segunda-feira, 8 de setembro de 2014

 

MISERICÓRDIA: AMOR SEM FRONTEIRAS

Quinta-Feira da XXIII Semana Comum
11 de Setembro de 2014
 

Evangelho: Lc 6,27-38

Naquele tempo, falou Jesus aos seus discípulos: 27“A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, 28 bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. 29 Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. 30 Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. 31 O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. 32 Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. 33 E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. 34 E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35 Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. 36 Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. 38 Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será posta no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
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Estamos acompanhando o Sermão da Planície (Lc 6,20-49). Na passagem do evangelho de hoje o evangelista Lucas resumiu vários conselhos dados por Jesus, e que Mateus agrupou no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Esses conselhos são umas atitudes evangélicas essenciais para qualquer cristão ou qualquer pessoa de boa vontade.


Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”.


O evangelho não inventou novos valores. O próprio perdão, expressão máxima do amor, faz parte de toda vida numa sociedade que queira ser duradoura. Mas o exemplo de Cristo é um estímulo poderoso que pode nos dar fortaleza de chegar ao extremo no amor que perdoa. Sem amor os mais formosos valores podem degenerar em orgulho, em auto-suficiência, em farisaísmo, em exibicionismo, em intolerância, em fanatismo, em legalismo e assim por diante (cf. 1Cor 13,1-13). O amor nos impede de cairmos em moralismo e rigorismo sem flexibilidade.


Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”, disse Jesus.


“Inimigo” é uma palavra muito forte. Geralmente se refere àqueles que estão em estado de guerra. Pode também ser usada para descrever grupos ou indivíduos que oprimem outros, que algemam sua liberdade e impedem seu crescimento. Inimigo também é alguém que se coloca no caminho da nossa liberdade e dignidade. É alguém a quem evitamos e com quem nos recusamos comunicar. São os que nos odeiam, nos amaldiçoam, nos injuriam, os que nos roubam a alegria de viver, os que nos comentam com maldade e assim por diante. Todas essas pessoas não são idéias nem fantasmas irreais, e sim são pessoas de carne e osso. Nem sempre temos coragem de dizer que temos inimigos, pois esta palavra é muito forte.


Porém, consciente ou conscientemente a atitude de alguém de não querer se comunicar com seu rival/inimigo vai virar a antipatia e a antipatia pode se transformar em mágoa; a mágoa se torna raiva e a raiva vai virar ódio. O ódio é como uma gangrena: devora a pessoa. O ódio é igual alguém a tomar o veneno e espera que o outro morra. Todas as nossas recusas em nos comunicarmos com os outros e nos abrirmos a eles encerram-nos na prisão. Em vez de nos ajudar a crescermos no amor, no perdão e na abertura, esse processo pode nos fechar em formas sutis de depressão e inércia. Nesse caso somos prisioneiros de nós mesmos ou do nosso grupo.


Amai... Fazei o bem... Desejai-lhes o bem... Rogai por eles... Daí... etc.”. Tudo isso não são idéias nem sentimentos e sim atos reais e atitudes concretas. Nisso percebemos que não é fácil viver o evangelho. É preciso fazer e ter a experiência pessoal com Cristo para podermos viver tudo isso.


O ensinamento essencial de Jesus é que nosso amor há de ser universal libertando-nos das comunidades naturais: a família, a nação, a etnia nas quais se exerce ou se vive o amor quase espontaneamente. É preciso nós irmos além das fronteiras, pois o amor sempre vai além das fronteiras: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim”, disse Jesus. A solidariedade, o amor, a compaixão, não é um bem em si, há que praticá-los também para os pecadores, os malvados, os egoístas, pois o amor é o valor que convence até os ateus, os desesperados e desesperançosos. O amor sem fronteiras é muito mais exigente do que todas as leis psicológicas e sociais. O amor deve alcançar as dimensões de toda a humanidade: inimigos, adversários, maldosos, maliciosos e assim por diante. É um amor desinteressado e gratuito: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca”. É amar como Deus ama, imitando o amor infinito de Deus, pois “Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus”, e ser um sinal de amor do Pai que ama todos os homens que “faz nascer seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).


Portanto, o texto do evangelho de hoje é uma chamada a construirmos uma nova relação com Deus a partir de um novo comportamento com os demais. O primeiro mandamento que Jesus deu aos seus seguidores é superar o ódio, a vingança e o rancor: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”. Nenhum cálculo humano deve orientar a pratica do amor autêntico e eficaz. Os seguidores de Jesus, ao amar os inimigos, imitam a bondade de Deus de Quem recebe o perdão de seus pecados e este amor é a resposta agradecida ao Deus da misericórdia. O amor dos seguidores de Jesus deve ser uma ação e uma tarefa, o amor deve ser eficaz e alcançar, inclusivo, aqueles que não o merecem: os inimigos. As palavras de Jesus supõem uma nova atitude, supõe a conversão e a aceitação plena do conteúdo dos ensinamentos de Jesus, supõem construir um novo modelo de sociedade porque não pode haver uma comunidade autêntica sem a justiça e o perdão necessário para restabelecer a comunidade. No entanto, o perdão nunca pode servir de pretexto para ocultar a ausência de justiça. Nosso amor não pode encobrir injustiças e desigualdades. Amar, verdadeiramente, é andar na verdade.


É bom nos relembrarmos novamente que o estilo de atuação que Jesus pede a todos os cristãos é:

·        Amem seus inimigos.
·        Façam o bem aos que os odiaram.
·        Abençoem aqueles que os amaldiçoaram.
·        Rezem pelos que os injuriaram.


O que nos custa é cumpri-los, adequar nosso estilo de vida a estes ensinamentos de Jesus. Somos chamados a ter bom coração com todos: não julgar, não condenar, não injuriar, não agredir, mas rezar, perdoar e ser compassivo. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II: “Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza, promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no homem” (Dives in misericórdia, no.6).

P. Vitus Gustama,svd

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