sábado, 28 de maio de 2016

30/05/2016



DEUS ME AMA ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS


Segunda-Feira da IX Semana Comum


Primeira Leitura: 2Pd 1,2-7


Caríssimos, 2 graça e paz vos sejam concedidas abundantemente, porque conheceis Deus e Jesus, nosso Senhor. 3 O seu divino poder nos deu tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que, pela sua própria glória e virtude, nos chamou. 4 Por meio de tudo isso nos foram dadas as preciosas promessas, as maiores que há, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de libertos da corrupção, da concupiscência no mundo. 5 Por isso mesmo, dedicai todo o esforço em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, 6ª o conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, 7 à piedade o amor fraterno e ao amor fraterno, a caridade.


Evangelho: Mc 12,1-12


Naquele tempo, 1Jesus começou a falar aos sumos sacerdotes, mestres da Lei e anciãos, usando parábolas: “Um homem plantou uma vinha, cercou-a, fez um lagar e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou a vinha a alguns agricultores, e viajou para longe. 2Na época da colheita, ele mandou um empregado aos agricultores para receber a sua parte dos frutos da vinha. 3Mas os agricultores pegaram o empregado, bateram nele, e o mandaram de volta sem nada. 4Então o dono mandou de novo mais um empregado. Os agricultores bateram na cabeça dele e o insultaram. 5Então o dono mandou ainda mais outro, e eles o mataram. Trataram da mesma maneira muitos outros, batendo em uns e matando outros.6Restava-lhe ainda alguém: seu filho querido. Por último, ele mandou o filho até os agricultores, pensando: ‘Eles respeitarão meu filho’. 7Mas aqueles agricultores disseram uns aos outros: ‘Esse é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. 8Então agarraram o filho, o mataram, e o jogaram fora da vinha. 9Que fará o dono da vinha? Ele virá, destruirá os agricultores, e entregará a vinha a outros.10Por acaso, não lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores deixaram de lado tornou-se a pedra mais importante; 11isso foi feito pelo Senhor e é admirável aos nossos olhos’?” 12Então os chefes dos judeus procuraram prender Jesus, pois compreenderam que havia contado a parábola para eles. Porém, ficaram com medo da multidão e, por isso, deixaram Jesus e foram-se embora.
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Somos O Que Somos Pela Graça de Deus


Graça e paz vos sejam concedidas abundantemente, porque conheceis Deus e Jesus, nosso Senhor”, assim São Pedro iniciou sua Segunda Carta.


Uma das saudações no início da celebração eucarística é esta: “A graça e a paz de Deus, nosso Pai, e de Jesus Cristo, nosso Senhor, estejam convosco”. A cada participante da celebração são desejadas a graça e a paz.


Graça e paz resumem os bens da salvação que são dadas ao cristão e que são lembradas nas nossas celebrações. O termo “graça” significa benefício absolutamente gratuito, livre e sem motivo (cf. Ex 33,19; 34,6; 33,12). Para cada cristão é desejada a graça, isto é, a benevolência de Deus. Na graça se encontra nossa identidade mais profunda, pois somos salvos pela benevolência de Deus. São Paulo escreveu: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1Cor 15,10). E esta benevolência nos torna novamente agradáveis a Deus: “O seu divino poder nos deu tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que, pela sua própria glória e virtude, nos chamou (2Pd 1,3).  O Deus da Bíblia não só nos concede graça, mas Deus é graça (cf. Ex 33,19; 3,14). Deus existe para si e também existe para nós. Deus é graça.


São Pedro também deseja a paz. A palavra “paz” é uma tradução da palavra “Shalom” que é uma harmonia total com Deus, com o próximo, consigo próprio e com a natureza. É tudo de bom de nossa vida. A paz, “Shalom” é concedida para nós por Cristo em nova glória. Esta paz cria a ordem para nossa interioridade e a comunhão entre os homens. Onde há paz, há ordem. A ordem existe quando cada elemento ocupa seu lugar e desempenha seu próprio papel em prol do funcionamento da totalidade.


Esses dons, graça e paz, devem ser aumentados pelo conhecimento e a experiência  que fazemos com Jesus Cristo. O convívio permanente com Jesus Cristo no amor aumenta graça e paz na nossa vida: “Graça e paz vos sejam concedidas abundantemente (se multiplicam), porque conheceis Deus e Jesus, nosso Senhor”. Alcançamos graça e paz pelo conhecimento daquele que nos chamou: Jesus Cristo.


O convívio permanente com Jesus Cristo nos coloca longe da corrupção do mundo: “Por meio de tudo isso nos foram dadas as preciosas promessas, as maiores que há, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de libertos da corrupção, da concupiscência no mundo” (2Pd 1,4). Participar da natureza divina é participar da própria vida de Deus. À participação da natureza divina se opõe a corrupção, como à vida eterna se opõe a morte eterna, isto é, exclusão da salvação. Cai  na corrupção quem cede à concupiscência: “Quem pretende ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4,4). Quem procurar seguir sempre seus desejos, quem desejar bastar-se a si mesmo e ser independente de Deus, cairá na perdição e fica distante de Deus.


São Pedro, na Primeira Leitura de hoje, pede a todos o empenho para poder permanecer na graça e na paz: “Dedicai todo o esforço em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, o conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraterno e ao amor fraterno, a caridade” (2Pd 1,6-7).


A fé plena é entrega de si mesmo à Palavra e à vontade de Deus. A fé é a raiz da vida cristã. Da fé brota a virtude. Virtude é uma disposição adquirida de fazer o bem. A virtude em si é o próprio bem. Virtude é o esforço para se portar bem. Tem virtude aquele que cumpre a vontade de Deus.


É preciso acrescentar o conhecimento à virtude. Conhecer não é apenas aprender intelectualmente, mas aprofundar-se no amor. O agir correto, o esforço de fazer o bem aumenta nosso conhecimento. Sob a luz divina enxergamos de modo diferente as coisas e os acontecimentos ao nosso redor e o seu sentido.


O conhecimento se alcança através da perseverança, isto é, a capacidade de resistir em função da meta a ser alcançada. Quem aprende a dominar-se, também tem capacidade de lutar até o fim. Os bens elevados somente podem ser alcançados pelo esforço e pela luta sustentados com ânimo forte.


Mas somente conseguirá honrar verdadeiramente Deus aquele que tem piedade, aquele que se mantém filho de Deus, aquele que se conserva firme no combate contra o prazer desordenado e contra as potências que se opõem a Deus.


Mas não basta ter piedade. É preciso acrescentar a caridade fraterna na piedade. A verdadeira caridade se comprova na caridade operosa, como o amor recíproco na comunidade, a solicitude para com os outros, na bondade silenciosa. Se amarmos os outros no espirito de Cristo, chegaremos à plenitude do amor semelhante ao amor que Deus possui. A caridade é o “vínculo da perfeição” (Cl 3,14), pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).


Deus Nos Ama Incondicionalmente


O profeta Jeremias, Ezequiel, Isaias (especialmente Is 5,1-7) e os Salmos chamam Israel “a vinha do Senhor”. A parábola que Jesus conta é introduzida perfeitamente nessa linha profética e serve para contestar às duas perguntas que as autoridades judeus fizeram a Jesus: “Com que autoridade fazes tudo isso? Quem te deu essa autoridade?”. Jesus contesta relatando com imagens toda a história de Seu povo e oferece também aos seus discípulos e, portanto, para todos os cristãos, a possibilidade de saber quem somos nós para Ele. Através desta parábola Jesus respondeu à primeira pergunta: “Com a autoridade do Servo de Deus, com a autoridade do Filho de Deus”. E para a segunda pergunta, Jesus respondeu através desta parábola: “Quem deu essa autoridade é o Dono da vinha, o Deus de Israel, que é meu Pai”.


O texto do evangelho deste dia nos diz: “Agora restava ainda alguém: o filho amado. Por último, então, enviou o filho aos agricultores, pensando: ‘A meu filho respeitarão’. Mas aqueles agricultores disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Agarraram o filho, mataram e o lançaram fora da vinha” (Mc 12,6-8). 


Restava ainda alguém: o filho amado”. É uma expressão que nos desconcerta toda vez que a lemos e sobre a qual refletimos e meditamos. Parece que Deus fica à margem da pobreza. Resta apenas o próprio Filho. Mais nada! Por causa dos homens e por causa do Seu amor sem limites pelos homens Deus usa todos os recursos e todas as possibilidades. Os recursos se esgotaram. Agora resta apenas seu Filho. Deus é verdadeiramente o pobre por excelência, porque nos deu tudo. Até seu próprio Filho, o ultimo que restou. Significa que Deus nos toma a sério e deixa o campo livre para que atuemos com plena responsabilidade. Mas Deus é impotente diante da liberdade do homem. O homem é responsável pela sua própria escolha. No momento em que o homem não respeitar as regras e as placas da vida que apontam para sua plena realização e para a eternidade, ele perderá sua liberdade e cairá em uma série de prisões e escravidões.


Não há pai que entregue seu filho amado para os criminosos a fim de resgatar algo ou alguém. Deus é diferente, o Diferente por excelência. Ele entrega seu Filho amado como resgate a fim de o homem ficar livre do cativeiro da perdição e da maldição (cf. Mt 20,28; Mc 10,45; Gl 3,13; 1Tm 2,6). É muito difícil entender e compreender a atuação de Deus. Até o salmista faz esta pergunta retórica: “Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que criaste: Quem é o homem, para dele te lembrares, quem é o ser humano, para o visitares? Ó SENHOR, Senhor nosso, como é glorioso o teu nome em toda a terra!” (Sl 8, 4-5.10). Somente quando calarmos nossa mente, o nosso coração vai começar a compreender tudo que Deus faz por nós e vai haver uma adequada correspondência de nossa parte.


Jesus é verdadeiramente o último, o “eskatos”, da perspectiva de Deus.  Não é o último em relação ao tempo, não o último de uma série de intentos. O último quer dizer o definitivo, tudo. Depois do qual não fica mais nada. Agora Deus é verdadeiramente o pobre por excelência. Pobre porque deu tudo. Em sua incurável paixão pelos homens não ficou com nada, nem com o seu próprio Filho.


A conduta dos lavradores se julga durante a ausência do patrão. O patrão confia tudo nos lavradores e por isso, não precisa estar presente. O Deus da confiança é também o Deus da ausência. Mas há que compreender exatamente esta ausência. Não se trata nem de abandono, nem de evasão nem de deserção. É um sinal de amor. É um Deus que pretende atuar exclusivamente através do amor, pois este caminho é que leva o homem à sua plenitude, à eternidade. Cristo morreu perdoando o homem.


“’Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Agarraram o filho, mataram e o lançaram fora da vinha”. Deus não manda Seu Filho para a morte: Ele o ama incondicionalmente. Por outro lado, a morte é um mal e o Deus da vida não pode querê-la. Por isso, quem mata ou assassina comete pecado; vai contra a vontade de Deus. O castigo não cai sobre a vinha e sim sobre os guardiões. A vinha do Senhor seguirá, mas será um novo Israel, um novo Povo de Deus, o verdadeiro templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17) que tem como centro Jesus Cristo. Jesus morto e recusado pelos sumos sacerdotes, os escribas, e os anciãos, e ressuscitado pelo Pai, se converte em fundamento de um novo povo que é, ao mesmo tempo, continuação do antigo: a vinha passa a outros. Antigo e novo coexistem. As primeiras comunidades cristãs estavam compostas principalmente por judeus, isto é, pelo resto fiel de Israel que acolheu Jesus como Messias e Filho de Deus e por muitos que provinham do mundo pagãos e formavam com, como o resto de Israel, o novo e definitivo povo de Deus. O novo é realmente, com Jesus, a casa do Pai para todos os povos. É uma das mensagens do evangelho deste dia.


Cada um precisa entrar no silêncio sagrado para meditar sobre o amor de Deus por cada um e a resposta de cada um diante desse amor. Será que sou ingrato diante do amor de Deus? Será que sou irresponsável na minha atuação como pessoa amada de Deus? Será que eu vivo de acordo com o amor com que Deus me ama? Será que sou capaz de dar tudo por amor?


P. Vitus Gustama,svd

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