sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

14/01/2016

LEPRA FATAL É VIVER SEM AMOR FRATERNO
 
Quinta-Feira da I Semana Comum

Primeira Leitura: 1Sm 4,1-11

1 Naqueles dias, os filisteus reuniram-se para fazer guerra a Israel. Israel saiu ao encontro dos filisteus, acampando perto de Eben-Ezer, enquanto os filisteus, de sua parte, avançaram até Afec 2 e puseram-se em linha de combate diante de Israel. Travada a batalha, Israel foi derrotado pelos filisteus. E morreram naquele combate, em campo aberto, cerca de quatro mil homens. 3 O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: “Por que fez o Senhor que hoje fôssemos vencidos pelos filisteus? Vamos a Silo buscar a arca da aliança do Senhor para que ela esteja no meio de nós e nos salve das mãos dos nossos inimigos”. 4 Então o povo mandou trazer de Silo a arca da aliança do Senhor todo-poderoso, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, acompanhavam a arca. 5 Quando a arca da aliança do Senhor chegou ao acampamento, todo Israel rompeu num grande clamor, que ressoou por toda a terra. 6 Os filisteus, ouvindo isso, diziam: “Que gritaria é essa tão grande no campo dos hebreus?” E souberam que a arca do Senhor tinha chegado ao acampamento. 7 Os filisteus tiveram medo e disseram: “Deus chegou ao acampamento!” E lamentavam-se: 8 “Ai de nós! Porque os hebreus não estavam com essa alegria nem ontem nem anteontem. Ai de nós! Quem nos salvará da mão desses deuses tão poderosos? Foram eles que afligiram o Egito com toda espécie de pragas no deserto. 9 Mas coragem, filisteus, portai-vos como homens, para que não vos torneis escravos dos hebreus como eles o foram de vós! Sede homens e combatei! 10 Então os filisteus lançaram-se à luta, Israel foi derrotado e cada um fugiu para a sua tenda. O massacre foi grande: do lado de Israel tombaram trinta mil homens. 11 A arca de Deus foi capturada e morreram os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias.

Evangelho: Mc 1,40-45

Naquele tempo, 40 um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens, o poder de curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42 No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
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Lepra! Que horrível é a lepra. Ainda hoje o leproso fica marginalizado da sociedade, fechado numa leprosaria. Mas há uma vantagem: a medicina se interessa por ele; a investigação científica busca sua cura. Na época de Jesus não era assim.
         
O evangelho deste dia fala, certamente, da cura de um leproso (cf. Mt 8,2-4;Lc 5,12-16). Naquela época, lepra não se restringia apenas à doença que a medicina moderna chama de lepra. Qualquer doença da pele era considerada como lepra. E todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus, mas a lepra era o próprio símbolo do pecado. A lepra era considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da lepra era, por isso, considerada um milagre, como se fosse uma ressurreição de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra. Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os responsáveis por falsos juramentos e por incestos.
          
Os leprosos eram considerados no AT como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura (eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato com um leproso para não se tornar impuro. Por isso, um leproso, além de sofrer a dor da lepra (fisicamente), sofria também o preconceito (psicologicamente e socialmente), pois era excluído da comunidade por ser impuro. Além disso, era acusado como um grande pecador, porque a lepra era considerada como um grande castigo de Deus. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social imposta pela Lei (Lv.13,45-46).

Precisamos estar conscientes de que as relações familiares e sociais na cultura da época eram muito fortes. Um se confiava no outro e se apoiava mutuamente para resolver as necessidades básicas. Por isso, ser colocado fora da comunidade (neste sentido por causa da lepra) por algum tempo ou por um tempo indeterminado é devastador e uma tristeza sem tamanho. Os riscos para a própria vida se aumentavam. Ao contrário de nossa cultura atual, o individualismo e a auto-suficiência sufocam a convivência e matam a fraternidade.
          
Por isso, podemos entender que apesar de ter consciência de ser leproso (leproso deve ficar distante do resto, cf. Lc 17,12), esse homem leproso se aproxima de Jesus, de joelhos (prostração). A prostração do leproso em pedir a purificação indica todo o fervor do seu pedido e de sua . Sua súplica é uma confissão da sua : “Se queres, podes purificar-me”. O leproso reconhece que Jesus tem o poder para transformar o impossível em possível. O leproso tem consciência de que Jesus pode tudo. O leproso pede o querer de Jesus: “Se queres, podes purificar-me”.

Todos os pedidos que fizermos a Deus devem ter sempre como fundamento a nossa fé no poder de Deus. Não somente crer na cura, mas crer sempre na grandeza, na misericórdia e na soberania de Deus. “Se queres, podes curar-me”. Deus pode tudo. Basta o querer d’Ele. É isto que o leproso pede a Jesus, o Deus que salva.

E Jesus, embora saiba da proibição de fazer contato com qualquer leproso (causa a impureza), estende a mão e o tocou: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado! ’” (Mc 1,41). Por que Jesus tocou o leproso? Por compaixão: “Jesus cheio de compaixão...”. Compadecer-se é sentir com o outro no seu sofrimento a fim de procurar solução para aliviá-lo. As misérias humanas tocam Jesus profundamente. Se no Batismo, Jesus se solidarizou com a multidão de pecadores, também o faz aqui nessa cena com o leproso. Aqui Jesus não se limita apenas nas palavras, mas Ele se aproxima e toca no leproso, pois quer transmitir toda Sua solidariedade. Tocar, abraçar, apertar a mão expressa nossa ternura para com o outro e nossa aproximação. Para Jesus, o leproso não era um marginalizado e sim uma pessoa digna de Sua bondade, capaz de se abrir à misericórdia divina. E o leproso deixa de ser leproso e volta a ser homem normal.

O leproso “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato”. É assim que Marcos concluiu o episódio. Mc apresenta o leproso curado como um verdadeiro anunciador do Evangelho. O leproso purificado se converte em apóstolo e anuncia Jesus a todos. E por isso, “de toda parte vinham procurar Jesus”. O testemunho do leproso curado atrai as pessoas para Jesus. Ninguém resiste diante da bondade. Onde há bondade, onde se encontram as pessoas boas, onde reina a fraternidade, há convivência fraterna e por isso, não há a carência demasiada, pois um cuida do outro; uma pessoa se preocupa com outra pessoa.

O ato dos dois (do leproso e de Jesus) era verdadeiramente audacioso para a sua época. Os dois quebram o costume de longa data. O leproso tem grande vontade de ficar curado e acredita no poder de Jesus. E Jesus, por sua vez, tem compaixão pela miséria do homem, e, por isso, se aproxima do homem e quer integrá-lo à vida normal como qualquer ser humano. O leproso quer voltar a ser uma pessoa normal. E Jesus quer humanizar qualquer excluído e quem o excluiu para conviverem como uma comunidade de irmãos. Os dois se encontram (o leproso e Jesus) que resulta no milagre da cura. O encontro profundo com Jesus transforma qualquer pessoa em pessoa renovada, e purificada de qualquer “lepra” da vida.
         
O Reinado de Deus não exclui ninguém da salvação (cf. At 10,34-35; Mt 5,45). Neste contexto, o leproso personifica a multidão de marginalizados em busca da salvação. E Deus sempre acolhe quem o busca com sinceridade e . Deus não decepciona quem o procura permanentemente. O gesto exterior de Jesus de estender a mão e de tocar no leproso é sua identificação interior profunda com o sofrimento do leproso.

Como foi dito, a lepra era a pior enfermidade na época de Jesus. Ninguém podia tocar nem aproximar-se dos leprosos. Jesus toca o leproso como protesto contra as leis que marginalizam as pessoas.

O evangelho de hoje nos convida a fazermos o exame de consciência sobre como tratamos os marginalizados da sociedade, os “leprosos” de nossa sociedade. O exemplo de Jesus é claro. Ele nunca permaneceu indiferente diante do sofrimento humano. Nós, como cristãos, devemos imitar Jesus. Uma pessoa insensível à dor alheia, ao sofrimento do próximo é uma pessoa violenta. Uma pessoa compassiva faz algo pelo alívio da dor de outras pessoas. “O que um homem sofre em sua própria carne chama-se miséria. O que sofre por simpatia pelo próximo chama-se piedade” (Santo Agostinho: Conf. 3,2). Uma pessoa compassiva sente a dor alheia na própria carne e a apela para fazer algo. “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode” (Santo Agostinho: Serm. 54,2).

Hoje em dia, tudo que tem a ver com a cura física e psicológica é patrimônio da ciência e da civilização. Há muitas maravilhas que se realizam neste campo e há muitas descobertas no campo da saúde. O cristão deve colaborar também nesta área. Porém, o cristão não será curador de seus irmãos, se não libertar-se do mal para libertar os irmãos do mal. É preciso que o cristão volte a ser fiel ao Pai do céu para viver na terra a fraternidade. É necessário que vivamos de acordo com a Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus vivida é capaz de criar comunidade onde há marginalização.
                              
O ato de Jesus de se aproximar do leproso e de tocá-lo nos leva a nos perguntarmos: “Como você se posiciona perante “os leprosos” (marginalizados) da humanidade: fugir, aproximar-se ou procurar erguê-los como Jesus fez?” Ou o nosso coração está cheio de “lepra” faz com que nos afastemos dos outros e afastemos os outros? A “lepraque mata é a vida sem amor pelo próximo: mata quem vive sem amor e mata quem precisa deste amor.

Se queres, podes purificar-me”. Começamos cada Eucaristia com o Ato Penitencial em que pedimos ao Senhor Sua ajuda na nossa luta contra o mal. No Pai-Nosso suplicamos ao Senhor: “Livrai-nos do mal”. E na hora da comunhão, recordamos as palavras do Senhor: “Quem come minha carne e bebe meu sangue  tem a vida eterna”. Também através do Sacramento da Reconciliação, o próprio Senhor sai ao nosso encontro, através de seu ministro (sacerdote) para nos tornar participes de Sua vitória contra o mal. Nossa atitude diante do Senhor da vida não pode ser outra que aquela atitude do leproso: “Se queres, podes purificar-me”. E ouviremos por meio da Igreja a palavra eficaz: Eu quero: fica curado!”, “Eu te absolvo de teus pecados em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

Pai misericordioso e Deus fiel, Vós nos destes vosso Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor. Ele sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas... Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo” (Oração Eucarística VI-D).
                
P. Vitus Gustama,svd

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