23Jesus estava passando por uns campos de trigo , em dia de sábado . Seus discípulos começaram a arrancar espigas , enquanto caminhavam. 24Então os fariseus disseram a Jesus: “Olha ! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido ?” 25Jesus lhes disse: “Por acaso , nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome ? 26Como ele entrou na casa de Deus , no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote , comeu os pães oferecidos a Deus , e os deu também aos seus companheiros ? No entanto , só aos sacerdotes é permitido comer esses pães ”. 27E acrescentou: “O sábado foi feito para o homem , e não o homem para o sábado . 28Portanto , o Filho do Homem é senhor também do sábado ”.
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A controvérsia entre Jesus e os fariseus continua. No dia anterior a controvérsia era sobre o jejum . Hoje a discussão está em torno do Sábado . Guardar o sábado para um judeu era algo importantíssimo ou algo sagrado . E tirar espigas era uma das trinta e nove formas de violar o sábado , segundo as interpretações exageradas que algumas escolas dos fariseus faziam da lei na época . Por isso , se escandalizam quando percebem que os discípulos de Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado . “Quem não sabe julgar o que merece crédito e o que merece ser esquecido presta atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial ” (Buda ).
A fidelidade às tradições religiosas deve favorecer ao direito à vida . As tradições religiosas, que não apóiam o direito à vida , perdem sua razão de existir . Para Jesus a finalidade de qualquer lei religiosa deve ajudar o ser humano a ter uma verdadeira experiência de encontro com a vontade de Deus resumida no mandamento do amor fraterno . Praticar as leis religiosas sem levar em conta o respeito pela vida seria inútil . Jesus é o Senhor do Sábado . Se o Sábado devia significar “libertação ”, Jesus é o Senhor da libertação . Se o Sábado devia significar “santificação ”, Jesus é o Senhor da santidade e da santificação . Uma libertação sem Jesus será opressão reeditada de outro modo . Uma santificação sem Jesus será egoísmo , orgulho ou vaidade , editados de outros modos .
A lei é boa e necessária . A lei é, na verdade , o caminho para levar à prática do mandamento do amor . Somente a lei do amor rompe fronteiras , divisões , prejuízos e escravidões . Por isso mesmo , a lei não pode ser absolutizada. O Sábado , para nós o domingo , está pensado para o bem do homem . É um dia em que nos encontramos com Deus , com a comunidade , com a natureza e com nós mesmos . O descanso é um gesto profético que nos faz bem a todos para fugir ou escapar da escravidão do trabalho ou da carreira consumista . O dia do Senhor é também dia do homem , com a Eucaristia como momento privilegiado.
“O sagrado do sábado ”, comenta o rabino Nilton Bonder, “não é o descanso em si , mas o ritmo mágico do trabalho ao descanso e ao trabalho novamente . É essa entrada e saída que é sagrada . (...) Sem as pausas há apenas ilusão ; sem os silêncios há apenas ilusão da música ; sem a luz-transparência há apenas ilusão da cor ” (Código Penal Celeste ).
A partir do ensinamento de Jesus no evangelho deste dia precisamos nos perguntar : “Não somos, às vezes , demasiados legalistas? Não julgamos nossos irmãos quando cremos que não cumprem as leis ou as regras , sejam as leis humanas, as leis da Igreja ou as leis consideradas como divinas? Se para Jesus o homem está sempre no centro de seu ensinamento , será que colocamos o ser humano como centro de nossas atividades diárias e pastorais ?”. A denúncia da escravidão ao sábado nos convida a nos libertarmos da religião da observância formal e segui-la pelos caminhos do amor libertador . Quando as coisas materiais ou rituais mandam, e não a lei do amor , o homem se faz escravo .
P. Vitus Gustama,svd
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