segunda-feira, 9 de março de 2015

11/03/2015
 
AMOR FRATERNO É A LEI DE DEUS

 
Quarta-Feira da III Semana da Quaresma

Textos: Dt 4,1.5-9; Mt 5,17-19

Mt 5,17-19
 
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17 “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas”. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18 Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra. 19 Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus (Mt 5,17-19).
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O texto do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7). Os três versículos lidos neste dia servem como introdução para as grandes antíteses entre a justiça legal e a nova justiça trazida por Jesus (Mt 5,21-48).


Não penseis que vim abolir a lei e os profetas, mas vim para dar-lhes pleno cumprimento”.


Para o evangelista Mateus o tema do cumprimento é essencial (Mt 24,24-35; 26,56). Para Mateus tudo que está escrito na Lei e nos profetas (todo o AT) tem um valor profético e deve “cumprir-se” historicamente até o mínimo pormenor em Jesus Cristo (cf. Mt 1,22; 2,15-17; 4,14; 8,17; 13,35 etc.). Jesus veio não só levar a Lei e os profetas à sua perfeição, mas também assegurar a realização dessa lei entendida como profecia da proximidade de Deus. Se No AT (Lei e Profeta) Deus apenas fala através dos profetas, no NT essa palavra se torna carne em Jesus (Jo 1,14).


Jesus não apenas cumpre o que está escrito na AT, mas Ele o aperfeiçoa. Ele não apenas mantém a Lei, mas dá um sentido mais amplo. Por isso, nas antíteses encontramos a seguinte expressão: “Ouvis o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...” (Mt 5,21ss). A lei é valida para todas as pessoas e serve para ajudar as pessoas a chegarem à salvação. Mas quando for manipulada e escravizar as pessoas, então a lei poderá ser desobedecida. Nenhuma lei pode proibir alguém de fazer o bem pelo próximo no dia santo (Sábado). Por isso, várias vezes, Jesus cura os doentes até no dia de Sábado que é proibido para os fariseus e os escribas. Jesus convida os escribas e fariseus a refletirem sobre a seguinte pergunta: “Pergunto-vos se no Sábado é permitido fazer o bem ou o mal; salvar a vida, ou deixá-la perecer?” (Lc 6,9).


“Não penseis que vim abolir a lei e os profetas, mas vim para dar-lhes pleno cumprimento”.


A justiça dos fariseus se limita à observância da lei. Os fariseus chegam a divinizar a lei. Eles colocam a lei acima da necessidade e a salvação do homem. Eles até censuram Jesus por curar os doentes no dia de Sábado. Fanáticos obsessivos do cumprimento da lei eles colocam a vontade de Deus em elementos secundários, que não buscavam de modo algum o estabelecimento de uma sociedade mais fraterna e justa. Pensam que ao cumprir todas as leis e normas possam agradar a Deus. Mas, na verdade, o que agrada a Deus é o amor fraterno.


Por isso, o que Jesus faz é mostrar um Deus que desaprova a injustiça e a desigualdade, pois Deus é amor (1Jo 4,8.16). Deus se dirige aos homens como uma pessoa amada, chamando cada homem por seu nome (Is 43,1) e o nome de cada um é gravado na palma da mão de Deus (Is 49,16). E o amor transforma tudo em obra prima, até as coisas pequenas e seus detalhes. O amor de cada dia é feito de detalhes e não tanto de coisas solenes e heróicas. Por esta razão, encontra-se a seguinte fórmula no AT como uma fórmula ritual: “Escutai, ó Israel!”. É escutar Deus para viver na plenitude. Por isso, escutar Deus é coisa mais prudente e mais inteligente para o ser humano. Ao escutar Deus sua Palavra será para nós nossa sabedoria e um alimento para nosso espírito. Sua maneira de ver impregnará nosso modo de ver a vida e as pessoas.


Não penseis que vim abolir a lei e os profetas, mas vim para dar-lhes pleno cumprimento


A lei é necessária em toda a sociedade civil ou Estado de direito para tornar possível a convivência. A existência da lei é uma afirmação da existência dos bons e dos maus. Para proteger os bons e para os maus não avançarem, a lei é necessária, da bondade e da maldade, do bem e do mal. Caso contrário, a lei do mais forte é que reinaria na convivência, e os mais fracos ficariam sem vez nem voz.


A comunidade cristã católica tem uma lei de governo: o Direito Canônico. Mas a Igreja e o cristão sabem que sua lei primeira e básica é o evangelho de Jesus que consiste no amor fraterno.


A lei para os cristãos tem uma função pedagoga: educar o cristão progressivamente no amor fraterno: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco, porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei” (Rm 13,8).  Quando o cristão ou qualquer ser humano de boa vontade chegar à sua maturidade e perfeição no amor fraterno, ele não se sente coagido pela lei; quando o amor reinar o coração e a vida do cristão a lei para ele é dispensável, pois “a caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10).  Dizia Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres. Quanto mais amas, mais alto sobes”. Amor é o meio mais rápido pelo qual o homem chega até Deus. São João da Cruz no final da Subida escreveu: “Por aqui nãocaminho; que para o justo nãolei”. Mas quando o amor se quebra, a lei se impõe.


Amor sem limite a Deus e ao irmão é a plenitude da lei de Cristo (cf. Rm 13,10). Todas as celebrações e todas as atividades na Igreja de Cristo têm uma função: para que todos cresçam cada vez mais no amor fraterno. Sem o amor fraterno tudo careceria de sentido. O amor faz qualquer um feliz e leva alguém à alegria completa. É a promessa do Senhor: “Disse-vos essas coisas (mandamento do amor) para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). Nãofelicidade onde nãoamor” (Santo Agostinho).


A Eucaristia da qual participamos é um compromisso para sermos pessoas que, renovadas e revestidas de Cristo, nos faz caminharmos pela vida como aquelas pessoas que proclamam a verdade, o bem, o amor como uma entrega a favor dos demais, deixando de lado ou abandonando totalmente aqueles caminhos que nos fazem nos destruirmos uns aos outros ou pisotear os direitos das classes mais desprotegidas. O Senhor pede que sejamos fieis à Sua lei, a Lei do amor que não somente nos faz colocar Deus sobre todas as coisas, mas ao mesmo tempo nos levar a querermos bem para os outros. Os cristãos devem se converter em sinal de amor para os outros (cf. Jo 13,35). Se fomos feitos à imagem e à semelhança de Deus, então nosso modo de viver não deve apagar essa imagem. Se essa imagem for apagada em nós, ninguém vai dizer que somos de Cristo. São Paulo nos relembra através destas frases: Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor 2,15). E acrescentou: “Vós sois uma carta de Cristo... escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, em vossos corações” (2Cor 3,3).


Pedimos a Deus a graça para que os outros possam ler algo de Cristo em nossa vida. Para isso, é necessário que o amor fraterno circule dentro de nós e entre nós, poistodos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).


É preciso lermos e meditarmos a Palavra de Deus, porque o próprio Senhor nos afirma: “Antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra”. Essa Palavra pode acontecer seu cumprimento na vida de cada um de nós. Basta colocá-la em prática, pois Da mesma forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, assim acontece com a Minha Palavra que sai de Minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que Eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual Eu a mandei (Is 55,10-11).

P. Vitus Gustama,svd

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