domingo, 10 de junho de 2012

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM DO ANO B

Domingo, 22 de Julho de 2012

Texto: Mc 6,30-34

O Evangelho do Domingo anterior falou do envio dos Doze  comoapóstolos”(enviados) em pares(dois a dois) à missão com autoridade recebida de Jesus para dominar os espíritos impuros(Mc 6,7). O Evangelho deste Domingo relata a sua volta dessa missão. Eles se reúnem ao redor de Jesus, contam-lhe o que fizeram e ensinaram.

1. É preciso ter tempo para estarmos a sós com Deus

Ouvido o relato dos discípulos, sem dar-lhes nenhum sinal de aprovação, Jesus tem uma reação imediata: quer falar a sós com eles: “Vinde vós sozinhos à parte, a um lugar deserto, para descansar um pouco.” Nesta frase tem um conteúdo teológico profundo.  Vinde”/venham recorda o primeiro chamado ao seguimento(Mc 1,17); o lugar deserto/despovoado alude à ruptura com os valores da sociedade(Mc 1,35.45); a expressão à parte indica que Jesus pretende de novo sanar as incompreensões dos discípulos(cf. Mc 4,34), porque muitas vezes os discípulos não captaram o sentido das palavras de Jesus. Neste sentido o Evangelho de Marcos contém a pedagogia de Jesus. Entendemos por pedagogia o processo de formação que permite às pessoas crescer em sua consciência e liberdade, tornando-as autônomas e livres para tomar as melhores decisões; o verbo descansar usa-se(em Is 14,3) para significar a libertação do cativeiro de Babilônia realizada por Deus. Marcos alude a essa passagem para indicar que Jesus quer libertá-los da ideologia que os domina, impedindo-lhes o seguimento.

Antes de continuarmos a nossa reflexão, precisamos parar para tirar lição do convite de Jesus para descansar. Este texto nos mostra, na verdade, o ritmo da vida cristã. A vida cristã é um ir contínuo à presença de Deus da presença de homens e um sair da presença de Deus para a presença de homens. na medida em que alguém descobrir e viver a oração/vida espiritual, poderá experimentar a obra de amor como serviço de Deus. E na medida em que ele adorar Deus no serviço ao próximo, sentirá o desejo insaciável de ir à parte, a um lugar deserto para estar com o Cristo, com Ele. Sem isto, a espiritualidade será trocada pelos espíritos do mundo e suas ideologias.

sempre dois perigos no ritmo da vida de cada cristão. O primeiro perigo é o perigo de atividade constante/sem parar. Ninguém pode trabalhar sem descansar. E ninguém pode viver a vida cristã, se ele não tiver tempo para estar com Deus. O grande perigo de nossa vida é que não damos a Deus nenhuma oportunidade para ele falar para nós porque não sabemos como ficar em silêncio e como aprender a parar nenhum minuto. Nós não damos a Deus tempo para ele nos reabastecer com sua força porque não temos tempo para esperá-lo e falar com ele. Temos que nos abrir ao que há de eterno nas coisas. Se alguém não for despojado, pobre no espírito, terá, inconscientemente, tendência a executar a obra que tem a fazer para a sua própria satisfação e não para a glória de Deus. Será virtuoso não porque ama a vontade de Deus, mas porque deseja admirar suas próprias virtudes ou obras. Ele esquece da fonte dessas virtudes que é Deus, como alguém que bebe a água e esquece de cuidar da fonte, por isso, acaba não tendo mais a água para sobreviver. Quanta carga pesada desta vida que temos que carregar, quando não tivermos contato com Deus que é o Senhor de tudo de bom nesta vida. Santo Agostinho dizia: “Em qualquer lugar para onde o homem se dirija, se não se apoiar em Deus, sempre encontrará dor”.

O grande desafio à nossa felicidade é o desafio do demais: há coisas demais para fazer, distrações demais, barulho de mais. Achamos que precisamos fazer mais, ir a mais lugares, querer e realizar mais coisas. Enquanto o dia continua tendo vinte e quatro horas, e o ano com os seus doze meses.

Parar é uma arte. Isto quer dizer que não se deve confundir ficar sem fazer nada com uma falta total de atividade. Parar significa permitir que a vida aconteça para que quando avançarmos, avancemos na direção que queremos e que, em vez de estarmos apenas sendo empurrados pelo ritmo das nossas vidas, estejamos escolhendo, a cada momento, o que é melhor para nós. Sem parar, além de recordarmos quem somos como objetivo de parar, vai ficar muito problemático ir adiante. Por isso, parar é uma manifestação de querer ir a frente e de querer melhorar a qualidade de vida e de convivência. Parar, mesmo por alguns minutos, faz com que percebamos os significados essenciais de nossa vida e recordemos constantemente o que é realmente importante para nós nesta vida, de modo a podermos manter nossas prioridades em ordem e em dia. 

O segundo perigo é o de afastarmo-nos de mais da realidade para rezar. Devoção que não se coloca em ação/na prática não é devoção verdadeira. Oração que não se traduz na prática não é oração verdadeira. Nunca podemos procurar a amizade com Deus para evitar a amizade com os homens, mas ao contrário, procuramos a amizade com Deus para melhorar nossa amizade com os homens. A vida cristã é o encontro recíproco com Deus no lugar deserto e servindo homens no lugar público.

O senhor sempre nos convida para irmos com ele a um lugar à parte. Mas se vamos para lugar à parte para estar com Cristo apenas para nos livrarmos da companhia de pessoas que não nos agradam, não encontraremos nem a paz, estaremos num mero isolamento. Ir para lugar à parte não a fim de fugir dos homens, mas para encontrá-los em Deus. O simples fato de viver em soledade(solidão) não isola o homem, como simples fato de viver com outros nem sempre leva os homens à comunhão com os outros. Não vamos para o lugar à parte(estar com Jesus) com o intuito de fugir das pessoas e sim para aprender como encontrá-las. Não nos separamos delas, mas para encontrar o melhor modo de fazer-lhes bem. O silêncio é solidão em comunhão, e é assim que nos torna solidários com todos. Uma vida espiritual verdadeira nos faz alertas e conscientes em relação ao mundo à nossa volta, de forma que tudo o que é e acontece torna-se parte de nossa contemplação e meditação e convida-nos a uma resposta livre e sem medo.

Portanto, temos duas grandes lições a aprender da primeira parte do Evangelho deste Domingo: A primeira, se cada Domingo somos enviados à missão, então, também nós voltamos sempre de novo para junto de Jesus, a fim de contar a ele o que fizemos e ensinamos durante uma semana que passou. O que é que tenho feito no campo da missão/evangelização ? Que tipo de participação que tenho na missão de Jesus ? Ou eu me preocupo apenas com meu próprio interesse ? Ao voltarmos dessa missão, com Jesus transformaremos nossa ação missionária em ação de graças. A segunda lição: cada cristão tem necessidade de ficar a sós com Jesus. Não é possível comunicar o que não se tem. É o grande ensinamento da necessidade do retiro, de aprofundar nossa vida espiritual.

O desejo de Jesus de estar sozinho com os discípulos não se concretizou, porque a multidão chegou antes deles, no lugar para onde se dirigiam. Embora irrealizado, o desejo de Jesus não pode ser descartado, sem mais. O ativismo é um perigo que deve ser evitado. O ativismo, com o passar do tempo, poderá se mostrar prejudicial. O excesso de atividades levaria qualquer um de nós a se desviar do verdadeiro sentido de nossa missão neste mundo como cristãos. Um cristão que se envolve em muitas atividades, desempenha uma variedade muito grande de tarefas, às vezes/muitas vezes, faz tudo isso seguindo os próprios impulsos, as próprias idéias e se esquece de entrar em sintonia com a Palavra de Deus. Deste modo acaba por responder às necessidades e exigências segundo exclusivamente o que é sugerido pela lógica humana.

Isto acontece porque não se aprende a ter a coragem de parar um pouco para meditar junto com Cristo, para rezar e para avaliar com ele o que se planeja e o que foi feito. Por isso, é bom ouvirmos novamente o convite de Jesus: “Vinde vós sozinhos à parte, a um lugar deserto, e descansai um pouco”. Cada um tem que responder!

2. Jesus se compadece pela multidão

Assim que Jesus desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”(v.34). No início do Evangelho de Mc relatou-se também que Jesus teve o mesmo sentimento de compaixão em relação ao leproso(cf. Mc 1,41). O verbo “Compadecer-se” ou “Comover-se” se usava no judaísmo somente ao falar de Deus; e no NT, somente de Jesus. Compaixão é o amor entranhado de Deus pelos homens manifestado em Jesus. A compaixão é a característica divina. A compaixão não conhece marginalização alguma, pois o reinado de Deus não exclui ninguém da salvação. Compaixão é sentir com outrem, achegar-se ao seu lugar, assumir-lhe a experiência e a dor. A compaixão atinge o próprio centro da pessoa, nas próprias vísceras. Assim se comporta Deus, segundo AT(cf. Is 63,15;Jr 31,20). A compaixão é comover-se até as entranhas, solidarizar-se profundamente, sentir a partir de outrem, é sofrer- com. A compaixão requer que eu esteja com as pessoas que sofrem, e disposto a partilhar meu tempo e meu coração com eles. Quando eu compartilhar meu coração com uma pessoa que sofre, uma parte dela não será tocada pelo sofrimento. O meu coração partilhado alivia a dor do outro. Assim é que vivia Jesus e é assim também que os seus seguidores devem viver.

A resposta de Jesus aos ignorantes, aos famintos, aos cegos, aos leproso, às viúvas e a todos os que chegavam até ele com o seu sofrimento brotou da compaixão divina que levou Deus a tornar-se um de nós. Por causa da sua compaixão pela humanidade é que Deus escolheu ser um Deus-Conosco. O nosso Deus é chamado de Emanuel(cf. Mt 1,23;18,20;28,20; cf. também Jo 1,14), porque ele se comprometeu a viver em solidariedade conosco, a compartilhar conosco as alegrias e as dores, a nos defender e nos proteger, e a sofrer conosco tudo em nossa vida.

A compaixão que Jesus propõe nos desafia a abandonarmos o nosso apego e a entrarmos com ele na vida corajosa do próprio Deus. Jesus nos convida a sermos tão próximos uns dos outros como Deus é em relação a nós mesmos. Jesus nos pede que desmascaremos a ilusão da nossa própria competitividade, que deixemos de nos apegar às nossas distinções imaginárias como fontes de identidade. Este novo eu, o eu de Jesus Cristo, nos torna possível sermos compassivos como nosso Pai é compassivo. Esta nova identidade, livre de da ganância e do desejo de poder, nos permite entrarmos tão plena e incondicionalmente nos sofrimentos dos outros e curarmos os doentes.

Neste texto, Jesus se compadece porque o povo está “como ovelhas sem pastor”. A referência ao AT é evidente. Josué foi escolhido por Deus para ser sucessor de Moisés “para que a comunidade do Senhor não seja como um rebanho sem pastor(Nm 27,17). Ezequiel denuncia os líderes do povo que se preocupam mais com a própria vida do que com a do rebanho(Ez 34,3-4). Zacarias lamenta sobre o povo quenão tem pastorpor causa da falsa liderança(Zc 10,2)etc.. No AT o “pastor” significa autoridade ou liderança política, enquanto que as “ovelhas” representam o povo. Ao dizer que eles(povo) “... estavam como ovelhas sem pastor, o texto quer dizer que os pastores, em vez de defender as ovelhas, as oprimem e exploram. A ganância dos “lobos” é tanta que as “ovelhasnão têm o que comer(cf. Mc 6,36). Os “lobos” devoram as “ovelhas”.

Jesus assume o papel de pastor de Israel, e seu objetivo é dar alimento às ovelhas(cf. Mc 6,35-44 fala da multiplicação dos pães para alimentar o povo abandonado pelos líderes falsos em contraposição com o banquete dado por Herodes para os “grandes”. cf. Mc 6,21-29).

Será que cada um de nós, como seguidor de Jesus reflete  a liderança de Jesus Cristo, o Bom Pastor?

P. Vitus Gustama,svd

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