18/09/2015
MULHERES E HOMENS TÊM A MESMA
RESPONSABILIDADE COMO CRISTÃOS NESTE MUNDO
Sexta-feira
da XXIV Semana Comum
Evangelho:
Lc 8,1-3
Naquele tempo: 1 Jesus
andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de
Deus. Os doze iam com ele; 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas
de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete
demônios; 3Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias
outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.
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Jesus anuncia o Evangelho acompanhado pelos
Doze e por algumas mulheres como mencionou o texto do Evangelho de hoje. As mulheres
serão as testemunhas da morte e ressurreição do Senhor (Lc 243,49; 24,6-10). As
mulheres estavam presentes na origem da Igreja (At 1,14). Ao dizer que Jesus
estava acompanhado também pelas mulheres no seu trabalho missionário, o
evangelista Lucas quer nos dizer que as mulheres não devem ocupar um lugar
secundário na Igreja e na sociedade. Para a época de Jesus o fato de que
algumas mulheres acompanhavam Jesus na sua atividade missionária era algo incrível,
pois as mulheres eram marginalizadas. Nenhum testemunho de uma mulher tinha
validade. Como Lucas, São Paulo tinha o mesmo pensamento de que a mulher tinha
o papel importante na comunidade: “Todos vós
que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Já não há judeu nem
grego, nem escravo nem livre, nem
homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,27-28).
Graças a Deus hoje em dia temos tantas mulheres teólogas, tantas mulheres incansáveis
envolvidas nos trabalhos pastorais e em outras atividades eclesiais, há tantas
mulheres missionarias, e assim por diante.
No texto do evangelho deste dia, evangelista
Lucas afirma que, com os Doze, havia um grupo de mulheres que seguiam a Jesus:
Maria Madalena, Joana, Susana e outras mulheres. O evangelista Lucas é o único
que menciona os nomes das mulheres que acompanhavam Jesus ao longo de suas
viagens.
Para Deus Eu Tenho Nome e Sou Chamado Pelo Nome
Maria Madalena, Joana e Suzana! São nomes das
mulheres, segundo o texto do evangelho deste dia, que também acompanhavam Jesus
no seu trabalho de levar a Boa Nova para todos, especialmente para os excluídos
da sociedade. Uma é casada, Joana, a mulher de Cuza, alto funcionário de
Herodes. Outra é uma mulher renascida à vida nova graças à intervenção de Jesus
que a resgatou da morte (libertada de sete demônios, segundo o evangelho),
Maria Madalena. E a terceira, Suzana, é uma discípula da qual somente sabemos
seu nome, mas que estava lá.
Maria Madalena, Joana e Suzana! Para o
evangelista Lucas é muito importante mencionar seus nomes. Ter nome é ter dignidade,
é ser gente! Ter nome é ser alguém e não ser número. É ser pessoa. Ter nome é
ter personalidade. Chamar alguém e ser chamado pelo nome é sinal de intimidade.
Entre dois amigos os títulos ficam de lado; cada um é chamado pelo nome. Em
casa cada um tem seu nome e é chamado pelo nome e não pelo titulo. Para Deus eu
tenho nome e Deus me chama pelo nome: “Eu te chamo pelo nome, és meu” (Is
43,1). E que meu nome está gravado na palma da mão de Deus e por isso, Ele
jamais me esquecerá: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não tem
ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te
esquecerei nunca. Eis que estás gravado na palma de minhas mãos” (Is 49,15-16).
Deus nunca pode olhar Sua mão sem ver o meu nome. E meu nome quer dizer EU
mesmo. Sou feliz por eu ser o que sou para Deus. Para sociedade em geral posso
não ter nome, mas para Deus eu tenho nome. Eu sou uma pessoa e não um número
para Deus. Quantas vezes saia dos lábios de Jesus os seguintes nomes: Maria
Madalena, Joana, Suzana. Jesus as chamava pelo nome.
Diante de Deus Todos São Iguais
Maria Madalena, Joana e Suzana são seguidoras
de Jesus junto com os doze Apóstolos. Esta frase tinha um grande peso para a
sociedade da época de Jesus.
Na Palestina a estrutura social era
patriarcal. Ou na linguagem mais popular: uma sociedade machista. O pai era o
único que tinha direito de dispor, dar ordens, castigar, pronunciar as orações,
oferecer os sacrifícios. A mulher era considerada em tudo inferior ao homem.
Ela pertence completamente ao seu “dono”: ao pai, se for solteira; ao marido,
se for casada; ao cunhado solteiro, se for viúva sem filhos (Dt 25,5-10).
No Templo e na sinagoga homens e mulheres
ficavam rigorosamente separados: as mulheres sempre em lugares inferiores,
secundários. O culto na sinagoga era celebrado apenas caso houvesse ao menos 10
homens. As mulheres não contavam, por mais numerosas que fossem.
A mulher não podia atuar como testemunha num
tribunal, nem como testemunha de acusação. Apoiando-se em Gn 18,11-15,
consideravam que seu testemunho carecia de valor por causa de sua inclinação à
mentira. Os rabinos da época excluíam as mulheres do circulo de seus
discípulos.
Jesus se levanta contra esse sistema
sociorreligioso, dominante e opressivo para a mulher. Com sua atuação concreta,
Jesus dá à mulher o seu devido lugar na vida social e religiosa. Para sua época
essa atitude era considerada revolucionária e audaciosa! O que tem por trás da
atitude de Jesus é o amor. E o amor é capaz de fazer até o impossível (cf. Jo
3,16). Tendo acompanhado Jesus desde o começo de seu ministério público, como
os Doze, as mulheres discípulas eram iguais aos homens para o anúncio da Boa
Nova (cf. Jo 4,28-29). Para Jesus, a mulher tem a mesma dignidade, categoria e
direitos que o homem. Por isso, Jesus admite em sua comunidade homens judeus e
mulheres judias com os mesmos direitos de aprender, ser discípulos-discípulas,
seguidores-seguidoras de Jesus pelo Reinado de Deus. As exigências e
responsabilidades do seguimento são iguais para todos, homens e mulheres. A
tradição nos relata que as primeiras aparições do Ressuscitado foram feitas
para as mulheres (Lc 24,10) e precisamente às que Lucas anota no texto do
evangelho deste dia.
Que belo é ver como desde as origens
apostólicas, Jesus conta com as mulheres em plano de igualdade. Não faz plano
machista do seguimento. Cria uma comunidade mista.
As mulheres não são meras assistentes dos
homens e sim autênticas protagonistas da vida e missão da Igreja. Atuar de outra
maneira é infidelidade ao Senhor que desde o princípio contou com elas. Elas
serviam, punham seus bens ao serviço de Jesus e sua missão.
A Palavra de Deus de hoje quer nos enfatizar
que todos, mulheres e homens, são chamados de igual maneira a proclamar a Boa
Notícia. O Reino de Deus é uma Boa Notícia. No meio da superabundância de
notícias ruins, o cristão e a cristã, a exemplo de Cristo, devem pregar a Boa
Notícia. Martin Luther King dizia que o grande problema não é o avanço da
maldade ou do mal, mas o silêncio dos bons. Em certo sentido, ficar calado pode
ser até uma manifestação da prudência. Mas se ficar calado diante da maldade
pode significar a cumplicidade.
Homens e mulheres são chamados a colaborar na
evangelização a partir de seu próprio talento e de outras contribuições como as
três mulheres citadas no evangelho deste dia. Assim um completa o outro para
uma perfeita evangelização. Victor Hugo escreveu que o homem e a mulher se
complementam para edificar a dignidade de um ser humano. Evangelizar significa
dignificar a vida humana.
Reflitamos
sobre as palavras do Papa Francisco a respeito das mulheres na sua Exortação Apostólica,
Evangelii Gaudium (Alegria do
Evangelho):
·
A
Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma
sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente
são mais próprias das mulheres que dos homens. Por exemplo, a especial
solicitude feminina pelos outros, que se exprime de modo particular, mas não
exclusivamente, na maternidade. Vejo, com prazer, como muitas mulheres
partilham responsabilidades pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem
para o acompanhamento de pessoas, famílias ou grupos e prestam novas
contribuições para a reflexão teológica. Mas ainda é preciso ampliar os espaços
para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Porque «o génio feminino é
necessário em todas as expressões da vida social; por isso deve ser garantida a
presença das mulheres também no âmbito do trabalho»[72] e nos vários lugares
onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas
sociais (EG n. 103).
·
As
reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção
de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões
profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente. O sacerdócio
reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia,
é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente
controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder. Não
se esqueça que, quando falamos da potestade sacerdotal, «estamos na esfera da
função e não na da dignidade e da santidade». O sacerdócio ministerial é um dos
meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a grande dignidade vem do
Batismo, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça
– isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o
coloque por cima dos demais. Na Igreja, as funções «não dão justificação à
superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais
importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é
considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordena integralmente
à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o
seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de
administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é
sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para os Pastores e para
os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que
se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes,
nos diferentes âmbitos da Igreja (EG n. 104).
·
Maria,
a Mãe do Senhor “é a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa
Senhora da prontidão, a que sai ´à pressa´ (Lc 1, 39) da sua povoação para ir
ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de
caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização.
Pedimos-Lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne
uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o
nascimento dum mundo novo. É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos
enche de imensa confiança e firmíssima esperança: ´Eu renovo todas as coisas´
(Ap 21, 5)” (EG n. 288).
P. Vitus Gustama,svd
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