terça-feira, 19 de janeiro de 2016

23/01/2016




SER VERDADEIRO PARENTE DE JESUS


Sábado Da II Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: 2Sm 1,1-4.11-12.19.23-27


Naqueles dias, 1 Davi regressou da derrota que infligiu aos amalecitas, e esteve dois dias em Siceleg. 2 No terceiro dia, apareceu um homem, que vinha do acampamento de Saul, com as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Ao chegar perto de Davi, prostrou-se por terra e fez-lhe uma profunda reverência. 3 Davi perguntou-lhe: “Donde vens?” Ele respondeu: “Salvei-me do acampamento de Israel”. 4 “Que aconteceu?”, perguntou-lhe Davi. “Conta-me tudo!” Ele respondeu: “As tropas fugiram da batalha, e muitos do povo caíram mortos. Até Saul e o seu filho Jônatas pereceram!” 11 Então Davi tomou suas próprias vestes e rasgou-as, e todos os que estavam com ele fizeram o mesmo. 12 Lamentaram-se, choraram e jejuaram até a tarde, por Saul e por seu filho Jônatas, e por causa do povo do Senhor e da casa de Israel, porque haviam tombado pela espada. 19 E Davi disse: “Tua glória, ó Israel, jaz ferida de morte sobre os teus montes. Como tombaram os fortes! 23 Saul e Jônatas, amados e belos, nem vida nem morte os puderam separar, mais velozes que as águias, mais fortes que os leões. 24 Filhas de Israel, chorai sobre Saul. Ele vos vestia de púrpura suntuosa e ornava de ouro os vossos vestidos. 25 Como tombaram os fortes em plena batalha! Jônatas foi morto sobre as tuas alturas. 26 Choro por ti, meu irmão Jônatas. Tu me eras tão querido; tua amizade me era mais cara que o amor das mulheres. 27 Como tombaram os fortes, como pereceram as armas de guerra!”


Evangelho: Mc, 3, 20-21


Naquele tempo, 20Jesus voltou para casa com os discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. 21Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si.
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Novamente Jesus se encontra em casa. E a multidão continua a acompanhar Jesus. A multidão não quer largar Jesus. Para essa multidão é que Jesus abre a casa. A “casa de Jesus” é a casa de novo Israel. “Esta casa” representa o coração magnânimo de Jesus onde cabe para todos. É a casa da comunidade de irmãos onde um cuida do outro, um protege outro como irmão. É a casa da fraternidade universal. É ser parente verdadeiro de Jesus. A multidão que se aglomera na casa de Jesus mostra evidentemente descontente com o sistema oficial que cria a marginalização. Essa multidão é a dos marginalizados e pecadores que se sente atraída por tudo que Jesus faz (cf. Mc 3,7-8; 2,15), pois Jesus fala com muita autoridade (cf. Mc 1,22). A presença dessa multidão impede Jesus de passar a mensagem para os Doze recém-constituídos e para os Doze assimilar a mensagem (comer pão: “Nem sequer podiam comer”).


“Os seus” (de Jesus) também partem em busca de Jesus. Eles querem entrar em contato físico com Jesus (cf. Mc 3,9-10.21). Porém, não para segui-Lo e sim para “agarrá-Lo” ou “prendê-Lo”. A expressão “prendê-lo” será usada para falar da paixão tanto de Joao Batista como de Jesus (cf. Mc 6,17: prender João Batista; Prender Jesus: Mc 12,12; 14,1.44.46-49.51). Por isso, o verbo “prender” aqui mostra o comportamento violento dos adversários. A situação de Jesus nos leva à experiência do profeta Jeremias em que é perseguido por seus parentes de Anatot (cf. Jr 11,,18-23; 12,6). A história dos parentes será tomada novamente em Mc 3,31.


O relato enfatiza um dado surpreendente: os parentes de Jesus, ao saber que ele estava fora de si, ou estava louco, eles foram até Jesus para retirá-lo do seu lugar de missão. A loucura era considerada como sinal de possessão diabólica.  Qualificar alguém de louco era uma forma de excluí-lo, anulá-lo e condená-lo. Com Jesus seus inimigos queriam aplicar também essa tática para anulá-lo, e os parentes de Jesus simplesmente acreditavam sem nenhuma verificação. “Os seus” fazem o jogo dos adversários.


Por que tudo isso?


Porque Jesus quis construir uma comunidade cimentada nos valores do amor, da igualdade, da fraternidade, da solidariedade e da justiça. Viver de acordo com a igualdade, a solidariedade e a fraternidade universal significa romper com o modelo de família tradicional e com sistema vigente que oprime, discrimina e exclui. Para Jesus todos têm que se sentir irmãos daqueles que até então eram considerados excluídos, impuros, forasteiros, inimigos, pecadores. Para a mentalidade de então essas pessoas teriam que ser afastadas. Jesus fez o contrário: a casa onde ele se encontrava estava lotada de gente pobre e empobrecida que ele tratava com respeito. Por isso, Jesus não podia estar de acordo com seus parentes que, se deixando levar da qualificação de louco que lhe davam seus inimigos, tratavam de retirá-lo de sua missão.


Sempre sucede o mesmo. O plausível para os homens não é em todo momento o honesto para Deus. O politicamente correto não coincide em muitas ocasiões com eticamente justo. Um profeta diz a seu tempo e contra seu tempo o que Deus lhe manda dizer aos homens mesmo que os homens não concordem. Não é fácil ser profeta. Há que estar muito identificado com Jesus para sê-lo de verdade. Um profeta de verdade sempre termina sua vida como mártir. Ele é crucificado, mas ninguém consegue crucificar a verdade porque a verdade mora na própria consciência do homem. O próprio homem sabe disso e tem consciência disso.


Os parentes de Jesus acreditaram nas fofocas ou comentários maldosos dos inimigos de que Jesus era louco. Por isso, eles foram até Jesus para levá-lo para casa sem perguntar até que ponto esse comentário tinha fundamento. Às vezes, acontece o contrário: aquele que acha que o outro seja louco é muito mais louco do que todos os loucos de verdade. Precisamos nos perguntar também tanto pessoalmente como comunitariamente: Quem é Jesus em quem acreditamos? Por que nos reunimos em Seu nome? Por que celebramos a Eucaristia? porque ele mandou fazer em sua memória? Mas que memória? Vale a pena continuar acreditando e esperando n’Ele?


Jesus é considerado como louco por ser próximo para todos, por ajudar quem está em necessidade; por integrar numa família quem era excluído, por salvar a vida no dia de preceito (Sábado), por lutar pela igualdade, pois todos são filhos e filhas de Deus. Nós que amamos Cristo, nós que escutamos Sua voz e nos comprometemos a viver conforme Seu evangelho também nós podemos ser considerados como loucos, sonhadores e ilusórios pelo mundo. Mas somente aquele que vive verdadeiramente unido a Deus e comprometido com a salvação de todos, poderá fazer seu o caminho de Cristo e jamais vai usar o Evangelho para o proveito próprio. Ao contrário, ele saberá ir ao encontro dos que falharam na vida moral ou eticamente para fazer todos eles aproximarem-se do perdão e do amor de Deus; saberá ir ao encontro das pessoas que sofrem para manifestar-lhes a misericórdia divina não somente com palavras e sim com a própria entrega, com obras que lhes ajudam a viver uma vida digna. Sejamos essa Igreja do Senhor que vive não para servir-se do Evangelho e sim para estar a serviço do Evangelho até as últimas consequências. Deus espera de nós uma vida de totalmente comprometida com o Evangelho. É preciso criarmos a “casa de Jesus” onde reina a fraternidade e o amor circula livremente entre seus membros. A bondade atrai e ninguém resiste diante da fraternidade cheia de amor.


P. Vitus Gustama,svd

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