sábado, 9 de fevereiro de 2013

CORAÇÃO E ATOS ÉTICOS EDIFICAM E ENGRANDECEM O HOMEM

 
Terça-feira da V Semana do Tempo Comum
Terça-feira, 12 de Fevereiro de 2013

 
Texto: Mc 7,1-13

Naquele tempo, 1os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3Com efeito, os fariseus e todos os judeus comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” 6Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. 9E dizia-lhes: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições. 10Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honra teu pai e tua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe deve morrer’. 11Mas vós ensinais que é lícito alguém dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vós poderíeis receber de mim é Corban, isto é, Consagrado a Deus’. 12E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. 13Assim vós esvaziais a Palavra de Deus com a tradição que vós transmitis. E vós fazeis muitas outras coisas como estas”.

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Através do texto de hoje o evangelista Marcos sente a necessidade de explicar quais eram os costumes dos fariseus e quase de todos os judeus. Isto nos indica que Marcos está escrevendo para cristãos que não são de origem judia. Ele está falando para uma comunidade cristã, que hoje somos s, para comunicar algo importante. Trata-se do tema tradição-lei. Como os fariseus, muitas vezes, também nós somos sufocados pelas tradições. Os costumes ou algumas tradições, apesar de eles não ter mais razão de existir, ainda pesam em nossa consciência ou no mínimo  ainda nos incomodam, mesmo do ponto de vista racional, nãonenhum fundamento. Os costumes e as tradições enraizados em nos são capazes de paralisar nosso raciocínio lógico. Para sair disso, como cristãos, é necessário escutarmos o que Jesus nos diz através do evangelho de hoje.

 
O ensinamento de Jesus a respeito parte de uma pergunta dos escribas e fariseus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”.

 
Jesus, colocando-se na linha dos antigos profetas rebate:Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. Aqui Jesus usa as seguintes palavras que nos chamam atenção: lábios- coração- prestar culto- seguir preceitos humanos. “Lábios” indica/descreve a exterioridade, a aparência, uma vida não vivida na intimidade do coração. Quando isso acontece chama-se de hipocrisia, pois enfatiza-se no externo e não no interior. Fala-se também, neste texto, dos “preceitos humanosque aqui indica um culto hipócrita, pois é dirigido a partir da tradição do homem e, ao mesmo tempo, os mandamentos do Senhor, resumidos no amor fraterno são anulados. Um psicólogo da Argentina nos alerta: “Atente para que a sua prática religiosa não seja mais importante do que seu Deus e seu próximo” (René Juan Trossero)

 
Vale a pena refletir também, dentro do evangelho de hoje, sobre as palavras de Santo Agostinho: “Faz de teu coração um tribunal e senta-te nele como juiz de ti mesmo. Tua memória seja o promotor, tua consciência a testemunha, e o temor de Deus, o juiz” (Santo Agostinho: Serm. 351, 4,7)

 
Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Com esta afirmação Jesus quer colocar em destaque a moral do coração e não somente a moral das ações. Somente de um homem devidamente ordenado, de um homem de coração limpo é que podem proceder ações morais e éticas. Uma pessoa íntegra, de coração indivisível sabe se governar e se controlar, sabe ser justo e honesto.  Aquele que não é capaz de governar a si mesmo não será capaz de governar os outros (Mahatma Gandhi). É uma chamada para a retidão de intenção ou a retidão do coração. Quando o coração está em desordem, então a conduta se torna cega. Nisto consiste um esforço contínuo de purificação. Para Jesus o primeiro dever de consciência é ter a consciência limpa. Portanto, não se trata somente de fazer as coisas de coração e sim de fazer coisas que procede do coração reto e limpo. Para Jesus o coração tem que estar limpo para que possa estar em disposição para captar a vontade de Deus, uma vontade que não é simplesmente letra escrita. Não basta superar a hipocrisia e o formalismo; a interiorização pede algo mais que sentimento de sinceridade.

 
O coração reto do qual fala Jesus não é feito somente de coragem, de fidelidade e de boa memória sobre todos os ensinamentos. O coração é feito de disponibilidade, entendendo com isso a liberdade e a intuição. Trata-se de criar uma situação interior capaz de conhecer a Deus, ao verdadeiro Deus, capaz de ler de novo a vontade de Deus. O coração é o lugar onde Deus se revela, não simplesmente o lugar onde se percebe a obrigatoriedade de um esquema existente e onde se encontra a coragem de repeti-lo.

 
Assim no texto do evangelho de hoje Jesus reprova o espírito farisaico: a confusão entre o rigorismo minucioso na observância da moral e da fidelidade a Deus. A minuciosidade nem sempre é sinal da fidelidade. Jesus também reprova artimanhas casuísticas na interpretação dos deveres morais, um defeito que leva a um duplo desequilíbrio: complicar a observância da lei especialmente para a gente simples e tranqüilizar a consciência dos astutos que intentam salvar o esquema da lei descuidando de sua substância. Jesus também critica a confiança nas próprias obras acima do amor de Deus que nos chega gratuitamente. Aquele que se gloria pelas próprias obras, e não pelo amor gratuito de Deus e pela sua misericórdia, tem pretensão inútil de ser Deus para si próprio.

 
Para tudo isto, o evangelho assume uma dupla tarefa: pôr em evidência qual é o centro da lei: é a caridade. Segundo, considerar a obediência do homem à lei como resposta ao gesto salvífico e gratuito de Deus. Em outras palavra, não são as normas que produzem a graça de Deus e sim a graça de Deus é que produz disciplina e normas para o homem. a graça de Deus ordena minha vida e me coloca em uma disciplina. Atrás de tudo isto há uma advertência fundamental de Jesus que serve de fio condutor para todo o capitulo 7 de Marcos: todas as formas de legalismo são sempre uma forma de recusar a Deus. O legalismo farisaico nasce de uma incompreensão de Deus e oferece uma razão para recusá-Lo; de fato foi um motivo para recusar a Jesus.

 
Os homens verdadeiros e autênticos podem ser aplaudidos ou condenados, amados ou odiados, mas sempre despertam nossa admiração. Quem vive na retidão tem como critério a verdade e a caridade. A verdade dita com caridade convence até os ateus em tudo. A verdade dita com caridade humaniza nossa maneira de falar e de tratar dos assuntos mais complicados. “O amor e a verdade estão tão unidos entre si que é praticamente impossível separá-los. São como duas faces da mesma medalha” (Mahatma Gandhi).

 
Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens, disse Jesus citando o profeta Isaías. Através desta afirmação Jesus quer nos dizer que o mandamento de Deus e as tradições dos homens têm que ser considerados como duas coisas distintas. Os dois não estão no mesmo plano e por isso, não podem ser colocados no mesmo patamar, pois o mandamento de Deus é perene e as tradições dos homens são provisionais.

 
P. Vitus Gustama,svd

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