sábado, 11 de junho de 2011

PENTECOSTES: O ESPÍRITO SANTO COMO DOM E SEUS FRUTOS NA VIDA DE QUEM O ACEITA

At 2,1-11, 1Cor 12,3-13,  Gl 5,22-24
          
A narrativa da vinda do Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) é muito simples. Os discípulos de Jesus estavam reunidos numa sala. Do céu veio um barulho, como de forte vendaval, e encheu a casa. Apareceram línguas de fogo, que pousaram sobre cada um dos presentes. Esses elementos: barulho, vento e fogo, são típicos das manifestações de Deus. Significam que Deus está agindo.
          
O fato de tudo isso vir “do céu” indica que o Espírito Santo não é uma invenção dos cristãos, mas um dom de Deus que foi dado aos discípulos, conforme a promessa de Jesus(Jo 14,15-17). O ES não é um produto da sugestão humana. Ele é uma força irresistível que foge ao controle e às manipulações humanas. Ele sopra para onde quer(cf. Jo 3,8)
          
O que significa que o ES como um Dom de Deus?
          
A descrição do ES como Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino da Graça, pois dom significa presente ou dádiva.  Isto significa que Deus derrama seu Espírito e seus dons sobre nós, não como promoção por nossas realizações, mas na liberdade de sua misericórdia e graça e porque abrimos o coração para este presente. Deus não exige um pagamento velado em troca de seus dons, somente um coração aberto. Isto quer dizer que estamos no Reino dos relacionamentos dinâmicos, do movimento que vem de um doador para um receptor, de abertura de uma pessoa para outra. A palavra Espírito Santo é uma palavra que tem significado apenas num relacionamento. Isto quer nos dizer também que nos encontramos no campo pessoal. Um dom só é um dom, no sentido apropriado da expressão, quando incorpora a intenção de um doador no sentido de dá-lo, e é recebido como dom apenas quando o receptor reconhece essa intenção. Uma vaca não dá o leite; o leite é tirado dela. O ES transmite e expressa o amor a todos nós e nós o recebemos, por isso é que ele é um dom. Quando Deus em Cristo nos doa o Espírito, ele nos doa nada menos que a si mesmo. Por isso, o Dom é um sujeito, vivo, atuante, que ama, soberano e livre.
          
Conforme o texto, o ES se manifesta simbolicamente como “línguas de fogo”. A língua é instrumento de comunicação, de fala, e dá origem à linguagem, que é o meio dos seres humanos se comunicarem. Mas São Tiago(Tg 3,1-10) alerta que a língua pode desviar o homem do caminho de Deus e pode transtornar sua vida e desvia a linguagem do seu uso correto.  Segundo São Tiago, a língua, por menor que seja, é uma força  devastadora capaz de pôr a vida a perder. O poder da língua pode sujar o corpo inteiro, tanto para quem fala como também o corpo no sentido de uma comunidade inteira. Temos impressão de que muita gente ainda não consegue domesticar a língua por isso causa a inquietação e o sofrimento em muitas pessoas.
          
O fato de o ES se manifestar simbolicamente como “línguas de fogo” nos leva diretamente ao seu significado que o dom do ES não é para a edificação pessoal, mas para a comunicação, e concretamente, para a comunicação da “boa notícia” do Evangelho, que transforma as relações e faz surgir a fraternidade e a partilha que podem proporcionar liberdade e vida para todos.
          
Qual é o efeito do dom do ES quando é recebido. Quando uma pessoa aceita Deus na sua vida e se deixa guiar pelo ES, ela se torna mais amorosa, bondosa, moderada, autocontrolada, mansa, pacífica, firme, alegre, e cortês conforme a Carta aos Gálatas (veja Gl 5,22-24).
          
O ES faz uma pessoa mais amorosa. E o amor se expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se da disposição interior para o pensar bem, para o falar bem, para o agir bem. Uma pessoa amorosa é aquela que tem um coração espaçoso e faz tudo por amor. Tudo que se faz com amor, por pequeno que seja, se torna uma obra prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por maior que ele seja.
         
O ES faz pessoa mais bondosa. A bondade é a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor. Nossa bondade é nada mais que uma participação, no ES, da característica divina, e por isso, é bela, criativa, fascinante, capaz de suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração resiste diante da bondade.
          
O ES faz uma pessoa mais moderada. “Moderação”(epieíkeia) significa respeito, afabilidade, acessibilidade, flexibilidade e equilíbrio ao aplicar as leis, as regras; é capacidade de saber prever também as oportunas exceções às regras. Trata-se de uma atitude fundamental na vida social. O contrário da moderação são a arrogância, a prepotência, a petulância, a rudez, a presunção, a falta de educação etc.
          
Uma pessoa guiada pelo ES tem o domínio de si ou autocontrole. O autocontrole é uma atitude que exige de si o respeito pelo outro, mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder e de prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física,  verbal e moral nos relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia; evita a busca da própria vantagem, do próprio prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de alguém.
          
O ES faz uma pessoa mais cortês. A “cortesia” é a atitude de Deus em relação ao homem, o modo com o qual o Senhor se comporta conosco, segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo(chrestós) para os ingratos e para os maus”(cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher, de ir ao encontro do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado.
           
O ES faz uma pessoa mais mansa. A mansidão é uma  atitude que acalma a ira ou cólera. A mansidão é a atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros; é responder à ira com a ponderação.
          
O ES faz uma pessoa mais firme e perseverante. A longanimidade permite sustentar no tempo a esperança(Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a capacidade de saber investir, sem pretender a obtenção de resultados imediatos. Ela é a atitude que permite superar frustrações, que permite superar a irritação e o medo diante da aparente esterilidade da ação. Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência virá a alegria.
          
O ES faz uma pessoa mais alegre. A alegria é a atitude que torna tudo mais fácil. “Deus ama a quem doa com alegria”(2Cor 9,7), pois quem doa com alegria, doa bem. Ela é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela é um sinal claríssimo da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está agindo, precisamos verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a alegria, está aí o ES. O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”(cf. Jo 16,22-24).
          
O ES torna uma pessoa mais pacífica. Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e divino. A paz é a sensação de sentir-se em casa, de ter familiaridade com o ambiente em que vivemos. E sentir-se em casa com Deus, em Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a inquietude do coração. Como dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Deus”. A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os relacionamentos são construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as desconfianças recíprocas.
          
Hoje é o dia oportuno para verificar se estamos ou não com o ES. Precisamos mais do que nunca, nos reunir hoje em torno da Igreja para invocar, em uníssono, sobre nós, sobre nossa família e sobre o mundo inteiro, o Espírito Santo que é Espírito de reconciliação, de unidade, de renovação, de harmonia, de amor, de alegria, de mansidão, de cortesia, de longanimidade, de moderação, de autocontrole e de paz. Por isso juntos rezemos: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor e envia o Teu Espírito, Senhor e tudo será criado, e renovarás a face.”

Rio de Janeiro, 11 de junho de 2011
Vitus Gustama, SVD

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