segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SER RICO DIANTE DE DEUS É SER SOLIDÁRIO COM OS NECESSITADOS

Terça-feira, 16 de agosto de 2011

Texto de Leitura: Mt 19,23-30

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“Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és” (Santo Agostinho. Serm. 23,3).

“Sem amor o rico é pobre; com amor, o pobre é rico” (Santo Agostinho. Serm. 350,3).

Conserve o que tens dentro e não terás de temer nada de fora” (Santo Agostinho. In ps. 35,17).
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O texto do evangelho lido neste dia é a continuação do texto do evangelho do dia anterior. No evangelho do dia anterior o jovem rico recusou o convite de Jesus para vender tudo o que tinha e deu aos pobres para depois seguir a Jesus. “Quando ouviu isso (convite), o jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”, assim terminou o evangelho do dia anterior. Escravo da riqueza, tudo se desvaneceu e o jovem rico se viu impedido de trilhar a vereda da vida eterna.

A história do jovem rico que não está preparado para viver no amor, na partilha, na solidariedade, na entrega da própria vida aos irmãos, serve a Jesus para dar uma exortação para todos: "É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. A imagem do camelo, que jamais pode passar pelo buraco de uma agulha a aplica a imagem da “porta estreita” para a vida (cf. Mt 7,13s). Jesus cita o pequeno buraco de uma agulha e o camelo, um dos maiores animais, para expressar com uma metáfora a impossibilidade.

O ser humano tem tendência por natureza para o desenvolvimento de si mesmo, de melhorar sua situação econômica. Como garantia deste seu direito o ser humano procura apropriar-se das coisas que o rodeiam no intuito de utilizá-los ou de usá-los como meio. Trata-se de uma aspiração legítima. Por isso, Jesus não condena a riqueza, mas a ansiedade de acumular fortunas de forma gananciosa. O ideal do cristão não é a pobreza nem a fome nem a nudez, mas a divisão fraterna dos bens que Deus pôs à disposição de todos. Pecado não é ficar rico, mas ficar rico só por si, às vezes como fruto de exploração dos outros, deixando a maioria sem nada para sua sobrevivência. Na avareza está oculta uma ofensa social. Não é fácil conciliar a riqueza excessiva de alguns com os direitos que os outros têm ao necessário.

O alerta de Jesus sobre os perigos da riqueza não é somente para os ricos, de fato, mas para todos quantos queiram ser seus discípulos e entrar na vida eterna. O dinheiro é o deus que tem seu altar em cada coração humano: no jovem e no adulto, no leigo e no religioso/sacerdote. Seria ingênuo negá-lo. É um ensinamento para todos, pois todos nós temos “alma de rico”, incluindo os pobres que são cobiçosos, avarentos e apegados ao pouco que possuem. Em todos os níveis sociais se busca a riqueza material, freqüentemente com espírito de cobiça, e se põe nele a confiança mais que em Deus. A avareza é um desvio do significado de infinito, uma transposição do absoluto para o que é relativo. A avareza consiste em acreditar que a riqueza não é um meio para se viver, mas a própria razão de ser da vida.
       
“O que preciso fazer de bom para alcançar a vida eterna” é uma questão que inquieta todos os que acreditam em Deus. A vida eterna é sempre um dom gratuito de Deus, fruto da sua bondade, da sua misericórdia, do seu amor pelo homem; no entanto, é um dom que o homem aceita, acolhe e com o qual se compromete. Se a vida eterna é um dom gratuito com o qual devemos nos comprometer, isto significa que nós todos somos chamados a ser generosos. Ser generoso é um sinal de gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos temos é precioso se o apreciarmos como um dom do amor de Deus. Se apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que temos vem de Deus, conseqüentemente, não nos agarraremos aos nossos bens materiais, mas procuraremos ser cada vez mais generosos. Isso é uma maneira de viver desde já a vida eterna. A vida eterna é uma realidade que deve marcar cada passo da nossa existência terrena diariamente e que atingirá a plenitude na comunhão plena com Deus no nosso encontro derradeiro com Ele. Nós, cristãos, sabemos que os bens deste mundo, embora nos proporcionem bem estar e segurança, não nos oferecem a vida eterna, pois tudo será deixado aqui nesta terra assim que partirmos deste mundo. Essa vida eterna que buscamos ansiosamente está no caminho de amor, de serviço, de dom da vida que Cristo nos ensinou a percorrer.

O cristão não é um pobre coitado condenado a passar ao lado da felicidade, pois a felicidade é o projeto de Jesus (cf. Mt 5,1-12); mas é uma pessoa que renuncia a certas propostas falíveis e parciais de felicidade, pois sabe que a vida plena está em viver de acordo com os valores eternos propostos por Jesus. Sem dúvida, as nossas opções cristãs são criticadas, incompreendidas, e apresentadas como realidades incompreensíveis e ultrapassadas por aqueles que representam a ideologia dominante, que fazem a opinião pública. Precisamos, todavia, estar conscientes de que a perseguição e a incompreensão são realidades inevitáveis, que não podem desviar-nos das opções que fizemos. A vida eterna, a felicidade não está no ter e sim no ser. E para ser é indispensável a liberdade interior. E a liberdade interior se manifesta na doação, na partilha, na solidariedade, na compaixão. Enfim, está no amor vivido na convivência com os demais. Por este caminho só há felicidade.

Vitus Gustama, SVD

“Morre-se por falta de pão. Mas também se morre por excesso de pão” (Santo Agostinho. In ps. 33,2,15).

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