terça-feira, 3 de junho de 2014

 
UNIDADE NA FÉ E NO AMOR É PRIMORDIAL PARA O TESTEMUNHO CRISTÃO

Quinta-Feira da VII Semana da Páscoa
05 de Junho de 2014
 

Evangelho: Jo 17,20-26

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e rezou, dizendo: 20“Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; 21para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. 22Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: 23eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste, como me amaste a mim. 24Pai, aqueles que me deste, quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória, glória que tu me deste porque me amaste antes da fundação do universo. 25Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes também conheceram que tu me enviaste. 26Eu lhes fiz conhecer o teu nome, e o tornarei conhecido ainda mais, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles”.
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 Estamos na terceira e última parte da oração de Jesus no seu discurso de despedida (Jo 13-17).


Nesta oração Jesus se lembra dos futuros cristãos: “Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra”. Os discípulos da primeira geração receberam direitamente a palavra ou os ensinamentos do próprio Jesus. Eles aceitam e acreditam nos ensinamentos de Jesus e por isso passam a fazer parte da missão de Jesus: “Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo” (Jo 17,18).


A palavra dada ou passada para os discípulos da primeira geração continua a atuar no mundo através de outras gerações, fruto da missão dos primeiros discípulos. E sempre haverá pessoas que pelo testemunho dos cristãos (testemunho e anúncio) passam a acreditar em Jesus, como o Salvador do mundo. Para estas pessoas é que Jesus rezou. Neste sentido nós éramos objeto de oração de Jesus. Quem bom que Jesus rezou por nós. Que bom que Jesus pensava em nós. Isso nos dá força e ânimo para continuar nossa missão como cristãos que atuamos como a luz do mundo e o sal da terra (cf. Mt 5,13-14).


Na sua oração Jesus tem em vista a Igreja de todos os tempos. Neste contexto, quando Jesus rezou: “Para que todos sejam um” podemos entender este “todos” na sua dimensão de tempo e espaço. A unidade na fé como questão primordial faz uma ligação profunda entre a Igreja cristã primitiva com a Igreja de todos os tempos e lugares. A fé no mesmo Senhor é que torna crível qualquer comunidade que usa o nome “cristão” diante do mundo.


O centro da oração de Jesus é a súplica pela unidade dos discípulos. E tem seu princípio e modelo na união entre o Pai e o Filho e tem seu objetivo e finalidade: dar testemunho de Jesus e ajudar a crer. A comunidade somente pode alcançar a unidade se ela permanecer na união com Jesus. Quem não está unido a Cristo, cria divisão dentro de si próprio e entre as pessoas. A unidade da comunidade é condição prévia para a união com o Pai e Jesus. Conseqüentemente, a unidade dos cristãos é o sinal vivo da unidade de Cristo com seu Pai.


Além disso, a unidade é a expressão e a prova mais evidente do amor. Porque esta unidade pela qual Jesus suplica ao Pai somente é possível quando os membros da comunidade se amam de tal maneira que cada um se entrega aos demais sem limite. Aqueles que não amam não podem ter conhecimento e um trato verdadeiro com Deus. Por isso, é essencial recordar que a comunhão com Jesus é impossível sem o amor fraterno. Assim como o amor fraterno cria unidade, assim a comunhão com Jesus deve criar a comunhão entre os cristãos.


A unidade perfeita é o único argumento capaz de convencer a humanidade. Santo Agostinho dizia: Quem abandona a unidade faz-se desertor da caridade. E se deserta da caridade, mesmo que possua tudo o mais, se reduz a nada” (Serm. 88,18,21). Conseqüentemente, o cristão deixará de ser pessoa crível. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão”, acrescentou Santo Agostinho. (Serm. 46,18). Se for assim, conseqüentemente, o cristão deixará de ser pessoa crível no mundo (cf. Mt 5,13bc). A «divisão contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura ». (Unitatis Redintegratio,1 do Concilio Vaticano II)


Esta unidade, efeito visível de um amor incondicional, se manifesta num serviço que chega até o dom da própria vida. Este amor-unidade vivido na comunidade provocará a fé do mundo. Quem ama tende a transformar-se no amado. O amor leva a querer estar sempre juntos.  O amor supõe uma participação. Por isso, podemos nos aproximar de Deus pela experiência humana do amor e da unidade. Toda mensagem cristã perde todo seu valor se prescindir do amor. A unidade da comunidade não é em primeiro lugar um problema de organização, ou um problema social, e sim uma realidade espiritual. São Paulo enfatiza bastante este aspecto espiritual ao dizer: “Sede humildes, pacíficos, pacientes, suportai-vos mutuamente no amor, procurai conservar a unidade do espírito pelos laços da paz. Um corpo e um espírito, como vos foi dada uma esperança comum pela vossa vocação, um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos que está acima de todos e em todos” (Ef 4,3-6).


Conseqüentemente, a própria comunidade cristã não é a garantia para a unidade, no sentido de que a comunidade cristã não é a fonte da unidade. Somente pela união constante com Jesus é que a comunidade cristã pode alcançar a unidade entre seus membros e testemunhá-la para o mundo. Isto significa que a unidade é uma dádiva de Cristo presente na comunidade. Santo Inácio de Antioquia escreveu: “O Senhor adverte e diz: ‘Quem não está comigo, está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa’. Quem quebra a paz e a unidade de Cristo, age contra Cristo; quem de qualquer maneira procura ajuntar fora da Igreja, divide a Igreja de Cristo... Quem não mantém esta unidade, não obedece à lei de Deus, não mantém a fé em Deus, no Pai e no Filho, não mantém a vida e a salvação” (A unidade da Igreja católica, cap. 6). Na Bíblia o verbo “unir”/“reunir” é sinônimo de “salvar”. Tanto que a missão de Cristo como Bom pastor é reunir os homens em “um só rebanho”, isto é, um só Povo de Deus (cf. Jo 10,14-16).


Então, Verdade, Unidade e Amor são três palavras que, segundo o evangelista João na oração neste capitulo 17, sintetizam a missão e a tarefa da comunidade cristã e de cada cristão no mundo. A autêntica oração cristã que é um abrir-se à vontade de Deus não é somente um pedido e sim uma oferenda, consagração e resposta. O cristão existe para os demais: para aproximar-se dos demais, para unir, para dialogar, para servir, para libertar, para trabalhar no grande projeto de salvação que não é dos cristãos e sim de Deus. 


A última petição de Jesus por todos os cristãos, seus discípulos é que estes estejam um dia com ele no céu: “Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória que me concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo”.  Equivale a pedir para eles a vida definitiva.  Para sermos cidadãos do céu temos que viver na terra na verdade, na unidade e no amor.


Em cada celebração, em cada Eucaristia celebrada temos que pedir o perdão ao Senhor pela divisões e desunião que criamos dentro da Igreja do Senhor. Se o Senhor rezou tanto pela unidade dos cristãos, temos rezar pela mesma e procurar sempre a reconciliação. “Pouco importa quanto fazes tu, o que importa é quanto amas. A medida do amor é o amor sem medida. Quando se enfraquece o amor, também se enfraquece o fervor” (Santo Agostinho).

P. Vitus Gustama,svd

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