sábado, 2 de julho de 2011

SÃO PEDRO E SÃO PAULO SOLENIDADE

Mt 16,13-19

        
A Igreja celebra neste dia a solenidade de São Pedro e São Paulo. A Igreja une em uma celebração os dois apóstolos, colunas da Igreja e herdeiros do Evangelho. Os dois são fundamento de nossa cristã, como reza a coleta deste dia. Os dois são homens com um passado não precisamente brilhante. No entanto, o Senhor os chamou dentre os homens para serem seus apóstolos e colunas de sua Igreja. Pedro e Paulo são dois cristãos nos quais devemos nos espelhar com freqüência. Ambos tiveram seus fracassos pessoais, mas ambos seguiram tão fielmente a Cristo que fizeram visível no mundo o rosto amoroso do Deus encarnado. Isto os faz grandes aos olhos de Deus e aos olhos dos homens e por suposto, aos olhos de todos os que, como eles, pretendem seguir a Jesus sendo Igreja, essa Igreja que eles construíram com seu próprio sangue.

1. É Preciso Ter A Experiência Pessoal Com Jesus Para Conhecê-Lo
          E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15)
         
Na festa dos santos: Pedro e Paulo, lemos o texto do evangelho de Mateus no qual Jesus lança uma pergunta principal, válida para qualquer cristão de qualquer época e lugar: “E você, quem diz que eu sou?”. Jesus não perguntou apenas para Pedro, mas ele pergunta para cada cristão. Esta pergunta nos ensina que nossa descoberta de Jesus Cristo deve ser uma descoberta pessoal. Quando Pilatos perguntou a Jesus se ele era o rei dos judeus, Jesus lhe respondeu em forma de uma pergunta: “Tu falas assim por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim?” (Jo 18,34).
       
Para conhecer a identidade de Jesus é preciso encontrar sua pessoa. Em outras palavras, é preciso ter a experiência pessoal com ele. Podemos crer em muitos fatos da vida de Jesus, mas não significa que tenhamos a experiência com Jesus. O cristianismo jamais consiste em saber sobre Jesus, mas sempre consiste em conhecer Jesus. A experiência não é uma recordação. A experiência é um ato ou algo que nos acontece e transforma nossa atitude e nosso modo de viver e de perceber a vida e as pessoas.
       
A experiência que o cristão deve ter em relação com Jesus é a experiência de Jesus ressuscitado, isto é, do Cristo vivo aqui e agora, ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8). Não se trata de uma experiência histórica, mas uma experiência trans-histórica, pessoal e intransferível. Se um cristão chegar até este nível de experiência, ele vai dizer com os samaritanos na experiência do encontro de Jesus com a samaritana que lhes relatou sua experiência pessoal com Jesus: “ não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios O ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4,42).
         
Sem a experiência pessoal com Jesus vivida por cada cristão, o cristianismo se reduzirá a uma religião de um livro cheio de recordações da vida de uma pessoa no passado. O cristianismo não é uma religião do livro, mas uma religião da Palavra viva que é ouvida, experimentada e percebida em sua força transformadora por quem tem “ouvidos para escutar” e o coração aberto para sentir que nos permite nos abrir à transcendência. Esta experiência nos leva a vivermos um conjunto de experiências tais como o amor a Deus e ao próximo, a solidariedade e a compaixão, o perdão e a reconciliação, a verdade e a veracidade, a fidelidade, a abertura ao novo, a liberdade e assim por diante. Neste sentido o cristão é aquele que está sempre ligado consigo mesmo, com seu próximo, com o mundo e com o Divino.     

2. Apesar Da Debilidade Humana A Graça Opera Na Vida Do Homem
        
Pedro deu sua resposta no meio de sua debilidade. Apesar disso, Pedro é um predileto de Jesus, que desde o primeiro momento vive com o Senhor os acontecimentos mais importantes de sua vida. Fogoso e temperamental não tem inconveniente em assegurar a Jesus que é capaz de morrer com Ele, mas basta a insinuação de uma mulher, nos momentos de perigo, para que negasse rotundamente conhecer ao Mestre. Mas depois, a única coisa que Jesus pede de Pedro para ser sua fiel imagem na terra é que ele ame a Jesus (cf. Jo 21,9-15). E o desejo de Jesus é que a Igreja deve ser governado no amor, por amor e para o amor: no amor à Pessoa de Jesus e como conseqüência lógica, no amor a todos os homens.
        
Reflitamos sobre o Pedro da intrépida, que confessa que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus e o Messias: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Diante desta confissão, Jesus afirma: “Não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v.17). O texto quer nos dizer que não é possível chegar ao mistério de Deus através da lógica e da razão humana. Faz-se unicamente possível graças à revelação do Pai. O homem, por muito inteligente que ele seja, é radicalmente incapaz de ter acesso para o domínio misterioso de Deus. Para conhecer Deus e sua vontade precisamos da graça divina, como os olhos, para enxergar melhor eles precisam da luz.      
Além do Pedro da intrépida, recordamos também o Pedro da negação que nos momentos difíceis e trágicos da Paixão do Senhor diz por três vezes que não conhece Jesus. Através do caminho paradoxal da negação e da queda, Pedro purifica e fortalece sua para constituir-se em rocha firme para seus irmãos.
        
Apesar de sua debilidade, como ser humano, a Pedro é confiada a função que se define com três metáforas: a pedra/rocha, as chaves, atar e desatar. Pedro é a rocha que mantém firme a Igreja. Em outras palavras, Pedro é o ponto em torno do qual se constitui a unidade da comunidade. Na segunda metáfora falam-se das chaves. Dar as chaves significa confiar uma autoridade verdadeira e plena. E a terceira metáfora é atar e desatar que tem sentido de permitir e proibir, de separar e perdoar. Todo este poder deve ser exercido com um espírito de serviço para não transformá-lo em dominação e tirania, pois a Igreja é de Cristo e fundamento de qualquer fundamento é o próprio Senhor.
        
No entanto, o texto nos apresenta dois aspectos aparentemente em contraste: a de Pedro e sua incompreensão do mistério de Jesus, a autoridade confiada a Pedro e a reprovação que lhe faz Jesus. No fundo o que se coloca em destaque é a debilidade humana e a graça de Deus. Os evangelistas enfatizam intencionalmente este contraste para acentuar que pela graça, em virtude da eleição divina e não pelos dons naturais é que Pedro se torna a rocha sobre a qual Cristo funda sua Igreja.
        
A partir da experiência de Pedro temos que aprender que a é um risco que apesar de nossas debilidades e negações, através de nosso modo de viver e de nos comportar, devemos ser colunas e sinais de no mundo de hoje, anunciando que Jesus de Nazaré é o Salvador dos homens e por isso, é a nossa esperança. Antes de pregar para os outros que Jesus é o Salvador, temos acreditar que para nós Jesus é verdadeiramente o Salvador.

3. “Sobre Esta Pedra Construirei A Minha Igreja
        
O texto coloca o novo povo de Deus à margem do povo antigo: “Minha Igreja”. Isto quer nos dizer que o novo povo de Deus deve nutrir-se da busca e do encontro com Jesus vivo e vivificante, do descobrimento fascinado e fascinador de sua pessoa. É a busca pacífica e contemplativa feita de silêncios ativos, de aberturas disponíveis, de docilidade dolorosa e de paixão indeficiente. O novo povo de Deus deve nutrir-se deste encontro e deve viver-se dele, porém não deve agarrá-lo como produto próprio, mas para levá-lo aos outros, carentes do sentido de vida. O povo que se nutre de Jesus é a Igreja de Jesus Cristo. E esta Igreja tem em Pedro sua força e sua autoridade.
        
E a Igreja é uma casa construída sobre a rocha ainda que se apóie na fragilidade dos homens. Por isso, é uma estabilidade atormentada e inquieta. Somente Cristo não tem mancha nem mácula. Somente Cristo apresenta o verdadeiro e autêntico rosto de Deus sem deficiência alguma. Todos os demais, apesar de nossa boa vontade O ensinamos com a carga de nossa pequenez e de debilidade. Dentro da Igreja haverá sempre pecadores. Por isso, a Igreja tem necessidade de “atar e desatar”. O pecado continua, e por isso, deve continuar também o perdão. Somente dentro do motivo cristológico e eclesial é que podemos entender todas as palavras dirigidas por Jesus a Pedro no evangelho deste dia e que são dirigidas também hoje para todos nós. Jesus promete que sua Igreja sobreviverá, não obstante as forças da destruição e da morte. Vivemos apoiados sobre esta promessa. A promessa do Senhor e sua fidelidade nos tornam lutadores incansáveis do bem.

4. “Pela Graça De Deus Eu Sou O Que Sou” (1Cor 15,10)

Paulo sempre foi um homem profundamente religioso, judeu praticante, irrepreensível na mais estrita observância da Lei (Fl 3,6;At 22,3) cheio de zelo pelas tradições paternas (Gl 1,14). Para defender essas tradições, chegou a perseguir os cristãos e isso com o apoio do Sinédrio. Ele via as mesmas coisas de sempre: a vida, as pessoas, a Bíblia, o povo, a sinagoga, o trabalho e tudo que pertencia ao seu mundo.
        
Mas a nova experiência do amor de Deus em Jesus (Rm 8,39) mudou os olhos de Paulo, e o ajudou a descobrir novos valores que antes não via. Na estrada de Damasco Paulo, em vez de perseguir, ele foi perseguido por Cristo. A entrada de Jesus na vida de Paulo não foi pacífica, mas sim de uma maneira violenta. Deus não pediu licença a Paulo. Ele entrou e o derrubou (At 9,4;22,7;26,14). Uma luz o envolveu (v.3) e era tão forte que Paulo ficou cego. A visão de Deus é luz, mas para a carnalidade do homem é motivo de espanto e faz com que o homem perceba toda a escuridão em que se encontra. Em contato com Deus que é luz, o homem se reconhece que é trevas.        
          
A partir da experiência de Damasco, Paulo não consegue confiar naquilo que ele faz por Deus, mas naquilo que Deus fez por ele. não coloca sua segurança na observância da Lei, mas sim no amor de Deus por ele (Gl 2,20s;Rm 3,21-26). Essa experiência chama-se Gratuidade: “Eu sou o que sou pela graça de Deus”, confessa Paulo. Essa experiência da gratuidade do amor de Deus vai dar rumo à vida de Paulo e vai sustentá-lo nas coisas que virão. Essa experiência é a nova fonte da sua espiritualidade que faz brotar nele uma “poderosa energia” (Cl 1,29), energia muito mais forte e muito mais exigente do que a sua vontade anterior de praticar a Lei e de conquistar a justificação. Ele cresce tanto no amor de Cristo, a ponto de dizer: “ não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). A experiência da gratuidade do amor de Deus faz Paulo suportar lutas e perseguições, viagens e canseira, o peso do dia-a-dia (2Cor 11,23-27); sofrer com aqueles que sofrem (2Cor 11,29). Essa experiência mudou os olhos de Paulo e o ajudou a descobrir novos valores que antes não via. Morreu como mártir. Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo.
          
Se nunca realizamos a fundo esta mudança de mentalidade que é essencial para a vida cristã, ainda não chegamos a compreender o que é a novidade do caminho cristão. Se não compreendo bem as coisas ditas sobre Paulo, provavelmente é difícil que compreenda o que aconteceu em nossa vida.
             
As duas figuras, Pedro e Paulo, nos trazem uma mensagem de esperança. Na vida podemos ter muitos defeitos e fraquezas a ponto de não conseguirmos sair deles, mas ninguém pode escapar do amor de Deus desde que acolhamos este amor com muita humildade. Pedro e Paulo são testemunhas de tudo isto. Como se os dois quisessem nos dizer: “Não desiste! Tudo tem seu tempo e sua solução, pois Deus te ama”. 
          
Deus conta com o tempo para formar cada um de nós, seus instrumentos, como conta também com a nossa boa vontade. Se tivermos a boa vontade de Pedro e de Paulo, se formos dóceis à graça de Deus, iremos convertendo-nos em instrumentos idôneos para servir o Mestre e para levar a cabo a missão que nos confiou. Até os acontecimentos que parecem mais adversos, os nossos próprios erros e vacilações, se recomeçarmos uma vez e outra, se abrirmos o coração ao Senhor e às pessoas capacitadas na direção espiritual, haverão de ajudar-nos a estar mais perto do Senhor que não se cansa de suavizar os nossos modos rudes e toscos. É provável que, em momentos difíceis de nossa vida, cheguemos a ouvir como Pedro: “Homem de pouca , por que duvidaste?”(Mt 14,31). E veremos Jesus ao nosso lado, estendendo-nos a mão para nos ajudar.
        
Todos nós recebemos, de diversas maneiras, uma chamada concreta para servir o Senhor. E ao longo da vida chegam-nos novos convites para segui-lo, e temos de ser generosos com Ele em cada novo encontro. Temos de saber perguntar a Jesus na intimidade da oração, como São Paulo: “Que devo fazer, Senhor? Que queres que eu deixe por Ti? Em que desejas que eu melhore? Neste momento da minha vida, que posso fazer por Ti?”.

Rio de Janeiro, 02 de julho de 2011
 Vitus Gustama,SVD

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