quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

27/02/2015
 
RECONCILIAÇÃO E AMOR FRATERNO


Sexta-Feira da I Semana da Quaresma


Evangelho: Mt 5,20-26

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20 Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. 21 Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal'. 22 Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!' será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno. 23 Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. então vai apresentar a tua oferta. 25 Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26 Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo.

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Ser Melhor Cristão


O texto do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7). O cristão deve recordar que já não está no Sinai e sim na Montanha das Bem-aventuranças (Sermão da Montanha); que não é um seguidor de Moises e sim um discípulo de Jesus que deve viver no amor, com amor e por amor.


O texto do evangelho de hoje inicia com a confrontação entre a justiça dos escribas e dos fariseus e a justiça exigida para os cristãos: “Se a vossa justiça não for maior que a dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no reino dos céus” (Mt 5,20). É um princípio ético fundamental de Jesus. Para Jesus não basta ser bom, mas tem que ser melhor. “O bom é inimigo do ótimo”, dizia São João Bosco. A justiça do Reino de Deus é o sinônimo de amor misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de igualdade respeitosa, de empenho por construir a paz, e a recusa de toda forma de idolatria e de injustiça.


Através desta afirmação que serve de alerta para quem quiser ser cristão, Jesus quer desenvolver o sentido profundo da Lei cristã. Por isso, o olhar se detém primeiramente nos deveres sociais (Mt 5) para passar às obras religiosas (Mt 6).


A primeira das oposições concerne ao ensinamento do quinto mandamento: “Não matarás”. Jesus propõe uma interpretação mais exigente desta disposição que abarca não somente as ações ou os atos culpáveis nessa ordem, mas também a raiz de onde brotam essas ações ou esses atos: o sentimento e a interioridade do ser humano. A proibição do homicídio inclui na nova interpretação de Jesus a proibição de todo sentimento de ira e animosidade, maledicência, insulto, desprezo contra o irmão: “Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!' será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno”. Segundo Jesus a ira e as palavras ofensivas contra o irmão são equiparadas ao homicídio. Nas suas palavras Jesus enfatiza que a relação com o irmão adquire uma tal seriedade que com ela se chega a decidir o destino definitivo da pessoa humana diante de Deus: “Quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno”.


Segundo Jesus o mandamento de “não matar” somente ficará superado no momento em que se pensar num amor universal que leva a amar e a perdoar. Uma sociedade não se torna justa somente por não matar. Somente o amor sem medida, convertido em solidariedade e igualdade de direitos para todos pode formar uma sociedade justa. O que está mandado não é “não matar” e sim “amar”. O pecado não é somente o mal que fazemos e sim o bem que deixamos de fazer (pecado de omissão).


Ser Cristão Reconciliado     


Logo depois que apresentou a nova formulação da antiga lei, Jesus passa a expor sua concretização em forma de um caso para enfatizar até que ponto essa nova lei deve ser observada. Trata-se de uma explicitação que indica a radicalidade de sua aplicação com a ajuda de um exemplo (cf. Mt 5,23-26). O cristão que se aproxima do Senhor da Vida deve reconciliar-se primeiro com o irmão: “Quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. então vai apresentar a tua oferta. Se há discórdia entre os homens, a relação com Deus se rompe. Como se Deus quisesse nos dizer: “Antes de ter relações corretas comigo, tenham primeiro entre vocês, homens, essas relações corretas”. Não somente quem ofendeu está obrigado a se reconciliar, mas também quem sofreu uma ofensa. Sublinha-se o caráter urgente deste dever diante do qual perde a importância de ter ou de não ter a razão no conflito. Cada um é chamado à superação de qualquer tipo de divisão comunitária que lhe afete.


Jesus chama os cristãos a fazerem uma passagem urgente: de uma prática religiosa formalista que põe ênfase sobre o cumprimento cultual (cumprir apenas preceitos) para a vivência do amor fraterno. O amor fraterno passa diante do culto. O primeiro de tudo e o mais essencial para cada cristão é o amor, pois “a caridade é a plenitude da lei” (Rm 13,10). Por isso, “Quanto mais tu amas, mais alto tu sobes” (Santo Agostinho).


Para Jesus a reconciliação é tarefa prioritária: a reconciliação está antes de qualquer culto a Deus, está antes que ir à missa, antes que rezar, porque o projeto de Deus sobre a humanidade é nada mais do que criar um mundo de irmãos onde todos podem chamar a Deus de Pai. É uma sociedade nova onde regem as relações humanas próprias do amor mútuo. Uma oferenda é agradável a Deus, se, quem a oferece, não guarda, em seu coração, ódio, nem rancor nem ressentimento contra o próximo. A oferenda a Deus seria inútil, se o coração do oferente fosse contaminado pela inimizade e o seu relacionamento com alguém estivesse rompido. Trata-se de uma exigência radical que escandalizam até os nossos sentimentos humanos.


Se houver discórdia entre os homens, a relação com Deu se rompe. Deus quer nos dizer: “Antes de ter relações corretas comigo, vocês devem tê-las entre vocês”. A caridade fraterna passa adiante do culto. A reconciliação é um princípio essencial de sobrevivência para as pessoas, as famílias, as profissões, as etnias de uma geração em geração.


Portanto, convém reconciliar-se, pôr-se de acordo, antes que chegue o momento do juízo definitivo de Deus. Não se esqueça: “O bom é inimigo do ótimo”. Somos chamados a ser melhores diariamente no amor fraterno para ser dignos do Reino de Deus e para sermos reconhecidos como seguidores de Jesus (Jo 13,35).


Todos nós somos pecadores e devemos ter consciência de pecadores. Ninguém pode olhar para o outro e dizer que o outro é mau. Se tivermos uma boa formação de nossa consciência e se trabalharmos seriamente na nossa sensibilidade, a consciência nos acusará como pecadores. O insensível carece de consciência e nisto consiste a ruína. Somente um santo é que capaz de se reconhecer pecador, pois ele está sempre frente a frente com o Deus santo.


Para viver a vida cristã e a fé cristã temos necessidade de viver da superabundância da misericórdia de Deus. E somente tendo acolhido essa misericórdia infinita do Pai é que poderemos, por nossa vez, perdoar nossos irmãos. Amar é perdoar. Guardar rancor contra alguém é privar-se da bênção divina. De fato, cada pessoa não tem senão um só coração e não saberá parti-lo em dois, sob o risco de vê-lo dilacerar-se e morrer. A unidade do coração repousa sobre essa dupla misericórdia. O nosso mundo morre por falta de misericórdia, pois o mundo está repleto de agressividade de todos os tipos. Não tenhamos medo de denunciar esse drama, inclusive o mesmo drama que tem dentro de nosso coração.
 
P. Vitus Gustama,svd

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