30/05/2015
SER LÍDER É SER RESPONSÁVEL
MESMO SEM CARGO
Sábado da VIII
Semana Comum
Evangelho: Mc 11,27-33
27Naquele tempo, Jesus e os
discípulos foram de novo a Jerusalém. Enquanto Jesus estava andando no Templo,
os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e
perguntaram: 28“Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu
autoridade para fazer isso?” 29Jesus respondeu: “Vou fazer-vos uma
só pergunta. Se me responderdes, eu vos direi com que autoridade faço isso. 30O
batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. 31Eles discutiam entre si: “Se respondermos que vinha
do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ 32Devemos então dizer que vinha
dos homens?” Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham
João na qualidade de profeta. 33Então eles responderam a Jesus: “Não
sabemos”. E Jesus disse: “Pois eu também, não vos digo com que autoridade faço
essas coisas”.
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Estamos na seção onde se fala de
Jesus e do poder constituído (Mc 11,27-12,37). Em Mc 11,18 o evangelista Marcos
nos informou que “Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam alguma maneira
para matar Jesus”. Nesta seção vemos todos eles em ação. O que vem em seguida é
a continuação do choque frontal entre eles e Jesus e será cumprido o que Jesus
disse no primeiro anúncio da paixão: “O Filho do homem deve sofrer muito,
ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas”
(Mc 8,31). Agora eles estão intentando surpreender Jesus em algum erro para
acabar com a vida dele. Podem ser lidas cinco controvérsias como o ponto de ataque contra Jesus em Mc
2,1-3,6.
Os que formam o poder constituído
são em primeiro lugar, os sumos sacerdotes, os mais afetados (medo de
perder seus bens através da arrecadação no Templo) pelo que Jesus fez no templo
(cf. Mc 11,15-18) e os que podem, facilmente, acusar Jesus de ter atuado contra
o lugar santo (Templo). Entre os sacerdotes predominam os saduceus, grupo
político-religioso de tendência conservadora.
Em segundo lugar, os escribas ou doutores da lei, pessoas
especializadas nos problemas jurídicos e religiosos e, portanto, únicos e
verdadeiros intérpretes e defensores da Lei. Para eles, o homem é feito para a
lei, enquanto que para Jesus, a lei é feita para o homem (Mc 2,27). Sua
oposição já começou no inicio do evangelho de Marcos (Cf. Mc 2,6.16; 3,22;
7,1). Em terceiro lugar, os anciãos, os membros laicos do Sinédrio, a
suprema corte judia legislativa e judicial de Jerusalém, os representantes
civis e religiosos do povo. Entre os escribas e os anciãos predominam os
fariseus, verdadeiros representantes da piedade popular. Finalmente, o
partido de Herodes, o braço civil do poder romano em Palestina.
O evangelho lido neste dia nos
relata que Jesus e seus discípulos se encontram em Jerusalém. Por isso, a cena
do evangelho de hoje tem como local Jerusalém. O texto está carregado de
tensão. É o confronto direito entre Jesus e os dirigentes do povo.
A fama de Jesus pela sua preocupação
em lutar pela igualdade, pela convivência na fraternidade universal, pela
verdadeira vivência da religião, pelo bem de todos, provoca o desconforto para
os dirigentes que querem manter seus privilégios e seu domínio. Os dirigentes
queriam desmoralizar Jesus e suas atividades em favor do povo através das
seguintes perguntas: “Com que autoridade tu fazes essas coisas? Quem te deu
autoridade para fazer isso?”. Essa pergunta só pode sair da boca de quem
adora o poder e a desigualdade. Ama menos quem se preocupa demasiadamente com a
regra e o poder na convivência em vez de se preocupar com o bem que deve ser
feito para todos. Para fazer o bem em favor do povo necessitado nenhuma pessoa
precisa de nenhum poder; basta ter amor no coração e sentir na pele o
sofrimento dos outros para se compadecer e oferecer a ajuda naquilo que se pode
para aliviar uma parte do sofrimento alheio. Precisamente só aquele que é capaz
de ser solidário com os necessitados é que tem mais autoridade. Esse tipo de
pessoa quando fala desperta qualquer coração, pois fala a partir da vida vivida
na solidariedade e na compaixão, como por exemplo, Madre Teresa de Calcutá.
“Quem te deu autoridade para fazer
isso?”.
O que os dirigentes querem dizer é o poder. “Quem te deu esse poder?”. A
autoridade não é dada para ninguém, pois ela vem de dentro da pessoa. A
autoridade é a capacidade de fazer o outro crescer. A palavra “autoridade”
provem do latim “augere” que significa “crescer”. Toda palavra, toda atividade,
toda ajuda, todo conselho que faz o outro crescer é uma autoridade. A
autoridade é respeitada e é amada. O poder é temido, mas não é amado nem
respeitado. Para ser chefe você precisa de um cargo. Mas para ser líder você
não precisa de cargo. Qualquer líder tem senso agudo de responsabilidade. Somente
tem senso de responsabilidade aquele que vive de acordo com os valores
reconhecidos universalmente. A responsabilidade e a vivência dos valores sempre
estão unidas. Ninguém precisa mais de autoridade formal para liderar. Todos nós
temos um poder natural de liderar que nada tem a ver com cargos, idade ou com o
lugar em que moramos. Liderar tem muito mais a ver com a maneira brilhante como
cada um de nós trabalha e a destreza de nosso comportamento. Cada um de nós tem
o reservatório interno de potencial para liderança. E cada um de nós tem o
poder de se mostrar líder no que faz e responsável para assumir as conseqüências.
Somente precisamos nos conscientizar de tudo isso e assumi-lo. Um líder que ama
é um líder que é respeitado. Um líder que adora o poder é temido, mas não é
amado e por isso, não é respeitado. Etimologicamente a palavra “respeitar” (em
latim) significa tomar em consideração. “Respeito” é sentimento
que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda
deferência; consideração, reverência.
Em vez de desqualificarem Jesus, os
dirigentes são desqualificados a partir da pergunta de Jesus: “O batismo de
João vinha do céu ou dos homens?”. Eles mesmos sabem do peso da pergunta: “Se
respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ Devemos então dizer que vinha dos homens?” O evangelista Marcos comenta: “Mas eles
tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de
profeta”. Percebemos aqui a verdade de que quem realmente tem poder é o
povo, a multidão. Tanto que na época da eleição todos que querem ter poder vão ao
encontro da multidão para depois abandoná-la como ovelha sem pastor (cf. Mc
6,34).
Diante da pergunta pesada, pois toca
e desmascara profundamente sua maneira de viver, esses dirigentes fingem não
saber respondê-la: “Não sabemos”. Temos lido em jornais, revistas,
entrevistas e temos ouvido nas rádios e televisão este tipo de resposta que
saiu da boca daqueles que têm poder: “Eu não sabia!”, “Não sabíamos”, mesmo que
as provas sejam contundentes e evidentes. Fingir não saber sobre aquilo que é
óbvio e praticado é uma forma discreta de confessar aquilo que sabe. Ninguém se
engana. Ninguém tem poder de eliminar a verdade do coração. “Deus faz o
diário de nossa vida: a mão divina escreve o que fizemos e o que omitimos,
história que um dia será apresentada a todo o universo. Procuremos, pois,
fazê-la bela!” (Bossuet; cf. Mt 25,31-46). E “o homem que nunca se
entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).
A advertência de Jesus através do
texto do evangelho de hoje é profunda: quanta cegueira espiritual pode haver
nos corações daqueles que ocupam cargos ou elevados cargos políticos ou eclesiásticos.
Além disso, percebemos como a inveja, o ódio e a incredulidade podem levar os
homens a ficar cegos diante da evidência e da verdade em nome dos interesses e
sede pelo poder. Todos os que são encarregados de alguma tarefa ou função tanto
na sociedade em geral como na Igreja devem levar a sério aquilo que o autor da
Carta ao hebreus escreveu: “Ninguém pode se atribua esta honra, senão o que foi
chamado por Deus, como Aarão” (Hb 5,4).
P. Vitus Gustama,svd
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