sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A BELEZA E A PROFUNDIDADE DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

Sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Texto de Leitura: Mt 19, 3-12
         
Na época de Jesus, a Lei permite a possibilidade de um homem repudiar a mulher (Uma mulher não tinha nenhum direito de repudiar seu marido) e determina que ele lhe dê um documento legal de divórcio, que a deixe livre para se casar (Dt 24,1-4; Jr 3,8). O Deuteronômio dá uma razão geral para o marido divorciar-se da mulher: “esta não encontra mais graça aos seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente” (Dt 24,1). Expressa, então, a superioridade do homem e seu domínio sobre a mulher e refletia a opressão exercida em todos os níveis da sociedade na época. A mulher é considerada como objeto ou propriedade do homem (uma moça solteira era propriedade de seu pai; uma mulher casada era propriedade de seu marido).
       
Questionando Jesus sobre o divórcio, os fariseus se aproximam de Jesus para tentá-lo: “É lícito a um marido repudiar sua mulher?” Se responder “sim”, Jesus se mostra como seguidor de Moisés, assim Jesus não será maior do que Moisés. Se responder “não”, Jesus estará em oposição à lei de Moisés.
        
Jesus, porém, não está preocupado com a lei que mantém a lógica dominante. Ele levanta duas questões: Por que Moisés escreveu tal lei? E será que Moisés a escreveu com intenção de permitir o divórcio? Por isso, Jesus responde: “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher...os dois serão uma só carne/ser”. Para o hebreu, coração significa o centro da pessoa, da sua liberdade, dos seus relacionamentos: lá onde a pessoa se abre e se dá na conversão, no amor e no compromisso. A vitória do Reino será justamente a transformação do coração humano. A condição de “dureza de coração” impede que se perceba o valor que cada pessoa tem aos olhos de Deus (3,5); e ela causa cegueira diante da manifestação do Amor de Deus (Mt 6,52;8,17).

O que Deus uniu o homem não separe”, afirma Jesus. Jesus insiste na insolubilidade do matrimônio. Mas em que consiste a beleza e a profundidade do matrimônio indissolúvel?

O matrimonio é belo por causa da sua durabilidade e da sua definitividade. A definitividade do matrimônio faz com que o amor se torne cada vez mais maduro, pois ele é refletido toda vez que encontra sua dificuldade e seus obstáculos. Precisamente na medida em que os momentos de crise matrimonial se superam, cresce também uma nova dimensão do amor e ao mesmo tempo se abre uma porta para uma dimensão da vida. Na superação de cada momento de crise abre-se uma porta para uma nova dimensão da convivência matrimonial e familiar. Com efeito, a verdadeira beleza do matrimônio não consiste apenas na sua harmonia, mas também na superação de cada momento de crise.

 A beleza do matrimônio também consiste em ser ninho do amor e de outros valores. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A grandeza de um matrimônio e de uma família consiste na entrega sincera de si mesmo ao outro. Nada pode substituir a existência de uma família, pois ela é a base de uma história, de um crescimento, da maturidade humana e cristã. A família é um bem necessário para cada ser humano para toda a sua vida.

Por isso, a beleza de um matrimônio consiste na transmissão dos valores para os filhos. Não é por acaso que cada família cristã é chamada de Igreja doméstica, pois através da vivência dos valores a família se torna uma comunidade de graça e uma escola das virtudes humanas e cristãs. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida. Cada um recebe de outros, principalmente da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente. Neste sentido, os próprios pais são exemplo e professores das virtudes humanas e cristãs. Somente desta maneira cada família pode superar a cultura que exalta o egoísmo e o individualismo como se cada um se fizesse só e se bastasse a si mesmo esquecendo o valor de uma relação com os outros e sua responsabilidade diante dos outros.
    
Ao lermos este texto sabemos que Jesus não queria ensinar que o casamento é um simples contrato legal que não pode ser dissolvido. Pois um simples contrato pode sempre ser dissolvido, porque se trata apenas de um acordo entre duas vontades humanas. Com sua resposta, Jesus quer mostrar que o casamento é mais do que uma lei. Ele é graça de Deus. É uma união de amor. “O amor é o único jogo no qual dois podem jogar e ambos ganharem” (Erma Freesman). “O fundo de uma agulha é bastante espaçoso para um casal que se ama; mas o mundo todo é pequeno para dois inimigos” (Solomon Ibn Gabirol).  É neste nível que deve ser compreendido, e é neste plano que os esposos devem viver. Jesus dá, então, ao casamento uma dignidade nova.
         
Se a instituição do matrimônio é tão ameaçada atualmente talvez seja porque nossa cultura tenha aspectos que favoreçam a condição de dureza de coração. Valoriza-se a liberdade, mas sem compromissos. Cria-se um conceito da afetividade e sexualidade que é baseado mais no egoísmo do que no respeito pela dignidade do outro, e no espírito de doação.
        
Hoje sentimos como é necessário ajudar as pessoas a conhecerem a pessoa de Jesus, e a encarar a vida conjugal como uma vocação, ou seja, como um chamamento a viver o Amor do Reino neste estado de vida. Continuamos na obrigação de educar para um amor capaz de assumir compromissos definitivos. Isso se faz para valorizar a confiança mútua, a fidelidade ao outro e a si mesmo, para dar uma chance à felicidade que estava no plano de Deus desde o começo. Não vemos casamento indissolúvel como uma obrigação a ser carregada, e sim como um direito que não deve ser sacrificado num mundo que fez do descartável um modo de vida. Responsabilidade, desejo de fidelidade, seriedade na palavra empenhada têm muito a ver com o direito de ser e fazer feliz.

Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Jesus está sempre contra a corrente. Palavra incompreensível para muitos homens e mulheres, qualquer que seja a sua idade. O ser humano foi criado à imagem de Deus por amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus. Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem. O casamento indissolúvel é um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer: Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).

Deus abençoe todas as famílias, todos os casados e todos os futuros casados.

Vitus Gustama, SVD

“Se você quiser ser fiel até a morte, deve estar disposto a mudar durante toda a sua vida. Os esposos fiéis podem olhar-se nos olhos sem temores” (René Juan Trossero).


“Quando se ama o eterno, a alma participa da eternidade” (Santo Agostinho. De div. Quest. 83,35).

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