quarta-feira, 22 de junho de 2011

OBRAS FALAM POR SI SOBRE QUEM AS FAZ

Texto de leitura: Mt 7,15-20

Vive de tal modo que tua vida seja uma oração. Canta a Deus com a boca, salmodia com as obras. Não te contentes com a formalidade de recitar salmos e hinos. Põe em tuas mãos o saltério de tuas boas obras. (Santo Agostinho, In ps. 91,3)

Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7).  O texto do evangelho de hoje é a ultima parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7). O que conta para Deus é o bem que praticamos. Nossa maneira de viver e de conviver é o parâmetro para saber se realmente rezamos ou se realmente acreditamos em Deus que é o Supremo Bem. O texto do evangelho de hoje serve de verificação para nossas praticas diárias.

Fazer e Dizer Devem Estar Em Sintonia Perfeita

Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’”. Mais uma vez aparece no evangelho a dialética entre o dizer e o fazer. Há quem fale continuamente de Deus (“Senhor, Senhor”) e logo se esquece de fazer sua vontade. Há quem se faça a ilusão de trabalhar pelo Senhor (“profetizamos em teu nome, expulsamos os demônios, fizemos milagres”), mas logo, no dia das contas, no dia da verdade, acontece que o Senhor não o conhecerá: “Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim”.

Por isso, existe o perigo de uma oração (“Senhor, Senhor”) que não é traduzida em vida e em compromisso. Por essa razão um sábio chegou a dizer: “Nãonada que seja mais perigoso do que a oração”, porque obriga ou leva quem reza a assumir os compromissos de Deus com seriedade e perseverança na convivência com os demais homens. Existe o perigo de uma escuta da Palavra que não se converte em nada prático e operante. Jesus fala bem claro neste evangelho: os que falam bem, os que “rezam bem”, os que “oram” e não “fazem” não entrarão no Reino. Em outras palavras, a oração precisa ser transformada em compromisso. Rezemos diante de Deus como uma criança, mas logo voltemos à nossa vida com nossa responsabilidade de adultos. O final de toda oração adulta é um : “Amém”, isto é, aceito a realidade e minha responsabilidade diante dela.

Jesus não quer que os cristãos cultivem somente a relação com ele, e sim que sejam seguidores que, unidos a ele, trabalhem para mudar a situação da humanidade. É viver de acordo com a justiça e a caridade. Ondejustiça nãopobreza nem exclusão social. Devemos ter sempre a cabeça fria para analisar bem os acontecimentos na nossa vida e ao nosso redor, ter o coração sempre quente para amar, acolher e ter a mão sempre larga para ajudar e para abraçar num abraço de reconciliação.

Construir a Vida Sobre a Rocha da Palavra de Deus

Jesus nos convida hoje a sermos seguidoresrocha” e não seguidoresareia”. Seguidorareia” é aquele que vive de uma de simples aparência, sem fundamento. Um dia acredita em Deus, em outra ocasião perde a . Crê quando as coisas vão ao seu gosto e se desanima quando tudo não corresponde àquilo que imaginava. Os seguidoresrochasão os que fundamentam sua vida na rocha que é Cristo e sua Palavra. Os seguidoresrocha” se mantêm firmes em qualquer situação, porque seguram na mão de Deus e sabem em quem acreditam (cf. 2Tm 1,12c).  Para sermos verdadeiros seguidoresrocha” devemos fazer próprios as palavras do Salmo 78: “Senhor, não lembreis as nossas culpas do passado, mas venha logo sobre nós vossa bondade.... Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! Por vosso nome, perdoai nossos pecados!”. Não corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros. Muito sabe quem conhece a própria ignorância e procura a viver mais com sabedoria e prudência.

As Obras Que Falam Por Si

Através do evangelho de hoje Jesus quer nos dizer, primeiramente, que não devemos julgar ou avaliar o homem pelas aparências que são frequentemente enganosas. Devemos, ao contrário, avaliá-lo a partir daquilo que ele faz. Nem as palavras, nem as intenções, e sim as práticas. Se as palavras e as intenções seguem uma direção, e a prática outra, a segunda é que revela o coração do homem, suas opções profundas, seus verdadeiros interesses. Por fora, todos podem parecer iguais, mas o interior da pessoa e as obras que fazem a diferença. Sabemos que nem tudo o que brilha é ouro.
       
Jesus é muito realista. Eleeste critério: “Olhem e vejam como atuam” para saber se são verdadeiros cristãos ou não, se são profetas ou não são profetas. “Pelos frutos vocês vão reconhecê-los”. Qualquer pessoa se manifesta pelo que faz ou pelo modo de viver. Os cristãos são reconhecidos não pelos dons que têm, mas pelos frutos que produzem. Qualidade de um fruto depende da qualidade da árvore.
       
Este critério deve ser aplicado para nós mesmos também: Que frutos produzimos? Que frutos você produz? Dizemos apenas palavras bonitas ou também oferecemos fatos ou obras? De um coração azedo somente produz frutos azedos. De um coração generoso e sereno brotam obras boas e consoladoras. São Paulo na carta aos gálatas escreveu: “As obras da carne são fornicação, idolatria, ódios, discórdia, inimizade, egoísmo, inveja, ciúmes, ira, divisão, rivalidade. Ao contrário, o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, fidelidade, domínio de si mesmo” (cf. Gl 5,19-26). Se nós somos filhos da Verdade e do Amor, então, façamos as obras da Verdade e do Amor e vivamos na sinceridade.
       
A Palavra de Deus hoje nos convida a descermos ao fundo do coração para descobrir nele a nossa maldade ou a nossa bondade; a nossa mentira ou a nossa verdade; nossa veracidade ou nossa falsidade; a nossa esterilidade ou a nossa fecundidade. A Palavra de Deus precisa nos desarmar para nos vermos como somos.

Portanto, com Sua Palavra através do evangelho de hoje Jesus denuncia uma dissociação freqüente e muito perniciosa (prejudicial). Uma vida cristã fundada nesta dissociação é como uma casa construída sem fundamento. Por isso, somos alertados que existe o perigo de uma oração (Senhor, Senhor) que não se traduz em vida e em compromisso (a vontade de Deus). Existe o risco de uma escuta da Palavra que não se converte em nada prático e operante. Existe o risco de certos momentos comunitários que se fecham em si mesmos sem nenhum compromisso. A oração, a escuta da Palavra de Deus e o encontro comunitário, são a raiz da práxis cristã. Porém, a raiz deve germinar e produzir frutos. Ninguém planta trigo sem esperar colher seus grãos. Ninguém pesca sem esperar apanhar peixes.

Por que às vezes ou muitas vezes, a oração se encerra em si, a escuta da Palavra de Deus não se traduz em vida e o encontro com os irmãos não se abre ao mundo? A resposta implicitamente se encontra na própria Palavra de Deus: Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24). Por servir a dois senhores, a pessoa, depois de “servir” a Deus com oração, com a escuta da Palavra e com a reunião eclesial logo serve ao mundo e a si própria com as opções concretas e cotidianas da vida.

Precisamos estar conscientes de que não existe verdadeira sem empenho moral. A oração e a ação, a escuta e a prática, são igualmente importantes. Há três coisas indispensáveis para a vida de um cristão: escuta atenta da Palavra de Deus com oração, prática da vontade de Deus e perseverança até o fim apesar das tempestades da vida.

O evangelho deste dia quer nos dizer que não importa “dizer Senhor, Senhor, nem falar em seu nome, nem sequer fazer milagres”. O que importa é a prática. O fazer. As obras. Não o dizer, nem o pensar, nem o rezar, nem o pregar, nem fazer milagres. A prática é a rocha, por isso, é firme até diante de Deus. As obras boas praticadas em nome de Deus são verdadeiros sinais da abertura diante da graça de Deus.

Rio de Janeiro, 22 de junho de 2011
Vitus Gustama, SVD

·        "O que você deixa para trás não é o que é gravado em monumentos de pedra, mas o que é tecido nas vidas de outros." (Péricles)

·        "Uma vida sem causa é uma vida sem efeito." (Barbarella)

·        Reza bem quem vive bem (Santo Agostinho, De ord. 2,19,51)

·        Os mais belos pensamentos nada são sem as obras”, porém “O Senhor não olha tanto a grandeza das nossas obras. Olha mais o amor com que são feitas (Santa Teresa de Jesus)

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