sábado, 14 de janeiro de 2017

16/01/2017

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JEJUM NA VIDA DO CRISTÃO


Segunda-Feira da II Semana do Tempo Comum


Primeira Leitura: Hb 5,1-10


1 Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2 Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. 3 Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, como pelos seus próprios. 4 Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus, como Aarão. 5 Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”. 6 Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedec”. 7 Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. 8 Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. 9 Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. 10 De fato, ele foi por Deus proclamado sumo sacerdote na ordem de Melquisedec.


Evangelho: Mc 2,18-22


Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; , então, eles vão jejuar. 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.
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Jesus Cristo é Nosso Sumo Sacerdote


O autor da Carta ao hebreus está entrando agora em seu tema central: o sacerdócio de Cristo, comparado ao sacerdócio do Templo.


Segundo o autor da Carta, no texto da Primeira Leitura de hoje, há algumas qualidades principais que um bom sacerdote deve ter. Em primeiro lugar, ele é chamado por Deus e não é ele que se arroga ou se atribui esta honra. Ele deve “ser tirado dentre os homens” (cf. Nm 8,6; Hb 2,10-18). Em segundo lugar, ele deve ser “estabelecido” (cf. Tito 1,5; At 6,3; 7,10.27; 35; Ex 2,14; Hb 2,18; 8,3). Em terceiro lugar, ele deve oferecer sacrifícios (cf. Lv 4;5;16). Neste dever, ele se torna “pontífice”, isto é, aquele que faz de ponte entre Deus e a humanidade. O sacerdote é uma missão de comunicação, de relação entre os homens e Deus. Em quarto lugar, ele deve ser acolhedor dos fracos e pecadores (cf. Lv 5,18; Ez 40,39). Um sacerdote deve estar muito unido aos homens e saber compreender o povo que ele apresenta a Deus. Uma qualidade essencial do sacerdote é ser compreensivo, delicado, aberto, acolhedor e bom até para os fracos e pecadores.


Todas estas qualidades se encontram na pessoa Jesus Cristo e são vividas por Ele até o fim. Ele é o Filho de Deus: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”. Seu título de Filho eterno assegura a perpetuidade de seu Sacerdócio:Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: ´Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei´”.  Como o Filho de Deus, Jesus Cristo nunca procurou a sua própria glória (cf. Jo 5,41; 8,50.54; Rm 15,3; Fl 2,6), e sim a vontade do Pai (cf. Jo 4,34).


Segundo o texto de hoje o sacerdote deve saber “ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza”. Jesus Cristo viveu até o fundo as limitações da vida humana, exceto o pecado. Ele foi tentado pela incompreensão, experimentou a solidão, o desalento, o sofrimento e o medo. Ele viveu a radical experiência humana da dor, da morte e da limitação, exatamente como nós: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte”. Os evangelistas nos falam da tristeza, do medo, do pavor, do tédio na crise de Jesus diante de sua morte. Aqui se fala de gritos e lágrimas.


Tudo isto coloca Jesus para sempre ao nosso lado porque a ressurreição não consistiu em alienar-se de sua própria humanidade e sim em assumi-la eternamente glorificada em Deus.


Esta revelação gera nos homens uma absoluta confiança. Também nós vivemos a limitação que nos marca tanto na adequada construção de cada pessoa como na busca de verdadeiras comunidades de irmãos e na organização de um mundo mais justo e humano. Os agentes da Igreja são pessoas limitadas. Mas apesar disso, eles se prontificam para levar adiante a missão de salvar a humanidade de suas misérias. Jesus Cristo viveu e conhece a raiz de nossos fracassos. Por ter sofrido, Ele é capaz de nos compreender e nos oferecer em cada momento e para cada pessoa o dom oportuno para converter em realidade e operante a salvação de Deus.


O sofrimento de Jesus é também o fio condutor que leva o autor da Carta aos hebreus à admirável contemplação do mistério pessoal de Jesus Cristo: “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu”. Trata-se de uma frase sublime e incompreensível, uma das expressões nucleares da Carta aos hebreus. Desde o primeiro momento (Hb 10,5-10), a definição mais acabada de Jesus como Filho foi a de uma entrega total a Deus sem sombra de pecado (Hb 4,15); no entanto, Jesus aprendeu a obedecer, isto é, a entregar-se a Deus de forma total e absoluta, precisamente nos sofrimentos e na morte. No fim de sua vida terrestre, minutos antes de sua morte, Jesus deu um grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espirito”. Um espirito intacto de qualquer maldade e de qualquer mal, de qualquer pecado. Uma vez disse Sim ao Pai, jamais mudou para um Não até o fim, apesar de seus sofrimentos. É insondável mistério de Jesus.


Temos, então, um sacerdote que por nósdirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus”. Nós nos alegramos por ter um sacerdote que se entregou livremente por nós e agora é o Mediador pelo qual temos porta aberta a Deus. Um sacerdote que sabe o que é sofrer, porque experimentou em sua própria carne, até a morte trágica na Cruz. Um sacerdote que se solidarizou com nossa condição humana até o mais profundo. Isso nos dá confiança em nosso caminho de cristãos.


Na Igreja há sacerdócio comum (pelo sacramento do batismo) e há sacerdócio ministerial (pelo sacramento da ordem). Fala-se muito dos sacerdotes (sacerdócio ministerial) e fala-se menos do sacerdócio comum (o povo sacerdotal pelo batismo).


O Concilio Vaticano II através do documento Lumen Gentium (cf. LG 10) insiste sobre o sacerdócio comum e convida a todos os fiéis a exercê-lo de maneira mais consciente e responsável. O NT nos mostra com toda claridade que, graças ao sacrifício de Cristo, todas as barreiras existentes entre o povo e seu Deus foram destruídas.  Todos nós somos chamados a nos aproximar de Deus, com confiança e sem medos. Todos os fiéis tem esse direito, que antigamente (AT) era reservado ao sumo sacerdote. Mais ainda, o sumo sacerdote do AT não podia entrar nos santuário livremente, e sim somente uma vez ao ano, e durante uma cerimônia de expiação (Lv 16,2; Hb 9,7). Agora, pelo contrário, todos os cristãos desfrutam deste privilegio sacerdotal. Todos os cristãos tem uma verdadeira relação de proximidade e intimidade com Deus.


A parti da vocação sacerdotal tanto comum como ministerial, precisamos nos perguntar: Será que vivemos as qualidades principais exigidas de um sacerdote conforme a Carta ao hebreus? E cada um deve perguntar-se: qual é seu próprio estilo de ser mediador para os demais. Será que intercedemos pelos outros homens, especialmente os sofredores e fracassados? Aceitamos os demais como são, também com seus defeitos para ajuda-los em seu caminho? Será que estamos prontos para sofrer em função do bem que fazemos para nosso redor? Fazemos de ponte (pontífice) entre as pessoas e Deus?


Jejum Na Vida Do Povo Eleito e Na Vida de Jesus e seus discípulos


Esta semana, encontraremos Jesus e seus discípulos, que formam um grupo absolutamente solidário e unido, diante de seus adversários (fariseus e escribas etc.).


Observaremos que, em cada controvérsia, Jesus sempre se apresenta como um independente diante das regras e das observâncias legais conforme as tradições. A independência de Jesus choca os que estão apegados ao da letra todas as leis e as tradições. Jesus entra no espírito da lei, naquilo que possa edificar o ser humano. Por isso, em outra ocasião ele diz: “O sábado existe para o homem e não o contrário”. No evangelho de hoje ele faz uma declaração que tem o mesmo conteúdo: “Ninguém põe o vinho novo em odres velhos”.


O tema da discussão entre Jesus e os fariseu no evangelho de hoje é o do jejum. Jejum fazia parte das praticas mais importantes da piedade judaica e era um dos mais fortes símbolos de integração no sistema social (cf. Lc 18,11-12). E, por isso, marcava a separação entrejustos” e “pecadores”. Era símbolo religioso, ideológico da divisão social fundamental. O jejum era como sinal distintivo.


Além disso, o jejum era associado à oração e à esmola, e caracterizava a pessoa piedosa (cf. Mt 6,1-18).  A Lei estabelecia somente um jejum, no dia da Expiação, para penitência e perdão dos pecados a fim de preparar-se ao encontro com Deus, o único que pode perdoar o pecado (cf. Lv 16,29-34; 12,24; 23,27-32; Nm 29,7; At 27,9). Moisés jejuava durante 40 dias e 40 noites para conseguir que Deus perdoasse o pecado de seu povo (Dt 8,18). Depois surgiram muitos outros motivos para jejuar (cf. 1Samuel 31,17; Zacarias 8,18; 2Rs 25,1-4; Ester 4,16; Judite 8,6 etc.). As pessoas piedosas adotavam jejuns facultativos em sinal de penitência pela salvação de Israel e para acelerar a vinda do Messias. Os fariseus faziam o jejum duas vezes por semana, na segunda e na quinta-feira (cf. Lc 18,12; Mt 6,16-18). Os discípulos de João conservam a prática do jejum como lemos no texto do evangelho de hoje.


De modo geral, a prática do jejum está ligada, no AT, à espera da vinda do Messias. A prática do jejum aceleraria a chegada do Messias. Os fariseus e os discípulos de João Batista praticam o jejum. Por isso, questionam o comportamento dos discípulos de Jesus que não o praticam.


A resposta de Jesus aqui é bem clara: se seus discípulos não praticam o jejum é porque não tem nada que esperar porque o Messias chegou e está com eles. O tempo chegou, o Reino de Deus está próximo (Mc 1,15), o banquete messiânico começou. O tempo de Jesus é comparado a uma festa de bodas. É um tempo de festejar, sem jejum. O “noivo” neste texto designa claramente a Jesus. O que se esperava de Deus nos últimos tempos faz-se presente no interior da história através da ação de Jesus. O momento escatológico se inicia no coração do tempo histórico, no tempo cronológico. O tempo cronológico e o tempo da graça (kairós) se fundem. Deus encarnado em Jesus se aproxima e acolhe o povo carinhosamente como o marido faz para sua esposa.


E os sinais são estes: os leprosos ficam purificados (Mc 1,40-45), os paralíticos andam (Mc 2,1-12), a Boa Nova se anuncia (Mt 11,5). Jesus é Aquele que deve vir.  Os discípulos de Jesus estão vivendo esta intimidade. Esta intimidade será rompida no momento da paixão e da morte de seu Mestre. No dia em que Jesus deixar de estar, a comunidade cristã, através do jejum, fará a memória da morte de Cristo, anunciará ao mundo que Jesus morreu por causa dos pecados dos homens e por nossos pecados.


Consequentemente “Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.  Isto significa que a plenitude do novo não é suportável ao velho sistema. É necessário ter um novo espaço para acolher o novo. Renovar é colocar algo novo no espaço adequado. O código dum mundo de desenvolvimento é a transformação e renovação.  o novo pode acolher a novidade. Jesus não teme afirmar, desde o início de sua vida pública, a novidade radical de sua mensagem. O evangelho não é umremendo” e sim é algo novo, pois salva por amor e não pela obediência cega à lei.


Jejum Na Nossa Vida Cotidiana


Estamos em outro contexto. Por isso, o jejum ganha seu novo significado. Quando soubermos dar ou preparar o espaço para Deus na nossa vida, este espaço não será ocupado por outra coisa. Ao darmos esse espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva. Por isso, ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa vontade de não deixar nenhuma coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida. Podemos possuir as coisas, mas as coisas jamais podem nos possuir para não perdermos nossa liberdade. Mesmo não querendo, um dia largaremos tudo. É preciso que aprendamos a ser livres todos os dias, desde .


Tanto cristã como humanamente o jejum faz bem a todos. Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais, especialmente para os necessitados; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador e libertador. Jejuar é o caminho de libertação das garras da ganância. É voltar a sermos como somos, pois nãonada que possa impedir nossa liberdade de filhos e filhas de Deus. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, de mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda, nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo, da ganância mortal e nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a tem.

P. Vitus Gustama,svd

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