segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

25/12
 
NATAL:
DEUS NASCEU PARA NÓS E NASCEMOS PARA ELE


Lc 2,1-14; Jo 1,1-18

 

1. Natal (O nascimento de Jesus) é uma mensagem de .
    

Ao escrever seu evangelho Lucas tem por objetivo de dar a conhecer a mensagem cristã e não de fazer uma crônica exata do que aconteceu naquele tempo. Dentro deste objetivo pode-se entender também que o relato do nascimento de Jesus foi escrito à luz da pascal com o objetivo de alimentar a das comunidades cristãs. Ele não estava preocupado se Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro ou em outra data (ninguém sabe uma data exata, mês exato de seu nascimento). Na perspectiva da história da salvação, o importante e decisivo é que o Filho de Deus entrou realmente em nossa história para salvar a humanidade. E ele nasceu num tempo determinado (e não data exata), sendo imperador Augusto; em determinado lugar, Belém; de determinada mulher, Maria de Nazaré. O nascimento de Jesus é a proclamação de um acontecimento salvífico, que, como tal, podemos contemplar com os olhos da .


2. Jesus é o nosso Salvador e o nosso Príncipe da paz


No relato do nascimento de Jesus menciona-se o edito de César Augusto que ordena o recenseamento de todo o mundo habitado (v.1). Ao mencionar o imperador Otávio com o nome de Augusto, Lucas quer nos transmitir uma verdadeira mensagem de que o verdadeiroSalvador” e “Senhor” (v.11), aquele que traz a verdadeira paz para o mundo não é o Imperador Augusto, que foi aclamado comosalvador do mundo” e “pacificador”, mas é Jesus Cristo. Mais tarde Jesus nos oferecerá a paz: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou” (Jo 14,27ab). Quem trouxe a salvação foi Jesus Cristo, nosso Salvador. A verdadeira paz para o mundo não é a paz do Imperador Augusto que usa força e arma para conquistá-la, mas a paz de Cristo que usa o amor para alcançá-la. A paz é o dom de Deus a todos os homens que têm a boa vontade e por isso, são objeto do bem-querer de Deus. Essa paz, que une o céu e a terra, foi cantada pelos anjos na noite em que Jesus nasceu: “Glória a Deus no mais alto do céus, e na terra, paz aos homens que Deus ama”(v.14).
   

Para viver a paz, dom de Jesus, precisamos, antes de mais nada, louvar e adorar a Deus, dando a ele o primeiro lugar, reconhecendo que ele é o primeiro. A paz do interior, a paz do coração é fruto da : crer que Jesus, hoje, nasceu para mim, para você, para todos; crer que Deus é Pai que ama primeiro, que se comunica e se dá a nós em Jesus, mesmo antes de qualquer expectativa humana, que nos perdoa gratuitamente; crer que Deus vem nos abraçar porque Ele nos ama apaixonadamente; crer que Deus vem nos dizer através do nascimento de Jesus: “Eu te amo”.  Quem trouxe para o mundo o começo das boas novas foi o “hoje” do nascimento de Jesus em Belém. A paz como dom precisamos pedi-la constantemente; e ao tê-la no coração, temos a obrigação de irradiá-la para os outros. Quem promove a paz será chamado de filho de Deus: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Por isso tudo, não procuremos a salvação nas coisas nem nas pessoas, não procuremos a paz nas coisas passageiras nem no poder e força mundana; devemos procurá-las em Jesus Cristo, nosso Salvador e o nosso Príncipe de paz.  “Buscai o Senhor, que ele se deixa encontrar; invocai-o, que está perto” (Is 55,6).


3. Deus pode usar até os meios absurdos, no julgamento humano, para salvar o mundo.
    

Acentua-se também no relato a obediência de José e Maria ao edito do Imperador. Eles não fogem da história, mas eles a vivem como justos (aqueles vivem de acordo com a vontade de Deus) sem serem contaminados pelo poder mundano. Certamente o filho do Reino é chamado a iluminar o mundo e salgar a terra (cf. Mt 5,13-14). Ao José (e Maria) obedecer ao edito do Imperador o texto quer nos mostrar que Deus realiza seu desígnio de salvação servindo-se até da ambição de poder e de dominação dos que se julgam senhores deste mundo, poispara Deus nada é impossível” (Lc 1,37). O plano de salvação de Deus se realiza, não pela fuga da história, mas pela fidelidade a Deus na história concreta das pessoas. É, por isso, que cada história ou experiência, por escura que ela pareça ser, se for olhada e refletida sob a luz divina, ela se transformará em uma história de salvação. Eu sou como sou neste exato momento também por causa do meu passado, seja alegre seja triste. Tudo se torna uma história de salvação, porque vejo tudo a partir de Deus. O dom da abre novas perspectivas à vida daquele que crê em Deus. A nos aproxima do conhecimento de Deus. A transforma os nossos limites em forças. A transforma os pontos escuros de nossa vida em história de salvação.


4.  Deus não poupa ninguém do sofrimento, nem seu Filho, Jesus.
      

Deus não fez nenhummilagrepara que o nascimento de Jesus acontecesse em outras circunstâncias mais humanas e confortáveis, para salvaguardar a dignidade do seu Filho, e para evitar o sofrimento de Maria e de José. Deus não poupa Jesus de um nascimento dramático nem da morte cruel na cruz, mais tarde. Mas Deus não permanece fora da cena. Deus age conosco, em nossas provações, como agiu com Seu Filho, Jesus Cristo. De maneira dramática, o texto relata o nascimento de Jesus com esta expressão: “Enquanto estavam, completaram-se os dias para o parto e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas de pano e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles no alojamento” (vv.6-7).
    

O nosso sofrimento nos leva ao nosso limite para nos fazer descobrir novas forças e a força de Deus dentro de nós. “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças....Você possui forças que provavelmente desconhece” (Epicteto, em A Arte de Viver, p.37, Sextante,2000). Sob a luz de nossa , o sofrimento brilha de forma diferente, mas não desaparece.


5. O Natal nos ensina a descobrir o inefável mistério divino no aspecto cotidiano da vida.
     

O nascimento de Jesus é atestado por Lucas quando escreve que Maria “envolveu seu filho com faixas de pano e reclinou-o numa manjedoura...” (v.7). Esse detalhe é tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo entre os pastores como sinal para poder reconhecer o filho de Maria (v.12). E, de fato, é exatamente graças a esse sinal que “os pastores, às pressas, vão vê-lo”, reconhecem-no e encontram-no dessa maneira (vv.16s). Como vai fazer um pouco mais adiante, por meio de alguns detalhes alusivos, Lucas relaciona a figura de Jesus que nasce com aquela de Jesus que ressuscita (cf. Lc 23,52s). A repetição dos termos e dos gestos sintetiza em um início e em um fim a manifestação da humanidade de Jesus. O nascimento de Jesus, então, é descrito com a maior simplicidade e humanidade.


É o paradoxo de nossa ! Tudo isso é o mistério da nossa que proclamamos como cristãos: na criança-Jesus indefesa está o nosso Salvador; na família simples de Maria e José está o maior sacrário do universo, pois o Salvador do mundo nela habita; nas coisas pequenas revelam-se as grandes; na manjedoura onde é posta comida para os animais está o maior alimento para a humanidade; no pequeno pão está presente o Filho de Deus, nosso verdadeiro alimento (cf. Jo 6,51). No cálice está presente o sangue de Jesus para remissão de nossos pecados (cf. Mt 26,27-28); na comunhão eucarística que recebemos, Deus nos abraça e vem ao nosso encontro e penetra até o fundo de nosso ser, onde nem nós mesmo podemos entrar nem pessoas amadas, somente Deus; na doença que nos faz sofrer e na morte que nos impõe medo, há a presença misericordiosa do Filho de Deus que nos convida a entrarmos com ele em seu Reino (cf. Jo 16,33). Em todas as circunstâncias da vida do dia-a-dia, mesmo as mais infelizes, mediante as incompreensões, as doenças, a repetitividade e a monotonia da vida, está sempre presente o lado amoroso, o lado da alegria, do Espírito Santo, da abertura do coração.Deus está em tudo e eu preciso reconhecer e sentir Sua presença. A luz de Deus penetra por todas as frestas, em cada dobra da existência humana. Assim sendo, podemos viver uma vida diferente, mais elevada e mais digna de filhos de Deus. O fascínio do Natal, mais forte que todas as luzes multicoloridas acesas pelo consumismo, está aqui: encontra-se o sentido da vida, do homem, das coisas simples, sentido do qual ninguém deveria afastar-se, porque nele reside o verdadeiro, o autêntico. A encarnação de Deus transforma nosso tempo (Kronos) em tempo da graça (Kairós). Deus está aqui e agora. Basta parar para ouvir e sentir Sua presença bem silenciosa, mas marcante. O silêncio traz de volta a plenitude da eternidade. Quem souber olhar bem longe com os olhos do coração e com a inteligência da , ali encontrará um germe da Presença que situa o homem na plena verdade de si mesmo.


O Natal nos ensina a buscarmos e a vermos o inefável mistério divino não em coisas incomuns e maravilhosas, mas naquilo que tem o aspecto cotidiano, simples e terreno (cf. Mt 25,40.45; Lc 16,10). Isto quer nos dizer que, a partir do Natal, tudo que é humano simplesmente pode ser como que manifestação divina, sinal visível da presença de Deus. Uma flor não é Deus, mas ela fala da beleza do Criador. As plantas alimentares não são Deus, mas elas falam da providência divina em fornecer alimento para seus filhos e filhas nesta terra, apontando, ao mesmo tempo, para o Pão da vida, o verdadeiro alimento: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede (Jo 6,35). A água não é Deus, mas ela fala de Deus capaz de satisfazer nossa sede mais profunda: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: ‘Do seu interior manarão rios de água viva” (Jo 7,37-38). Portanto, minha relação com o aspecto cotidiano desta vida será o critério para saber se eu descobri ou não o sentido do Natal e ao mesmo tempo o sentido da minha vida.


6. Jesus nasceu como um excluído e nos chama a nos vestirmos de hospitalidade
  

“... porque não havia lugar para eles no alojamento (katályma, em grego)”. Na época em que foi escrito o Evangelho de Lucas, o dever sagrado da hospitalidade com relação aos estranhos tinha diminuído notavelmente. Ao relatar quenão havia lugar para eles no alojamento”, o texto quer nos dizer que Jesus nasceu como um excluído, a ponto de ser deitado numa manjedoura de animais (cf. Lc 13,15). São Paulo chegou a dizer, embora não possa ser entendido materialmente,: “Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (1Cor 8,9; Gl 4,5;3,13s;2Cor 5,21;Rm 8,3s;Gl 2,19;Rm 7,4).


A hospitalidade, o bom acolhimento, o cuidado fazem parte do amor em ação. Eu posso fazer todas as coisas e todas as atividades, mas sem o amor tudo se torna inútil. São Paulo expressa isso de maneira precisa no hino de caridade (cf. 1Cor 13,1-13). E a hospitalidade entre nós, está diminuindo ou está aumentando? Acolher com hospitalidade é ir além da saudação formal. Significa disponibilidade de tempo para conversar e escutar o outro para não se precipitar em fazer conclusões ou julgamento. Significa atitude de respeito ao outro, vencendo preconceitos. Para podermos acolher os outros, devemos saber, primeiramente, acolher Jesus Cristo. Quem acolhe bem as pessoas, na verdade ele está fazendo isso por Jesus (cf. Mt 25,40.45).


7. Os excluídos são os primeiros destinatários da Boa Nova


Aos pastores o anjo dirige estas palavras:Não tenhais medo ! Eu vos anuncio uma grande alegria...: Hoje nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor “(vv.10-11). Justamente foram os pastores, desprezados e marginalizados que Deus escolheu para serem as primeiras testemunhas do nascimento do Messias e os primeiros destinatários do anúncio do Evangelho.


Como sempre nas teofanias (nas manifestações divinas), também os pastores “foram tomados por um grande medo”. O temor/medo é a característica dos acontecimentos sobre os quais não temos domínio, porque temos medo de que sejam infaustos, que contenham ciladas contra nós, ameaças. Como nas teofanias do AT (cf. Gn 15,1;21,17;26,24;Jz 6,23;Dn 10,12) a primeira coisa que o anjo faz é remover o medo: “Não tenhais medo!” Porque a mensagem do anjo aos pastores é uma Boa Nova. Pela primeira vez o verboevangelizar” aparece no evangelho de Lucas. O nascimento de Jesus converte o grande medo em grande alegria. Este anúncio é para todos. Finalmente todos encontram aquele que salva, que nos tira do estado de angústia, do mal, da guerra, do ódio, da violência, da morte. Finalmente encontram a esperança de que a vida tenha sentido, que ela seja mais bonita do que os acontecimentos isolados pelos quais passamos. É verdadeiramente algo bonito ver, olhar para o futuro, porque temos um Salvador, o Cristo Senhor, no qual toda a nossa esperança se transforma em realidade e no futuro também será assim. QueAlguém que cuida de nós, o Messias, Aquele que Deus incumbiu de salvar a humanidade. Precisamos descobrir que “o segredo da alegria imperscrutável está em Jesus, nasce para nós com Jesus, vive em Jesus e se transmite a quem dele se aproxima, sem deixar de lhe ser própria” (Paulo VI).


8. O Natal é uma mensagem da paz


 De repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar Deus dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama“ (vv.13-14). A distância entre o Criador e a criatura, simbolizada pela menção do “céu” e da “terra”, é superada pela nova e definitiva Aliança de Deus com os homens: o Deus “nas alturas” inclina-se sobre a “terra” dos “homens que são objeto de sua benevolência. Deus nos salvou, não por causa dos atos justos que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia (cf. Tt 3,4-5).
  

Por isso a origem e o fundamento da “paz na terra” está na benevolência divina, no bem-querer de Deus. Deus nos quer o bem não porque sejamos bons e justos, mas porque ele é justo, bom e misericordioso. Sendo amados por Deus e vivendo este amor, seremos bons e justos. Este comportamento de Deus constitui o âmago do Evangelho.

          

Ser Natal, hoje, depende de cada um de nós. Depende de nós porque Deus quer entregar-se a nós, mas com a condição de que o aguardemos de braços abertos, mediante a disponibilidade do nosso coração. Jesus entra onde lhe é permitido entrar. Ele bate a porta de nosso coração, mas depende de cada um de nós abrir ou manter fechada a porta de nosso coração. Creio que nós estamos aqui neste momento para dizer a Jesus que não apenas o deixamos entrar agora em nossa casa e vida, mas que o deixaremos entrar em qualquer momento, onde quer que nos encontremos, em toda a nossa vida. queremos que ele seja um membro permanente de nosso lar e de nossa vida.
  

Portanto, para que as pessoas tenham um Feliz Natal, não necessariamente os problemas e sofrimentos devem estar longe, ausentes. Eles podem até estar presentes e sendo vividos por elas. Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, os cartões e presentes não são tão importantes. E podem até nada significar. Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, o dinheiro não deve ser prioridade; muito menos significado primeiro das comemorações. Para se ter um Feliz Natal, o importante é: Estar em PAZ com Deus. Estar em PAZ com o irmão. Estar em PAZ consigo (a) mesmo(a). O que se celebra no Natal é o nascimento do Deus- Criança , autor e senhor da Paz. Ele não nasce em berço de ouro. Nem mesmo pode gozar do calor de uma simples hospedaria.  Naquela noite fria de Belém, o Filho de Deus, o Deus- Criança, nasceu numa estrebaria, aquecida não pelo acolhimento dos hoteleiros, mas pelo carinho de alguns animais e pelo afeto de Maria e José, que, apesar dos trabalhos pelos quais passaram para acolher bem o recém-nascido, estavam em Paz. Natal é a Festa da Paz. Os problemas e sofrimentos podem até tirar um pouco do brilho e da alegria, enquanto sentimento humano. Jamais, porém, o silêncio interior, perfume da Paz, enquanto fruto do Deus que se faz CRIANÇA e habita entre nós.
P. Vitus Gustama,svd

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