terça-feira, 15 de março de 2016

16/03/2016




JESUS É A VERDADE QUE NOS LIBERTA


Quarta-Feira da V Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Dn 3, 14-24.49.91-92.95


Naqueles dias, 14 O rei Nabucodonosor tomou a palavra e disse: 'É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15 E agora, quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos? 16 Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: 'Não há necessidade de te respondermos sobre isto: 17 se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18 Mas, se ele não quiser libertar-nos,fica sabendo, ó rei, que nós não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer'. 19 A estas palavras, Nabucodonosor encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo que de costume; 20 e encarregou os soldados mais fortes do exército para amarrarem Sidrac, Misac e Adbênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente. 24 Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a Deus e bendizendo ao Senhor. 49ª Mas o anjo do Senhor tinha descido simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91 O rei Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente, e perguntou a seus ministros: 'Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio do fogo?' Responderam ao rei: 'É verdade, ó rei'. 92 Disse este: 'Mas eu estou vendo quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus.' 95 Exclamou Nabucodonosor: 'Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago, que enviou seu anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro Deus que não fosse o seu Deus.


Evangelho: Jo 8, 31-42


Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.  33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?”  34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”. Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”. (Jo 8,31-42)


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Só Em Deus É Encontrado o Sentido Da Vida


Nos tempos de Antíoco IV Epifânio, os judeus eram obrigados a adorar os deuses pagãos e a seguir as leis ou prescrições que Antíoco lhes dava. Os mais piedosos não obedeceram à ordem do rei. Conseqüentemente, alguns foram torturados, inclusive os três jovens que se encontram na Primeira Leitura de hoje.


Os “três jovens” do livro de Daniel são extraordinariamente valentes. Eles encontram o sentido de sua vida em Deus, e por isso, não aceitam a ordem para adorar os deuses pagãos, pois eles encontraram em Deus sua razão de viver.  Em nome de nada podemos abrir mão de nossos valores. Tem valores, que apesar dos problemas e dificuldades, que não podemos abrir mão. Precisamos depositar nossa confiança em Deus em qualquer situação. Sempre há providencia divina, como o anjo que Deus mandou libertar os três jovens, seus justos. “É preciso obedecer a Deus (viver conforme os valores) antes de obedecer aos homens” (At 5,29). O Deus que libertou os três jovens do fogo de um forno, também nos libertará de qualquer sufoco. Deus nunca abandona quem Lhe é fiel. Basta crer n’Ele. É preciso crer n’Ele. Não tenha medo nem dúvida de crer n’Ele. É preciso continuar a vivermos de acordo com a bondade de Deus. “Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura” (Papa Francisco). É preciso nos manter justos, como os três jovens do livro de Daniel.


Os justos são aqueles que em meio do fogo das provas e perseguições mantêm a fidelidade e a confiança em Deus, que os faz livres. Os três jovens são imagem do povo fiel que persevera na alegria apesar das dificuldades porque sabem em quem acreditam e se apóiam: em Deus. Se soubermos em quem acreditamos e que Aquele em quem acreditamos está acima de tudo, as tribulações, as angústias, as provas perderão suas forças contra nós ou diante de nós. Deus ajuda os fieis e lhes dá força de que necessitam na luta contra o mal. Por isso, os três irmãos são livres de tudo.


Jesus é a Verdade Que Liberta


No evangelho lido neste dia destacam-se três temas fundamentais: a fidelidade, a liberdade e a filiação. Seguir Jesus implica manter-se fiel à Sua Palavra, de modo que o verdadeiro cristão já não é somente aquele que crê, mas, sobretudo, aquele que escuta, vive e dá testemunho da Palavra. A Palavra de Deus leva o cristão a conhecer a verdade.


“Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”. No Evangelho de João, a verdade designa, em primeiro lugar, a realidade divina enquanto se manifesta e pode ser conhecida pelo homem. E o que o homem conhece ou percebe é amor sem limite de Deus pela humanidade (cf. Jo 3,16).  Este amor é a verdade de Deus o amor leal de Deus pela humanidade é uma atividade vivificante (Jo 6,63), própria da vida. A verdade divina é vida que se define pela atividade de amor. Amar a alguém equivale a lhe dizer: “Tu nunca morrerás, pois ´Deus é amor´”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6) em virtude de nele residir plenamente a realidade divina. Jesus é o Deus encarnado (Jo 1,14). Nele se encarna plenamente o amor de Deus pela humanidade.


Por isso, São João não fala de uma verdade abstrata com que o homem encontra e satisfaz seu desejo de saber. Mas trata-se da máxima verdade concreta na pessoa de Jesus. Para são João a verdade é vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus na vinculação profunda com Deus. Por isso, Jesus não é somente o Mestre de uns princípios verdadeiros, nem é somente o Portador de uma verdade de revelação que pode expor-se como uma doutrina, mas sim, Jesus é, pessoalmente “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).


Para o homem a única verdade é a plenitude de vida; trata-se de ter uma vida de qualidade humana e divina, ao mesmo tempo, que contém no projeto de Deus realizado em e por Jesus. Por isso, aqui a verdade não é somente no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro conhecimento intelectual da verdade, mas aqui trata-se da claridade suprema daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último sobre si mesmo que, por conseguinte, possibilita um conhecimento salvífico. E essa verdade está orientada para a ética, a vida e o amor. O feito dessa verdade é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Deus e em Jesus Cristo. Trata-se da experiência de salvação e da experiência de libertação.


A Palavra de Jesus é como um espaço vital em que o homem há de manter-se sempre. A Palavra de Jesus é como um sinal para a vida dos cristãos: o sinal único e definitivo. É a norma suprema na qual o cristão aposta sua vida e sua salvação, pois a Palavra de Deus será a ultima palavra para o homem.  Trata-se da Palavra de vida eterna (cf. Jo 6,68).


Para o cristão fiel Jesus promete o conhecimento da verdade e da liberdade: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.  Como foi dito anteriormente, para João a verdade está vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus, pois ele é “o Caminha, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O efeito imediato da experiência do cristão da verdade é a libertação e a liberdade.  Mas não se trata de uma libertação política ou social, mas trata-se da libertação definitiva diante das potências da morte, do pecado, das trevas às quais o homem sucumbe. Trata-se da libertação do homem de si mesmo. Esta é a liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Jesus. No fundo se identificam experiência de salvação e experiência de liberdade. Por isso, a liberdade que Jesus comunica ultrapassa a mera possibilidade de opção, mas situa o homem na sua verdadeira dignidade: o faz partícipe da liberdade do Pai.                                                                                      


Jesus é perfeitamente livre, porque é perfeitamente Filho. Ama seu Pai. Fala dele sem cessar. É livre porque ama: não está apegado a si mesmo. Jesus é livre diante de sua família, dos seus discípulos, das autoridades. É livre para anunciar e denunciar. Segue seu caminho com fidelidade, com alegria, com liberdade interior. Quando estava no meio do julgamento, Jesus era muito mais livre do que o próprio Pilatos. Nada lhe detém. Não há nenhum egoísmo, nenhum obstáculo ao amor. Isto significa que o amor de Deus vivido profundamente faz o cristão livre de tudo, como Jesus Cristo. É o único meio de não estar submetido a nada. Ser livres significa ser filhos, não escravos, na família de Deus. Para João, pecar é converter-se em escravo: ter por pai o “pai da mentira”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6), e por isso, só ele pode dar a verdadeira liberdade.


Celebrar a Páscoa é celebrar a liberdade dada pelo Senhor ressuscitado. A Páscoa de Jesus quer ser para nós um crescimento na liberdade interior, pois a Páscoa é a festa da libertação. Em meio de um mundo que nos oferece muitos “valores”, mas também nos tenta com contra-valores que nos levam irremediavelmente à escravidão, Jesus nos convida a sermos livres. Para viver em Deus, como filhos e filhas, não basta querer, pedir e buscar liberdade econômica, política, cultural, religiosa; é indispensável a libertação do pecado. É preciso para de fazer o outro sofrer e a si mesmo. É preciso saber se cuidar para poder cuidar dos demais. “Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!” (Papa Francisco).


A Quaresma é um tempo com um objetivo de libertar a homem de suas escravidões. Por isso, vale a pena cada um se perguntar: De que atadura eu devo me libertar? Que cadeias da minha vida que eu preciso romper para respirar o ar da liberdade na graça de Deus? Jesus é perfeitamente livre, porque é perfeitamente Filho. Ele ama Seu Pai e fala dele sem cessar. Jesus é livre porque ama (cf. Jo 13,1). Ele não se apega a si mesmo. A vida dele é uma total doação para o bem da humanidade, especialmente para os necessitados, os excluídos, marginalizados, abandonados e assim por diante. Jesus nunca dificulta o amor.


P. Vitus Gustama,svd

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