sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

 
O DIZER E O FAZER NA VIDA CRISTÃ

Terça-feira da III Semana do Advento
16 de Dezembro de 2014
 

Evangelho: Mt 21, 28-32

Naquele tempo, disse Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: 28 “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ 29 O Filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. 30 O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. 31 Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”.

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A parábola dos dois filhos tem uma função similar à parábola do filho pródigo no evangelho de Lucas (cf. Lc 15,11-32) embora cada evangelista a desenvolva diversamente. Para o evangelista Mateus a mesma parábola é também o eco do Sermão da Montanha que enfatiza o fazer do que o dizer (Mt 7,21-23; cf. Mt 12,50;23,3-4). Atrás da parábola está Aquele que uma vez disse “sim” à vontade de Deus jamais mudou para umnão”. Ele é Jesus Cristo em quem devemos nos espelhar para nossa vida de cristãos. Jesus é o Filho fiel e obediente à vontade de Deus. Ele está entrelinhas nesta parábola. “O terceiro filho existe, mas não somos nós. Só o Filho de Deus, Jesus Cristo, não foi um ‘sim’ e ‘não’, mas n’Ele houve somente um ‘sim’. Todas as promessas de Deus se tornaram n’Ele ‘sim’ (cf. 2Cor 1,19). Ele é o único que sempre disse: ‘Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado’ (Mt 11,26)” (Giuseppe Casarin).
    

Mt começa a parábola com a pergunta: “Que vós parece?” (v.28a). Esta pergunta é típica de Mateus (cf. Mt 17,25;18,12;22,17;26,66). A pergunta não é mais dirigida aos discípulos, mas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, os mesmos interlocutores da unidade anterior (cf. Mt 21,23-27). A pergunta obriga os ouvintes a comprometer-se e a tomar posição. A resposta à pergunta torna-se um julgamento para os ouvintes. E no fim da parábola, mais uma vez, os mesmos interlocutores são obrigados a escolherqual dos dois fez a vontade do pai?” (v.31). A resposta dada a estas perguntas pelos ouvintes será sua salvação ou seu juízo.
               

Os ouvintes de Jesus não tiveram dificuldade de dar uma resposta exata à pergunta de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”. Sem hesitarem os ouvintes responderam: o primeiro filho, isto é, aquele que falou que não iria, mas de fato foi e fez o que o pai pedia.


A mensagem, portanto, é muito clara. Entre palavra e ação, a primazia é dada á ação. Entre intenção e ação, a primazia é dada à ação. O homem se salva não pelas palavras, intenções, palavras estéreis e descompromissadas, mas por fatos concretos e precisos.
            

Quando nós não somos fiéis à nossa palavra deixa de respeitarmos a nós mesmos e conseqüentemente aos outros e a verdade não está em nós, não somos fiéis a nós mesmos, e também aos outros. Deste jeito estamos mentindo para nós mesmos e para os outros. A mentira é a defesa fácil dos fracos, que não são capazes de assumir a responsabilidade de seus atos. Triste é que o mentiroso não somente se condena a si próprio a vergonhosas contradições, mas também priva os demais do direito que têm à verdade, semeando desconfiança entre as pessoas. Uma vez alguém mente, ele será obrigado a inventar outras mentiras para confirmar oudefender” a primeira mentira.
 

O fazer ou o agir é tão importante que Jesus Cristo pede aos discípulos o seguimento. Seguir a Jesus é agir com ele e como ele, acompanhá-lo no seu agir. Jesus chama os discípulos convidando-os a segui-Lo (Mt 4,19-22; 8,22; 9,9; 16,24; 19,21.27). O que conta diante de Deus não são as aparências, nem as boas intenções ou palavras, mas a PRÁTICA. Deus olha para o que de fato fazemos, não importa o que pensamos ou dizemos. Aquele que honra a Deus, não é aquele que observa uns ritos exteriores, mas sim aquele que põe em prática a vontade de Deus. Por isso, devemos ficar sempre atentos para que a nossa prática religiosa ou nossos ritos exteriores, não seja mais importante do que nosso Deus e nosso próximo.


Por isso, o maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se, mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna e não se doa ao irmão necessitado. Dobram-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo. Faz-se reverência diante do templo de Deus, mas despreza-se o irmão que é o templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 3,16-17). Ninguém reza ou crê impunemente.
   

Numa ocasião o Papa Paulo VI disse: “O grande pecado da moderna cristandade é o vazio entre a e as obras. É o pecado de ser ilógico, inconsciente e infiel”. O maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.
            

Portanto, a parábola dos dois filhos é um convite para fazermos o sério exame de consciência sobre o nosso agir diário. As nossas palavras nunca podem ultrapassar o nosso agir para não sermos chamados de cristãos falsos. Se não nos convertermos continuamente, o mundo vai repetir as palavras de Mahatma Gandhi: “Eu aceito o vosso Cristo, mas não aceito o vosso cristianismo”.


A pergunta de Jesus “O que vos parece?” é dirigida a cada um de nós. Você se parece com quem dos dois filhos? O que Jesus não aceita são aqueles que se crêem melhores do que os demais sem necessidade de mudança alguma. Prefere o longo caminho, cheio de liberdade e de fracassos, de buscas de novos horizontes a causa de seu inconformismo com a vida que os rodeia à comodidade dos que dizem “sim” a tudo, mas não se comprometem com nada. “Se serves ao Verbo de Deus, tu estás no Santuário”, dizia Orígens.

P. Vitus Gustama,svd

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