quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

 
VIDA VIVIDA NA PARTILHA É A VIDA EM PLENITUDE


Sábado Da V Semana Do Tempo Comum
15 de Fevereiro de 2014
 
Primeira Leitura: 1Rs 12,26-32;13,33-34
 
Naqueles dias, 12,26Jeroboão refletiu consigo mesmo: ‘Como estão as coisas, o reino vai voltar à casa de Davi. 27Se este povo continuar a subir ao templo do Senhor em Jerusalém, para oferecer sacrifícios, seu coração se voltará para o seu soberano Roboão, rei de Judá; eles me matarão e se voltarão para Roboão, rei de Judá”. 28Depois de ter refletido bem, o rei fez dois bezerros de ouro e disse ao povo: “Não subais mais a Jerusalém! Eis aqui, Israel, os deuses que te tiraram da terra do Egito”. 29Colocou um bezerro em Betel e outro em Dã. 30Isto foi ocasião de pecado, pois o povo ia em procissão até Dã para adorar um dos bezerros. 31Jeroboão construiu também templos sobre lugares altos, e designou como sacerdotes homens tirados do povo, que não eram filhos de Levi. 32E instituiu uma festa no dia quinze do oitavo mês, à semelhança da que era celebrada em Judá. E subiu ao altar. Fez a mesma coisa em Betel, para sacrificar aos bezerros que havia feito. E estabeleceu em Betel sacerdotes nos santuários que tinha construído nos lugares altos. 13,33Depois disso, Jeroboão não abandonou o seu mau caminho, mas continuou a tomar homens do meio do povo e a constituí-los sacerdotes dos santuários dos lugares altos. Todo aquele que queria era consagrado e se tornava sacerdote dos lugares altos. 34Esse modo de proceder fez cair em pecado a casa de Jeroboão e provocou a sua ruína e o seu extermínio da face da terra.


Evangelho: Mc 8,1-10


1Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinha o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe”. 4Os discípulos disseram: “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?” 5Jesus perguntou-lhes: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete”. 6Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, e deu graças, partiu-os e ia dando aos seus discípulos, para que o distribuíssem. E eles os distribuíram ao povo. 7Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. 8Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9Eram quatro mil, mais ou menos. E Jesus os despediu. 10Subindo logo na barca com seus discípulos, Jesus foi para a região de Dalmanuta.

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No evangelho de Mc se relata duas vezes a multiplicação dos pães (Mc 6,30-44; 8,1-10). A segunda multiplicação nós lemos neste dia e sucede em território pagão. Trata-se do banquete de Jesus com os pagãos. Assim Jesus se apresenta como Messias para todos, judeus e outros povos da terra. Ele veio para todos e por isso, ninguém escapa de seu amor.


O texto nos diz que “Jesus chamou os discípulos e disse: ’Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer’”. O povo se sente abandonado e que está ali porque quer confiar totalmente em Jesus, pois Jesus se apresenta como Pastor destinado para apascentar, restaurar e unificar o rebanho de Deus, o povo de Deus e não para dispersá-lo. Jesus é a revelação da misericórdia divina que quer socorrer e que se faz pão para todos.


Nesta segunda multiplicação, Jesus não manda os discípulos para que resolvam a fome da multidão como na primeira multiplicação (cf. Mc 6,37), mas Ele lhes manifesta a Sua preocupação: “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe”.  “Tenho compaixão dessa multidão”. Nosso Deus é um Deus compassivo. Ele é “louco” de amor por nós todos: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca”, diz o Senhor (Is 49,15). Somos frutos deste amor “louco” de Deus.


Os discípulos pensam que deveria ter bastante dinheiro para comprar pão para alimentar o povo. O problema se torna grave ainda, pois o povo se encontra no deserto (longe dos povoados): “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?”.


Mas Jesus encontra a solução no próprio povo que os próprios discípulos deixam de lado: “Quantos pães vós tendes?”. E os seus discípulos responderam: “Sete”. “Sete” é um número simbólico indicativo das nações.  Sete era o número das nações pagãs habitantes da terra de Canaã (cf. At 13,19). A totalidade das nações é setenta (7x10). O sete era o numero da perfeição e da totalidade, da plenitude acabada e perfeita (Santo Agostinho), da universalidade (Santo Tomás), o numero que une o par e o impar, o fechado e o aberto, o visível e o invisível. Para os autores do século XII o sete tinha uma dignidade suprema: sete foram os dias da criação, sete eram os dons do Espírito Santo, sete virtudes (três teologais, quatro cardinais), sete os pecados capitais.


Isso significa que a partilha (com cinco pães e dois peixes) é a plenitude da vida, pois a alma do projeto de Jesus é a partilha, a generosidade. A plenitude da vida está na partilha, está na generosidade, está na solidariedade. A partilha, a generosidade, e a solidariedade tiram o homem da garra da ganância para transformá-lo em irmão para os demais, especialmente para os necessitados. A generosidade transforma o coração de pedra em coração humano para sentir novamente a necessidade dos outro. A generosidade é o caminho da libertação; é o caminho da fraternidade. “Somente uma vida vivida para os outros, vale a pena ser vivida”, dizia Albert Einstein. Através da partilha assumimos uma parte do fardo de dor que pesa sobre a humanidade.


Jesus resolve o problema da fome a partir da partilha e da solidariedade do próprio povo, a partir do amor mútuo. “Ensine muito cedo os seus filhos que o pão dos homens é feito para ser dividido” (P. Carré). “Quem espera o supérfluo para dar aos pobres, nunca lhes dará nada” (Provérbio chinês). O amor que se faz piedade e compaixão tem uma força enorme que leva à ação concreta para resolver o problema existente. De fato, o evangelista nos relatou que houve “sete cestos com os pedaços que sobraram”.


“Tenho compaixão dessa multidão”, disse Jesus aos discípulos. Aprendemos de Jesus seu bom coração, sua misericórdia diante das situações de fome e de outras necessidades da grande maioria. Não sabemos fazer milagres porque não temos poder para fazer isso. Mas há multiplicações de pães, de paz e de esperança, de cultura e de bem-estar que não necessitam do poder milagroso, e sim de um bom coração, semelhante ao de Jesus Cristo para fazer o bem. Através do milagre da multiplicação dos pães Jesus quer nos ensinar que a força de solidariedade não fará falta o essencial na vida de todos. O egoísmo, ao contrário, causa a fome da maioria, pois uns querem agarrar tudo. Onde há o acúmulo de bens, há a fome para a maioria.


Nas duas multiplicações Jesus faz o mesmo gesto: “Pegou os sete pães, e deu graças”.  Esse gesto nos recorda a Eucaristia. A mensagem é, portanto, bastante clara para nós: aqueles que participam da Eucaristia devem ter o espírito de partilha e de doação. É ser pessoa eucarística. Além disso, nas duas multiplicações dos pães há sobras. Isto indica que o alimento distribuído é inesgotável. É o símbolo de um ato que terá que ser repetido constantemente pelos cristãos e pelas pessoas de boa vontade. Se cada um tirar um pouco de bom que tem para os outros, jamais faltará nada no mundo. Este é o grande desafio da espiritualidade eucarística. Viver eucaristicamente significa viver na permanente solidariedade e partilha. Sem tudo isto, a eucaristia da qual participamos carecerá de sentido. Partilha e solidariedade são formas de ação de graças a Deus por tudo que temos e recebemos de Deus.


A multiplicação dos pães por parte de Jesus não é um quadro de um museu, nem é uma peça arqueológica. Os que assumem a causa de Jesus, os que se dizem cristãos devem viver continuamente a espiritualidade da partilha e da solidariedade. Diante do Senhor cada cristão deve se perguntar: Senhor o que queres de mim neste mundo com tantos famintos em todos os sentidos? Nós cristãos temos que fazer possível o milagre da solidariedade, da partilha, da compaixão, do amor mútuo no meio de tantas pessoas governadas pelo egoísmo, pelos interesses particulares. O amor vencerá, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

P. Vitus Gustama,svd

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