sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

MISERICÓRDIA QUE LIBERTA
 

Segundo-feira da V Semana do Tempo Comum
11 de Fevereiro de 2013
 

Texto de Leitura: Mc 6, 53-56

Naquele tempo, 53tendo Jesus e seus discípulos acabado de atravessar o mar da Galileia, chegaram a Genesaré e amarraram a barca. 54Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus. 55Percorrendo toda aquela região, levavam os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. 56E, nos povoados, cidades e campos onde chegavam, colocavam os doentes nas praças e pediam-lhe para tocar, ao menos, a barra de sua veste. E todos quantos o tocavam ficavam curados.

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O evangelista Marcos, de vez em quando, gosta de fazer um resumo de um período da atividade de Jesus para unir as distintas partes de seu relatório. Esses resumos não parece trazer novidades sobre a pessoa de Jesus nem em relação Jesus com a multidão nem Jesus com os discípulos. A multidão continua com sua simples em Jesus: eles querem tocar para ficar livre dos males, como foi a mulher de hemorragia (Mc 5,23-36). Porém, Marcos não se detém em discutir a da multidão, também não se fala de que enfermidades a multidão foi curada.

 
Hoje nos encontramos com Jesus que visita a região de Genesaré. “Genesaré” é figura da periferia do judaísmo, à margem da instituição judaica. Jesus entra em qualquer núcleo da população por pequeno que seja, pois Jesus é “Deus que visitou seu povo” (Lc 1,68; 7,16). Na região de Genesaré não se encontram os endemoninhados, isto é, fanatismos destruidores. Encontra-se mal (Mc 1,32;2,17): os enfermos que vivem excluídos pelo sistema judaico legalista que espiritualmente mata todos os que padecem algum tipo de mal físico.

 
Anteriormente Jesus fez o milagre da multiplicação dos pães.  E esse milagre despertou o entusiasmo popular. Jesus e seus discípulos querem sair desse entusiasmo e vão para algum lugar para descansar. Mas Jesus e seus discípulos não têm como escapar das multidões. Jesus acaba as atendendo e deixa o descanso para mais tarde. Isto se chama a disponibilidade baseada na misericórdia. A misericórdia é sinônimo de partilha íntima da dor dos que sofrem, dos desprezados, dos marginalizados ou excluídos. Por isso, a misericórdia cura e liberta. A verdadeira misericórdia obriga à ação. O preço da misericórdia divina é infinito: a encarnação de Deus em Jesus Cristo e sua morte salvadora na cruz.

 
Todos quantos tocavam Jesus, ficavam curados”. As pessoas dos contornos levavam os enfermos para Jesus para que pudessem tocar, ao menos, a barra de sua veste.  As pessoas, na sua simplicidade, acreditavam que somente o contato direto com Jesus é que se sentiam afetadas pelo poder de Jesus. Dessa maneira ficavam curadas.

 
Com estas curas o evangelista Marcos quer nos mostrar o efeito mais notável do anúncio do Reino de Deus: a Graça. A graça de Deus nos devolve a alegria de viver, pois em Deus encontramos o sentido de nossa vida e nosesperança de estar em comunhão plena com Deus um dia. No seu ato de libertação Jesus nos apresenta o plano maravilhoso de seu Pai: o amor gratuito de Deus Pai para com o ser humano. Este amor gratuito não pode ser comprado nem exigido nem é resposta aos méritos que alguém crê ter acumulado. Diante da graça anunciada e vivenciada por Jesus, o sistema religioso de seu tempo, que se baseava na acumulação de méritos, entra em crise. Os pobres, os marginalizados e excluídos, por outro lado, são os maiores beneficiados pela proposta revolucionária de Jesus, pois são mais disponíveis e abertos diante da graça de Deus.

 
O amor gratuito, que Deus nos tem, desperta nossa consciência de que vivemos num mundo de gratuidade que nos faz vivermos agradecidos e gratos permanentemente ou nos faz vivermos uma vida eucarística. E essa consciência nos leva a ajudarmos gratuitamente os que se encontram “enfermos” nesta vida. Da experiência cotidiana percebemos que os que ajudam mais os outros, sem esperar nada de troca, são mais felizes do que os demais. “Quando perguntamos pela bondade de um homem, não perguntamos por suas crenças ou esperanças, mas por seus amores” (Santo Agostinho: De fide, spe et char. 31).

 
Todos quantos tocavam Jesus, ficavam curados”. Nós, cristãos, temos que aprender a “tocar” Jesus, a não perder nenhuma maneira o contato direto com Jesus, porque Ele é a fonte do que somos e daquilo quesentido à nossa vida. Somente tocando Jesus, encontraremos a força para seguir adiante nesta vida e para segui-Lo pelos caminhos da vida.

 
Há, pelo menos, dois caminhos para nos encontrarmos com Jesus e tocá-Lo. Um é através da Eucaristia e da leitura e da escuta da Palavra de Deus. Em cada Palavra proclamada e meditada há sempre alguma palavra para minha vida se eu estiver aberto diante dela. Na Eucaristia a Palavra de Deus se faz alimento para minha peregrinação nesta terra rumo à casa do Pai, nosso lar definitivo.  Na Eucaristia, ao comungar o Corpo do Senhor, não somos nós que tocamos Jesus e sim é Jesus quem nos toca. Ele nos toca na parte onde somos incapazes de chegar, pois Jesus toca todo o nosso ser. Por nossa vez, somos enviados para que nossa maneira de conviver passa a ser um toque de amor fraterno. O amor fraterno cura, dá segurança, liberta alguém do medo, transforma o outro em irmão.

 
Por isso, outra maneira de nos encontrarmos com Jesus é nos aproximarmos dos nossos irmãos e irmãs, especialmente dos mais pobres e desamparados, dos que sofrem. Eles são, hoje, sacramentos viventes da presença de Jesus no meio de nós (Mt 25,40.45). O contato físico, real, diário, com eles nos fará experimentar, sem dúvida nenhuma, a humanidade viva e real de Jesus que nos cura de nossas enfermidades. Um irmão que sofre, que passa por necessidade contribui para que nossa compaixão e nossa caridade se tornem operacionais. Ele nos ajuda a sermos mais compassivos e caridosos. Quem perde sua compaixão e caridade perde sua humanidade.

 
O Senhor nos recebe em sua Casa e nos alimenta com sua Palavra e sua Eucaristia. Mas ele nos envia para que demos testemunho de nossa , alimentando os demais com nosso amor gratuito para que eles possam voltar a viver com mais vigor como filhos e filhas amados do Pai.


P. Vitus Gustama,svd

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