quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ESTAR CONSCIENTE DE SER VERDADEIRO TEMPLO DE DEUS

          
Festa da Dedicação da Basílica do Latrão

Quarta-feira, 09 de Novembro de 2012

Texto da Leitura: Jo 2,13-22

          

Uma Pequena História Sobre a Basílica de Latrão

Latrão era um palácio, propriedade romana da família dos Laterani. Nos inícios do século IV pertencia a Fausta, esposa do imperador Constantino, que fez a doação desse patrimônio à Igreja. Constantino mandou construir no lugar do palácio (por volta de 324) uma suntuosa basílica em honra a Cristo Redentor que se tornou a catedral de Roma e a primeira basílica patriarcal. No início do século X, sob a gestão do papa Sérgio III (904-911), ela foi consagrada adicionalmente a São João Batista e a São João Evangelista, e desde então é conhecida pelo nome de basílicaSão João de Latrão”. O Papa Clemente XII (1730-1740), conhecido como um papa promotor das artes e das ciências, mandou afixar: Essa basílica é a “mãe e cabeça de todas as igrejas da Urbe e do Orbe”.


Nessa basílica realizaram-se os cinco concílios ecumênicos: Concílio de Latrão I, o nono concílio (1123); Concílio de Latrão II, o décimo concílio (1139); Concílio de Latrão III, o décimo primeiro concílio (1179); Concílio de Latrão IV, o décimo segundo concílio (1215); e o Concílio de Latrão V, o décimo oitavo concílio (1512-1517).
 

Nessa basílica os papas haviam residido durante quase mil anos, do tempo de Constantino até o exílio de Avinhão, França, quando um cardeal francês foi eleito papa, Clemente V, que governou a Igreja desde 1305 até 1314. Somente a partir do Papa Gregório XI, último papa francês, começou o retorno para Roma. Gregório XI (1370-1378) deixou Avinhão, acompanhado de 13 cardeais, em 13 de setembro de 1376, ingressando solenemente em Roma.

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O evangelho de hoje nos relata que Jesus os comerciantes fazem seus negócios no Templo. Ao ver os negociantes de bois, ovelhas e pombas e os cambistas no Templo Jesus faz um chicote para expulsá-los e diz: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (v.16).
     

O que tem por trás do gesto de Jesus?
  

Em primeiro lugar, a Páscoa que era uma festa familiar e festa de libertação se transforma em uma festa da maior exploração. Os peregrinos que vêm de longe não podem trazer consigo os animais para serem sacrificados no Templo. Eles compram, por isso, os animais no próprio Templo. E os donos dos animais são os latifundiários pertencentes à elite religiosa. A Páscoa para eles é o momento de lucro, pois eles aumentam o preço dos animais exageradamente. E os peregrinos não têm outra opção a não ser comprar esses animais apesar do preço alto. A Páscoa não é mais um momento de celebrar e de reviver a libertação, mas se torna uma festa de exploração. As elites religiosas exploram o povo por meio do culto. O “deus” do Templo, para estas elites religiosas, é o dinheiro. A religião se transforma num instrumento que acoberta a injustiça e exploração. Por isso não é mais “a casa de meu Pai”, e sim um mercado. Eles se esquecem que a relação com Deus como Pai não se estabelece por meio de dinheiro.


Em segundo lugar, quem pode comprar os animais maiores (como boi, ovelhas) são os ricos. Surge aqui outra mentalidade. O sacrifício se torna como que uma moeda pela qual compra-se de Deus a salvação. A salvação não mais depende de dois lados simultaneamente (de Deus que oferece e do homem que corresponde), mas somente do homem que a compra. Isto quer dizer que quem não for capaz de “comprar” a salvação, ficará fora dela. E os pobres e miseráveis?


A salvação não se compra nem com dinheiro, nem com promessas, nem com devoções, pois Deus não é um comerciante, mas é um Pai-Mãe. Pai ou mãe faz tudo pelos filhos não pelo merecimento, mas porque quer o bem deles. O que se pede de cada crente é a convivência fraterna como conseqüência da vivência da filiação divina.


No quarto Evangelho, o que nos chama atenção é o fato de Jesus se dirigir somente aos vendedores de pombas. Para eles é que Jesus diz: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (v.16). Porque a pomba era o animal sacrificado nos holocaustos (Lv 1,14-17) e nos sacrifícios (Lv 12,8;15,14.29) oferecidos especialmente pelos pobres, por meio dos sacerdotes, para reconciliar-se com Deus e para purificar-se (Lv 5,7;14,22.30-31; cf. Lc 2,44: os pais de Jesus eram pobres). Os vendedores de pombas são os que, por dinheiro, oferecem aos pobres a reconciliação com Deus, e representam os sacerdotes do Templo que fazem comércio com a graça de Deus. Em outras palavras, a hierarquia sacerdotal explora especificamente os pobres, oferecendo-lhes por dinheiro para ganhar favores ou benefícios de Deus. Eles apresentam Deus como um comerciante, pois convertem a casa de Deus num mercado.
   

O gesto de Jesus de expulsar os comerciantes do Templo suscita duas reações. Os discípulos reagem pensando que Jesus seja um grande reformador da instituição. Somente após a ressurreição eles entenderão que Jesus não é um reformador do Templo, mas aquele que o substitui (v.22).


E os que sentem o seu lucro ameaçado, os dirigente, pedem de Jesus uma explicação da origem de sua autoridade: “Que sinal nos mostras para agires assim?” (v.18). O homem gosta de exibir poder. Deus não é assim. Se Jesus faz milagres, especialmente para os simples e pobres, é para mostrar que Deus está sempre ao lado deles, e não para exibir poder. O poder de Deus consiste em amar o ser humano sem medida (Jo 3,16).


Jesus não é indiferente frente ao culto do templo. É necessário construir templos ou igrejas ou capelas para neles podemos celebrar o Senhor e a vida que vivemos. Mas a nossa oferenda cultual terá sua validade, se tudo isto for uma expressão do serviço fraternal, se nãoseparação entre o culto e a vida, se não maltratar o ser humano cujo Pai é o próprio Deus. O culto não vale pela observância de preceitos nem pela oferta de objetos. O culto verdadeiro consiste na mais profunda união do homem ao divino, na mais pura e incondicional entrega à vontade de Deus e no respeito pelo ser humano. O culto do cristão é um culto de Espírito (Jo 4,23). O templo não santifica o nosso culto, e sim o nosso culto santifica o lugar e a comunidade. O homem deve limpar sempre a morada de Deus que é ele mesmo, pois ele é o “templo do Espírito Santo” (cf. 1Cor 3,16-17) de todo tipo de “sujeiraatravés de uma conversão contínua todos os dias de sua vida.

P. Vitus Gustama,svd

 

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