quarta-feira, 29 de abril de 2015

Domingo 03/05/2015
 
PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTOS

V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B”


Evangelho: Jo 15,1-8

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais frutos ainda. 3Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. 4Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. 8Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

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O texto se encontra no complexo literário de Jo 13-17 que fala da despedida de Jesus de seus discípulos. A última mensagem de Jesus para os seus discípulos se precede com a cena da última ceia com o lava-pés que culmina com o anúncio da traição (Jo 13,1-20).  Em outros capítulos (Jo 14-17) relatam-se os diálogos da despedida de Jesus que termina com a oração de Jesus ao Pai. Na verdade não há mais que um discurso de despedida a não ser somente nos capítulos 13,31-14,31. A continuação lógica de Jo 14,31 é Jo 18,1. Jo 15-17 tem sido introduzido neste espaço pelo evangelista-redator para incluir no evangelho o material precioso que até agora não havia encaixado dentro do esquema do evangelista.


Na presença dos seus amigos íntimos, Jesus começa a transmitir sua mensagem final (Jo 13,31-17,26). Como qualquer grande líder que reúne seus seguidores na véspera de sua morte para dar-lhes instruções quando ele partir, também Jesus, antes de sua morte, faz a mesma coisa. Mas ele lhes garante que sua morte não é um fim, pois ele vai para seu Pai. Aqui, nestes capítulos, Jesus repetidamente promete que ele vai voltar para os discípulos através de sua ressurreição e do dom do Espírito Santo. Esta volta vai trazer-lhes paz e alegria, e que os discípulos vão entrar também na comunhão de sua vida através do Espírito, que é o dom de Jesus ressuscitado.
 

O contexto mais imediato do nosso texto é Jo 15,1-17. A primeira parte (vv.1-8) se concentra em matéria alegórica, a videira e os ramos, com a linguagem direta, que apresenta Jesus como o EU SOU. Nesta parte acentua-se a exigência de permanecer em Jesus para produzir frutos. A segunda parte (vv.9-17) fala do amor como objeto da revelação. Aprofunda-se nesta parte o mistério do amor de Deus em Jesus Cristo e a missão dos cristãos de frutificar na prática do amor fraterno (esta parte falaremos no próximo domingo). Nesta segunda parte, a imagem da videira não aparece mais a não ser apenas a expressão “produzir fruto”. Quando se fala de “produzir fruto” no seu sentido literal, fala-se inevitavelmente do tronco (árvore ou videira neste contexto).


Quando Jesus se autoproclama como a “verdadeira videira”, porque existe outra videira falsa. Quem é que representa essa videira falsa? (mais adiante falaremos). A verdadeira videira é a imagem que evoca vida, seiva, fruto abundante ou ramos cheios de frutos de qualidade. Para entender esta autoproclamação de Jesus, como a verdadeira videira, devemos ter na nossa mente alguns textos do AT que contém a contraposição à afirmação de Jesus.


Para qualquer judeu da Palestina, a videira é muito familiar, pois ela é um dos pilares econômicos do país. Ela é sinônimo de paz e felicidade. No livro dos Cânticos, a vinha pode designar a esposa (cf. Ct 1,14;2,15;6,11;7,9.13;8,12). Mas sobretudo, é símbolo da comunidade.  A vinha é uma imagem do povo de Israel em relação ao Deus da Aliança. Alguns textos vão comprovar esta afirmação.


Oséias, o mais antigo dos profetas, descreve Israel como uma vinha viçosa ou florescentes que produz muito fruto(Os 10,1), mas tem um coração infiel(Oséias compara o povo da aliança como uma esposa infiel e Deus como um marido fiel que vai atrás da esposa para salvá-la). Assim essa vinha que tem muitas folhas,  se torna uma vinha inútil, pois não se encontra nenhum fruto. O profeta Isaías faz um poema ou um cântico sobre Israel onde ele o descreve como uma vinha ingrata(Is 5,1-7). O cântico se transforma, assim, em uma queixa e um julgamento. O profeta Jeremias fala da degeneração da vinha de qualidade: torna-se em vinha bastarda(Jr. 2,21; cf. também Jr 5,10;12,10-11; Sl 80,9-12;Ez 17,5ss). A conduta de Israel se mostra decepcionante seja por seus próprios pecados, seja por causa de seus maus pastores.


O nosso texto deste domingo tem seu pano de fundo nos textos acima citados. Mas o evangelista Jo modifica alguns termos, como em vez de falar de “vinha”(plantação de uvas), fala-se da “videira”(pé de uva) para enfatizar a união profunda entre tronco e ramos e a conseqüência da desunião do tronco é a morte para o ramo. Por isso, a palavra chave para o texto de hoje é “permanecer” que tem como conseqüência  “produzir fruto”.
 
 
Que tipo de ramos somos nós? Será que sabemos produzir uvas de qualidade ou  apenas uvas ácidas, como aconteceu com o povo de Israel?
 
Eu sou a verdadeira videira e vós, os ramos”, diz Jesus. Esta imagem serve para sublinhar a comunicação e circulação de vida divina que existe entre Jesus e aqueles que nele crêem. Meditar estas palavras sobre a videira e os ramos significa encontrar a relação que nos liga, na sua dimensão mais profunda, a Ele. É uma relação mais profunda até do que aquela que existe entre pastor e o rebanho, sobre a qual meditamos no domingo anterior. No evangelho deste domingo descobrimos onde é que reside a força interior de nossa religião (2Tm 3,17). É em Jesus.
 
 
Alguns elementos deste texto sobre os quais precisamos meditar. Está aberta, porém, a possibilidade para outras pessoas verem de outro ângulo. O Evangelho é sempre um tesouro para ser descoberto por todos e de todos os lados.
 
1. Jesus é a verdadeira videira
   
O que Israel não foi capaz de dar a Deus, Jesus lho dá. Jesus é a videira fiel, porque correspondeu aos cuidados e à expectativa de Deus e produziu o vinho bom da fidelidade à aliança.  Por si mesmo, a imagem de “verdadeira videira” evoca vida, seiva, fruto. Jesus é a nova videira, a autêntica, capaz de produzir a vida para quem não a tem; o amor para quem se sente mal amado; a justiça para quem é injustiçado; o otimismo e a esperança para quem se sente frustrado e desesperado; o Caminho para quem se sente perdido; a  Luz para quem se sente desorientado e se encontra na escuridão nesta vida; o alimento para quem é faminto; a água viva para quem está com sede e a vida para quem está desanimado. Em Jesus, então, descobrimos a força sem fim para enfrentar qualquer tipo de situação nesta vida.  Jesus dá seu fruto, dando sua vida, derramando seu sangue, prova suprema de seu amor por nós. E o vinho, fruto da videira, será, no mistério eucarístico, o sinal sacramental deste sangue derramado para a remissão dos pecados e para selar a Nova Aliança e será o meio de comungar do amor de Jesus. Nele encontramos, realmente e somente nele, o sentido de nossa vida e de nossa luta de cada dia. Ele é realmente a videira verdadeira.


 2. Nós somos  os ramos da videira verdadeira
  
Jesus nos diz: “Eu sou a verdadeira videira e vós, os ramos”. O ramo é uma extensão e um prolongamento do tronco (da videira). Do tronco é que vem a seiva (linfa) para o ramo que o nutre, a umidade do solo e tudo aquilo que ele transforma depois em uva sob os raios do sol. Se não é alimentado pela videira, nada pode ele produzir.
  
Onde se situa essa relação, quando aplicada a nós, homens para que possamos produzir frutos ? Quais são condições para produzirmos mais frutos?


a) Para produzirmos frutos necessitamos permanecer no tronco que é Cristo.         


O verbo “permanecer” aparece 118 vezes no NT, principalmente nos escritos joaninos (no evangelho de Jo 40 vezes, 1Jo 24 vezes e 2Jo 3 vezes; em Lc 20 vezes: 13 deles em At; 1Cor 8 vezes; Hb 6 vezes; e em outros escritos neotestamentários o verbo aparece esporadicamente). Neste Evangelho o verbo “permanecer” aparece sete vezes para exprimir a união entre o tronco e os ramos, ou seja, entre Jesus e os fiéis.


A expressão “permanecer” tem em Jo uma conotação do definitivo, do perene no relacionamento com Jesus fundado na fé, um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Jesus e seus seguidores. Com esta permanência, os seguidores terão condições de produzir frutos. O sentido é o da mútua união de Deus (ou Jesus, ou o Paráclito) nos seus e deles em Deus. Não se trata de uma mera “união moral” entre os fiéis e Jesus/Deus. Da parte de Deus (em Jesus) trata-se da presença salvífica; e, na medida em que abrimos espaço para a presença de Deus no meio de nós e em nós, também nós “permanecemos” no âmbito dele. E da parte dos fiéis (nós), esse permanecer significa concretamente o continuar na profissão de fé em Jesus e a comunhão do amor fraterno (Evangelho do domingo posterior). Somente em contato com Jesus temos vida e força interior, capacidade e constância para transformar a dura realidade e vencer o mal dentro e fora de nós.


Permanecer em Cristo significa também não abandonar os compromissos assumidos (no batismo, no matrimônio etc.), não se afastar da fonte que é Cristo, como o filho pródigo, entregando-se a uma vida de pecado consciente e intencionado.


Permanecer em Cristo significa também permanecer no seu amor (Jo 15,9): no amor que ele tem por nós, mais que no amor que nós temos por Ele; significa, pois, permitir-Lhe que nos ame, que nos faça passar a sua “seiva” que é o Seu Espírito, evitando pôr entre Ele e nós a insuperável barreira da auto-suficiência e da indiferença.


A intensidade deste “permanecer” recíproca é mostrada no versículo 4b. Aqui Jesus exorta a todos os seguidores: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim”(v.4b). Os opostos “produzir frutos” e “ser estéril” exprimem salvação ou perdição final. A separação de Jesus significa esterilidade absoluta. Um cristão que não permanece unido a Cristo, resseca, não dá fruto. Ele pode até ter uma vida brilhante, cheia de saúde, de idéias, exibir energia, negócios, filhos e ser, aos olhos de Deus, lenha seca, sem vida, um coração vazio. Quem pertence aparentemente ao grupo cristão, mas não mantém ligação com Jesus, é um membro morto. Só atrapalha mais do que ajuda. Tudo, quando se afasta do tronco que é Jesus Cristo, tende a morrer. Pessoas afastadas dos outros e de Deus murcha, seca e morre.


Se permanecermos em comunhão com Jesus e “suas palavras permanecerem em nós”, receberemos tudo o que em seu nome convém pedir. O Evangelho de João usa de modo surpreendente o termo “permanecer”(equivalente a “morar”) para expressar a presença das palavras de Jesus em nossa vida(15,4). Suas palavras são equivalentes à sua pessoa. Se quisermos saber se Cristo está em nós, cabe verificar se suas palavras desempenham um papel efetivo(e afetivo) em nossa vida. Segundo Jesus, se nos deixarmos levar por Sua Palavra e pela fé, estaremos limpos e incluídos na produção da videira. Neste caso o permanecer e o produzir frutos são duas coisas inseparáveis. Não existe produção de frutos sem a permanência em Jesus e não existe uma comunidade duradoura de Jesus que fique por todo o tempo sem produzir frutos. Precisamos ser como o ramo unido ao tronco. O ramo não encontra sentido longe de quem o alimenta e sustenta. A unidade é o caminho para superar as crises e as adversidades.


Tudo isto nos faz perguntar: “Que frutos eu tenho produzido? Se tudo está errado, preciso parar urgentemente porque talvez eu esteja desligado do tronco(Jesus), por isso não tenho recebido a seiva suficiente para ser bom seguidor, o que me tornar em ramo seco.


b) Para podermos produzir frutos precisamos ser podados.
  

A videira é uma planta que precisa de muitos cuidados. Todos os anos ela deve ser podada para que a seiva se concentre em poucos ramos, fortes e vivos. Qualquer agricultor bom não tem medo de podar uma videira, porque ele sabe que com isso, a videira vai produzir muito mais frutos. Ele não fica acariciando as folhas verdes da videira.  Uma videira, embora viçosa, se não for podada no tempo certo com muito desvelo, depois de alguns anos, não produz mais nada que preste. Além disso, os ramos secos são tirados.
  

Jesus diz: “Todo ramo que dá fruto, o Pai o limpa, para que dê mais fruto ainda”(v. 2). Ao falar em “dar fruto”, Jesus usa a expressão que nos recorda inevitavelmente o grão de trigo que se morrer, dará muito fruto(Jo 12,24). Mas não é a morte ou a poda o que se assemelha à videira, mas a vida e o fruto abundante que por elas se alcançam.
   

A poda é uma limpeza profunda. E limpo é aquele que encontra a sua identidade no seu vínculo com o Senhor e no serviço aos demais e aquele que fala de acordo com  seu agir e agir como fala. Por meio disso a Palavra nos limpa, nos transforma por dentro e nos torna diferentes: “Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei”(v. 3). Acreditar na Palavra é dar fruto. O Evangelho, que é a Palavra de Deus em Jesus Cristo, é então como uma poda. Ele golpeia a cobiça, tudo aquilo que nos dispersa em tantos projetos vãos e desejos terrenos; ao invés, fortifica as energias sadias e espirituais; concentra-nos sobre os valores verdadeiros, colocando em crise os valores falsos. Precisamos fazer várias podas na nossa vida se quisermos crescer como bons cristãos: poda das riquezas armazenadas, do boato e fofoca, da soberba, do poder temporal e influências mundanas, da ganância, da preguiça, do egoísmo, da mentira, da hipocrisia, assim por diante. Sem estas podas sobra-nos lenha seca e falta-nos seiva jovem e vida nova do Espírito.


3. Promessa para quem permanece em Jesus
 

Permanecer em Cristo não só serve para que possamos nos assemelhar à vida de Cristo mas muito mais do que isso. Ele promete: “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado”(v. 7). Estas palavra nos leva ao cerne do que é rezar. Rezar significa estar em perfeita sintonia com Jesus e seu plano, fazendo-lhe a vontade. Se fizermos assim, nenhuma prece vai ficar sem resposta, receberemos tudo o que em seu nome convém pedir e nenhum esforço será inútil.
    

Vamos nos perguntar: Sou um ramo vivo ou seco? Se eu ficar atrapalhando a vida dos outros em vez de ajudá-los, talvez seja um sinal de que estou virando um ramo seco. Será que ainda não permaneço em Cristo, por isso as minhas orações, aparentemente não são atendidas? Qual parte da minha vida que preciso podar para que eu seja mais feliz e útil para mim mesmo e para os outros ?

P. Vitus Gustama,svd
02/05/2015
VIVER COM E COMO CRISTO PARA ESTAR COM O PAI DO CÉU


Sábado da IV Semana da Páscoa


Evangelho: Jo 14,7-14

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 7“Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”. 8Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” 9Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai”? 10Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. 11Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. 14Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei.
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O texto do evangelho lido neste dia faz parte do discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17).


Quando Jesus disse aos discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”, logo Filipe pediu: Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”.


O pedido de Filipe para Jesus mostrar o Pai tem um tom de ousadia do ponto de vista judaico. Segundo a visão bíblica é impossível ver Deus e ao mesmo tempo o homem, que viu Deus, permanece vivo (Cf. Ex 33,20). Por isso é que, na Bíblia, todas as pessoas ficaram apavoradas diante de qualquer manifestação divina (teofania), pois há possibilidade de morrer.


Diante da pergunta de Filipe, Jesus responde que o Pai não é acessível ao olhar comum. O Pai é acessível através de uma contemplação (contemplar significa olhar, observar com atenção para descobrir seu significado). E a contemplação se apóia no sinal por excelência: o Filho, Jesus Cristo e suas obras, pois Jesus é a Palavra de Deus feita carne (cf. Jo 1,14; Mt 1,23). Jesus é tão unido ao Deus Pai a ponto de ser reflexo total de Deus diante dos homens. Jesus e o Pai são um só (cf. Jo 14,10; 17,21-22). Para contemplar o Pai é preciso descobrir o mistério do Filho: descobrir sua relação com o Pai, seu papel mediador e a significação de suas obras. Todas as obras de Jesus apontam para Deus. Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,10). Tudo de Jesus fala do Pai ou leva o homem ao Pai. Entre Jesus e o Pai há uma total sintonia. O ultimo critério de identificação e sintonia são as obras. E a obra da redenção feita por Jesus nos faz compreendermos Deus como um Pai cheio de amor, de ternura e de misericórdia para nós (cf. Jo 3,16).


E esta contemplação do Pai na pessoa e na obra do Filho deve ser estendida nas obras de cada cristão: “Quem acredita em mim, fará as obras que eu faço” (Jo 14,12). A vida e as obras de cada cristão devem levar os outros a contemplarem Deus, devem ter uma função de levar as pessoas para Deus. As obras boas que o cristão faz falam por si de Deus para o mundo. Desse modo cada cristão se converterá em sinal da presença do Pai no mundo que aponta sempre para Deus. Além disso,neste sentido pedir “em nome de Jesus” (Jo 14,14) equivale, efetivamente, a solicitar a presença de Cristo no atuar do cristão para que ele possa ser verdadeiramente sinal da presença de Deus no mundo.


Somente para aquele que não sabe qual é o destino de sua vida não existe um caminho certo e seguro. Mas se ao final de nossa existência terrena queremos estar com Cristo gozando da gloria do Pai, não há outro caminho a não ser o próprio Cristo. Nele nos é manifestado nosso Deus como Pai amoroso e misericordioso, próximo de nós e disposto a nos salvar e nos e a nos levar a participarmos de Sua vida eterna. Não somente as palavras de Jesus que nos fazem entendermos quem é Deus para nós, mas também suas obras nos fazem experimentarmos o amor que Deus tem para nós. Ir atrás das pegadas de Cristo é caminhar com Sua Igreja, Sua esposa que é a pegada de Seu amor e de Sua entrega que Ele deixou para a humanidade para que possa ir ao encontro definitivo com o Pai com segurança.


Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras”, disse Jesus a Filipe.


Jesus era um homem de Nazaré de carne e de osso, que pisava o solo de Palestina, um homem que tinha amigos, relacionamentos humanos, que comia e bebia com seus amigos, que tinha cansaço, fome e sede. Mas era um homem equilibrado por excelência. Era um homem humilde (Mt 11,29). Era um homem sem ambição nem orgulho, pois toda vez que a multidão queria torná-lo rei, ele se afastava para estar em contato com o Pai no silencio e na oração prolongada (cf. Jo 6,15). Era um homem que se rebaixava diante de seus amigos para lavar-lhes seus pés (cf. Jo 13,1-20). Mas esse homem é, ao mesmo tempo, estava em comunhão plena com Deus, se identificava com Deus, que fazia tudo conforme a vontade de Deus: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”. Jesus era um homem cheio de Deus. As suas amizades com outras pessoas não atrapalhavam sua comunhão plena com Deus. Ao contrário, era tão profunda sua comunhão com Deus a ponto de ter sido tão profunda também sua amizade com o homem (cf. Jo 15,15). Por ter sido o homem de Deus, Jesus era um homem do povo e para o povo.


Ser cristão é ser outro Cristo no mundo. Se Cristo Jesus era um homem cheio de Deus, logo cada cristão deve ser uma pessoa cheia de Deus. Se Cristo Jesus foi o homem de Deus e por isso, era um homem do povo e para o povo, logo o cristão deve ser também um homem de Deus para que se torne um homem do povo e para o povo. Conseqüentemente, nenhum cristão pode ser uma pessoa egoísta e isolada. Cada cristão é de Cristo e o Cristo é do povo: “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (1Cor 3,23).


Quem acredita em mim, fará as obras que eu faço e fará ainda maiores do que essas” (Jo 14,12). Não se trata das obras maiores do que as que Jesus fez. Mas trata-se da expansão de sua mensagem por todo o mundo. Jesus limitou sua atividade em Palestina com um pequeno numero de discípulos. Agora, através das obras boas praticadas pelos cristãos espalhados pelo mundo Cristo se faz presente no mundo. Nossas obras se tornarão maiores, se as fizermos no espírito de Cristo e não de acordo com o nosso gosto. Toda obra no espírito de Jesus tem como objetivo edificar os outros na sua dignidade. É ser vida para os demais como Cristo é vida dada a todos nós.  Ao fazer as obras pelo bem de todos, o cristão poderá aplicar para si a frase de Jesus de outra maneira: “Eu estou em Cristo e Cristo está mim”. Ser cristão significa ser outro Cristo. Se o mundo não percebe na minha maneira de viver e de proceder que sou cristão é porque eu não estou mais em Cristo nem Cristo está em mim. Desta maneira Santo Agostinho tinha razão ao dizer: “De que vale ter o nome de cristão se tua vida não é cristã? Há muitos que se denominam médicos e não sabem curar. Muitos se dizem vigilantes noturnos não fazem mais que dormir a noite inteira. Assim também muitos se chamam cristãos, mas não o são em seus atos. Em sua vida, moral, fé, esperança e caridade são muito diferentes do que declara seu nome” (In epist. Joan. 4,4).


Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”, pediu Filipe a Jesus. Em outras palavras: Onde está Deus? No seu livro O Deus Em Quem Não Creio, Juan Arias dá algumas respostas. “Deus está na tua vida vazia. É tudo o que desejarias lá meter para a encher... Deus é o sol que desejarias ver brilhar quando as trevas irromperam nos teus olhos... Está naqueles olhos cheios de luz que, só ao olhá-los e amá-los, te tornaram mais criança, mais inocente, mais livre, mais poeta e mais concreto; mais terno e mais seguro; menos “tu” e mais “próximo”. Deus está nessa sede de limpeza que faz sentir a tua boca seca e pegajosa, depois de qualquer infecção do espírito ou da carne. Está à porta de cada desilusão; são essas mãos invisíveis em que não crês, mas que desejarias apertar, cheias de fidelidade, quentes de compreensão, eletrizadas por um afeto que resiste ao tempo...Deus está no palpitar intato de cada novo ser...Está no conjunto de sentimentos que vibram em todo o ser da mulher que acaba de ser mãe...Deus está ali; naquele cantinho mais secreto da tua vida, aonde ninguém chega, em que uma voz que não sabes donde vem, nem para onde vai, te diz o que não querias ouvir, te recorda o que desejarias ter esquecido, te profetiza o que nunca desejarias saber. Nessa voz que não ouves, mas que te desaprova. Nessa voz que não é tua, mas que nasce em ti e que nem o sono, nem o barulho, nem a bebida, nem a carne conseguem fazer calar...Está nesse abismo profundo da tua incredulidade...Está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te reconcilias com a tua consciência e que te dá a sensação de renasceres...Deus está nessa força misteriosa que nos mantém vivos, que nos impede de enlouquecer, que nos evita o suicídio depois de certas provas dramáticas da vida, depois de certos desgostos mais cruéis e trágicos do que a morte...Deus está sobretudo onde reina o amor”.


Cristão, onde está teu Deus? Mostra-nos teu Deus é o pedido do mundo para cada cristão. Qual sua resposta?
 
P. Vitus Gustama,svd
01/05/2015
FÉ PROFUNDA SERENA NOSSO CORAÇAO

Sexta-Feira da IV Semana da Páscoa


Evangelho: Jo 14,1-6

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 1 “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus, tende fé em mim também. 2Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, 3e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. 4E para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. 5Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
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Os capítulos 13 a 17 do evangelho de João constituem um “Discurso de despedida” de Jesus. Como os patriarcas do AT e outros grandes personagens ao saber de sua morte iminente se despedem de sua família fazendo recomendações importantes para eles (cf. Gn 49,1-28; 50,24-25; Dt 33; 1Rs 2,-9 etc.), assim também Jesus faz a mesma coisa para seus discípulos. Nestes capítulos encontramos vários ensinamentos de Jesus para quem quiser segui-lo.


Na ultima Ceia os discípulos estavam tristes e desorientados ao saber da despedida do seu Mestre que iria morrer. Por isso, antes de passar deste mundo ao Pai Jesus diz no texto do evangelho deste dia: “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. Segundo a concepção do AT, a fé é um apoiar-se do homem no fundamento vital divino que lhe confere vida e existência; um entregar-se sem reservas, e confiado na promessa, bondade e lealdade de Deus. Justamente neste sentido não é possível crer em tudo. Ou o homem crê em Deus ou crê em nada que terminará no nada. Evidentemente não é possível crer em nada do mundo, e sim somente em Deus, pois só Deus, o Criador do universo, é capaz de responder aos anseios profundos do homem.


Qual é a maior mensagem de consolo ou de esperança que Jesus oferece aos discípulos e a todos nós através do evangelho de hoje? É o convite para viver a fé: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus e tende fé em mim também” (v.1). “Ter fé em Deus” e “ter fé em Jesus” não se trata de dois tipos de fé. Mas trata-se de uma só e única fé. No capítulo anterior Jesus já disse: “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas em quem me enviou...” (Jo 12,44). E na primeira carta de São João temos esta idéia expressa negativamente: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. O que confessa o Filho também possui o Pai” (1Jo 2,23).
    

Em segundo lugar, a exortação que Jesus dirige aos discípulos para que tenham fé nele é algo mais que uma petição de um voto de confiança. A fé é a força que supera tudo. A fé é capaz de vencer o mundo: “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4). “Mundo” aqui significa tudo que se opõe ao plano ou à vontade de Deus. A verdadeira fé em Deus é capaz de vencer as influências nefastas do mundo, pois quem se mantém na profissão da verdadeira fé vive no mundo de Deus, e Deus está por cima do mundo. Por isso, mais tarde Jesus dirá aos discípulos: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33). Para que possamos vencer o mundo como Jesus o venceu, temos que nos unir a Jesus, ou temos que ter fé nele. O mundo pode seduzir qualquer cristão, mas não tem poder de decidir sobre a vida do cristão. Quem pode decidir é o próprio cristão para aceitar ou recusar tal sedução. “Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para suportar” (1Cor 10,13b). Basta permanecer unido a Jesus Cristo.
    

Em terceiro lugar, ao dizer “não se perturbe o vosso coração, mas tendes fé em Deus e em mim também”, Jesus quer nos mostrar outra função ou outro efeito da fé é o coração sereno, coração cheio de paz. Quanto mais profunda for nossa fé em Deus, mais sereno se tornará nosso coração.
   

Hoje como em qualquer momento Jesus diz a cada um de nós: “Não perca sua calma. Acredite em Deus. Acredite em mim. Eu estou perto de você, dentro de você, em teu coração. Feche seus olhos, entre dentro de tua alma, tome minha mão, eu estou com você”. Jesus é o nosso bom companheiro que nos acompanha mesmo que estejamos rodeados pelas dificuldades. “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. Precisamos ouvir estas palavras permanentemente. Ao dizer isso Jesus quer nos dizer que nosso Deus não é indiferente nem frio, e sim um Deus sensível aos nossos anseios e aos nossos sofrimentos. Mas Jesus pede um ato de fé em sua pessoa, uma fé sem reserva. A paz profunda que supera toda perturbação vem da fé.


Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. A verdadeira fé em Deus sempre resulta em ter um coração sereno e pacífico, porque a fé é participação na vida divina, adesão a Deus como único Senhor, o apoiar-se total e exclusivamente em Deus. A fé consiste em nos alicerçamos unicamente em Deus, no seu poder infinito e no seu infinito amor. O poder de Deus e seu amor não estão sujeitos a qualquer manipulação humana. Não há outro caminho para alcançar a paz e a serenidade do coração senão o caminho do pleno abandono à vontade de Deus, isto é, ao seu amor infinito. A palavra “abandono” significa a renúncia aos planos e idéias próprios. Santa Teresa do Menino Jesus dizia: “Tem que ser como uma criança e não se preocupar com nada”(Conselhos e Lembranças). Nesta curta frase está contido todo um programa. Abandonar-se significa não se preocupar com nada, porque Deus nos ama e de tudo se ocupa. Somente quando isso acontecer, o nosso coração poderá começar a se impregnado da verdadeira paz. Não podemos nos desfazer dos perigos que geram o medo, mas é muito importante eliminar esse medo através de um ato consciente de abandono ao Senhor.
     

Quando São Paulo suplicou a Jesus que afastasse da sua vida uma grande dificuldade, algo que contrariava os seus planos, o Senhor respondeu-lhe: “Basta-te a Minha graça porque é na fraqueza que a Minha força se revela totalmente”(cf. 2Cor 12,9). E Santa Teresa escreveu: “A confiança e a fé se aperfeiçoam na angústia”. E Para a Santa Margarida Maria Alacoque, a grande apóstola do coração de Jesus, o Senhor disse com grande ardor: “Deixa-Me agir”. Uma abertura de nosso coração permite ao Senhor viver em nós em toda a Sua plenitude. Quando assim for, poderá Ele fazer de nós a Sua obra-prima. O abandono a Deus é a suprema forma de confiança e de apoio no Senhor.
     

A ausência desta fé suscita a angústia e o pavor. Quando confiarmos apenas nas nossas forças, quando contarmos apenas com as nossas capacidades, com aquilo que possuímos ou somente com as relações que mantemos com as pessoas com as quais estamos ligados, mais cedo ou mais tarde ficaremos desiludidos. A confiança total em Deus nascida da nossa fé na Sua Palavra é a única resposta adequada ao Seu insondável amor por nós.


Para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. O caminho para o Pai é a prática do amor fraterno. Jesus é o Filho, mas os que o seguem serão também filhos, irmãos de Jesus. Para isso, os que seguem a Jesus precisam praticar o amor fraterno para fazer parte da família de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 28 de abril de 2015

30/04/2015
AMOR E SERVIÇO INSEPARAVEIS

Quinta-Feira Da IV Semana Da Páscoa


Evangelho: Jo 13, 16-20


Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus lhes disse: 16 “Em verdade, em verdade vos digo: o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou. 17 Se sabeis isto, e o puserdes em prática, sereis felizes. 18 Eu não falo de vós todos. Eu conheço aqueles que escolhi, mas é preciso que se realize o que está na Escritura: ‘Aquele que come o meu pão levantou contra mim o calcanhar’. 19 Desde agora vos digo isto, antes de acontecer, a fim de que, quando acontecer, creiais que eu sou. 20 Em verdade, em verdade vos digo, quem recebe aquele que eu enviar, me recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”.
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O texto do evangelho deste dia é a continuação do relato do lava-pés (Jo 13,1-20). Jesus faz aquilo que os escravos fazem para seu senhor: lavar os pés. Para João o lava-pés representa aquilo que constitui o sentido da vida inteira de Jesus. Trata-se de um ato de amor que vai até o extremo, um amor infinito (cf. Jo 13,1), o único lavatório capaz de preparar o homem para a comunhão plena com Deus. É um ato do Bom Pastor que dá sua vida para suas ovelhas.


Através do gesto do Lava-pés Jesus nos ensina a convertermos o amor fraterno em serviço pela salvação daqueles que o Senhor ama. O amor fraterno, com efeito, não é somente uma lei ou mandamento e sim uma maneira de atuar de cada cristão pela qual todos serão reconhecidos como seguidores de Cristo (cf. Jo 13,35). É o amor que faz o homem livre. O amor é que faz o homem salvo. É o amor que faz alguém crescer saudavelmente. O amor é que dá segurança e não as armas. O amor é que faz o homem irmão do outro. O amor é que faz uma comunidade de irmãos. É o amor que nos leva ao céu. O amor fraterno é uma maneira de atuar dos cristãos  e dos que têm boa vontade (cf. Mt 25,37-40). O amor e o serviço estão sempre unidos. Quem ama, serve e quem serve é porque ama. Cristão que não serve por amor não serve como cristão.


E durante o lava-pés, Jesus é chamado de Mestre e de Senhor: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu sou” (Jo 13,13). Sendo o Mestre e o Senhor, Jesus se faz servidor de todos. E no texto do evangelho de hoje Jesus diz aos discípulos: “O servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou” (Jo 13,16). “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (v.15), Jesus disse anteriormente. Continuar as ações de Cristo não é repetir ritos, mas atitudes: amor e serviço. O amor sincero e o serviço alegre, ao estilo de Jesus, há de ser o modo de presença de cada cristão neste mundo. Amar e servir verdadeiramente nos fazem felizes (Jo 13,17). Em outras palavras, o amor que se manifestou em Jesus, deve manifestar-se também nos cristãos através do amor mútuo. Jesus Cristo deve ficar bem transparente no modo de viver de cada cristão através do amor que se concretiza também no serviço ao irmão, especialmente ao necessitado.


O Lava-pés quer destacar a centralidade da pessoa. Em nossa sociedade parece que fazer é o termômetro do valor de uma pessoa. Por isso, dentro desta dinâmica é fácil que as pessoas sejam tratadas como instrumentos e facilmente nos utilizamos uns aos outros. Hoje o evangelho nos urge a transformarmos esta dinâmica em uma dinâmica de serviço: o outro nunca é um puro instrumento. Trata-se de viver uma espiritualidade de comunhão onde o outro se torna dom para mim; trata-se de “ser pelos demais”. Segundo Jesus a verdadeira felicidade se encontra no serviço aos demais e em não pensar que um seja maior que os demais. Quem se imagina superior aos demais está usurpando o lugar de Deus. Só ele é o Senhor, todos nós somos irmãos (cf. Mt 23,8). Por isso, qualquer tentativa de classificar as pessoas em mais ou em menos importantes será sem cabimento e não pode ser chamado de cristão.


Fé em Jesus é o seguimento. E seguir o exemplo de Jesus não é repetir ritos, e sim atitudes: amor que se traduz no serviço, entrega e renúncia. O amor sincero e o serviço alegre, ao estilo de Jesus, têm de ser o modo de presença de qualquer cristão no nosso mundo e na nossa sociedade.


Jesus viveu o amor aos homens e o serviço alegre até a morte na cruz. Ele morreu amando e perdoando os que praticaram a maldade contra ele (cf. Lc 23,34). O cristão é aquele que faz aquilo que Jesus fez. De que modo minha vida como cristão é um “serviço até a morte”?. Não até a morte física e sim um serviço até a morte do meu tempo, do meu dinheiro, da minha comodidade, do meu egoísmo, da minha razão humana, dos meus sentimentos? De que modo sou servidor? De quem sou “servidor até a morte”? Até onde chega meu serviço?


“Aquele que come o meu pão levantou contra mim o calcanhar”, alerta Jesus aos discípulos. Ele fala de Judas. Judas, o traidor, representa os que não abrem mão de seus privilégios e não querem partilhar os bens nem pôr a própria vida a serviço dos outros. O traidor pode estar dentro de qualquer um de nós e dentro de qualquer comunidade. Precisamos estar atentos para não sermos vendedores de Jesus Cristo.

P. Vitus Gustama,SVD

segunda-feira, 27 de abril de 2015

29/04/2015
A PALAVRA DE DEUS ILUMINA NOSSA VIDA

Quarta-Feira da IV Semana da Páscoa

Evangelho: Jo 12,44-50

Naquele tempo, 44Jesus exclamou em alta voz: “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. 45Quem me vê, vê aquele que me enviou. 46Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. 47Se alguém ouvir as minhas palavras e não as observar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. 48Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que eu falei o julgará no último dia. 49Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. 50Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”.

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Jesus e o Pai que O Enviou São Um Só


“Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou... Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”. Jesus disse isto em voz alta. 


Com esta afirmação Jesus enfatiza a profundidade de relação entre Ele e o Pai. A união tão íntimo com o Pai faz com que Jesus não pode fazer outra coisa a não ser a vontade de Deus. Anteriormente Jesus disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (Jo 4,34). Por causa dessa relação de Jesus com o Pai  tão intima, unida e profunda é que ter a fé em Jesus, o Filho de Deus, significa ter a fé em Deus Pai. Trata-se de uma só fé e de uma só realidade. Conseqüentemente, rejeitar Jesus significa rejeitar o próprio Deus. Acolher a Palavra de Jesus que é o Verbo de Deus encarnado (Jo 1,1-3.14) significa acolher a Palavra do Pai. E a acolhida da Palavra de Jesus faz o homem que crê em Jesus passar da morte para a vida, das trevas para a luz, pois a Palavra que Ele nos anuncia não vem d’Ele, mas do Pai, e por isso, leva o homem para Deus, isto é, para a vida eterna, para a salvação.


A Presença de Jesus No Mundo Como Luz


Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”.                 


Na escuridão ninguém consegue ver nada. Não há cores. Não há como medir a distância. A escuridão limita qualquer movimentação. Todos ficam apalpando. Imagine uma mente escura! Nada se vê. É uma desorientação total. Com a mente escura não se sabe para onde vai, por que vive, que senti do tem a vida. é uma vida sem cor nem sabor. A luz torna tudo claro, faz-nos perceber variedade de cores. A luz nos mostra tudo. Mesmo que a luz crie sombra, mas até a sombra também é iluminada.


A presença de Jesus no mundo tem um objetivo bem claro e preciso: ser Luz para a humanidade encontrada nas trevas do pecado (cf. Jo 8,12). Trata-se de uma presença que salva apesar de o homem ter que encarar a própria verdade do pecado que o faz mergulhar na escuridão, pois Jesus vem como luz que ilumina tudo e por isso, nada se esconde. Mas ao aceitar Jesus como a própria Luz do mundo o homem passa a ser um reflexo para iluminar as pessoas ao seu redor e seu próprio caminho será iluminado.


Jesus é a Luz que Deus colocou na história da humanidade em geral, e na história de cada um de nós em particular. A Luz do Ressuscitado permite cada um de nós detectar os empecilhos que o egoísmo coloca em seu caminho para desviá-lo do amor e da justiça. A luz de Cristo em cada um de nós denuncia as artimanhas do mal que destrói a vida dos outros. Viver na Luz de Cristo faz cada um de nós viver na transparência e não na aparência, pois a luz de Cristo penetra no nosso ser e tudo se torna transparente e capaz de iluminar as pessoas ao redor. A Luz de Cristo ilumina nossa mente mesmo que nos encontremos no meio das dificuldades, pois tudo será iluminado. A Luz de Cristo em nós faz com que captemos com facilidade as necessidades dos outros. A mente escura só faz confusão. A mente iluminada traz a serenidade e causa uma reflexão mais profunda. A mente iluminada pela Palavra de Deus aponta e indica o caminho de solução para qualquer dificuldade. Uma pessoa iluminada pela Palavra de Deus ilumina qualquer um com sua palavra.


Optar pela Luz é optar pela vida e pela salvação. Optar pela Luz é optar pela verdade, pois não há nada que seja escondido perante a luz. Optar pela Luz é optar pela transparência e não pelo jogo de esconde-esconde com o intuito de esconder a verdade. Optar pela Luz é optar pela originalidade e não pela falsidade ou artificialidade. Optar pela Luz é optar pelo caminho certo e não inventar caminho com os fins egoístas.  Optar pela Luz é saber discernir os caminhos. Optar pela Luz é saber discernir o que é certo e o que não o é. Optar pela Luz de Cristo é optar pela vida iluminada a fim de iluminar os demais homens. Escutar Jesus é deixar-se guiar pela Luz de Cristo. Se o objetivo da presença de Jesus no mundo é ser Luz para a humanidade, conseqüentemente cada cristão, seu seguidor, ao contemplar a Luz do mundo (Jo 8,12), deve viver como luz para os outros: iluminar e indicar o caminho da verdade. É contemplar a verdadeira Luz do mundo para ser reflexo da mesma Luz para o mundo em que vivemos.


Uma Presença Que Separa


Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que falei o julgará no ultimo dia”.


Apesar de Jesus vir ao mundo não para condenar, e sim como uma Luz para a humanidade, mas o evangelho de hoje nos enfatiza que a sua palavra e a sua missão realizam automaticamente um juízo e tornam-se critério último de verdade e de ação. Diante da presença de Jesus como a Luz do mundo e como a Palavra do Pai o homem tem que se posicionar: ou aceitar ou recusar. Trata-se do momento de julgar, isto é, do momento de separação. Deus não separa o homem d’Ele. Mas por causa de sua liberdade o homem é capaz de se separar de Deus. Onde Deus for excluído, entra a agressão, a violência, o assassinato, a exploração, a opressão e assim por diante.


Por isso, o juízo do homem consiste num autojuízo. O homem, com sua conduta, pronuncia sentença contra si mesmo no momento presente em que ele opta por Jesus e sua palavra ou recusa Jesus e não viver de acordo com Sua Palavra. A decisão se dá aqui e agora entre fé e incredulidade. O que ocorrerá no “último dia” não será mais que a manifestação pública da decisão tomada aqui. Resta a misericórdia divina cuja competência é exclusivamente de Deus para além da morte. Homem nenhum pode penetrar no mistério da misericórdia de Deus, pois “os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos e os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos”, diz Deus (Is 55,9).


A minha atitude diante de Jesus, e de Sua palavra, realiza o juízo em relação a mim mesmo, agora e no futuro. Na pessoa de Jesus está presente a realidade definitiva. E eu devo confrontar-me, aqui e agora, com essa realidade, porque é o definitivo que avalia o transitório. É hoje que eu decido o meu destino eterno. É hoje que a minha vida está suspensa entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas, entre o tudo e o nada, porque é hoje que me confronto com Jesus e com a sua palavra, e é hoje que tenho de optar. O espaço dado a mim é entre o nascimento e a morte. Além disso, não é minha competência. O momento presente é sumamente importante, porque é o hoje de Deus, que podemos acolher ou rejeitar. Desse acolhimento ou rejeição derivam conseqüências eternas. Jesus não está nos ameaçando; ele nos estimula para aproveitarmos cada momento para fazer o que é digno para o bem do homem e sua salvação.

P. Vitus Gustama,svd
 
Para Refletir:
  • "O apego faz sofrer. Todos os males, danos e sofrimentos procedem do apego aos bens materiais;
  • Quem não progride, regride;
  • O diabo orgulhoso não suporta um espírito humilde;
  • A paciência é uma rainha encastelada numa fortaleza de rocha: vence e jamais é vencido. A paciência é o cerne da caridade, é sinal de que alguém possui a veste nupcial do amor.
  • Os superiores maus são responsáveis por quase todos os defeitos dos súditos" (SANTA CATARINA DE SIENA: nasceu em 1347 e morreu em 1380)





sábado, 25 de abril de 2015

28/04/2015
CONHECER, ESCUTAR  E SEGUIR O BOM PASTOR


Terça-Feira da IV Semana da Páscoa


Evangelho: Jo 10,22-30

22 Celebrava-se, em Jerusalém, a festa da Dedicação do Templo. Era inverno. 23 Jesus passeava pelo Templo, no pórtico de Salomão. 24 Os judeus rodeavam-no e disseram: 'Até quando nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente.' 25 Jesus respondeu: 'Já vo-lo disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim; 26 vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28 Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. 29 Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. 30 Eu e o Pai somos um.'
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Escutar a voz do verdadeiro Pastor     


O texto diz: “As minhas ovelhas escutam a minha voz... ”(v.27). Sempre ouvimos, mas será que escutamos? Escutar é uma coisa mais séria, requer uma certa dose de interesse, de preocupação, de atenção. Há que parar-se para detectar o que ouvimos, para clarificá-lo, para assimilá-lo e para respondê-lo. Escutar é um exercício humano para certa categoria. Na vida em geral, muitas vezes acontece que ouvimos, mas não escutamos. Tantas tragédias poderiam ser evitadas se soubéssemos escutar e viver os bons conselhos e orientações. Tantas fatalidades na vida de tantos cristãos poderiam ser afastadas, se vivessem de acordo com os ensinamentos de Cristo.


A escuta é uma palavra-chave que caracteriza toda a tradição do povo hebraico. Escutar é um dos mandamentos na Bíblia: “Escutai, ó Israel” (cf. Dt 6,4; Mc 12,29). Ouvir profundamente significa escutar as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal até mesmo o significado que subjaz às intenções conscientes, até os gritos enterrados muito baixo da superfície do interlocutor. O povo eleito é formado pela escuta da Palavra de Deus. E a maior das tragédias na Bíblia é causada pela falta da escuta da Palavra de Deus. Quando nos abrirmos para o discurso divino, aprenderemos que nós somos escuta, dom e que nos realizamos na gratuidade.


“Minhas ovelhas escutam a minha voz”. Esta é nossa tarefa essencial e permanente. Devemos fechar nossos ouvidos a outras vozes, a outras mensagens para tê-los abertos à Palavra do Senhor, pois só Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68), somente Ele é a verdade (Jo 14,6), somente Ele é a Luz (Jo 8,12).


A “voz” de Jesus Cristo ressoa toda vez que alguém viver e anunciar a nova humanidade onde todos se sentem irmãos; toda vez que alguém pregar e dar testemunho da justiça, da liberdade, da verdade, do amor, da paz, da fraternidade universal; toda vez que alguém nos fizer descobrir o verdadeiro sentido da vida. Seguidor de Cristo é aquele que reconhece sua voz nos profetas de hoje.


Nós vivemos no meio do mundo de muitas vozes. Ouvimos muitos apelos e vozes e nunca faltam mensagens enganosas. Para não cair na armadilha é necessário ter o discernimento e apurar os ouvidos para escutar melhor a voz do verdadeiro Pastor que é Jesus Cristo. Somente Cristo é o pastor que não nos decepciona. É ele quem dá sentido à nossa vida. É preciso ler, escutar meditar a Palavra de Deus freqüentemente para poder identificar a voz do Pastor no meio da multidão de vozes que também querem chamar a nossa atenção.


A certeza de sermos conhecidos e amados por Deus
 

“Eu conheço as minhas ovelhas” (v.27). “Conhecer” biblicamente não se refere a um mero conhecimento intelectual. Conhecer na bíblia ultrapassa o saber intelectual e abstrato. O verbo “conhecer” no vocabulário bíblico e na língua hebraica implica o amar, o desejar o bem da pessoa, o sentir afeto por ela. Isto quer dizer que somente se pode chegar a conhecer uma pessoa no âmbito da relação intima e pessoal. O verbo “conhecer” exprime muito mais a relação de amor. Quando Jesus diz que conhece as suas ovelhas, isto quer dizer que tem para com todos nós uma relação de amor profundo. O mesmo amor que o une ao Pai, Jesus exprime também para com as suas ovelhas, todos nós: um amor fiel, eterno, indestrutível. Deus me ama com os meus ideais e minhas decepções, com os meus sacrifícios e alegrias, com os meus sucessos e fracassos.
 

“Eu conheço as minhas ovelhas”. Esta frase é uma mensagem de ternura. Ternura é amor respeitoso, delicado, concreto, atento e alegre; é amor sensível, aberto à reciprocidade, não ávido nem ganancioso nem pretensioso nem possessivo, mas forte na sua fraqueza, eficaz e vitorioso, desarmado e desarmante. Eu não sou anônimo para Deus. Ele conhece minhas vitórias e derrotas, minhas decepções e minhas alegrias, minhas preocupações e minhas felicidades. Apesar das minhas fraquezas ele me ama. O amor do Senhor me capacita para me levantar novamente e continuar minhas lutas pela vida vivida da sua dignidade.


Na nossa vida facilmente desvalorizamos a dimensão afetiva. Dedicamos muito mais atenção à dimensão do fazer, do produzir, do ter, esquecendo-nos das outras dimensões ligadas às afetivas. Isto pode acontecer dentro de família, pois cada um acaba correndo atrás de seus compromissos, de sua carreira, descuidando de cultivar os relacionamentos afetivos entre as pessoas.


Seguir Jesus, nosso bom Pastor


“E elas me seguem”, diz Jesus. A fé consiste em seguir Jesus por amor, vivendo como Ele viveu (cf.1Jo 2,6). Nosso cristianismo não pode consistir somente em cumprimento de umas normas. Não há fé cristã sem uma relação interior, pessoal e livre com Jesus. O nosso caminhar atrás das pegadas do Bom Pastor é paz, sossego, segurança, gozo inefável e glorioso. A fé é o seguimento: “Eles me seguem”. É preciso deixar Jesus na frente para que não fiquemos perdidos neste mundo, pois o nosso destino é a Casa do Pai onde se encontra Jesus. No seguimento nunca é tarde para retificar, corrigir e melhorar nossa vida cristã.


Jesus continua a ser o Bom Pastor no mundo inteiro, para todos os seres humanos. Mas todos nós, cristãos, por nosso testemunho, participamos do pastoreio universal de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo em que somos conduzidos, ouvindo a sua voz, sendo ovelhas, devemos exercer também a missão de pastores, conduzindo os outros até as fontes da vida: Cristo.


“Não basta apenas falar de Jesus, é preciso obras, é necessária a vivência dos valores evangélicos, o amor precisa ser concretizado. Mas acima de tudo, é necessária a consciência de que somos participantes da divina missão de salvação dos homens e que quem realiza esta obra não somos nós, mas sim o próprio Deus, é ele quem pastoreia através de nós. Somos na verdade canais de graça para que os homens ouçam a voz de Jesus, sintam-se integrantes do seu rebanho e o sigam rumo à vida eterna” (Comentário do site da CNBB).

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 22 de abril de 2015

27/04/2015
 
JESUS É A PORTA PELA QUAL ENTRARAMOS NA ETERNIDADE

Segunda-Feira da IV Semana da Páscoa


Evangelho: Jo 10,1-10

Naquele tempo, disse Jesus: 1“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”. 6Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. 7Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. 8Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. 9Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
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O discurso de Jesus sobre a porta das ovelhas e o Bom Pastor se apresenta como continuação lógica da perícope imediatamente anterior, sobre o cego de nascença (Jo 9) que termina com a acusação de cegueira dirigida (por Jesus) aos fariseus. Para Jesus os fariseus são os guias cegos e falsos pastores para o povo. Em contrapartida, Jesus se apresenta como o Bom Pastor.
 

O texto do evangelho de hoje é o início do discurso de Jesus sobre o Bom Pastor. Na passagem do evangelho deste dia, Jesus se identifica explicitamente com a porta das ovelhas: “Em verdade, em verdade eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas” (v.7).


Na época todos os rebanhos do mesmo pastor ficavam no mesmo curral. E o pastor procurava deitar-se na entrada desse curral por onde os rebanhos entravam e saíam, tornando-se assim a própria porta do curral (redil). O pastor é quem levava os rebanhos para as pastagens e trazia de volta para o redil (curral). Isto nos indica a função do pastor sobre os rebanhos como guia, protetor e guarda dos mesmos.


“Eu sou a Porta”, diz Jesus. A porta sugere a idéia da passagem, do limiar entre o conhecido e o desconhecido, o aquém e o além, a luz e as trevas, a privação e o tesouro. Ela se abre para um mistério; ao mesmo tempo leva psicologicamente para a ação: uma porta sempre convida a ultrapassá-la para sair através dela ou para se proteger dentro dela. Neste sentido, a porta significa como barreira/segurança e proteção (observe bem as portas das casas do mundo moderno: fortes com um intuito de dificultar a entrada de ladrões/assaltantes). Era na porta da cidade que recebiam os que chegavam e se despediam, os que partiam. Por isso, a porta era o símbolo de acolhimento ou carinho.


Quando Jesus declara que é a porta das ovelhas, evidentemente esta expressão tem significado funcional enquanto indica a missão salvífica de Cristo, a mediação universal para a vida e para a revelação divina. Jesus, ao proclamar-se a porta das ovelhas, apresenta-se como o lugar no qual encontra a vida e a salvação. Em Jo 10,9 Jesus esclarece que para sermos salvos e termos a vida em abundância devemos passar pela porta, que é a sua pessoa divina; o escopo da sua vinda ao mundo é o dom da vida e salvação plena (v.10). “Eu sou a porta”, Jesus está nos dizendo que somente por ele entramos na cidade de Deus, e somente nele encontramos o abrigo, a segurança e a proteção (cf. Mt 11,28). Ele nos acolhe cada vez que recorrermos a ele: “... quem vem a mim eu não o rejeitarei” (Jo 6,37).


Mas não podemos ficar presos neste sentimento de segurança e de consolo. Temos que nos esforçar para que possamos conhecer o Senhor Jesus e seus caminhos, pois este conhecimento nos leva ao autoconhecimento. Ao conhecer o Senhor e seus caminhos, nós saberemos quem somos nós e quais são caminhos pelos quais temos que passar e seguir. Para conhecer Jesus e seus caminhos nós, como bons rebanhos, precisamos estar sempre com ele: através da oração sem cessar e da meditação da Palavra de Deus para captarmos melhor os sinais da presença de Deus na nossa vida e ao nosso redor.
 

Essa doutrina cristológica contém mensagem de importância excepcional para nossa vida de fé e nossa missão de guia ou pastores. Jesus Cristo é o mediador perfeito em sentido descendente e ascendente; na direção vertical e horizontal. O Pai comunica a revelação de sua vida de amor ao homem por meio de seu Filho (cf. Jo 1,17s); a salvação é dada ao homem somente por meio do Filho unigênito (Jo 3,14ss); a vida divina foi trazida ao mundo por meio de Jesus(Jo 14,6). E o homem pode subir até Deus unicamente por meio do seu Filho, que é a vida (Jo 14,2-6); a vida de comunhão com o Pai só é possível através de Jesus Cristo.
         

Um outro aspecto do discurso é o de ternura ou afetividade: “...as ovelhas escutam a sua voz porque conhecem a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora” (vv.3-4). Jesus se apresenta numa atitude de ternura com as ovelhas. Ternura é amor respeitoso, delicado, concreto, atento e alegre. Ela é amor sensível, aberto à reciprocidade, não ávido nem ganancioso, nem pretensioso ou possessivo, mas forte na sua fraqueza, eficaz e vitorioso, desarmado e desarmante.  Na nossa vida facilmente desvalorizamos a dimensão afetiva. Dedicamos muito mais atenção à dimensão do fazer, do produzir, do ter, esquecendo-nos das outras dimensões ligadas às afetivas. Isto pode acontecer dentro de família, pois cada um acaba correndo atrás de seus compromissos, descuidando de cultivar os relacionamentos afetivos entre as pessoas. Podemos imaginar as conseqüências negativas mais tarde.

P. Vitus Gustama,svd

20/03/2024-Quartaf Da V Semana Da Quaresma

PERMANECER NA PALAVRA DE JESUS QUE LIBERTA PARA SER SALVO DEFINITIVAMENTE Quarta-Feira da V Semana da Quaresma Primeira Leitura: Dn 3,...