terça-feira, 10 de janeiro de 2017

12/01/2017

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“LEPRA” QUE MATA É VIVER SEM AMOR FRATERNO


Quinta-Feira da I Semana do Tempo Comum


Primeira Leitura: Hb 3,7-14


Irmãos, 7 escutai o que declara o Espírito Santo: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, 8 não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto, 9 onde vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, 10 embora vissem as minhas obras, durante quarenta anos. Por isso me irritei com essa geração e afirmei: sempre se enganam no coração e desconhecem os meus caminhos. 11 Assim jurei na minha ira: não entrarão no meu repouso”. 12 Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. 13 Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado – 14 pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial.


Evangelho: Mc 1,40-45


Naquele tempo, 40 um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens, o poder de curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42 No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
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Somos Chamados a Ser Fiéis Ao Senhor Permanentemente


Não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto... Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado –pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial”, assim a Primeira Leitura nos alerta.


Como fez São Paulo em 2Cor 10, o autor da Carta aos hebreus faz uma ampla alusão às murmurações de Israel no deserto (cf. Sl 94/95,7-11; Ex 15,23-24; Nm 20,5) para alertar os cristãos-hebreus, aos quais se dirige a Carta. A murmuração era uma tentação séria. Murmurar equivalia para os hebreus no deserto não aceitar seu estado de nomadismo pelo deserto rumo à Terra prometida. Murmurar seria voltar para o passado de escravidão. Murmurar seria recusar a perceber a presença de Deus na situação atual para se refugiar num sonho em que Deus fosse supostamente mais encontrável.


Sem dúvida, o autor da Carta aos hebreus percebe que os cristãos-hebreus para quem a Carta é dirigida vivem murmurando pela situação na qual vivem. Daí a exortação: “Não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto... Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.


O autor da Carta fala sobre o coração. O coração simboliza para a grande maioria das culturas, o centro da pessoa onde gira a unidade e se funde a múltipla complexidade de suas faculdades, dimensões: o espiritual e o material, o afetivo e o racional, o instinto e o intelectual. O coração é o centro de nosso ser, a fonte de nossa personalidade, o motivo principal de nossas atitudes e escolhas livres, o lugar da misteriosa ação de Deus.  Através de suas escolhas, de seu comportamento diariamente, todos vão perceber se você é uma pessoa com coração ou sem coração. Muitos tem sabedoria na cuca, mas ignorantes de coração; sábios intelectualmente, mas pobres de coração. Para o homem antigo ter coração equivale a ser uma personalidade íntegra.


A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha: “... animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado”.


Nos seis primeiros versículos de Hb 3 o autor da Carta começa a propor a contemplar a fidelidade de Jesus Cristo. Jesus Cristo se manteve fiel a Deus na missão de “construir a casa como Filho”, isto é, de salvar os homens pela entrega total de si mesmo até a morte (cf. Jo 13,1). A partir da fidelidade de Jesus, o autor exorta aos cristãos, da segunda geração, à fidelidade própria. É a segunda geração, pois trata-se de uma geração que não conheceu Jesus com os olhos da carne: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.


Nós somos os cristãos da segunda geração. É uma geração que se tornou cristã. Qual é o ambiente que reina em qualquer geração que se tronou cristã? É a negação, a despreocupação, a típica indiferença de que se sabe cristã e nunca pensou em abandonar a fé cristã precisamente porque já não lhe preocupa. É a situação de mediocridade totalmente contrária à conversão permanente que pode terminar na apostasia. Por isso, o autor exorta: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”. A incredulidade pode esconder-se no coração na maior tranquilidade do mundo. É um problema de fé.


Jesus Quer Nos Curar De Nossas “Lepras” Que Discriminam e Excluem As Pessoas


Lepra! Que horrível é a lepra. Ainda hoje o leproso fica marginalizado da sociedade, fechado numa leprosaria. Mas há uma vantagem: a medicina se interessa por ele; a investigação cientifica busca sua cura. Na época de Jesus não era assim.


O evangelho deste dia fala, certamente, da cura de um leproso (cf. Mt 8,2-4; Lc 5,12-16). Naquela época, lepra não se restringia apenas à doença que a medicina moderna chama de lepra, mas qualquer doença da pele era considerada como lepra. E todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus, mas a lepra era o próprio símbolo do pecado. A lepra era considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da lepra era, por isso, considerada um milagre, como se fosse uma ressurreição de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra. Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os responsáveis por falsos juramentos e por incestos 


Os leprosos eram considerados no AT como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura (eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato com um leproso para não se tornar impuro. Por isso, um leproso, além de sofrer a dor da lepra (fisicamente), sofria também o preconceito (psicologicamente e socialmente), pois era excluído da comunidade por ser impuro. Além disso, era acusado como um grande pecador, porque a lepra era considerada como um grande castigo de Deus. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social imposta pela Lei (Lv.13,45-46).  


Apesar de ter consciência de ser leproso (leproso deve ficar distante do resto, cf. Lc 17,12), esse homem leproso se aproxima de Jesus, de joelhos (prostração). A prostração do leproso em pedir a purificação indica todo o fervor do seu pedido e de sua . Sua súplica é uma confissão da sua : “Se queres, podes purificar-me”. Todos os pedidos que fizermos a Deus devem ter sempre como fundamento a nossa . Não somente crer na cura, mas crer sempre na grandeza, na misericórdia e na soberania de Deus.


E Jesus, embora saiba da proibição de fazer contato com qualquer leproso, estende a mão e o tocou: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado! ’” (Mc 1,41). Por que Jesus tocou o leproso? Por compaixão: “Jesus cheio de compaixão...”. As misérias humanas tocam Jesus profundamente. Se no Batismo, Jesus se solidarizou com a multidão de pecadores, também o faz aqui nessa cena com o leproso. Aqui Jesus não se limita apenas nas palavras, mas Ele se aproxima e toca no leproso, pois quer transmitir toda Sua solidariedade. Para Jesus, o leproso não era um marginalizado e sim uma pessoa digna de Sua bondade, capaz de se abrir à misericórdia divina.


O leprosofoi e começou a contar e a divulgar muito o fato. É assim que Marcos concluiu o episódio. Mc apresenta o leproso curado como um verdadeiro anunciador do Evangelho. O leproso purificado se converte em apóstolo e anuncia Jesus a todos. E por isso, “de toda parte vinham procurar Jesus”.


O ato dos dois (do leproso e de Jesus) era verdadeiramente audacioso para a sua época. Os dois quebram o costume de longa data. O leproso tem grande vontade de ficar curado e acredita no poder de Jesus. E Jesus, por sua vez, tem compaixão pela miséria do homem, e, por isso, se aproxima do homem e quer integrá-lo à vida normal como qualquer ser humano.


O Reinado de Deus não exclui ninguém da salvação (cf. At 10,34-35; Mt 5,45). Neste contexto, o leproso personifica a multidão de marginalizados em busca da salvação. E Deus sempre acolhe quem o busca com sinceridade e . Deus não decepciona quem o procura permanentemente. O gesto exterior de Jesus de estender a mão e de tocar no leproso é sua identificação interior profunda com o sofrimento do leproso.


Como foi dito, a lepra era a pior enfermidade na época de Jesus. Ninguém podia tocar nem aproximar-se dos leprosos. Jesus toca o leproso como protesto contra as leis que marginalizam as pessoas.


O evangelho de hoje nos convida a fazermos o exame de consciência sobre como tratamos os marginalizados da sociedade, os “leprosos” de nossa sociedade. O exemplo de Jesus é claro. Ele nunca permaneceu indiferente diante do sofrimento humano. Nós, como cristãos, devemos imitar Jesus. Devemos afastar “as lepras” de nosso coração, “lepras” que discriminam, que excluem as pessoas de nossa convivência, lepras de falta de perdão e de benevolência e de misericórdia e assim por diante. Quem tem um coração pura, ama o outro de verdade e com liberdade.


O ato de Jesus de se aproximar do leproso e de tocá-lo nos leva a nos perguntarmos: “Como você se posiciona perante “os leprosos” (marginalizados) da humanidade: fugir, aproximar-se ou procurar erguê-los como Jesus fez?” Ou o nosso coração está cheio de “lepra” faz com que nos afastemos dos outros e afastemos os outros? A “lepraque mata é a vida sem amor pelo próximo: mata quem vive sem amor e mata quem precisa deste amor.


Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”, assim disse Jesus ao homem curado da lepra.


Mas como pode o homem que foi tocado pelo amor de Deus permanecer calado? É impossível! Muitos cristãos permanecem calados para dar testemunho sobre o amor de Deus, o amor que cura e salva. Será que ainda não foram tocados pelo amor de Deus que cura? Muitos cristãos permanecem calados cheios de medo, vivendo como faziam os leprosos, isolados da comunidade. É necessário que peçamos a Jesus: “Senhor, se queres, podes purificar-me”. Ao mesmo tempo é necessário que Jesus nos diga outra vez: “Eu quero: fica curado!”. Creio que Jesus vai fazer toda vez que lhe fizermos o mesmo pedido. Só assim ficaremos cheios de vida no Espirito. Assim uma vez tocados pelo amor de Deus que cura, nos converteremos em verdadeiras testemunhas deste amor no mundo.


Para Refletir:


Pai misericordioso e Deus fiel, Vós nos destes vosso Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor. Ele sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas... Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo (Oração Eucarística VI-D).  
               
P. Vitus Gustama,svd

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