelo contrário, ele dá a vida por elas(10,11).          

Para o Evangelho de João, então, pastor é o lutador que, ao preço da própria vida, enfrenta todos os que colocam em perigo o seu rebanho. Jesus é o bom pastor porque se despoja até da própria vida para proteger e defender as ovelhas. Por isso, a qualificação “bom” aqui não tem qualquer valor sentimental: não significa doce, suave que não causa mal algum a ninguém. O “bom” aqui significa o verdadeiro, o autêntico, o corajoso, lutador. Jesus é o Bom Pastor porque o seu amor é tão imenso para conosco que está disposto a sacrificar a sua própria vida.          

Jesus nos convida, por isso, a imitá-lo na solidariedade sem fronteiras com os seus irmãos, em particular com os mais explorados e fracos, sem defesa nenhuma. Essa solidariedade pode ir até a entrega da própria vida: oferenda feita voluntariamente, com plena liberdade; um compromisso por amor e não por obrigação formal. Nisto consiste a imitação de Jesus, o Bom Pastor... Ser pastor não é uma profissão, mas é uma opção de vida. Todos somos pastores dos nossos irmãos; temos uma responsabilidade frente a eles que devemos assumir livremente. Não podemos, contudo, ser pastores para os outros, se tivermos ainda a mentalidade de assalariados. 

2. Jesus Me Conhece      

Jesus diz também: “Eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem” (v.14b). O verbo “conhecer” (ginósko em grego) deve ser entendido no contexto semita. Para um semita “conhecer” não é apenas uma atividade intelectual, mas tem toda uma conotação existencial de união profunda. O verbo “conhecer” em Jo envolve toda a vida religiosa, moral e social do indivíduo que aceita a mensagem de Deus e pauta por ela todo o modo de viver.  O verbo “conhecer” envolve o ver, o ouvir, o perceber, o experimentar. No AT, o homem é objeto do conhecimento divino. Deus sabe o meu nome: “Eis que te gravei nas palmas da minha mão...”(Is 49,16). Deus nunca pode olhar sua mão sem ver o meu nome.. E meu nome quer dizer: Eu mesmo. Santo Agostinho diz: Um amigo é alguém que tudo sabe a teu respeito e, apesar disso, gosta de ti”. Mas o homem também conhece a Deus. Conhecer Deus significa ter com ele uma relação pessoal, religiosa e ética: buscá-lo (Sl 9,11;36,11), temê-lo (1Rs 8,43;Is 11,2),crer nele(Is 43,10, apegar-se a Deus que liberta e salva(Sl 91,14).          

Jesus Cristo conhece pessoalmente cada um de nós, suas ovelhas. Ele não conhece como massa de pessoas. Ele conhece cada um em sua integridade. E devemos estar conscientes disso. Quando rezamos devemos sempre ter consciência de que Jesus me conhece na minha integridade, no meu ser, na minha especificidade, na minha estrutura, que eu sou irrepetível, eu sou insubstituível como pessoa e não como função (pois os outros podem fazer o melhor do que aquilo que fiz na minha função. Na minha função sou substituível, na minha existência como pessoa, eu sou insubstituível: não existe outra pessoa igual a mim). Jesus me ama com os meus ideais e minhas decepções, com os meus sacrifícios e alegrias e com os meus sucessos e fracassos. O próprio Senhor Deus é a razão de ser mais profunda de minha existência. Se Deus me ama devo também me aceitar a mim mesmo. O Senhor me conhece verdadeiramente, tal como realmente sou, sem aplicar rótulos e categorias. Por isso, ele é a única garantia de que eu posso ser eu mesmo. Essa consciência da origem divina torna-me justamente mais precioso e mais seguro. Nessa dependência reside uma profunda paz que o mundo nunca pode dar.          

No meio da multidão das grandes cidades, e até mesmo dentro de nossas imensas igrejas cheias de gente, muitas vezes a pessoa se sente sozinha, cercada por desconhecidos que não sabem o seu nome, que não se interessam por seus problemas. Conhecer e ser conhecido é um conforto emocional do qual muita gente está precisando.          

Jesus diz que conhece as suas ovelhas e é por elas conhecido. Uma comunidade que anuncia e continua a missão de Jesus não poderia ser um amontoado de gente que não se conhece, onde um não conta com o outro, onde cada um vai fazer sua oração como se estivesse sempre sozinho na igreja.          

As primeiras comunidades cristãs eram espaço de intimidade e intercâmbio fraterno. Não estaria bem na hora de criar esse clima nas nossas impessoais comunidades urbanas? (Na hora de dar a paz, sai um pouco do seu lugar para cumprimentar o outro e perguntar o nome dele. Decorar um nome por domingo é uma forma para criar uma comunidade de nomes e não de números).

1. Jesus É O Meu Bom Pastor Porque Se Preocupa Também Com Outras Ovelhas.      

Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”(v.16), diz Jesus.  Isto quer dizer que o amor de Cristo não tem limite e não faz distinções. Judeus e pagãos são co-envolvidos no mesmo amor. O amor de Jesus é universal. Ele quer salvar todos. Os pagãos desprezados por bom número de judeus eram chamados a incorporar-se ao “rebanho” de Jesus. Quando ele diz que um dia haverá um só rebanho e um só pastor, Jesus não está querendo uniformizar todos: no pensar, no dizer, no fazer ou no rezar. Quando olhamos uma realidade a partir de nosso ponto de vista devemos estar conscientes de que não estamos em outros pontos de vista ao mesmo tempo. Isto nos permite deixar alguém ver de outro ângulo sobre a mesma realidade. Afinal, cada ponto de vista é vista de um ponto. Por isso, posso estar certo e posso também estar errado. A diversidade é sempre uma riqueza. Não é errado sermos diferentes, errado é sermos divididos, é errado estarmos uns contra os outros. Temos de aplicar na nossa vida um dito conhecido: “Nas coisas essenciais unidade, nas coisas acidentais liberdade, e em tudo caridade”. 

4.Preciso Viver Despreocupado, Pois O Senhor É Meu Pastor         

Devemos observar a vida dos rebanhos de ovelhas com seu pastor. Os rebanhos não têm pressa, nem agitação ou preocupação. Eles sabem que o seu pastor está ali para cuidar deles. E, por isso, são livres para fruir a verde pastagem. Jubilosos e despreocupados, os rebanhos não calculam: onde iremos amanhã, se as chuvas serão suficientes para fornecerem pastagem no ano seguinte. Eles não se preocupam, porque há quem cuide deles. Eles vivem o dia-a-dia, o hora-a-hora. E isso é felicidade.          

Mais uma vez, o Salmo 23(22) diz: “O Senhor é meu Pastor”. Emmanuel Kant chegou a dizer que o Salmo 23(22) lhe deu mais consolo que todos os livros que havia lido. Se eu ao menos acreditar nisso, a minha vida se transformará. A minha ansiedade desaparecerá, os meus complexos se dissolverão e a paz voltará aos meus nervos perturbados. Viver o dia-a-dia, o hora-a-hora, porque o Senhor está presente. Se acreditar de fato nele, serei livre para me movimentar, para respirar, para viver. Livre para fruir a vida. Cada momento é precioso porque não é maculado pelas preocupações com o próximo momento. O Senhor, meu Pastor, sabe e isso me basta. É a felicidade sob a graça. É a bênção de crer na Providência. É a bênção de viver na obediência ao Bom Pastor. É a bênção de seguir a prontidão do Espírito Santo pelos caminhos da vida. O Senhor é meu pastor; nada me faltará. Crer em Deus é admitir que ele vela sobre nós como um pastor.           

Se nós somos ovelhas do bom Pastor Jesus, Deus faz de nossa vida uma bênção para muitas pessoas. Se somos realmente seus, então devemos amá-lo com o amor divino. Se somos realmente ovelhas do bom Pastor Jesus, então devemos ouvir somente sua voz. Quem conhece Jesus, a voz de Jesus para ele é inconfundível.          

Portanto, vamos lançar alguma perguntas para nós mesmos: Acredito realmente que o Senhor é o meu Pastor? Posso afirmar, a partir da minha vida, que sou bom. Será que eu tenho sempre tendência de fugir da minha responsabilidade? Em outras palavras: tenho mentalidade de assalariado?

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 16 de abril de 2024

20/04/2024-Sábado Da III Semana Da Páscoa

JESUS TEM PALAVRAS QUE SACIA NOSSA SEDE DO SENTIDO DA VIDA

Sábado da III Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 9,31-42

Naqueles dias, 31 a Igreja vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo. 32 Pedro percorria todos os lugares; e visitou também os fiéis (santos) que moravam em Lida. 33 Encontrou aí um homem chamado Enéias, que estava paralítico e, há oito anos, jazia numa cama. 34 Pedro disse-lhe: “Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma a tua cama!” Imediatamente Enéias se levantou. 35 Todos os habitantes de Lida e da região do Saron viram isso e se converteram ao Senhor. 36 Em Jope, havia uma discípula chamada Tabita, nome que quer dizer Gazela. Eram muitas as obras boas que fazia e as esmolas que dava. 37 Naqueles dias, ela ficou doente e morreu. Então lavaram seu corpo e o colocaram no andar superior da casa. 38 Como Lida ficava perto de Jope, e ouvindo dizer que Pedro estava lá, os discípulos mandaram dois homens com um recado: “Vem depressa até nós!” 39 Pedro partiu imediatamente com eles. Assim que chegou, levaram-no ao andar superior, onde todas as viúvas foram ao seu encontro. Chorando, elas mostravam a Pedro as túnicas e mantos que Tabita havia feito, quando vivia com elas. 40 Pedro mandou que todos saíssem. Em seguida, pôs-se de joelhos e rezou. Depois, voltou-se para o corpo e disse: “Tabita, levanta-te!” Ela então abriu os olhos, viu Pedro e sentou-se. 41 Pedro deu-lhe a mão e ajudou-a a levantar-se. Depois chamou os fiéis (santos) e as viúvas e apresentou-lhes Tabita viva. 42 O fato ficou conhecido em toda a cidade de Jope e muitos acreditaram no Senhor.

Evangelho: Jo 6,60-69

Naquele tempo, 60muitos dos discípulos de Jesus, que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” 61 Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? 62E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. 64Mas entre vós há alguns que não creem”. Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. 65E acrescentou: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”. 66A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67Então, Jesus disse aos doze: “Vós também vos quereis ir embora?” 68Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

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Jesus Continua e Quer Continuar Atuando Através Dos Cristãos 

O texto da Primeira Leitura faz se encontra no conjunto do texto em que se narra sobre Pedro na Judéia e em Cesaréia (At 9,32-11,18). Neste conjunto fala-se da entrada dos pagãos, com plenos direitos, na Igreja. Deus abriu o caminho da salvação também aos pagãos (cf. At 11,18). 

No texto da Primeira Leitura conta-se a viagem “pastoral” de Pedro, que parte de Jerusalém para visitar as comunidades da costa mediterrânea, o leva a aproximar-se de Cesaréia, onde acontecerá o encontro com Cornélio. Dentro disso, contam-se dois pequenos relatos da atividade taumatúrgica de Pedro: Enéias e Tabita. 

Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma a tua cama!”. “’Tabita, levanta-te!’ Ela então abriu os olhos, viu Pedro e sentou-se”. São palavras pronunciadas pelo Apóstolo Pedro no texto da Primeira Leitura de hoje. 

A Primeira Leitura nos relata dois milagres de Deus através de Pedro. Um é a cura de Eneias de sua paralisia,  a cura que acontece em Lida, uma cidade importante da região judaica que liga Jerusalém a Jope (litoral), corresponde ao atual Lod (Lud, aramaica) onde se encontra o aeroporto de Tel-Aviv (Jafa). O relato do milagre segue o esquema habitual: apresentação do doente; duração da doença; intervenção de quem cura (palavras e gestos); cura constatada ou comprovada; e a reação das testemunhas (cf. At 3,1-10; 14,8-10). A cura de Eneias nos lembra Mc 2,1-12 (cura de um paralítico). 

O outro milagre passa-se da cura de um paralítico à ressurreição de um morto. É a reanimação (“ressurreição”) de uma mulher generosa chamada Tabita. O aramaicoTabita é traduzido para os leitores gregos DORKAS que significa Gazela. Este milagre acontece em Jope, a atual Jafa-Telaviv, a cerca de 50km de Cesaréia Marítima, na costa. 

A “ressurreição” de Tabita lembram outros episódios bíblicos de ressurreição, particularmente a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, por parte de Elias (1Rs 17,19-23) e o da viúva de Naim (Lc 7,11-15) e da filha de Jairo (Lc 8,41-42. 49-56). Como Jesus na casa de Jairo, Pedro pede para todo mundo sair da falecida Tabita, e põe-se a rezar (como Elias e Eliseu) e depois da oração, Pedro chama à vida a mulher (Tabita), como fez Jesus na casa da filhinha do chefe da sinagoga. A força de Jesus está na pessoa de Pedro. 

Através destes milagres o autor dos Atos dos Apóstolos (Lucas) quer nos dizer que Jesus continua agindo por meio de Pedro, Seu Apóstolo. Por isso, em vez de dizer “Eneias, eu te curo”, Pedro diz: “Eneias, Jesus Cristo te cura”. A fonte do poder de Pedro é Jesus Cristo. Ou seja, quem age de modo eficaz através da palava e da pessoa de Pedro é Jesus.  Esta frase quer nos enfatizar que Pedro é apenas um instrumento de Deus neste milagre. O agente principal nesta cura é o próprio Jesus Cristo. A fé de Pedro e a misericórdia de Jesus Cristo se encontram unidas nesta cura. Ninguém faz milagre, mas somente Deus. Mas Deus pode usar qualquer um para acontecer qualquer milagre. Jamais poderíamos ficar arrogantes por uma cura por causa de nossa oração, pois o autor da cura é o próprio Senhor. Jamais poderíamos atribuir qualquer milagre ao nosso mérito. Jesus Cristo continua sendo a fonte de todos os milagres. Jamais podemos pensar demasiadamente naquilo que fazemos em termos de qualquer milagre e pensamos pouco no Cristo que é o próprio autor dos milagres. 

Da mesma maneira quando aconteceu o milagre da reanimação de Tabita. Antes da ordem de levantar Tabita do leito da morte, Pedro rezou, pois o poder está em Jesus Cristo: “Pedro mandou que todos saíssem. Em seguida, pôs-se de joelhos e rezou”. A exemple de Pedro, sejamos instrumentos eficazes do Senhor para qualquer coisa que possa edificar a vida humana e a convivência. Nós pensemos demais do que podemos fazer e muito pouco do que Cristo pode fazer 

Além disso, através destes milagres, Lucas (autor dos Atos dos Apóstolos) quer destacar a função de Pedro no caminho da Igreja. Com estes milagres Lucas quer colocar Pedro no grupo dos grandes profetas taumatúrgicos na Bíblia como Elias (cf. 1Rs 17,17-24) ou como Eliseu (cf. 2Rs 4,18-37). Encontramos também dois milagres analógicos operados por meio de Paulo: a cura do paralítico em Antioquia da Pisídia (At 14,8-10) e a ressurreição de Êutico em Troade (At 20,7-10). Pedro e Paulo são dois Apóstolos (missionários) que têm uma grande contribuição, cada um com sua própria maneira, para a expansão da Igreja. São dois grandes colunas da Igreja do Senhor. 

O que nos chama a atenção do texto da Primeira Leitura é que os cristãos de Lida e de Jope são chamados de “santos” (At 9,32.41; o Lecionário traduz a palavra “santos” por “fieis”). São Paulo usa a palavra “santo” para descrever o membro da Igreja quando ele escreve uma carta para determinada comunidade.

A palavra grega é hagios. Às vezes é traduzida por “santo”. A raiz desta palavra significa “diferente”. O cristão é aquele que é diferente dos que simplesmente são habitantes do mundo. Os cristãos são diferentes por terem sidos escolhidos para a especial proposta de Deus. Os cristãos são chamados para ser luz do mundo e sal da terra. Eles são diferentes porque eles sabem que devem passar a vida fazendo o bem a exemplo de Cristo. Se não o fizerem, os cristão deixarão de ser cristãos; a diferença fica desaparecida. Os cristãos foram salvos para servir os outros; foram libertados para libertar os outros; são escolhidos para o serviço por amor. 

É Preciso Seguir a Jesus, Pois Somente Ele Tem Palavras de Vida Eterna 

A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. O texto do evangelho deste dia, com que se encerram as reflexões sobre o sinal da multiplicação dos pães e peixes, formula a única atitude de entender esse sinal. Quem entende o significa do sinal ou quem capta o espírito de Jesus nesse discurso, continua a seguir Jesus (Pedro e companheiros). Os que não o entendem, ou não penetram no espírito de Jesus, abandonam Jesus (outros discípulos que se sentem escandalizados). Somente aqueles que descobrem a importância da mensagem de Jesus, pois cheia de vida eterna, são capazes de relativizar o que até aquele momento parecia ser fundamental. Quem encontra a prata, relativiza o bronze; quem descobre o ouro, relativiza a prata. 

No fim do discurso sobre o Pão da vida o entusiasmo das multidões por Jesus vai se esfriando e chega um momento em que, escandalizadas pelas palavras de Jesus, O abandonaram. A desilusão penetra, inclusive, no interior do círculo dos mais apegados: no grupo dos discípulos. Mas Jesus, apesar deste aparente fracasso, anuncia já a vitória de sua ressurreição e a glória de sua ascensão ao céu: “E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?”, perguntou Jesus retoricamente. Os que permanecerem até o fim, terão, um dia, experiência deste mistério e conhecerão a existência gloriosa do Senhor ascendido ao céu e serão confirmados na fé. As palavras de Jesus são espírito e vida. O Espírito de Deus dá às palavras de Jesus um sentido e uma força divina capaz de fortalecer os que nele creem e escutam as palavras de Jesus: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”.

Muitos se escandalizaram por causa das palavras de Jesus porque não penetraram ainda no mistério da pessoa de Jesus. Uma palavra ou uns fatos são escandalosos na medida em que rompem os esquemas, hábitos ou comportamentos dos indivíduos ou dos grupos.

O grupo que hoje se escandaliza já não é o grupo dos mestres de Israel e sim um grupo dos discípulos de Jesus. Eles se sentem mais seguros sendo observantes do que sendo crentes. Eles preferem o estado de vida orientado pela Lei ao estilo de vida orientado pela fé, preferem o estilo de vida carnal ao estilo de vida espiritual. Diferentemente da pessoa carnal, a pessoa espiritual é aquela que se entende a si mesma a partir de uma relação com Deus manifestada por Jesus: “O espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”, disse Jesus aos discípulos. Mesmo assim muitos discípulos abandonaram Jesus. 

“Vós também vos quereis ir embora?”, perguntou Jesus aos demais discípulos. Pedro responde à pergunta de Jesus fazendo em nome de seus companheiros uma sincera profissão de fé: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus”. 

Pela primeira vez e única vez no quarto Evangelho aparecem os Doze como um grupo já formado. João os apresenta como os homens da experiência mística: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus”. É Pedro quem fala por todos. Trata-se do descobrimento do insondável mistério de Jesus, de sua pessoa de carne e de osso. Daí o caráter fundamental e insubstituível dos Doze. Os Doze creem que Jesus tem palavra de vida eterna e que ele é o Messias ou “santo de Deus” por outra parte. 

Por isso, a questão não é somente seguir ou deixar de seguir Jesus, e sim encontrar o Outro que tenha ele palavras capazes de dar o sentido para nossa vida e por isso, a vida eterna. Este descobrimento leva os Doze a relativizarem tudo que até naquele momento parecia ser fundamental e importante. No lugar de tudo isso surge Jesus, sua pessoa, sua palavra, iluminando tudo na vida deles com uma luz nova. Sob a luz de Jesus há coisas que deixam de ter interesse e valor, outras que surgem e outras que cobrem novo valor. A sede da busca do absoluto se sacia em Jesus, e a partir de Jesus, o relativo perde sua importância. Jesus tem palavras de vida eterna, pois Ele é a Palavra do Pai no meio da humanidade e para a humanidade (cf. Jo 1,1-3.14).

São Paulo nos convida a descobrirmos e a experimentamos a maravilhosa experiência mística: “Por essa razão eu dobro os joelhos diante do Pai de quem toma o nome toda família no céu e na terra para pedir-lhe que ele conceda, segundo a riqueza da sua glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede a todo conhecimento, para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus(Ef 3,14-19).

Também no mundo de hoje, como para os ouvintes que estavam em Cafarnaum, Jesus se converte em sinal de contradição, como anunciou o ancião Simeão, quando Maria e José apresentaram seu filho no Templo (cf. Lc 2,34-35). A dureza da fé pode nos levar ao cansaço e ao abandono. São muitos batizados que optaram por buscar caminhos mais fáceis em vez de encarar a verdade e se esforçar para melhorar a qualidade de vida e de fé. Cristo é exigente, e seu estilo de vida está não poucas vezes em contradição com os gostos e as tendências de nosso mundo. Crer em Jesus, e concretamente comungar com ele na Eucaristia, que é uma maneira privilegiada de mostrar nossa fé nele, pode resultar no algo difícil, mas termina na coisa preciosa. 

Quando nos cansamos de seguir o bem, de viver de acordo com a verdade, o amor, e a justiça, de praticar a caridade e o perdão, quando nos pesa a fidelidade a Deus e aos irmãos, quando o mal nos circunda e nos assedia, quando a dúvida e a incredulidade nos oprimem, então, Jesus também nos pergunta: “Também tu queres partir e me abandonar?”. Constantemente temos que escolher entre vários deuses e senhores. Temos que matar muitos deuses que criamos e que não nos dá salvação. Se quisermos optar pela vida em plenitude, sem limite nem ocaso, temos que fazer nossas as palavras de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.

Nós cremos em Jesus e sabemos disso. Mas a fé é uma adesão pessoal a Cristo. A fé entendida como adesão pessoal a Cristo nos conduz a um maior conhecimento de sua mensagem e de sua pessoa. A fé entendida como pautar nossa vida à vida de Cristo nos exige renunciar a muitas coisas. Conhecer Jesus, refletir sua mensagem e assimilar suas atitudes nos conduz a uma maior maturidade na fé. 

A quem iremos, Senhor?”. Esta expressão é incompreensível para o mundo, mas cheia de luz para nós que cremos em Jesus, pois “Tu tens palavras de vida eterna, Senhor”. “Palavras de vida eterna!”. Palavras que nos dão garantia para vivermos eternamente com Deus. A expressão “Palavras de vida eterna”, quando vividas por nós, nos torna portadores de sinais de vida e não de morte; quando vividas por nós torna a vida eterna presente desde já na nossa vida em história. 

Ao participar da Eucaristia, ao comungar o Corpo e Sangue do Senhor estamos permitindo Deus que, por meio do Mistério pascal de Seu Filho, sejamos restaurados no íntimo de nosso ser, pois somente em Jesus tem “palavras de vida eterna”. A Igreja de Cristo, que são todos os batizados, é chamada a ser portadora de vida; da Vida que nos vem do próprio Deus. No cumprimento da missão que o Senhor nos confiou, nos encontraremos com muitas pessoas deterioradas pelo pecado, pela enfermidade, pela pobreza, pela injustiça, pelo abuso, pela exploração da dignidade humana. Não podemos passar adiante sendo traidores de Cristo e de seu evangelho. Quem abandona Cristo não somente quem não reza nem participa dos sacramentos, mas também quem fecha os olhos diante do sofrimento de seu próximo com quem Jesus se identifica (cf. Mt 25,40.45). Nenhum cristão pode justificar o próprio egoísmo ao perguntar: “Acaso, sou eu responsável do meu irmão ou pelo meu irmão?”. A Eucaristia nos faz entrarmos numa comunhão de vida com Cristo que passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38). A Eucaristia nos move para que sejamos pão de vida a fim de continuarmos a fortalecer aqueles que necessitam de uma mão para levantá-los de seus túmulos de maldade e para ajudá-los a caminharem no bem.

P. Vitus Gustama,svd

19/04/2024-Sextaf Da III Semana Da Páscoa

COMER A CARNE E BEBER O SANGUE DE JESUS SIGNIFICA VIVER A VIDA DE JESUS

Sexta-Feira da III Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 9,1-20

Naqueles dias, 1Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Ele apresentou-se ao Sumo sacerdote 2e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de levar presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse seguindo o Caminho. 3Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, Saulo, de repente, viu-se cercado por uma luz que vinha do céu. 4Caindo por terra, ele ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” 5Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. 6Agora, levanta-te, entra na cidade, e ali te será dito o que deves fazer”. 7Os homens que acompanhavam Saulo ficaram mudos de espanto, porque ouviam a voz, mas não viam ninguém. 8Saulo levantou-se do chão e abriu os olhos, mas não conseguia ver nada. Então pegaram nele pela mão e levaram-no para Damasco. 9Saulo ficou três dias sem poder ver. E não comeu nem bebeu. 10Em Damasco, havia um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!” E Ananias respondeu: “Aqui estou, Senhor!” 11O Senhor lhe disse: “Levanta-te, vai à rua que se chama Direita e procura, na casa de Judas, por um homem de Tarso chamado Saulo. Ele está rezando”. 12E numa visão, Saulo contemplou um homem chamado Ananias, entrando e impondo-lhe as mãos para que recuperasse a vista. 13Ananias respondeu: “Senhor, já ouvi muitos falarem desse homem e do mal que fez aos teus fiéis que estão em Jerusalém. 14E aqui em Damasco ele tem plenos poderes, recebidos dos sumos sacerdotes, para prender todos os que invocam o teu nome”. 15Mas o Senhor disse a Ananias: “Vai, porque esse homem é um instrumento que escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. 16Eu vou mostrar-lhe quanto ele deve sofrer por minha causa”. 17Então Ananias saiu, entrou na casa, e impôs as mãos sobre Saulo, dizendo: “Saulo, meu irmão, o Senhor Jesus, que te apareceu quando vinhas no caminho, ele me mandou aqui para que tu recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo”. 18Imediatamente caíram dos olhos de Saulo como que escamas e ele recuperou a vista. Em seguida, Saulo levantou-se e foi batizado. 19Tendo tomado alimento, sentiu-se reconfortado. Saulo passou alguns dias com os discípulos de Damasco, 20e logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus.

Evangelho: Jo 6, 52-59

Naquele tempo, 52os judeus discutiam entre si, dizendo: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” 53Então Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. 56Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre”. 59Assim falou Jesus, ensinando na sinagoga em Cafarnaum.

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Conversão de São Paulo e Minha Conversão

A Primeira Leitura nos conta como foi a conversão de São Paulo que era um grande perseguidor dos cristão. Depois da ressurreição de Cristo, a conversão de Paulo é o acontecimento a que mais vezes alude o Novo Testamento (At 9, 1-20; 22, 6, 21; Gl 1, 11-17; 1Cor 15, 3-8 ). Os relatos dos Atos coincidem em alguns elementos, como a ocasião da viagem do perseguidor a Damasco, o tema da luz que o envolve, sua breve conversa com Cristo, seu batismo e sua vocação missionária.

Ao narrar a conversão de Saulo (que virou Paulo), Lucas quer sobretudo descrever a vocação apostólica de Paulo. O evangelista vê em Paulo o responsável pela difusão do Evangelho de Jerusalém a Roma.

A conversão de Paulo deve ser um acontecimento importante para a comunidade primitiva, porque Lucas a narra nada menos que três vezes no livro de Atos (capítulos 9, 22 e 26), e o próprio Paulo faz várias alusões ao episódio em suas cartas (por exemplo em Gl 1). Talvez porque esta aparição do Ressuscitado a Paulo confere autoridade ao seu ministério apostólico, que alguns consideravam menos justificado do que o dos doze, e sobretudo confirma o seu carácter de missionário aberto a todos os países e etnias, que era vistos com desconfiança em certos ambientes. Os três relatos da conversão se situam também nos três momentos decisivos desta extensão: quando a comunidade de Jerusalém começa a emigrar (Atos 9), quando o cristianismo se separa do judaísmo (Atos 22) e, finalmente, quando chega ao fim da a terra, esta Roma para a qual tende todo o ministério de Paulo, e também a narrativa dos Atos (At 26).

Paulo sempre perseguia os cristãos, logo perseguia o próprio Cristo que se identifica com qualquer cristão. Mas até certo momento em vez de perseguir os cristãos, o próprio Senhor perseguiu o próprio Paulo para ser colaborador de Cristo na evangelização. A visão luminosa do caminho de Damasco influenciou a missão de Paulo e o conteúdo de sua mensagem. Indo revelar esta luz às nações (At 26, 17-18; 13, 47), o apóstolo Paulo une mística e missão, revelação e apostolado.

A queda de Paulo na estrada de Damasco foi a linha divisória para sua vida entre antes e depois. Essa queda é a chave geral para entender Paulo e toda a sua luta incansável.          

Paulo sempre foi um homem profundamente religioso, judeu praticante, irrepreensível na mais estrita observância da Lei (Fl 3,6; At 22,3), cheio de zelo pelas tradições paternas (Gl 1,14). Para defender essas tradições, chegou a perseguir os cristãos e isso com o apoio do Sinédrio.          

Mas na estrada de Damasco Paulo, Paulo se encontrou com o próprio Senhor. São Paulo é obrigado a viver seu estado de criatura, a voltar a reconhecer que é pó. Esta volta ao seu estado primordial como pó, o texto bíblico usa a expressão “Cair por terra” (At 9,4). Caído no chão, Paulo se entregou. Lucas não diz que Paulo cai do cavalo, mas “cai por terra”, porque essa é a fraseologia usada em alguns textos bíblicos para descrever a reação humana diante da manifestação divina. Após a visão da glória Javé junto ao canal Quebar, no país dos caldeus, Ezequiel descreve a sua reação nestes termos: “Quando vi, cai imediatamente com o rosto no chão e ouvi a voz de alguém que falava comigo” (Ez 1,28; cf. 43,3; 44,4). O mesmo esquema se encontra no livro de Daniel (cf. Dn 10,7.9; e veja também Dn 8,17-18). 

Paulo é interpelado duas vezes pelo seu nome hebraico, transcrito em grego: “Saoúl, Saoúl” (v.4). A repetição do nome corresponde ao esquema de diálogos de revelação aos patriarcas bíblicos: Abraão, Jacó, Moisés (Gn 22,1; 46,2; Ex 3,4). A novidade na experiência de Paulo é a pergunta: “Por que você me persegue? (v.4). Diante desta pergunta Paula faz sua pergunta: “Quem és, Senhor?”. Em seguida há a auto-apresentação, momento culminante de todo o diálogo de aparição: “Eu sou Jesus que tu persegues”. Aquele que fala com Paulo, no contexto de uma luz divina, se identifica com aqueles que Paulo está perseguindo (v.5). Jesus glorioso é solidário com os cristãos. A presença de Jesus glorioso se prolonga na história através dos cristãos (cf. Lc 10,16). A identificação de Jesus com os seus discípulos perseguidos coloca Paulo diante de uma escolha sem alternativas. Ele precisa mudar radicalmente os seus projetos. 

Aqui o texto quer nos enfatizar que a conversão de Saulo (Paulo) coincide com a sua vocação ou investidura de apóstolo, enviado em missão.  Lucas quer nos mostrar que a atividade missionária de Paulo se origina em Jesus e que se realiza na continuidade histórica com a Igreja. E, ao mesmo tempo, esse episódio quer ressaltar a extraordinária ação de Deus: aquele (Paulo) que procurava os cristãos para obrigá-los a negarem o Messias Jesus, agora tem dever de procurar os cristãos para que estejam no seguimento de Jesus, o Senhor. O acontecimento no caminho para Damasco transforma radicalmente o destino de Paulo. 

Por que você me persegue? é a pergunta que o Senhor faz para cada um de nós toda vez que maltratamos, exploramos, praticamos a injustiça contra o próximo. Não podemos pedir nada ao Pai do céu quando maltratamos os homens e as mulheres na terra que são os filhos e as filhas do Deus Pai do céu. A pergunta do Senhor a Paulo nos obriga a revermos nosso comportamento e o nosso tratamento em relação ao próximo, pois sem querer querendo acabaremos maltratar o próprio Deus que está em cada homem e em cada mulher (cf. 1Cor 3,16; 6,19). 

Para nos ajudar a aprofundarmos nossa meditação precisamos lançar algumas perguntas como ponto de partida para nossa reflexão. Onde tu estavas quando a Palavra de Deus te alcançou? Para que direção te levou o Senhor? Como aconteceu esta passagem? Que existe em ti de parecido, diferente ou análogo à experiência de Paulo? Como podes acolher na tua vida a ação proveniente de Deus que te faz ser o que és? Como e de que maneira o Senhor, que foi para Paulo a revelação da misericórdia divina, é para ti o ponto de referência fundamental para compreender quem és, o que és, de onde vens, para que tu foi chamado? Quais são as posses que te impedem de acolher com liberdade a iniciativa divina com relação a ti?        

Devemos fazer estas perguntas com amor: se as fizermos com espírito possessivo ou autojustificativo, responderemos com pressa e não conseguiremos ver em profundidade a história da nossa vida sob o olhar de Deus. Mas se nos interrogarmos com amor e misericórdia poderá emergir o que em nós é obra de Deus e o que em nós é resistência de Paulo à obra de Deus. Como o próprio Paulo disse: “Esta palavra merece crédito e toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou o primeiro” (1Tm 1,15).  O pecado fundamental do homem é não reconhecer Deus como Deus, não reconhecer-se como dom seu, como fruto do seu amor. Carregamos todos dentro de nós a incapacidade de reconhecer a Deus como Deus, “dos quais eu sou o primeiro. E se a misericórdia me foi dada, foi para que Jesus Cristo manifestasse primeiro em mim toda a sua generosidade, para que eu servisse de exemplo aos que devem crer nele a fim de conseguir a vida eterna” (1Tm 1,16). A conversão é polivalente. Em sentido geral indica mudança de vida; deixar o comportamento habitual de antes para empreender outro novo; prescindir da busca egoísta de si mesmo para colocar-se a serviço do Senhor que se traduz no amor fraterno. Conversão é toda decisão ou inovação que de alguma forma nos aproxima da vida divina e nos torna mais próximos para com os outros. 

Jesus, Pão Da Vida É a Vida Para o Mundo a Fim De Alcançar a Eternidade 

No final do discurso de Jesus sobre o Pão da vida, o tema é claramente eucarístico. Antes Jesus falava da fé no Enviado de Deus: “ver”, “vir”, “crer”, “permanecer” que no evangelho de João são sinônimos. Agora fala de “comer” a Carne e de “beber” o Sangue que Jesus vai dar para a vida do mundo na Cruz, mas também na Eucaristia, porque quer que a comunidade celebre este memorial da Cruz (cf. 1Cor 11,24-25). O fruto do comer e do beber a Carne e o Sangue de Jesus Cristo é o mesmo que o do crer nele: participar de sua vida. Antes Jesus havia dito: “Quem crê, tem vida eterna” (Jo 6,47). Agora: “Quem come deste pão viverá para sempre” (Jo 6,58).             

Por isso, a palavra que se repete no texto deste dia, dentro do discurso de Jesus sobre o Pão da vida é “carne”. A palavra “carne” designa tudo o que constitui a realidade do homem com suas possibilidades e debilidades (Jo 1,14;3,16;8,15). A carne designa aqui o ser humano, considerado sob o aspecto de ser material, sensível e perceptível; designa o homem na sua condição de fraqueza e de mortalidade.             

E um dos verbos que se repete neste texto é comer. Comer a carne e beber o sangue de Jesus significa incorporar-se, fusionar. É entrar em comunhão de amor e de destino de Jesus. Tomar o Corpo e o sangue, além disso, é reconhecer a vida do Espírito na carne e no sangue da humanidade (cf. 1Cor 3,16-17). É a humanidade que sofre, que busca, que dá a luz ao mundo com dor; a humanidade que se alegra, que canta e dança. É a humanidade de ricos e de pobres, humanidade de pecadores e de santos. É a humanidade dos rápidos e dos atrasados em descobrir a graça de Deus. É a humanidade da humanidade.   

A eucaristia proporciona uma comunhão real de vida e de destino com a pessoa de Jesus. Seu Corpo nos faz participarmos na ressurreição, nos faz vivermos por Cristo que é vida para sempre, nos faz convivermos como irmãos, nos leva a vivermos na igualdade.

Há três efeitos da Eucaristia que o discurso sobre o Pão da vida nos indica:

1. A Vida Eterna E A Ressurreição                       

“Quem come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna e Eu o ressuscitarei”. O pão eucarístico segue as leis de todo pão oferecido pelo pai da família aos seus. O pão não tem significado especial em si sem outros componentes. Alguém tem que ganhá-lo e produzi-lo ou fabricá-lo e tem que ter alguém para comê-lo. Ao entregar ou ao distribuir o pão, que representa sua vida e seu trabalho, o pai e a mãe de uma família podem dizer em certo modo aos seus: “Este pão é minha carne entregue aos meus filhos” (cf. Jo 6,51). E os comensais, ao participar desse pão, compartilham, em certo modo, a própria vida de quem deu ou entregou esse pão (Jo 6,54). 

Na Eucaristia comungamos o Cristo vivo ressuscitado. E este corpo ressuscitado passa a ser em nós “semente” de vida divina, vida que recebemos de Cristo (cf. 1Cor 15,1-58). No momento da Ceia Jesus falará do banquete celestial onde reunirá de novo seus amigos: “Não beberei mais do fruto da vinha até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino do meu Pai(Mt 26,29). Vamos caminhando até este encontro feliz onde beberemos com Cristo o vinho novo, uma alegria sem limite, uma vida sem ameaça de morte, uma vida eterna.

2. A Imanência Recíproca De Cristo E Do Cristão                       

“Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele”.  Nós sabemos muito bem o que significa o estar com alguém a quem se ama? É ser feliz com ele. A vocação de todo homem é estar com Deus, permanecer em Deus e estar com todos os homens. É o tema fundamental da Aliança, que se expressou, ao curso da história da salvação, na Sagrada Escritura, por fórmulas cada vez mais íntimas: “Vós sereis meu povo, e Eu serei vosso Deus”, “Meu amado está comigo e Eu estou com ele”, “Permanecei em Mim e Eu em vós”. 

A incorporação a Cristo, que tem lugar pelo Batismo, se renova e se consolida continuamente com a participação no Sacrifício eucarístico, sobretudo, quando esta é plena perante a comunhão sacramental. Podemos dizer que não somente cada um de nós recebe Cristo na comunhão, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Cristo estreita sua amizade conosco: “Vós sois meus amigos(Jo 15,14). Além disso, nós vivemos graças a Cristo: “Aquele que comer minha carne viverá por mim(Jo 6,57). Na comunhão eucarística se realiza de maneira sublime que Cristo e o cristão estão unidos: um está no outro: “Permenecei em mim e eu permanecerei em vós(Jo 15,4). 

Precisamos meditar aquilo que São João Crisóstomo dizia: “Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo”. 

E o Papa João Paulo II escreveu: “O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e sobreabundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano(Carta Encíclica Ecclesia De Eucharistia no. 24)

3. A Consagração Do Cristão A Cristo                       

Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim”.  Jesus consagrou sua vida ao Pai, viveu totalmente para Ele para viver totalmente para os homens. Por sua vez, ele nos pede para que vivamos para Ele a fim de alcançar a comunhão plena com o Pai na comunhão com os irmãos.             

Por isso, comungar o Corpo e Sangue do Senhor não é uma coisa mágica, automática. É um compromisso sério para viver a vida como Cristo a viveu: Viveu somente para o bem. Ensinou somente para indicar o caminho para o bem e para alcançá-lo. Usou até palavras duras como “hipócrita”, “vida como um túmulo: belo por fora, podre por dentro” para dizer-nos que vale a pena largar outros interesses em função do bem e da verdade. 

A vida de Cristo é a vida de Deus, pois Cristo vive pelo Pai, e quem comungar o Corpo e o Sangue de Cristo viverá por Cristo. Trata-se de uma vida que se doa, que se sacrifica, que se presenteia. Como Cristo, o cristão deve viver para os outros, para os favoritos de Deus: os pobres, os pequenos, os sofredores e assim por diante. Quem vive em Cristo o egoísmo é superado totalmente.

P. Vitus Gustama,svd

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