28/04/2015
CONHECER, ESCUTAR E SEGUIR O BOM
PASTOR
Terça-Feira da IV
Semana da Páscoa
Evangelho: Jo 10,22-30
22 Celebrava-se, em
Jerusalém, a festa da Dedicação do Templo. Era inverno. 23 Jesus passeava pelo Templo, no pórtico de Salomão. 24 Os judeus rodeavam-no e disseram: 'Até quando
nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente.' 25 Jesus respondeu: 'Já vo-lo disse, mas vós não
acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim; 26 vós, porém, não acreditais, porque não sois das
minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas escutam
a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28
Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai
arrancá-las de minha mão. 29 Meu Pai, que me
deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do
Pai. 30 Eu e o Pai somos um.'
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Escutar a voz do verdadeiro Pastor
O texto diz: “As minhas ovelhas
escutam a minha voz... ”(v.27). Sempre ouvimos, mas será que escutamos?
Escutar é uma coisa mais séria, requer uma certa dose de interesse, de
preocupação, de atenção. Há que parar-se para detectar o que ouvimos, para
clarificá-lo, para assimilá-lo e para respondê-lo. Escutar é um exercício
humano para certa categoria. Na vida em geral, muitas vezes acontece que
ouvimos, mas não escutamos. Tantas tragédias poderiam ser evitadas se
soubéssemos escutar e viver os bons conselhos e orientações. Tantas fatalidades
na vida de tantos cristãos poderiam ser afastadas, se vivessem de acordo com os
ensinamentos de Cristo.
A escuta é uma palavra-chave que
caracteriza toda a tradição do povo hebraico. Escutar é um dos mandamentos na
Bíblia: “Escutai, ó Israel” (cf. Dt 6,4; Mc 12,29). Ouvir profundamente
significa escutar as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o
significado pessoal até mesmo o significado que subjaz às intenções
conscientes, até os gritos enterrados muito baixo da superfície do
interlocutor. O povo eleito é formado pela escuta da Palavra de Deus. E a maior
das tragédias na Bíblia é causada pela falta da escuta da Palavra de Deus.
Quando nos abrirmos para o discurso divino, aprenderemos que nós somos escuta,
dom e que nos realizamos na gratuidade.
“Minhas ovelhas escutam a minha
voz”. Esta é nossa tarefa essencial e permanente. Devemos fechar nossos ouvidos
a outras vozes, a outras mensagens para tê-los abertos à Palavra do Senhor,
pois só Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68), somente Ele é a verdade
(Jo 14,6), somente Ele é a Luz (Jo 8,12).
A “voz” de Jesus Cristo ressoa toda
vez que alguém viver e anunciar a nova humanidade onde todos se sentem irmãos;
toda vez que alguém pregar e dar testemunho da justiça, da liberdade, da
verdade, do amor, da paz, da fraternidade universal; toda vez que alguém nos
fizer descobrir o verdadeiro sentido da vida. Seguidor de Cristo é aquele que
reconhece sua voz nos profetas de hoje.
Nós vivemos no meio do mundo de
muitas vozes. Ouvimos muitos apelos e vozes e nunca faltam mensagens enganosas.
Para não cair na armadilha é necessário ter o discernimento e apurar os ouvidos
para escutar melhor a voz do verdadeiro Pastor que é Jesus Cristo. Somente
Cristo é o pastor que não nos decepciona. É ele quem dá sentido à nossa vida. É
preciso ler, escutar meditar a Palavra de Deus freqüentemente para poder
identificar a voz do Pastor no meio da multidão de vozes que também querem
chamar a nossa atenção.
A certeza de sermos conhecidos e amados
por Deus
“Eu conheço as minhas ovelhas” (v.27). “Conhecer” biblicamente não se
refere a um mero conhecimento intelectual. Conhecer na bíblia ultrapassa o
saber intelectual e abstrato. O verbo “conhecer” no vocabulário bíblico e na
língua hebraica implica o amar, o desejar o bem da pessoa, o sentir afeto por
ela. Isto quer dizer que somente se pode chegar a conhecer uma pessoa no âmbito
da relação intima e pessoal. O verbo “conhecer” exprime muito mais a relação de
amor. Quando Jesus diz que conhece as suas ovelhas, isto quer dizer que tem
para com todos nós uma relação de amor profundo. O mesmo amor que o une ao Pai,
Jesus exprime também para com as suas ovelhas, todos nós: um amor fiel, eterno,
indestrutível. Deus me ama com os meus ideais e minhas decepções, com os meus
sacrifícios e alegrias, com os meus sucessos e fracassos.
“Eu conheço as minhas ovelhas”. Esta frase é uma mensagem de
ternura. Ternura é amor respeitoso, delicado, concreto, atento e alegre; é amor
sensível, aberto à reciprocidade, não ávido nem ganancioso nem pretensioso nem
possessivo, mas forte na sua fraqueza, eficaz e vitorioso, desarmado e
desarmante. Eu não sou anônimo para Deus. Ele conhece minhas vitórias e
derrotas, minhas decepções e minhas alegrias, minhas preocupações e minhas
felicidades. Apesar das minhas fraquezas ele me ama. O amor do Senhor me
capacita para me levantar novamente e continuar minhas lutas pela vida vivida
da sua dignidade.
Na nossa vida facilmente
desvalorizamos a dimensão afetiva. Dedicamos muito mais atenção à dimensão do
fazer, do produzir, do ter, esquecendo-nos das outras dimensões ligadas às
afetivas. Isto pode acontecer dentro de família, pois cada um acaba correndo
atrás de seus compromissos, de sua carreira, descuidando de cultivar os
relacionamentos afetivos entre as pessoas.
Seguir Jesus, nosso bom Pastor
“E elas me seguem”, diz Jesus. A fé
consiste em seguir Jesus por amor, vivendo como Ele viveu (cf.1Jo 2,6). Nosso
cristianismo não pode consistir somente em cumprimento de umas normas. Não há
fé cristã sem uma relação interior, pessoal e livre com Jesus. O nosso caminhar
atrás das pegadas do Bom Pastor é paz, sossego, segurança, gozo inefável e
glorioso. A fé é o seguimento: “Eles me seguem”. É preciso deixar Jesus na
frente para que não fiquemos perdidos neste mundo, pois o nosso destino é a
Casa do Pai onde se encontra Jesus. No seguimento nunca é tarde para retificar,
corrigir e melhorar nossa vida cristã.
Jesus continua a ser o Bom Pastor no
mundo inteiro, para todos os seres humanos. Mas todos nós, cristãos, por nosso
testemunho, participamos do pastoreio universal de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo
em que somos conduzidos, ouvindo a sua voz, sendo ovelhas, devemos exercer
também a missão de pastores, conduzindo os outros até as fontes da vida:
Cristo.
“Não basta apenas falar de Jesus, é
preciso obras, é necessária a vivência dos valores evangélicos, o amor precisa
ser concretizado. Mas acima de tudo, é necessária a consciência de que somos
participantes da divina missão de salvação dos homens e que quem realiza esta
obra não somos nós, mas sim o próprio Deus, é ele quem pastoreia através de
nós. Somos na verdade canais de graça para que os homens ouçam a voz de Jesus,
sintam-se integrantes do seu rebanho e o sigam rumo à vida eterna” (Comentário
do site da CNBB).
P. Vitus Gustama,svd
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