quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

13/02/2016




CONVERTER-SE PARA TORNAR-SE MISERICORDIOSO


Sábado depois das Cinzas


Primeira Leitura: Is 58,9b-14


Assim fala o Senhor, 9b se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; 10 se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. 11 O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão. 12 Teu povo reconstruirá as ruínas antigas; tu levantarás os fundamentos das gerações passadas: serás chamado reconstrutor de ruínas, restaurador de caminhos, nas terras a povoar. 13 Se não puseres o pé fora de casa no sábado, nem tratares de negócios em meu dia santo, se considerares o sábado teu dia favorito, o dia glorioso, consagrado ao Senhor, se o honrares, pondo de lado atividades, negócios e conversações, 14 então te deleitarás no Senhor; eu te farei transportar sobre as alturas da terra e desfrutar a herança de Jacó, teu pai. Falou a boca do Senhor.


Evangelho: Lc 5,27-32

Naquele tempo, 27Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. 28Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu. 29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?” 31Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.


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No evangelho deste dia, Jesus convida o publicano Levi (Mateus) a segui-Lo. Convidar aqui tem um sentido de abandonar a vida passada escura para viver uma vida com sentido sendo parceiro do bem. O coração de Levi sente tocado pelo convite de uma pessoa que o quer bem: o convite do próprio Salvador, Jesus Cristo.  E o publicano se levanta, abandona tudo e vai seguir Jesus. Levi oferece um grande banquete para celebrar sua conversão. Conversão e alegria andam juntas. É a alegria de ser livre dos apegos. É a alegria de ser libertado das garras do poder e da ganância. A conversão é a alegria de dizer: “Venci meu vício. Agora estou livre”. Este tema é enfatizado também pelo profeta Isaias na primeira leitura (Is 58,9-14): “Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. Essas palavras se tornaram realidade para Levi.


As palavras do profeta Isaias são sugestões que podem nos ajudar no esforço que a Quaresma nos pede: pôr suavidade e bondade em todas as nossas relações..., estar atentos às necessidades dos outros, especialmente aos dos necessitados para fazer-lhes mais felizes. É esquecer um pouco nossas preocupações, nossos assuntos, demasiado humanos e egocêntricos para considerar os assuntos de Deus que são assuntos para o bem da humanidade e de nossa salvação. É abandonar nossa vontade de mandar nos outros para começar a dialogar sobre o que é digno para ser vivido em conjunto como irmãos e irmãs da mesma família de Deus. É parar de explorar o outro, pois faço parte também da humanidade. É parar de cobrar dos outros tudo que não devia ser cobrado para aprender a viver na honestidade. É ser “novo Levi” capaz de ver a vida num horizonte novo, de ver o outro como irmão. Acima de tudo ser misericordioso para com os outros a exemplo de Jesus. Jesus mostra sua misericórdia a Levi e o chama para segui-Lo. Misericórdia é abrir o coração ao miserável. A misericórdia é a atitude de Deus diante de nós pecadores, pois sozinhos jamais poderíamos sair de nossa miséria. Mas com sua misericórdia, Deus nos abraça com filhos e filhas seus. Ao aplicar a misericórdia para os outros, estaremos nos revestindo da atitude divina.


1. Jesus Chama Cada Um Para Levar Adiante Tudo Que Salva a Humanidade


No evangelho deste dia Jesus convida o publicano Levi (Mateus) a segui-Lo: “Segue-me”.  E o publicano se levantou, deixou tudo e seguiu a Jesus.


Seguir significa “ir atrás”. É deixar Jesus na frente para não perder a direção. Esteir atrás” significa adotar a atitude do Mestre. É viver uma dedicada vida para o bem de todos. É escutar as lições do Mestre e imitar seu exemplo de vida. Para isso, o discípulo tem que estar ligado totalmente ao Mestre. É preciso estar no lugar de discípulo (atrás) para poder aprender e não no lugar do Mestre (na frente) para não perder o rumo.  Simão Pedro foi chamado de Satanás (tentador) porque estava querendo ficar na frente do Mestre, isto é, atrapalhar o projeto de Deus em Jesus (cf. Mc 8,32b-33). É preciso aderir a Jesus e ao seu projeto. Essa adesão total ao Mestre pode ser chamada de “inseparável da conversão. Ser verdadeiro seguidor é aquele que sempre deixa Jesus na frente para não ficar perdido na vida e na missão. No momento em que deixarmos Jesus de lado ou de trás, perderemos o horizonte de nossa vida e missão. Devemos estar conectados permanentemente a Jesus e fixar nosso olhar para Ele.


Jesus chama cada um no lugar onde se encontra, no lugar onde trabalha como Levi. Jesus chama as pessoas normais. Levi não é uma pessoa perfeita nem um super-homem. Ele é um cobrador de impostos e por isso, é um ladrão público. Um publicano é uma pessoa desclassificada e considerada como pecador. Por isso, ele é excluído da vida social. Todos odiavam essa profissão, pois explorava o povo para se enriquecer ilicitamente.


Mas Jesus é o Deus-Conosco e o Deus da misericórdia. Ao chamar Levi para segui-lo, Jesus se apresenta como Aquele que veio não para os justos, mas para todos os que pecaram para que estes se convertam. Jesus é Aquele que vai ao encontro dos que são excluídos por causa do seu presumível pecado. Não só vai ao encontro deles, mas também come com eles. Comer junto significa nivelar os relacionamentos. Porque Jesus veio para os pecadores, em vez de se afastar de Levi Jesus se aproxima dele, pois para Deus nãofilhos de segunda classe. Todos são iguais. Deus se aproxima de cada um, pois para cada um de nós Deus tem alguma proposta ou alguma missão neste mundo. Esta atitude se chama a misericórdia.


Ao ouvir atentamente a Palavra da vida eterna (cf. Jo 6,68) Levi não resiste, pois a salvação é muito mais importante do que qualquer riqueza e profissão no mundo. Levi deixa o poder divino operar na sua fraqueza de pecado sem temor. Aqui se traça o caminho do verdadeiro discípulo: encontrar-se pessoalmente com o Senhor, ouvir atentamente sua Palavra e ir atrás do Senhor incondicionalmente que supõe o abandono da maneira de viver anterior. Levi abandonou tudo, pois encontrou tudo e permaneceu com o Tudo que é o Senhor do Universo. Levi ganhou tudo em Jesus Cristo. Depois que conheceu Jesus Cristo, São Paulo escreveu: Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo” (Fl 3,8b). o Pecado não é mais barreira para a salvação, pois Aquele que vem perdoa o pecado: Jesus, Deus salva.


2. Banquete É O Momento Da Comunhão, Do Amor Fraterno


Levi oferece um grande banquete para celebrar sua volta para o caminho da felicidade com Deus (conversão). Os convidados do banquete são Jesus para honrá-Lo, seus discípulos e os amigos de Levi. O banquete é o momento familiar onde todos se igualam e se alimentam da mesma refeição. É o momento de fraternidade e de alegria em conjunto. É o momento de uma conversa fraterna onde todos têm voz e vez.


Para a mentalidade judaica, o banquete é o lugar do encontro, da fraternidade, da igualdade onde os convivas estabelecem laços de família e de comunhão mais profundos e íntimos. Para os judeus, como para os orientais, em geral, na época, comer juntos constituía o sinal evidente e mais valioso de amizade e comunhão, não somente num nível simplesmente humano, mas também no plano religioso. Por isso, os judeus evitavam o contato na refeição com os membros pecadores de seu povo.


Jesus se comportou de forma diferente: não somente chamou Levi, o publicano; não somente ofereceu o perdão aos que, até então, eram pecadores, mas também fez refeição com eles e compartilhou sua amizade.


Mas por muito humana que pareça a atitude de Jesus, por misericordioso que seu gesto possa apresentar-se, constitui diante dos olhos dos seus contemporâneos causa de escândalo. Na verdade, ao fazer isso, Jesus se colocou no lugar de Deus, levando o sinal de sua graça e comunhão aos perdidos e culpáveis deste mundo: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.


É preciso nos recordar que as refeições de Jesus com os homens, especialmente com os pecadores convertidos são um sinal e antecipação do banquete pleno no Reino.


O símbolo mais apropriado do Reino de Deus é o banquete, pois se estabelecem a fraternidade, a comunhão e o amor sem limites. Não é por acaso que um dos sacramentos instituídos por Jesus o Sacramento da Eucaristia (da refeição). A Eucaristia é a celebração da comunhão, da fraternidade, da igualdade, da família. É um dos momentos de nossa humanização, isto é, para nos tornarmos mais humanos, mais fraternos, mais familiares. Ao sair de cada celebração eucarística devemos ser mais humanos, mais fraternos; devemos pensar mais no outro, pois o outro é o nosso irmão.


Os fariseus não entendem isso e criticam o comportamento de Jesus de se aproximar do publicano e de fazer banquete com ele. Como os fariseus nós também podemos ficar numa atitude de auto-suficiência, achando que não precisamos do dom de Deus porque cumprimos os mandamentos, e achamos que Deus não tenha outra solução senão salvar-nos. E nos esquecemos de que a conversão é uma carreira inacabada. Além disso, quem não tem o amor fraterno no coração, como os fariseus, jamais entende o que é o Reino de Deus, e desprezará a importância da conversão. A conversão é o encontro de dois amores: o amor eterno de Deus por mim e eu voltei a amar esse Amor eterno que me faz feliz neste mundo e me devolve a minha dignidade como filho amado de Deus. A conversão é o início do caminho da felicidade.


A quaresma é o tempo forte liturgicamente para dedicar um tempo para a reflexão e a oração. É o tempo para ouvir um pouco nossas preocupações, nossos assuntos demasiados humanos para levar em consideração os assuntos de Deus para nossa própria salvação.


“Ajude-me, Senhor, a destruir meus instrumentos de opressão, e a deixar os meus hábitos autoritários, a linguagem maldosa que sempre emiti, o olhar que condena, o comportamento que exclui os irmãos. Dê-me um pouco de Sua misericórdia para acolher de coração aberto o indigente e prestar todo socorro ao necessitado, para que possa nascer na minha vida a Vossa Luz. Que minha mão seja Sua mão estendida para todas as pessoas em cujo caminho me coloco. Que Seu convite para abandonar tudo que não presta para o bem comum ressoe permanentemente no meu coração, e que não perca tempo nem demore em seguir Sua voz, Senhor. Dê-me, Senhor, a força para seguir adiante atrás de Seus passos para que um dia possa experimentar também Sua Ressurreição. Amém!”.


“Ó Deus eterno e todo-poderoso, olhai com bondade a nossa fraqueza e estendei, para proteger-nos, a vossa mão poderosa. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo” (Coleta do dia).


P. Vitus Gustama,svd

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