sábado, 14 de fevereiro de 2015

20/02/2015

 
JEJUM NA VIDA DO CRISTÃO

Sexta-Feira Depois Da Quarta-Feira De Cinzas


Is 58,1-9

Assim fala o Senhor Deus: 1“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3“Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignorastes, quando nos humilhávamos?”“. É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4 É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5 Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor? 6 Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7 Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. 8 Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9ª Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”.

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Mt 9, 14-15

Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.
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As leituras de hoje nos falam do jejum. O jejum sempre tem sentido de “privaçãoou de “renúncia”. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento pelo sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. O jejum começa a reentrar na nossa cultura atual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.


O jejum é um dos componentes fundamentais da Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações ou até cair no egoísmo e no orgulho. Por isso, a Igreja nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade. Mais que a privação de alimentos, é o espírito com que se realiza o jejum que determina o verdadeiro sentido do jejum. O jejum deve ser uma expressão do desejo profundo de conversão. Santo Agostinho dizia: “Para jejuar deveras há que abster-se, antes de mais, de todo pecado”.


Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, de mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda, nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo, nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a tem. Sou livre quando a graça pesa mais do que as regras e não o contrario.


O profeta Isaias descreve qual é o verdadeiro jejum que agrada a Deus (Is 58,6-9).  Deus não quer o jejum formalista que não tem em conta a vida do outro, e muito menos a justiça. Nada valem as ações que excluem o amor ao próximo. O verdadeiro jejum, no pensamento do profeta, remete ao comportamento capaz de renunciar à ganância, à avareza para começar a ser generoso; capaz de renunciar ao tempo pessoal para ir ao encontro do necessitado (doente, prisioneiro, idoso etc.) para estar com ele a fim de aliviar uma parte de sua dor. O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto. Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver. O verdadeiro jejum é um verdadeiro compromisso com os irmãos necessitados e empobrecidos ou injustamente são presos.


Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. O jejum que Deus quer é a conversão a Ele e ao amor dos irmãos; é o jejum do egoísmo, partilhando com os necessitados o que se tem. Jejuar é bom, diz Deus, mas não é o essencial. O essencial é respeitar o próximo, não explorá-lo, não considerá-lo como um objeto para nosso proveito. Jejum sem amor carece de sentido, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver.


Tendo presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com Cristo presente nos outros irmãos necessitados (Mt 25,40.45).


Por isso, o jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para viver e sobreviver como um ser humano. Jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carentes. A memória da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um ato de misericórdia, no sentido da palavra do Senhor: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13). A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade com todos nós. Não podemos restringir o jejum em não comer a carne. A maioria de nossa gente nem arroz tem e muito menos a carne. O verdadeiro jejum é dividir o que temos para oferecer a quem nada tem para viver. É dar nossas roupas não mais usadas para cobrir quem está sem nada para se vestir (cf. Mt 25,31-46). Sabemos que jamais podemos arrancar totalmente o sofrimento alheio, mas uma parte dele pode ser aliviada com nossa solidariedade e compaixão. Ninguém pode entrar no céu feliz deixando o irmão passando fome e outras necessidades básicas para um ser humano viver dignamente.


Por isso, podemos dizer que o que importa no jejum não é somente a privação de alimento e sim a seriedade da nas tarefas da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens ao mesmo tempo. O jejum não se concebe sem caridade e sem uma mudança de vida para uma vida mais fraterna. O jejum que Deus quer é o cumprimento dos deveres morais e humanos com o próximo na vivência do amor fraterno.


A febre do consumismo hoje em dia é um grande desafio para praticar um profundo jejum, isto é, o verdadeiro encontro com Deus e com o próximo. Jejum é um dos caminhos da libertação. Como é bom viver livre de qualquer apego, pois se abre o caminho para novas descobertas.


Não podemos nos esquecer que a Quaresma que agrada a Deus e que nos traz a paz é:

·        Quebrar as cadeias injustas
·        Libertar os oprimidos
·        Repartir o pão com o faminto
·        Acolher em casa os pobres e peregrinos
·        Cobrir ou vestir os nus
·        Não desprezar o próximo.


Somente então, “invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui” (Is 58,9ª). É preciso levar à oração essas palavras que nos queimam como as brasas.
 
P. Vitus Gustama,svd

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