sábado, 25 de fevereiro de 2012

JESUS NOS TRAZ DE VOLTA O PARAÍSO PERDIDO


Reflexão Para I Domingo da Quaresma Do Ano B
 
Textos de Leitura: Gn 9,8-15; 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15

Naquele tempo, 12o Espírito levou Jesus para o deserto. 13E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e foi tentado por Satanás. Vivia entre animais selvagens, e os anjos o serviam. 14Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15“O tempo se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

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Nós nos encontramos diante de um texto simbólico de Marcos. A cena inicial nos versículos 12-13 está em estreita relação com a cena anterior onde se relatou que o céu se rasgou na hora do Batismo de Jesus e o Espírito de Deus desceu sobre ele. Este mesmo Espírito agora toma a iniciativa de impelir (empurrar) Jesus para o deserto. A vida no Espírito não é parada e sim caminho, itinerário. Ao dizer que o Espírito impele Jesus ao deserto, Mc quer enfatizar também que Jesus é uma pessoa conduzida totalmente pelo Espírito de Deus. Jesus viveu tão unido ao Pai que isto mesmo o capacitou a ser livre diante de tudo.

Quanto mais unidos a Deus e à sua vontade vivemos, mais sentimos a vida em nós mesmos; quanto mais unidos a Deus, mais nos sentimos como sendo nós mesmos, mais livres e mais realizados, como aconteceu com Jesus. Viver conforme o Espírito de Deus nos faz sermos filhos de Deus, irmãos de todos os homens e irmãos da natureza ou de universo: “Jesus vivia entre animais selvagens, e os anjos o serviam” (Mc 1,13b).

Jesus foi impelido pelo Espírito de Deus para o deserto. A experiência do deserto é uma das coisas mais próprias da Quaresma; é um símbolo grandioso que nos fala de desapego, de austeridade, de solidão, de luta, de tentação. Tudo isto tem a ver com a Quaresma que nos prepara e exercita para seguir a Jesus Cristo até a Páscoa para nos esvaziar de tudo que não seja Deus.

O texto fala também do retiro de Jesus durante quarenta dias no deserto e é alimentado milagrosamente pelos anjos. O texto remete aos quarenta anos do povo de Israel, caminho para a Terra prometida, alimentado pelo maná. Quarenta dias, quarenta anos significam toda uma vida. Isto quer nos dizer que Jesus é tentado durante toda sua vida. Durante a sua atividade Jesus será tentado repetidas vezes pelo poder dominador (veja Mc 1,24.34.37; 3,11; 8,11.32s; 10,2; 12,15). Por isso, Mc não descreve as tentações como os outros sinóticos (veja Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). A tentação não acontece, então, apenas no fim do retiro como nos relatam os outros sinóticos (veja Mt 4, 2b; Lc 4,2b). As tentações no deserto não são outra coisa que uma composição literária para expressar de uma vez a luta decisiva de Jesus contra os poderes do mal e por estar unido a Deus totalmente nenhum mal resiste diante de Jesus: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”, recorda-nos Jesus (Jo 16,33).

No deserto Jesus é tentado por Satanás. “Satanás” significa simplesmenteadversário”. Por isso, Satanás pode ser uma pessoa, um grupo, ou uma instituição, se colocar algum obstáculo no caminho da vontade ou do plano de Deus. Pedro foi chamado de “Satanás” por Jesus “porque Pedro não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens” (Mc 8,33). E Jesus vence as tentações e vive no meio dos animais selvagens em paz. É o paraíso reconquistado. Tudo isto indica que com Jesus começa uma nova criação (veja Gn 2,192; Is 11,1-9). Marcos nos pretende dizer que quando vencermos as tentações, bastando deixar a vontade de Deus conduzir nossa vida, o paraíso será recriado ou reconquistado em nós e neste mundo.O coração humano é um campo de batalha. o homem luta contra uma multidão de inimigos. É tentado pela avareza, injúria, gula, até pela alegria do mundo. Todas as coisas tentam, é difícil escapar alguma. Onde, pois, haverá segurança nesta vida? Unicamente na esperança das promessas divinas”, dizia Santo Agostinho (In ps. 99,11).

Devemos estar convencidos de que não estamos sozinhos nesta luta contra o mal dentro e fora de nós. Jesus está conosco nesta luta, aquele que venceu as tentações no deserto. Com ele e somente com ele é que poderemos vencer todas as provas e tentações nesta vida. Se no Livro de Genesis Deus diz que o dilúvio não voltará a destruir os viventes (Gn 9,11), agora essa promessa tem seu cumprimento na Páscoa do Senhor, o triunfo definitivo da vida sobre a morte, o amor sobre o ódio, pois o Senhor Jesus é fiel até o fim à vontade de Deus. A morte de Jesus na cruz nos faz descobrir a seriedade com que Deus cumpriu Sua palavra de não sacrificar mais a humanidade, e sim dar-lhe a vida em Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundantemente” (Jo 10,10).

Mc também nos relata que durante esses quarenta dias os anjos fornecem alimentos milagrosamente para Jesus, de maneira continuada (Mc 1,13b), e não apenas no fim das tentações como relata Mt (veja Mt 4,11). Por isso, segundo Mc, nãonenhum jejum para Jesus durante esses dias nem fome como relatam os outros sinóticos (veja Mt 4,2; Lc 4,2b). O “serviço dos anjos é sinal de proteção divina e de superação de todos os obstáculos (Sl 90,10-13). Quem estiver com Deus e viver de acordo com a vontade de Deus, tudo será providenciado pelo próprio Deus (cf. Mt 6,25-34). Aquele que abraça o caminho de serviço descobre-se e encontra-se numa relação nova com o mundo “servido pelos anjos” (Mt 4,11).

Na segunda parte do texto do evangelho deste dia fala do início da atividade de Jesus na Galiléia (Mc 1,14-15). O conteúdo da mensagem de Jesus se expressa programaticamente nestas palavras: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Crer no evangelho significa abrir-se ao amor e à força de Deus. Se cada cristão deixar Deus entrar na sua vida, então, tudo nele mudará: da tristeza à alegria, da desesperança à , do medo à fortaleza, da escravidão à liberdade, do egoísmo ao amor.

A que Jesus exige de cada seguidor do começo de sua atividade é um impulso de confiança e de abandono, pelo qual o homem renuncia a apoiar-se em seus pensamentos e em suas forças para abandonar-se à Palavra e ao poder d’Aquele em quem crê.

O movimento lógico e natural da cristã é a conversão. Não é um estado adquirido e sim um ato permanente. A conversão faz o cristão olhar para o futuro e não se detém no passado muito menos para chorá-lo. O erro cometido jamais será corrigido, pois foi um fato. O que se pode fazer é viver de tal maneira que não se repita o erro cometido para a própria realização como pessoa. O homem que escuta a Boa Nova do Reino de Deus precisa mudar radicalmente não somente as aparências, mas há de mudar de coração.

P. Vitus Gustama,svd

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