quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

01/02/2015
 

VIVER DE ACORDO COM AUTORIDADE DE CRISTO

IV DOMIMGO DO TEMPO COMUM ANO “B”

 

Evangelho: Mc 1,21-28

21 Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. 23 Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. 25 Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!” 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27 E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” 28 E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
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O texto do Evangelho deste domingo relata o primeiro dia da atividade apostólica ou missionária de Jesus em Cafarnaum. O texto podemos dividir em duas partes. A primeira parte (vv.21-22) fala do ensinamento de Jesus que causa a admiração da parte do povo na sinagoga, pois ele fala com autoridade. A segunda parte (vv.23-28) relata a expulsão do espírito mau de um homem encontrado na sinagoga.


1. Jesus Ensina Com A Autoridade (vv.21-22)
  

Depois de ter formado o primeiro grupo de discípulos (cf. Mc 1,14-20: o Evangelho do Domingo anterior), Jesus começa a dar início à sua atividade tomando contato com os israelitas na instituição religiosa (Sinagoga) que aceitam a doutrina oficial transmitida pelos Mestres da Lei. Neste ambiente é que Jesus começa a ensinar.


Jesus se preocupa com o ensinamento. No ensinamento de Jesus, os ouvintes percebem a força do Espírito Santo nas suas palavras. A reação é, então, favorável, pois reconhecem nele a autoridade de um profeta:”...ele ensina como quem tem autoridade” (v.22). Não se diz o conteúdo do ensinamento de Jesus. Diz-se apenas a reação de admiração do povo. Jesus possui a autoridade e o poder de quem, anunciando a chegada do Reino de Deus (cf. Mc 1,15), a torna realidade. A poderosa palavra doutrinal(ensinar legitimamente) e a poderosa ação exorcista constituem por igual um sinal do poder divino de Jesus e ao mesmo tempo, um sinal de que nele e com ele se abre o caminho para a soberania de Deus no mundo. Com ele, o povo começa a ter um senso crítico de tudo, pois a mente do povo se abre com os ensinamentos de Jesus. O mais perigoso do mundo não é aquele que tem dinheiro ou poder, e sim aquele que tem todas as informações e dados.
    

Como conseqüência, o ensinamento de Jesus provoca o desprestígio do ensinamento habitual dos Mestres da Lei: “Ele ensina como quem tem autoridade e não como os mestres da lei” (v.22). Os mestres da lei, quando fizeram uma afirmação, citaram os grandes mestres do passado. Jesus, ao contrário, quando fala, ele não necessita nenhum autoridade e nenhuma citação de um especialista. Ele fala com a finalidade da voz de Deus. Por isso, o povo percebe a diferença. Certamente Jesus, com seu ensinamento, pretende alargar o horizonte do povo. Com seu ensinamento Jesus consegue libertar o povo da dependência dos Mestres da Lei e do Deus enquadrado criado por eles. Ele provoca o início da tomada da consciência crítica no povo para avaliar a realidade em que se encontra com a maneira de Deus em Jesus Cristo.


Por que Jesus ensina com tanta autoridade?


A autoridade de Jesus não está a serviço de uma instituição, de um poder, de uma ideologia ou de um partido, e sim está a serviço do ser humano para que este reconheça sua própria dignidade, sua vocação à vida comunitária (sem exclusão). A nova forma de Jesus ensinar “com plena autoridade” apela a valores e atitudes fundamentais do ser humano: apela à capacidade de convivência, ao reconhecimento respeitoso e tolerante do outro, ao desenvolvimento da auto-estima como condições para um autêntica libertação da situação de marginalização em que vive a grande maioria, à fraternidade universal, pois Deus é o Pai de todos e por isso, todos são irmãos cuja vocação fundamental é proteger o irmão de todo mal, à familiaridade, pois todos são membros da família humana. Se um ser humano sofrer, eu sofrerei também, pois faço parte da humanidade (cf. 1Cor 12,12-30).  Por isso, o ensinamento de Jesus desperta uma grande admiração da parte do povo na sinagoga: “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ele ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da lei”. O povo fica admirado por Jesus e Jesus luta pela dignidade do povo. Onde há mutuo respeito, há mutua admiração. Mas onde não há o mútuo respeito, não há espaço para a mútua admiração. E onde não houver a mutua respeito e a mutua admiração, um homem virará lobo para outro homem; um devorará o outro sem piedade em nome do próprio interesse e vantagem. Quando tenho plena consciência de que meu coração é humano, jamais ferireo o coração do outro ser humano, pois dentro de seu coração está também meu coração.
 

Jesus ensina como quem tem autoridade e não como os mestres da lei”. A autoridade está ligada ao crescimento. A própria palavra vem do latim “augere”, que quer dizer “crescer”. Por isso, exercer a autoridade é sentir-se realmente responsável pelos outros e por seu crescimento, sabendo que eles não são nossa propriedade, nossos objetos, mas pessoas que têm um coração, nas quais existe a Luz de Deus, e que são chamadas a crescer na liberdade da verdade e do amor. O maior perigo para aquele que tem autoridade é manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e sua necessidade de poder. Se for assim, ele deixará de ser uma pessoa com autoridade.


Jesus fala como quem tem autoridade. Há palavras que nos aproximam de Jesus. Quais são estas palavras? Sempre que pronunciarmos uma palavra viva, aquela que não é fingida, aquela que sabe detectar em cada momento o que o outro está necessitando, aquela que faz o outro melhorar e crescer, aquela que não semeia a discórdia, a palavra que humaniza, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra compassiva, aquela que consola nos momentos de dificuldade, a palavra que anima quem está desesperado, a palavra sincera de querer ajudar, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra solidária, aquela que coloca as coisas no seu devido lugar, aquela que sai do coração para aliviar a dor do outro, aquela que serena, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra de esperança que diz que nem tudo está perdido, que o melhor está para vir porque Deus está conosco, estaremos falando com autoridade.


É bom cada um fazer um exame de consciência para saber se vive, fala e ensinado com autoridade como Jesus.
   

Cada um de nós, de certa forma, exerce alguma autoridade, no grupo, no trabalho, em casa etc.. Exercer a autoridade é sentir-se realmente responsável pelos outros e por seu crescimento, sabendo que eles não são nossa propriedade, nossos objetos, mas pessoas que têm um coração, nas quais existe a luz de Deus, e que são chamadas a crescer na liberdade da verdade e do amor. O maior perigo para alguém que tem autoridade é manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e sua necessidade de poder. Uma pessoa que realmente tem autoridade é aquela que encoraja, ensina, dá apoio e aconselha, e se for necessário, corrige, para ajudá-lo a ter confiança em si próprio e a crescer para uma maturidade, sabedoria e liberdade maiores. Uma pessoa que tem a verdadeira autoridade é aquela que trabalha visando justiça para todos, especialmente para aqueles que não podem se defender, que fazem parte de uma minoria oprimida. É aquela que não se compromete com o mal, com a mentira e com as forças da opressão que esmagam as pessoas, principalmente os indefesos. A autoridade existe para a liberdade e o crescimento das pessoas.
    

O povo ao redor de Jesus fica admirado pela pessoa de Jesus, porque ele ensina como quem tem autoridade. Será que sabemos também ensinar com autoridade? Você será uma boa autoridade se for amado mais do que obedecido ou temido.


2. Expulsão do espírito mau (vv.23-28)
    

Jesus vai à sinagoga. Ele vai lá para ensinar e purificar. Pela imundice que a habita (um homem está possuído por um espírito imundo/mau dentro da sinagoga), a sinagoga não é mais a “Casa de Deus”, ou a “Assembléia de Javé”. O povo reunido (sinagoga quer dizer reunião) não é mais o lugar santo onde Deus habita (Ex 19,5s). Jesus vai à sinagoga para livrar o povo do poder da instituição que o aliena e com isso, denuncia, ao mesmo tempo, seu caráter perverso e opressor. Jesus quer convidar o povo para um novo espaço (a casa: onde acontecerá a cura da sogra de Pedro. Saberemos isso no evangelho do próximo domingo), onde acontecerão possíveis novas relações.
     

Entre os fiéis da Sinagoga há quem se identifica de maneira tão fanática com o ensinamento dos Mestres da Lei, que não tolera que a autoridade doutrinária deles seja submetida à censura. Para exprimir o fanatismo, Marcos usa a expressão “estar possuído por um espírito imundo/mau” (em oposição ao Espírito Santo que está com Jesus).  O fanatismo é a força que despersonaliza o homem e impede todo espírito crítico. O fanatismo é, em concreto, uma ideologia contrária ao plano de Deus. O fanatismo fomenta a idéia da superioridade própria e o conseqüente desprezo dos demais. O possesso é, neste texto, homem inteiramente alienado pela adesão fanática a essa ideologia e sai em defesa dos Escribas.
      

O espírito “mau/impuro” toma  o homem por inteiro fazendo com que o homem não pense nem aja por si mesmo. O espírito mau, em outras palavras, aliena o homem, cortando os laços de relacionamento com os outros e tirando o homem da sua existência como um ser social (socius = amigo), um ser amigo/irmão para  os outros. O homem possesso personifica a alienação total.
     

É interessante observar que o próprio possesso fica dividido dentro de si mesmo. Porque, por um lado, ele não pode negar a autoridade divina de Jesus: “Sei quem Tu és: Tu és o Santo de Deus”. Por outro lado, ele não admite que a autoridade divina de Jesus possa opor-se à autoridade da instituição religiosa e da sua doutrina (que para ele também divina). Por isso, ele diz: ”Que tens contra nós, Jesus Nazareno. Vieste para nos destruir?” Ao chamar Jesus de Nazareno, o possesso sugere-lhe que, segundo a sua origem (de Nazaré), Jesus deveria professar as idéias nacionalistas. Aqui Jesus é tentado (primeira vez que ocorre a tentação do poder, cf.1,13) para que ponha sua autoridade divina a serviço do sistema, aceitando o papel de Messias nacionalista. Mas Jesus o interrompe e, apesar da sua resistência, liberta-o do seu fanatismo, isto é, consegue convencê-lo do erro do seu posicionamento.


O episódio do homem possuído por um espírito impuro, mais do que demonstrar autoridade de Jesus sobre as forças do mal, quer mostrar como Jesus integra ao seio da comunidade aquele que era excluído e recusado como muitos outros em nome de um poder que desumaniza, até usa o nome de Deus (leis religiosas) para oprimir ou praticar atos violentos e discriminatórios. Na verdade, Mc coloca aqui o possuído como representante dos fanáticos pelo poder. Para assinalar o fanatismo Mc usa a expressão “estar possuído por um espírito impuro” em oposição ao Espírito Santo que dá vida, que anima, que capacita o ser humano a amar. A força que despersonaliza o homem e impede todo espírito crítico é uma ideologia contrária ao plano de Deus.
   

O possuído não pode negar a autoridade de Jesus (profeta), mas não admite que sua autoridade se oponha à instituição religiosa e a sua doutrina que despersonaliza o ser humano. Para o possuído a autoridade de Jesus deve estar a serviço do sistema. Mas apesar de sua resistência, Jesus o liberta de seu fanatismo ou convence este possuído do erro de sua postura. Ao aceitar o Espírito de Deus o homem se liberta de suas escravidões.


Até aqui podemos fazer perguntas para nós mesmos: Você é fanático(a) na sua religião ou em outras áreas de vida ? Fanático significa quem se julga inspirado por uma divindade qualquer, e o resto não. É uma adesão cega a uma doutrina ou sistema. Será que muitas vezes ou alguma vez você abusa da sua autoridade ou do seu poder(político ou econômico ou intelectual) para  dominar os outros e para conseguir algo que moralmente ou de ponto de vista da doutrina de Jesus é ilícito ou errado ? Lembre-se que Jesus não se submeteu à tentação do poder.

 

OUTRAS MENSAGENS DO TEXTO
 

1. Com Jesus seremos libertados

   
Olhando para essa cena chegamos a uma lição que o processo de libertação não é fácil. Por um lado, os opressores não querem abrir mão de seus interesses, suas intenções e métodos. Por outro lado, os oprimidos acabam por se acostumar à sua situação, já não fazendo mais caso dela. A libertação começa quando o escravo do mal se insurge contra sua situação com a ajuda de Jesus Cristo. Trata-se, por isso, de uma terrível luta interior. Às vezes (como o possesso) se pensa que a presença de Jesus só sirva para perturbar ou atrapalhar o sossego ou comodismo. Mas devemos estar conscientes sempre de que a presença de Jesus purifica o ser humano dos espíritos imundos que flagelam e contaminam. Livres de toda escravidão, os que tinham sido beneficiados por Jesus, sem dúvida nenhuma, tornam-se sinal do poder efetivo de Deus nesta terra.
    

Somente se Deus for reconhecido como Deus, e amado com eterno amor, saberemos o que é o pecado, mas saberemos também o que é o perdão divino, insondável e sem nenhuma outra razão de ser do que o amor do pai que procura a felicidade dos seus filhos.
  

Se toda a vida de Jesus foi perpassada de luta contra as forças do mal e não cruzava os braços ao se deparar com quem era vítima do mal e do pecado, mas sua presença fazia o dinamismo libertador do Reino em ação neste mundo, então que cada um de nós, como seguidor(a) dele, saiba, com a ajuda de Jesus, se esforçar para sair de todo tipo de escravidão dentro de si mesmo que criamos. Ninguém pode ter medo de ser feliz e livre. Por isso, devemos abandonar as cadeias que nós mesmos fizemos. Sabemos que tudo isso não é fácil. Trata-se de uma terrível luta interior  sem parar.
 

Peçamos, por isso, ao Senhor Jesus Cristo, nosso Libertador, que afaste para longe de nós e de nosso lar o mal que nos impede de sermos felizes e livres e de fazer-nos servidores do Reino de Deus.


2. O espírito de Jesus e o espírito imundo
     

Percebemos também através deste Evangelho que entre o Espírito de Jesus e o espírito imundo nada tem em comum. O Espírito de Jesus liberta o ser humano, enquanto o espírito imundo o escraviza. Um recupera as pessoas para Deus, já o outro as afasta sempre mais do plano ou da vontade de Deus. Um restaura no coração humano o sentido da vida e o da vida fraterna e solidária, o outro, pelo contrário, gera discórdia e divisão dentro si e entre as pessoas. Um encarna a novidade da misericórdia de Deus, o outro insiste no caminho inconveniente da soberba.
   

Por isso, a única intenção de Jesus que deve ser também a nossa intenção como seguidores verdadeiros dele é derrotar este espírito mau/imundo. Com Jesus tudo se torna possível, pois ele é o nosso Libertador.
     

Até aqui nós podemos perguntar: Você está, realmente, com o Espírito de Jesus ou ainda está com outro espírito ? Verifique suas atitudes e compare com o Espírito de Jesus.


3. Não se deixe ajudar por Jesus
    

O Evangelho nos relata também que à ordem de Jesus, o espírito mau deixou o possesso, depois de agitá-lo violentamente e fazer grande grito.
  

Esta é, na verdade, a imagem do que se passa no coração de cada um de nós: o espírito mau reluta em abandonar o espaço conquistado no nosso coração. Se não nos deixarmos ajudar por Jesus Cristo, correremos o risco de permanecer escravos desse espírito imundo. A situação do homem possesso representa a condição daquele que ainda não encontrou Jesus Cristo: vive subjugado por forças hostis que o destróem e que ele não consegue controlar.


O discipulado cristão exige que façamos a experiência de ser libertados pelo Senhor Jesus Cristo, pois é impossível compatibilizá-lo com as forças do mal que age dentro de nós.
   

Aqueles que, diante das forças hostis ou obstáculos, desanimam e desistem da luta, mostram que não confiam ainda na força da Palavra de Jesus Cristo que continua ressoando nas nossas comunidades ou famílias, como naquele Sábado de dois mil anos atrás na Sinagoga de Cafarnaum.
 

Perguntemo-nos sinceramente: a Palavra de Deus que hoje ecoa nas nossas celebrações ou nos nossos ouvidos, provoca alguma transformação, causa alguma inquietação e desembaraça situações aparentemente irremediáveis ?
 

Portanto, peçamos ao nosso Pai celeste que nos dê forças suficientes para que jamais permitamos ao poder do mal prevalecer sobre nós e sobre nossa família. Seja o nosso coração e o coração de nosso lar totalmente voltado para Deus e seu Reino. Pois só nele cada um de nós e o nosso lar encontraremos o porto seguro ou refúgio.

 
P. Vitus Gustama,svd

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