sábado, 8 de outubro de 2011

CONVITE DE DEUS PARA O BANQUETE ETERNO E NOSSA ADEQUADA RESPOSTA  
                                       
Reflexão Para XXVIII Domingo Do Ano Litúrgico A
(9 de outubro de 2011)

Texto de Leitura: Mt 22,1-14
          
A parábola do banquete nupcial do filho de um rei é a última das três parábolas aqui reunidas pela semelhança de tema (cf. Mt 21,28-22,14). Nesta parábola Mt une duas parábolas: a dos convidados a um banquete nupcial (Mt 22,1-10), que pode se encontrar em Lc (Lc 14,15-24) e no evangelho apócrifo de São Tomé (cf. EvT 64, cuja semelhança com a de Lc pode-se notar facilmente) e a do comensal sem vestido apropriado (Mt 22,11-14; sem paralelo em Lc).

1.   A parábola do banquete nupcial e sua mensagem
          
Na época (como também na nossa) as refeições tinham uma função social importante, pois eram cerimônias através das quais se confirmava o status das pessoas e seu lugar dentro da escala social. Os banquetes eram também um meio para estreitar laços, para afirmar alianças e relacionamentos. Cada aliança era finalizada com uma refeição (basta ler as alianças no Antigo Testamento. Jesus, ao terminar sua missão nesta terra, faz uma refeição [a Eucaristia] que é “a nova e eterna aliança”). O status de uma pessoa podia ser medida muito bem pelas pessoas que freqüentavam sua mesa. Em ocasiões especiais, como a boda de um filho, a seleção dos convidados era minuciosa. De modo geral eram convidadas pessoas importantes, pois a presença dessas aumentava o status e a honra da família.
          
Ler neste contexto, o mais surpreendente da parábola é que os convidados se negam a participar do banquete de bodas com motivos sem fundamentos. Recusar um convite como este era algo quase impossível, pois tratava-se do convite de um rei, por isso era uma ofensa gravíssima a quem convidava (rei) e mais grave ainda porque mataram os enviados do rei. O rei responde à ofensa mandando seus servos para convidar a todos os que se encontraram pelos caminhos, gente que nunca tinha nenhuma oportunidade de sentar-se à mesa de um banquete de um personagem importante, muito menos de um rei.
          
O que a parábola quer nos transmitir?
          
Esta parábola é uma alegoria da História da Salvação. O rei é Deus. O primeiro grupo de enviados (v.3) representa os profetas que não foram ouvidos. O segundo grupo que é maltratado (perseguido e morto) representa os Apóstolos e missionários enviados aos judeus (vv.6-7). O terceiro grupo que foi enviado pelos caminhos representa a missão entre os pagãos. O banquete de bodas do filho simboliza a chegada do tempo messiânico manifestado na vinda de Jesus Cristo. O convite recusado representa a incredulidade em Jesus e sua mensagem. A vingança do rei em mandar incendiar a cidade dos que recusaram ao convite e mataram os enviados refere-se à destruição de Jerusalém numa guerra entre judeus e romanos nos anos 66-70 d.C. Mt interpreta o acontecimento dentro da história da salvação para transmitir a mensagem sobre as conseqüências da aceitação ou da recusa da oferta da salvação feita por Deus em Jesus Cristo para a humanidade.
          
A parábola fala do banquete. Na Bíblia o Reino de Deus é comparado a um banquete, onde se come e se bebe à saciedade, onde se dança, se brinca, se ri, se fala com os amigos e se contam histórias e todos se sentem felizes. Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, o banquete é símbolo da abundância, da vida, da felicidade, da fraternidade e da alegria. É o símbolo da grande reunião, da reunião universal de Deus, a que todos os povos são convidados. Deus simplesmente não discrimina; sua escala de valores e seu estilo de agir são diferentes dos nossos, pois todos são filhos seus. Nossas classificações das pessoas não são válidas para o Senhor que faz nascer o sol cada manhã sobre maus e bons (Mt 5,45).
          
Isto nos mostra o amor gratuito de Deus para todos, porque todos são seus filhos. E Deus os ama da mesma maneira e ama cada um na sua individualidade e não como uma massa de pessoas. Por isso, Cristo rompeu as barreiras divisórias entre os homens, com grande surpresa dos puritanos que ouviram a parábola. A leitura desta parábola é, de certa forma, coerente com um dado importante da vida de Jesus: suas refeições com os pecadores e cobradores de impostos que causam duras críticas da parte dos fariseus. Jesus os critica, pois a sua mensagem é muito melhor acolhida pelos pequenos (pecadores e cobradores de impostos), inclusive pelos pagãos do que pelo povo eleito. Jesus conquista as pessoas, os que são afastados e os que se afastam da comunidade com uma conversa particular, ouvindo cada um e mostrando a importância ou o valor de cada um. Ele não faz nenhum discurso moralista. Até os publicanos como Zaqueu, Mateus, se tornaram seus discípulos. Jesus é capaz de ver algo bom dentro de cada um e conscientiza a própria pessoa sobre a bondade que dentro dela tem.
         
A parábola nos relata três atitudes diferentes perante o convite de Deus que têm muito a ver com o nosso dia a dia. Os primeiros convidados recusam o convite porque não querem largar os próprios interesses: a lavoura, os negócios e ódio contra os enviados de Deus. Não precisam que ninguém lhes ofereça um banquete, pois eles têm tudo o que lhes pode garantir uma vida sem problemas. Estão satisfeitos. Essas pessoas acham não precisar de Deus ou de religião, pois elas têm tudo de que precisam materialmente. Mas dificilmente elas percebem o seu vazio interior. “Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. Por isso, o homem para onde se dirija, sem se apoiar em Deus, só encontrará dor” (Santo Agostinho). A riqueza material sufoca qualquer aspiração religiosa para quem vive somente em função desta riqueza material. Nossa alma não está sedenta de fama, de conforto, de propriedade ou de poder, pois tudo isso tem seu tempo limitado como a vida na história tem seu fim. Nossa alma tem fome do significado da vida ou de aprendermos a viver de tal maneira que nossa existência tenha importância, capaz de modificar o mundo ao nosso redor pela nossa passagem por ele. O que nos frustra e rouba a alegria de nossa vida é esta ausência de significado. Será que tudo o que eu fizer, apresentar, falar, pensar, planejar significa alguma coisa?
          
A mensagem da parábola, portanto, é muito clara. Viver como se Deus não tivesse importância e o encontro com Ele estivesse tão distante que não valesse a pena preparar-se para ele, é pôr em risco a salvação eterna. Perante a salvação, o bem absoluto, não há nenhuma desculpa que seja razoável: nem campos, nem negócios, nem saúde, nem bem-estar. Alegamos falta de tempo, mas encontramos tempo para o jogo ou para a televisão ou para o lazer. A vida é tão corrida que não nos sobra um momento para o mais essencial: encontrar-nos com o Cristo, o nosso Salvador. Deus não pode ser tratado como uma moda. Com Deus está em jogo toda a nossa existência, presente e futura, a maneira de entender a vida etc.. Deus é que nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com o igual amor nos mantém no ser. Falar de Deus não é um passa tempo e sim uma necessidade vital, porque é só através dele que podemos alcançar a compreensão de nós mesmos, do significado e da importância da nossa vida. Somente em Deus e com Deus o homem pode esperar a realização de si mesmo. O conhecimento de Deus, apesar de ser tão pobre e pouco, é como se fossem os carvões ardentes que alimentam a chama da nossa esperança.
         
 Hoje é um dia feliz para nós que escutamos o convite que brota das fontes da Palavra de Deus. Deus nos chama à festa de seu Reino, festa autêntica, alegria completa, oferta total de felicidade. Pois a mensagem cristã é a boa notícia da libertação já iniciada e o gozo da esperança plena da mesma; e isto, apesar de tantas misérias que nos cercam. Quem confia em Deus sabe que Deus guarda por ele, que ele está convidado para o futuro de Deus e tem em suas mãos, com isso, o mais maravilhoso convite de sua vida.
          
O domingo é o “pequeno” banquete escatológico e nos prepara para o futuro banquete de Deus, banquete sem fim. Não é de admirar que Jesus instituísse a Última Ceia (a Eucaristia) e quer estar no meio de nós até o fim dos tempos (Mt 28,20) em forma do banquete eucarístico. Mas, infelizmente, muitos pensam que ir à igreja é bom somente para as mulheres, as crianças e os idosos, pois os que pensam desta maneira não percebem ainda o valor incalculável do banquete eucarístico e ao mesmo tempo não percebem ainda o vazio de seu coração. A Eucaristia é o banquete do céu na terra. Ir à missa é ir ao céu.
           

A parábola do homem sem roupa apropriada para a festa e sua mensagem         
          
Na segunda parábola trata do relato do homem que entrou sem a roupa nupcial e foi expulso. Os biblistas concordam em dizer que se trata de uma outra parábola que foi acrescentada à precedente. Portanto, deve ser interpretada isoladamente para não interpretar erradamente acusando o rei como alguém que não é coerente no seu convite, já que ele mandou convidar todos para participar do banquete sem nenhuma exigência posta. A segunda parábola, por isso, contém o seu ensinamento exclusivo. Nesta segunda parábola, aparece o tema do julgamento ou do juízo, mas desta vez não se trata do povo de Israel, e sim daqueles que crêem ter assegurado a salvação ou aqueles que se julgam salvos.
          
Para entender a parábola temos que levar em consideração o costume da época. Na época tinha o costume de o anfitrião preparar vestidos apropriados para aqueles que chegaram sem eles. O comensal a quem o rei se dirige com palavras severas, recusou o vestido que lhe ofereceram e com isso ofendeu ao rei ao entrar em seu banquete com veste imprópria.
          
A intenção teológica do evangelista é bem clara: lançar uma advertência séria para sua comunidade e para nossa comunidade e comunidade cristã em todos os tempos. Não basta ter sido chamado e ter respondido positivamente à mensagem evangélica para ter a garantia da salvação. Não basta confessar sua fé em Jesus e participar do banquete eucarístico; é necessário a veste nupcial de uma vida em conformidade com a vontade de Deus e com as exigências da mensagem de Jesus (cf. Mt 5,1-7,29). Para entrar no banquete do reino é necessário um estilo de vida que ponha em prática os ensinamentos de Jesus. Só quem estiver vestido com esta veste nupcial tem o direito de participar do banquete eterno.
         
O homem que entrou sem a roupa nupcial sublinha a dimensão de vigilância de nossa vida. Devemos estar preparados sempre porque em qualquer momento o Senhor pode nos chamar. Vamos trabalhar como se o encontro definitivo com Deus estivesse longe ainda, mas vamos rezar como se esse encontro estivesse próximo. Vamos viver a vida presente, mas com uma visão do futuro, dar às coisas uma função de meio e não de fim, vamos eliminar diariamente toda a desordem que há dentro de nós mesmos, em especial a auto-suficiência ou orgulho e todo tipo de segurança falsa. É verdade que Deus não vai nos excluir. Cuidado, porém, para não acabarmos excluídos por nossa própria iniciativa.
         
A aceitação do convite exige mudança; cumpre ser diferente do que se era. A veste nupcial, necessária para entrar no banquete eterno, figura as obras de justiça que cada um deve realizar. Não é suficiente ter recebido o sacramento, é necessário ter comportamento novo, é preciso construir a vida sobre os valores cristãos. Não basta também dar esmola, é preciso mudar completamente as próprias atitudes em relação aos bens deste mundo. Não basta pertencer à Igreja de Jesus, é preciso assumir o compromisso como cristão. Precisamos, por isso, de conversão. Conversão é amar sua vocação mais sublime; é aprender a amar o próprio Deus Santo e misericordioso que se traduz no amor ao próximo.
          
Nós participamos do banquete da Eucaristia todos os domingos ou todos os dias. Devemos nos perguntar sempre: qual é nossa “veste”? Quais as nossas obras que possamos oferecer ao Senhor? Isto não é uma contabilidade espiritual ou um voluntarismo ético de mérito; mas  nossa colaboração é indispensável. Ao convite de Deus devemos responder com uma disposição incondicional e alegre, pois é o convite que nos faz felizes.


P. Vitus Gustama,svd

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