quarta-feira, 27 de maio de 2015

Domingo, 31/05/2015
 
SANTÍSSIMA TRINDADE

Ano “B”

Evangelho: Mt 28,16-20


Naquele tempo: 16 Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18 Então Jesus aproximou-se e falou: ‘Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’.
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Este relato solene é a conclusão e o ápice do Evangelho de Mateus. Este relato final, exclusivo de Mateus, é chamado de a chave para entender todo o evangelho de Mateus porque nele encontra-se a rica afirmação sobre Cristo, Igreja, e história da salvação acompanhada pela fé e dúvida; batismo e moralidade; Judeu passado e futuro Gentio. Se no seu ministério público Jesus enviou seus Apóstolos somente para a terra e o povo de Israel (Mt 10,5-6), agora ele envia os Onze para todas as nações, com batismo e não com circuncisão como rito de iniciação; com a sua ordem e não a Lei de Moisés, como a norma final de moralidade. Por isso, essa perícope final reflete a teologia de Mateus.


1. O encontro na Galiléia (v.16a)


A Galiléia (a “Galiléia dos pagãos” segundo Mt 4,15) é a terra onde Jesus começou seu ministério e chamou seus primeiros discípulos (Mt 4,18-22). No começo da Paixão Jesus prometeu que depois de sua ressurreição, ele iria preceder os discípulos para a Galiléia (Mt 26,32). A direção da Galiléia foi repetida no sepulcro tanto pelo anjo do Senhor como por Jesus ressuscitado (Mt 28,7-10), com a promessa adicional de que lá os discípulos (que agora se tornam seus “irmãos” cf. Mt 12,50) o veriam. A partir de agora a “Galiléia dos pagãos” se torna um lugar que tem um sentido salvífico, pois a Galiléia vai se tornar como o ponto de partida para a missão universal. Este detalhe já indica a universalidade da mensagem do Evangelho de Mateus.


2. O encontro numa montanha (v.16b)


O encontro acontece numa montanha. Mateus não pensa em uma específica montanha geográfica, mas indica a revelação divina (teofania), a esfera divina. O monte é o lugar e símbolo do encontro do céu e da terra, da ascensão humana e da teofania. Em quase todas as culturas a montanha representa uma ligação entre a terra e o céu. A ligação entre o céu e a terra é concebida simbolicamente, à semelhança de uma escada (p. ex. São João da Cruz, Subida ao monte Carmelo), como possibilidade da ascensão espiritual e o desenvolvimento superior a ser penosamente conquistado: vista dessa forma a montanha é para os seres terrestres o caminho da subida, para a proximidade de Deus e para os seres não terrestres o caminho da descida para o terrestre, quando querem interferir na realidade terrena. Quase todos os povos têm seus montes sagrados considerados como morada dos deuses e onde tiveram sua origem importantes acontecimentos espirituais (veja também outros textos: Is 2,2ss;Jr 5,25;Mq 4,1;Gn 22,2;1Rs 18,42 etc.).
  

Em relação a Jesus, numa “montanha” aconteceram coisas importantes: Jesus se sentou na montanha quando fez aos discípulos o Sermão da Montanha(Mt 5,1). Na montanha Jesus se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João(Mt 17,1), na montanha Jesus reza ( Mt 14,23 cf. também Mt 8,1;15,29). Assim como no monte Sinai ou Horeb, Moisés encontrou Deus e dele recebeu a Lei, do mesmo modo em uma montanha, durante o ministério, os discípulos tinham visto a glória de Deus em Jesus transfigurado, dele recebendo uma interpretação da Lei: “Vós ouvistes dizer, mas agora eu vos digo” (Mt 5,21-22.27-28.31-32.33-34.38-39.43-44). Quando se trata de coisas importantes na vida de Jesus, Mt coloca Jesus sobre a montanha. Ao dizer que “os Onze foram ao monte” Mt quer nos dizer que a missão dos Apóstolos enviados para o mundo inteiro é um acontecimento de extrema importância. Os discípulos são convocados não para reconhecê-lo, mas para escutar sua revelação definitiva(pelo fato de ocorrer no monte).


3. Adoração (v.17)
   

A adoração (proskynesis, proskynein, adorar) é, no NT, palavra predileta de Mateus e do Apocalipse. Além de se encontrar três vezes em Mt 2,2.8.11 (sobre os magos), reaparece o mesmo termo outras dez vezes: na tentação (Mt 4,9.10); uma no contexto parabólico (Mt18,26) descrevendo a prostração do servo(pecador) diante do rei(Deus, Pai e Juiz) e outras sete descrevem uma instantânea: a adoração do enfermo ou aflito/sofredor (Mt 8,2;9,18;15,25) e a do discípulo (Mt 14,33;20,20;28,9.17) em atitude de “proskynesis” (prostrar-se/adorar) diante de Jesus.
  

Nesse encontro os discípulos reconheceram Cristo imediatamente e prostraram-se diante de Jesus para adorá-lo, demonstrando sua fé nele como Filho de Deus. Anteriormente eles já o tinham feito uma vez quando Jesus caminhava sobre as águas e professaram sua fé em Jesus como Filho de Deus (Mt 14,33). A palavra “adoração”, de origem extrabíblica, indica o gesto de submissão dos discípulos que se dispõem a escutar as ordens do Ressuscitado. Ao nascer Jesus foi adorado pelos magos (Mt 2,11), no ministério público ele foi adorado pelos próprios discípulos e enfermos, e na ascensão Jesus recebeu a mesma adoração dos discípulos (Mt 28,17). Para a teologia de Mateus, o Senhor da Glória já estava na humanidade de Belém e no ministério público. Ao prostrarem-se diante de Jesus, agora eles o adoram não somente como o Senhor dos elementos, mas também o Senhor deles e o Senhor do mundo (A adoração presta-se somente a uma divindade). Jesus, a quem se adora, é “Senhor” que tem poder sobre a lepra (Mt 8,2ss), o demônio (Mt 15,22ss), a morte (Mt 9,18ss), a natureza (Mt 14,25ss), o universo (Mt 28,18ss). Será que esse mesmo Jesus continua sendo o Senhor de nossa vida e de nossas decisões e o ponto de referência de nossos atos? Ou adoramos outros deuses?


4. A apresentação de Jesus como Filho do Homem, Senhor, Filho de Deus e Emanuel
  

A narrativa sublinha também a apresentação de Jesus como Filho do Homem, Senhor, Filho de Deus e Emanuel(Deus- conosco), que percorre todo o Evangelho. Jesus aparece como “Filho do Homem” glorioso, que recebe de Deus todo o poder, e todas as nações o adoram e o seu Reino não terá fim(compare-se a visão de Daniel 7,14). Ao longo de toda a história, Jesus é o Filho do Homem glorioso, mas este papel culminará na manifestação como Juiz definitivo (Mt 13,41-43;16,27;19,28;24,30s;25,31-46;26,64). Jesus também é o Senhor glorioso que recebe a adoração dos seus e que domina sobre todo o criado (cf. Fl 2,9-11). Ele também é o Filho de Deus, a ele tudo lhe foi entregue pelo Pai(Mt 11,27) e em seu nome, junto aos do Pai e do Espírito, terão que batizar todos os povos. Este mesmo Jesus garante sua presença permanente com seu povo: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Em outras palavras, ele é o Emanuel, “Deus conosco”.
    

Jesus recebeu todo o poder no céu e sobre a terra. Ao falar do poder de Jesus que ele recebeu, devemos estar conscientes de que a verdadeira natureza do poder de Cristo, não é um exercício de dominação sobre os homens, mas como uma capacidade operativa de proclamar as exigências da vontade de Deus, de libertar os pecadores da escravidão do seu passado de culpa, de romper os grilhões dos prisioneiros das forças diabólicas da morte e da destruição, de denunciar as religiões feitas de hipocrisia e de interesse. Em outras palavras, é um poder de realizar o Reino de Deus no mundo.
 

Existe um poder que destrói e existe também um poder que cria. O poder que cria dá vida, gozo e paz. É liberdade e não escravidão, vida e não morte, transformação e não coerção. O poder que cria restaura relacionamentos e concede dom da integridade a todos. O poder que cria é o poder que procede de Deus cuja marca é o amor. E o amor exige que o poder seja usado para o bem de todos. Em Cristo, o poder é usado para destruir o mal de forma que o amor possa redimir o bem. O poder que cria produz união. Para criar essa união é preciso ouvir juntos à voz do Senhor em nossos lares, em nossas igrejas,  em nossos negócios, em nossas comunidades, em nossos encontros etc..
   

Ao contrário disso, nada é mais perigoso do que o poder a serviço da arrogância. A arrogância  nos faz pensar que estamos certos e os outros estão errados. O único que está certo é Jesus Cristo. O restante de nós precisa reconhecer suas próprias fraquezas e fragilidades e buscar aprender através da correção dos outros. Se não o fizermos, o poder pode conduzir pelo caminho de destruição. O poder destrutivo destrói relacionamentos, a confiança, o diálogo e a integridade.


5. A ordem de missão


A ordem de missão dada aos Onze é significativa, pois a missão se amplia: fazer discípulos todos os povos. No começo Jesus falou somente aos judeus(Mt 15,24) e os discípulos foram enviados somente para o povo de Israel (Mt 10,5-6). Agora o Jesus ressuscitado, com pleno poder escatológico(“toda a autoridade”), envia-os a todas as nações. Israel não está excluída (Mt 23,34); mas o progresso destas duas ordens, uma durante o ministério e outra depois da ressurreição, incorpora a experiência da cristandade em Mateus. No começo do Evangelho, Mt assinala a grande extensão desse plano ao escrever sobre os magos pagãos vindos a Jerusalém(cumprimento de um sonho do AT em Is 2,2-4). Agora fica claro que os discípulos não podem simplesmente esperar que os pagãos venham a ele, mas eles precisam ir até os pagãos.
 

A missão dada aos discípulos é expressa através de um verbo principal no imperativo (fazer discípulos/mathêteusate) e dois verbos no particípio (batizando...ensinando).


Para Mt “fazer discípulos” é um processo educativo. Fazer discípulos é ajudar as pessoas a aprenderem as coisas que Jesus lhes ensinou. Na missão universal, os discípulos tornam-se claramente mestres. Como Jesus antes deles, eles agora vão “fazer discípulos”. Ser cristão é ser discípulo de Jesus. E ser verdadeiro discípulo para Mt equivale a pertencer à família de Jesus (Mt 12,49-50). Neste sentido, fazer discípulo é fazer comunidade cristã, fazer Igreja. Para ser salvo, é preciso pôr-se no seguimento de Cristo, entrar em relação com a sua pessoa. Não existe outra possibilidade.


Mas não se trata de uma relação individual. Os homens são chamados a fazer parte da comunidade dos seus discípulos. Isto é indicado claramente pelas duas instruções: batizar e ensinar tudo o que Jesus mandou. “Batizando” e ”ensinando” marcam as duas atividades fundamentais no exercício da missão de “fazer discípulos”.


Em outras passagens do NT, o batismo é feito em nome de Jesus (At 2,38;10,48;8,16;19,5;1Cor 6,11 etc.); mas aqui o batismo é realizado “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Com certeza, esta fórmula era usada na comunidade de Mt quando ele escreveu o evangelho. Para Mt, o batismo, e não circuncisão, é o meio para uma incorporação na vida de Deus e de sua Igreja. “Em nome” sugere uma dedicação e compromisso, uma consagração. Entre os hebreus, o nome designa a realidade profunda do ser, incluindo a pessoa e sua respectiva dignidade. Em Seu nome (poder) começou a Igreja, e nele ela vive hoje ainda, pois onde “o nome de Deus é pronunciado sobre nós, ele mesmo está no nosso meio” (cf. Jr 14,9). Os que acreditaram em Jesus compreenderam que Deus Pai era a fonte e o objetivo de tudo o que Jesus dizia e fazia. O Espírito Santo foi rapidamente relacionado à continuação do trabalho de Jesus, tanto entre os fiéis quanto dentro da Igreja.


O batismo deve ser acompanhado pelos ensinamentos a respeito de tudo o que Jesus recomendou. Os ensinamentos não devem ser novos ou próprios dos discípulos, mas “tudo o que vos prescrevi” (cf. também Ex 7,2;23,22 etc.). Jesus ressuscitado não ensina nada de novo, mas declara a permanente validez do que ensinou no transcorrer da vida terrena(“ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei”).


Estas palavras descrevem com precisão a Igreja. Ela não é somente comunidade de santificados pelo sacramento, mas também de praticantes duma nova obediência. O discípulo se qualifica pela tradução na prática do ensinamento de Jesus (Mt 7,24-27). Sua palavra é um mandato a ser obedecido e praticado. Concretamente, sua revelação se resume no mandato do amor (Mt 22,40). Isto quer dizer que a fé cristã não pode ser restrita a aclamações litúrgicas e a celebrações rituais, ou reduzida ao entusiasmo do espírito, mas Jesus nos chama a mergulharmos no presente, colocando-nos perante a exigência de um empenho concreto de obediência e de amor.


Esta missão é difícil. O evangelho fala continuamente das perseguições, dos elementos adversos e das dúvidas dos discípulos. Mas a Igreja não foi nem será deixada sozinha no seu longo e cansativo caminho histórico: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Jesus a acompanha, sustenta, encoraja, e purifica. Ele continua presente entre nós, onde dois ou mais se reúnem em seu nome(Mt 18,20), pela fé, pela palavra proclamada, pelos sacramentos etc. As últimas palavras solenes de Jesus em Mt 28,20 lembram as primeiras palavras ditas sobre ele no começo do Evangelho em Mt 1,23. O Deus- Conosco que abre o evangelho de Mt, também o fecha. A ressurreição para Mt é a evidência não somente de que Deus estava com Jesus, que venceu a morte, mas também de que a presença permanente de Deus em Jesus está com todos aqueles batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E que observam tudo o que Jesus recomendou, como foi ensinado pelos discípulos. A partir dessa promessa, cada cristão não é mais solitário, mas solidário pois Deus está sempre com ele e ele está sempre com Deus. O cristão, ao mesmo tempo é chamado a ser solidário com os outros, a sair do isolamento, pois Deus chama cada cristão a viver numa solidariedade, numa comunidade.


6. Festa da Santíssima Trindade e sua importância na vida de um cristão


Celebramos hoje a festa da Santíssima Trindade. Por ordem do Senhor Jesus em Mt 28,19, cada um de nós foi batizado e consagrado a Deus “ em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Ainda nos braços da mãe, mal podendo balbuciar, talvez sem então entendermos o sentido do gesto ou o alcance das palavras, ensaiados e ensinados pela mãe, aprendemos a fazer o sinal da cruz e nossa primeira oração: “Em nome do pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
 

Este “amém”, vocábulo hebraico, e explica nosso Catecismo (no.1026), ligado à mesma raiz da palavra “crer”, exprime a solidez, a confiabilidade e a fidelidade de nossa fé. Pode proclamar tanto a lealdade de Deus para conosco, como a nossa confiança nele. Com o “amém” ,que pronunciamos, anunciamos ter encontrado a Deus e depositamos nele nossa inteira e total confiança. Este piedoso sinal da cruz, pelo qual se benze o cristão invocando as Três Pessoas, prática já comprovada no segundo século, é um costume de sentido profundo e completo: significa consagração, profissão de fé e oração.


Em cada oração que fazemos todos os dias sempre começamos e terminamos com o sinal da cruz e nele invocamos a presença da Santíssima Trindade. É uma louvação às três divinas Pessoas, porque elas se revelaram na história e nos convida a participar de sua comunhão divina. A resposta humana à revelação da Santíssima Trindade é o agradecimento e a glorificação. Depois, decoramos a doxologia (a louvação): “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.


E não demorou, aprendemos, sempre crianças, muitas vezes antes da primeira comunhão, a professar com ortodoxa precisão, mesmo sem então entender o que haveríamos de compreender, pouco a pouco, mais e melhor, ensinados através de nossa catequista, com solenes palavras: “Creio em um só Deus, Pai Todo Poderoso, criador do céu e da terra...Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...Deus verdadeiro de Deus verdadeiro...Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”.  Este nosso Credo é ,em sua estrutura íntima, uma confissão da Trindade.


Na verdade, a atenção e a devoção às Três divinas Pessoas continuam centrais em nossa vida e tirá-las de nossa fé causaria não só um irreparável vácuo, mas acabaria com o próprio fundamento de nossa existência cristã. Por isso crer na Santíssima Trindade e amá-la com todo nosso ser tem conseqüências imensas para toda a vida (cf. o Novo Catecismo nos n. 223-227):

·        “Significa reconhecer a grandeza e a majestade de Deus. Deus é tão grande que supera nossa ciência (Jó 36,26).

·        Significa viver em ação de graças: Se Deus é o Único, tudo que somos e tudo o que possuímos vem dele: “Que é que possuis que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7).

·        Significa reconhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens: Todos foram feitos “ à imagem e à semelhança de Deus” (Gên 1,27).

·        Significa usar corretamente das coisas criadas: A fé no Deus Único nos leva a usar de tudo o que não é ele na medida em que isto nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas na medida em que nos desviam dele, como rezava São Nicolau de Flüe: “Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós. Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a vós”.

·        Crer na Santíssima Trindade também significa confiar em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Jesus exprime-o de maneira admirável: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.


Crer no Deus bíblico, a partir de Jesus, é necessariamente crer na Santíssima Trindade. O Deus de Jesus, o Deus cristão, é o Pai e o Filho e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo sempre estão juntos: criam juntos, salvam juntos e juntos nos introduzem em sua comunhão de vida e de amor.


Na piedade de muitos fiéis há uma desintegração da vivência do Deus trino. Alguns só ficam com o Pai, outros só com o Filho e outros só com o Espírito Santo.
 

A religião só do Pai é o patriarcalismo. Todos dependem dele, sem qualquer criatividade. A religião só do Filho é o vanguardismo. Jesus é considerado o “companheiro”, “o mestre” e “nosso chefe”, irmão de todos. É um Jesus com apenas relações para os lados, sem uma dimensão vertical, em direção ao Pai. Esta religião cria cristãos vanguardistas. A religião só do Espírito Santo que só se concentra na figura do Espírito Santo é espiritualismo. Eles só cultivam suas emoções interiores e pessoais. Eles esquecem que o Espírito Santo é sempre o Espírito do Filho, enviado pelo Pai para continuar a obra libertadora de Jesus. Não basta a relação interior (o ES) nem somente para os lados(Filho) nem só a vertical (Pai). Importa integrar os três. Que seria de nós, se não tivéssemos um Pai que nos aconchegasse? Que seria de nós, se esse Pai não nos desse seu Filho para fazer-nos também filhos de Deus? Que seria de nós, se não tivéssemos recebido o Espírito Santo, enviado pelo Pai a pedido do Filho, para morar em nossa interioridade e completar a nossa salvação? Vivamos a fé completa, numa experiência completa da imagem completa de Deus como Trindade de Pessoas.


Quando o cristão é batizado no nome da Santíssima Trindade, o modo de ser de Deus lhe é apresentado como modelo de vida. A perfeita comunhão entre as pessoas da Trindade deve tornar-se o ideal de comunhão dos cristãos e das famílias cristãs. Igualmente, a capacidade de agir de forma integrada, sem concorrências nem sobreposição de um sobre o outro. A comunhão se faz a partir do diferente, na acolhida e no respeito pelo outro. Este é o caminho que a comunidade cristã ou família cristã terá de tomar, se quiser deixar-se modelar pela Santíssima Trindade. Assim seja.
 
P. Vitus Gustama,svd

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