domingo, 3 de março de 2013

SIMPLES ENXERGA A PRESENÇA DE DEUS  NO ASPECTO COTIDIANO DA VIDA 
 
Segunda-feira da III Semana da Quaresma
04 de Março de 2013
 
Textos: 2Rs 5,1-15; Lc 4,24-30

Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”. 28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

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Estamos nos começos da atividade pública de Jesus na versão de Lucas. O autor nos apresenta Jesus como o Messias no qual se cumprem todas as promessas do Antigo Testamento (Lc 4,21).


O texto do evangelho de hoje nos narra que Jesus se encontra novamente em sua terra, Nazaré e se apresenta aos seus conterrâneos numa Sinagoga no dia de Sábado. Ele veio a Nazaré para dizer-lhes que com sua vinda ao mundo se inaugurou a salvação que o profeta Isaias profetizava (Is 61,1-2). Mas com isso, o evangelista Lucas adverte que as palavras de Jesus, mesmo que sejam palavras cheias da graça de Deus que causam até a admiração dos próprios nazarenos (Lc 4,22), encontram dificuldade para entrar no coração de seus conterrâneos. A razão dessa recusa é o conhecimento que os nazarenos têm sobre Jesus e sua família em Nazaré. E por isso, é difícil para os nazarenos acreditarem naquilo que Jesus prega na sinagoga: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22). Os nazarenos não podiam compreender que um carpinteiro fosse um enviado de Deus, muitos menos o Messias. Os nazarenos pensam que o verdadeiramente grande e divino deve estar bastante distante da vida cotidiana dos homens.


A vida cotidiana não se deixa inquietar pelo extraordinário, inclusive a busca do extraordinário ameaça aquilo que tem o aspecto cotidiano. Muitos correm atrás dos famosos e sabem de tudo sobre sua vida até nos seus detalhes. Muitos vão ao encontro dos ídolos e os defendem, até são capazes de morrer por eles. Muitas vezes queremos ver nos famosos ou ídolos aquilo que nós mesmos não conseguimos alcançar ou realizar. Muitos querem se identificar com eles e não querem tirar deles algo positivo para a própria vida.


Os que correm atrás dos famosos e dos ídolos acabam não vivendo a própria vida. Mas se eu não viver minha vida quem é que vai vivê-la? Se eu não melhorar a minha vida, quem é que vai melhorá-la? Os outros podem me ajudar naquilo que são capazes de fazer, mas nunca na minha vida em sua totalidade. O mundo é uma projeção de nossa psique individual coletada numa tela global. O mundo é ferido ou curado em função de cada ato e pensamento que tivermos. Se eu me recusar a encarar os problemas mais profundos que me impedem de fazer as coisas, o mundo também ficará impedido de evoluir. Se eu avançar na melhoria do meu empenho para o bem de todos, será minha ajuda para mudar o mundo.


Devemos estar conscientes de que o essencial para nossa vida, infelizmente, está no aspecto cotidiano da vida que os olhos têm dificuldade para enxergar. Esta é uma das mensagens que Deus quer nos transmitir através de Sua encarnação. Quem diria que o Salvador do mundo pudesse nascer de uma mulher comum e de um lugar desconhecido como Nazaré? Como é bom termos os olhos de Deus para perceber e captar Sua presença na cotidianidade da vida. Como é bom termos o coração de Isabel para sentir a presença do Senhor que está em Maria (Lc 1,41-45). Como é bom termos os olhos de Simeão e da profetiza Ana que enxergam facilmente a presença d’Aquele que traz a salvação para o mundo numa criança recém-nascida (Lc 2,29-32). Como é bom termos a simplicidade dos pastores de Belém que vão com pressa ao encontro do Salvador recém-nascido depois que ouviram a mensagem do Anjo do Senhor (Lc 2,8-18). Como é bom termos a intuição do discípulo amado que logo percebe a presença do Senhor ressuscitado (Jo 21,7). Quem enxerga a presença de Deus na vida cotidiana é uma pessoa feliz e nunca será mais a mesma pessoa. “Cristo se fez temporal para que tu sejas eterno” (Santo Agostinho: In epist. Joan. 2,10).


Em Nazaré os conterrâneos de Jesus exigem que Jesus faça também milagres no meio deles. Mas nenhum milagre acontece. Exigir de Deus um milagre significa querer impor a Deus nossa vontade e nos esquecer que o milagre é um dom livre da parte de Deus. a que exige milagres não é a verdadeira . A exige total superação do plano meramente humano (cf. Lc 8,21). Se faltar isso, torna-se difícil a prática da obediência cristã. Se vivermos realmente de acordo com a Palavra de Deus nós vamos encontrar muitas surpresas boas para nossa vida, pois “a é a antecipação daquilo que se espera” (Hb 11,1).


A expressão de Jesus “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátrianos lembra quanto somos rebeldes em aceitar que alguém de nosso meio, cujas “virtudes e milagres” cremos conhecer, se torne juiz de nossa ação, mesmo que seja em nome de Deus.


Se os nazarenos, que fazem parte do Povo eleito, recusam a presença de um profeta na pessoa de Jesus, a primeira leitura nos apresenta um homem pagão, Naamã, que acredita na Palavra de Deus através da boca do profeta Eliseu.


Naamã era chefe do exercito do Rei de Síria, guerreiro forte e valente, de um país pagão em constante guerra com Israel. Mas agora está sofrendo de lepra. E sabemos muito bem que quando uma pessoa sofre, não se pergunta por sua religião. Seu sofrimento clama uma ajuda de quem for. Neste momento pode se saber até que ponto alguém tem compaixão e solidariedade.


Uma jovem judia levada como escrava que não guarda rancor ou mágoa oferece ajuda: “Ah, meu senhor, se se apresentasse ao profeta que reside em Samaria, sem dúvida ele o livraria da lepra de que padece”. Essa jovem representa uma pessoa que ama sem fronteiras e sem exceção. Apesar de ela sofrer a escravidão, seu amor pelo seu patrão Naamã que padece de lepra faz com que ela ofereça ajuda.


Naamã aceitou o conselho e foi procurar o profeta Eliseu. E ao obedecer às palavras do profeta para se purificar no rio Jordão Naamã voltou curado. Não é o gesto de ir algumas vezes ao rio Jordão é que conta e sim a atitude interior de Naamã. A fé liberta e salva. É preciso ter muita humildade para voltar-se a Deus para receber d’Ele a cura de nossos males a exemplo do General Naamã. A humildade nos aproxima mais das pessoas e de Deus. A humildade nos faz mais irmãos e mais humanos. Mantenhamos humildes, como General Naamã, pois uma salvação pode ser recebida através de instrumentos simples e insignificantes como a escrava judia que ajudou seu patrão, General Naamã.

P. Vitus Gustama,svd

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