terça-feira, 21 de julho de 2015

23/07/2015
VIVER COM CORAÇÃO, POIS O MISTÉRIOS DE DEUS SOMENTE SÃO COMPREENDIDOS COM CORAÇÃO


Quinta-Feira Da XVI Semana Comum


Evangelho: Mt 13, 10-17

Naquele tempo, 10 os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11 Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. 12 Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. 14 Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15 Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. 16 Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

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Estamos no discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Para a multidão entender a realidade do Reino de Deus Jesus usa parábolas da vida cotidiana como comparação.


No texto do evangelho de hoje os discípulos lançaram a seguinte pergunta para Jesus: “Por que tu falas em parábolas ao povo?”. As parábolas de Jesus têm claridade e pedagogia para fazer entender sua intenção para todos, menos aos que não querem entendê-las.


Na sua resposta Jesus enfatiza que Deus é “mistério”. A palavra “mistério” é usada no AT, a partir de Daniel, para denotar uma realidade dos tempos finais que somente Deus pode revelá-la (Dn 2,27-30.47), a realidade de um Reino eterno (Dn 2,44). Por Deus ser mistério trata-se, por isso, de uma realidade difícil de entender e de conhecer. Jesus conhece o mistério de Deus. Ele sabe que as coisas do Espírito necessitam de uma certa sensibilidade para poder captar seu sentido. Deus não está no nível das coisas. Deus não é da ordem das coisas. O mistério de Deus, em toda sua riqueza, não é uma verdade que se impõe para a inteligência humana. É um mistério que somente se dá aos que estão dispostos a escutar. Por isso, o ouvinte tem que se esforçar para escutar. Escutar é ouvir com atenção. É participar da mensagem ouvida para entender seu recado. É estar no outro para entender e compreender aquilo que ele quer transmitir. Escutar é uma coisa mais séria, requer uma certa dose de interesse, de preocupação, de atenção. Há que parar-se para detectar o que ouvimos, para clarificá-lo, para assimilá-lo e para respondê-lo. Escutar é um exercício humano para certa categoria. Muitas vezes acontece que ouvimos mas não escutamos.


Olhando, eles não veem e, ouvindo eles não escutam nem compreendem”. É a segunda razão dada por Jesus. Há duas maneiras de “ver” e de “ouvir”. Há um modo estritamente material: eu ouço palavras ditas por alguém, ruído de vozes etc. E outro modo é o modo espiritual; é “ver” e “ouvir” com o coração. O mistério de Deus somente é entendido com o coração. Deus cabe no nosso coração e não na nossa cabeça. É preciso compreender tudo com o coração. Quando calarmos a inteligência, o coração começará a compreender. O coração entende e compreende aquilo que a razão desconhece.


Toda nossa vida é uma parábola na qual Deus está escondido e pela qual Deus nos fala. Um pode ficar no exterior das coisas e dos acontecimentos, ou pode “ouvir” e “ver” Deus no fundo e na profundidade dos acontecimentos da vida. Uma pessoa com coração sempre vê além das coisas, pois o coração entende aquilo que a inteligência desconhece. Com efeito, uma pessoa que “vê” e “ouve” com coração os acontecimentos de cada dia, capta as mensagens de Deus e vive com mais sabedoria e prudência. Mas aquele que vive sem coração, vê apenas as coisas negativas e reclama da vida apesar de ela ser um dom de Deus. Aquele que vê e ouve com coração vê longe e vê além das aparências. Aquele que vê e ouve com coração compreende os outros e entende o significado do silêncio do outro. Uma pessoa com coração é uma pessoa profunda, próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas e dos acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo e sim é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma maturidade. Ela nunca é fria, mas cordial, nunca é cega diante da realidade, mas realista, nunca é vingativa, mas pronta para perdoar e para reconciliar-se.


Uma pessoa com coração é uma pessoa profunda, próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas e dos acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo e sim é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma maturidade. Ela nunca é fria, mas cordial, nunca é cega diante da realidade, mas realista, nunca é vingativa, mas pronta para perdoar e para reconciliar-se.  A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha. o amor transforma tudo que é pesado em leveza e a oração se torna prazerosa.


Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”, disse Jesus aos seus seguidores.


Os olhos dos simples são os que descobrem os mistérios do Reino e o sentido da vida, em geral e de cada acontecimento em particular. Jamais acontecerá isso para os olhos dos arrogantes ou complicados. Recebemos de Deus o dom da fé com o qual somos capacitados a descobrir o sentido das coisas, pois a “fé é a antecipação daquilo que se espera e a certeza daquilo que não se vê” (Hb 11,1).


A revisão de vida consiste, por isso, em “olhar de novo” com os olhos da fé, os acontecimentos, que na primeira vez eram vistos com um olhar simplesmente humano, para entender os “recados” de Deus para cada um de nós em particular e para a humanidade toda, em geral. Esta revisão é necessária, pois também pode acontecer conosco aquilo que Jesus disse: “... olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem”. Muita das vezes, não queremos ouvir ou entender algo porque , no fundo, não nos interessa em aceitar o conteúdo daquilo que ouvimos ou que vemos. Não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir e não há pior cego do que aquele que não quer ver. Porventura, fazemos caso, cada dia, da Palavra de Deus que ouvimos/escutamos? Será que nos deixamos interpelar por ela quando ela se torna exigente para nossa maneira de viver? Nós, que temos ouvido a Palavra de Deus, devemos dar mais frutos do que os outros que nunca ouviram diretamente a Palavra de Deus. Se levássemos a sério a Palavra de Deus que temos escutado, nossa vida seria bastante distinta e faríamos diferença na família, na comunidade, no trabalho e na sociedade em geral.


Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Dai-nos, Senhor, uns olhos novos e uns ouvidos finos, para podermos ver e entender seus mistérios na nossa vida e para perceber Sua presença nos acontecimentos.

P. Vitus Gustama,svd

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