segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

17/02/2017
 
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PREÇO E CONSEQUÊNCIA DO SEGUIMENTO DE JESUS

Sexta-Feira Da VI Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Gn 11,1-9

1Toda a terra tinha uma só linguagem e servia-se das mesmas palavras. 2E aconteceu que, partindo do oriente, os homens acharam uma planície na terra de Senaar, e ali se estabeleceram. 3E disseram uns aos outros: “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los ao fogo”. Usaram tijolos em vez de pedra, e betume em lugar de argamassa. 4E disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja o céu. Assim, ficaremos famosos, e não seremos dispersos por toda a face da terra”. 5Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. 6E o Senhor disse: “Eis que eles são um só povo e falam uma só língua. E isto é apenas o começo de seus empreendimentos. Agora, nada os impedirá de fazer o que se propuserem. 7Desçamos e confundamos a sua língua, de modo que não se entendam uns aos outros”. 8E o Senhor os dispersou daquele lugar por toda a superfície da terra, e eles cessaram de construir a cidade. 9Por isso, foi chamada Babel, porque foi lá que o Senhor confundiu a linguagem de todo o mundo, e de lá dispersou os homens por toda a terra.

Evangelho: Mc 8,34-9,1

Naquele tempo, 34chamou Jesus a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la.36Com efeito, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida? 37E o que poderia o homem dar em troca da própria vida? 38Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras diante dessa geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com seus santos anjos”. 9,1Disse-lhes Jesus: “Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão não morrerão sem antes terem visto o Reino de Deus chegar com poder”.
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A Ruptura Com Deus Resulta Na Desunião Entre As Pessoas

Lemos na Primeira Leitura o relato sobre a construção da torre de Babel que termina na confusão entre as pessoas, fruto do pecado da soberba. A experiência bíblica do pecado comporta sempre a experiência de uma ruptura. Se a fé gera uma moral de aliança, o pecado produz a divisão da comunidade humana. A ruptura de aliança com Deus tem como conseqüência o rompimento de aliança, de fraternidade entre os homens. A ruptura da ordem moral supõe a instalação do próprio egoísmo e a ruptura do amor ao irmão a quem vemos (1Jo 4,20) e em quem devemos descobrir o próprio Cristo (Mt 25,39-40. 44-45). O pecado converte a história do homem em tragédia.

Babel é um mistério de idolatria; uma cidade sem Deus. O relato do Gênesis (Gn 11,1-9) apresenta de forma simples a equivocação profunda de Babel. O pecado coletivo de Babel se descreve como uma rebeldia. Os homens querem “alcançar o céu” por seu próprio poder, e pretendem ser “como deuses”, mas sem Deus. Babel é o símbolo da soberba humana que quer alcançar a plenitude da vida prescindindo de Deus. O homem quer fazer de sua força e habilidade seu próprio deus, mas acaba se convertendo em nada, em pó sem o hálito de Deus que vivifica, pois o homem é apenas uma criatura cheia de limites e limitações.

Babel também é um mistério de confusão, de incomunicaçao. Cidade de confusão. Ao quebrar a aliança com Deus, a comunhão entre os homens é quebrada. Se a fé for substituída pela idolatria e pela soberba de uns homens que constroem sua cidade sem Deus, então terá como fruto um mistério de incompreensão, de incomunicaçao, de confusão: “Desçamos e confundamos a sua língua, de modo que não se entendam uns aos outros”, disse Deus. Os ídolos criados pela vaidade e o egoísmo dos homens (cf. Sb 14,14) impedem inexoravelmente a comunicação entre os próprios homens, pois haverá guerra entre os deuses. Babel, que na realidade significa “porta de Deus” se converte paradoxalmente em cidade de confusão “a cidade de trapalhada”.

Babel é um mistério de dispersão, cidade deserta. A dispersão é o resultado final que completa o processo de idolatria e de incomunicaçao. É a sentença contra a cidade do mal. É cidade que se converte em uma cidade vazia, abandonada, evitada, deserta e numa cidade do nada. Sem Deus tudo se torna nada.

A tragédia de Babel não é única. O homem, cego por causa de suas absurdas pretensões, se fecha em si mesmo a ponto de não comunicar-se com os demais homens. Isto sucede quando o homem recusa Deus e se esquece que ele é apenas uma criatura. Quando os homens se colocam no lugar de Deus e recusam seu ser de criatura, eles acabarão não se entendendo mesmo que falem a mesma língua.

O relato sobre Babel termina assim: “O Senhor confundiu a linguagem de todo o mundo, e de lá dispersou os homens por toda a terra”. Estas palavras explicam maravilhosamente por que a humanidade está tão distanciada entre si. Babel testemunha que os homens, enquanto dominados pelo pecado, não poderão permanecer juntos, pois o pecado desune as pessoas. Quando as pessoas não se entendem, elas não podem conviver. Quando não se adora o verdadeiro Deus, as relações humanas se desintegram. Quem renega Deus e o ordenamento divino da vida, não pode edificar uma sociedade, uma família duradoura e feliz.

O autor bíblico do texto tem interesse em apresentar Deus como Senhor da história e de todos os povos. Diante da grandeza de Deus que criou o universo, toda a obra dos homens que pretendem colocar-se no lugar de Deus se torna ridícula. É tão ridícula que Deus tem que “baixar” ou “descer” para “ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. Quando o escritor sagrado fala de uma “descida” de Deus: “O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo”, ele quer simplesmente contrapor a grandeza de Deus à mesquinhez da obra humana feita sobre a soberba. As forças dos homens são tão pequenas que o Senhor dos céus teve que descer para poder vê-las.

É impossível captar todo o sentido da mensagem de Babel sem compará-lo com a dinâmica de Pentecostes (At 2,1-11). Estes dois relatos são como dois lados da mesma moeda. Babel indica que quando impera o pecado, os homens, ainda que falem uma mesma língua, não conseguem entender-se. Pelo contrário, Pentecostes garante que quando o Espírito do Senhor morto e ressuscitado conduz nossa vida, os homens mesmo que falem idiomas diferentes, conseguem se entender. A Igreja, a comunidade eclesial, a família cristã é e deve ser um grupo unido por uma fé comum e por um mesmo ideal cuja coesão é a fraternidade mútua. Quando houver fé e fraternidade numa comunidade, ninguém se considerará superior a ninguém.

Portanto, a lição do relato da torre de Babel está claramente motivada pelo desejo de recordar a primeira criação na unidade, a divisão originada pela culpa e a reconstrução da unidade pelo Espírito Santo. Onde reinar o Espírito Santo, haverá a união e a unidade. Será que dentro de mim e entre nós reina o Espírito de Deus?

Preço Do Seguimento De Cristo

O texto do evangelho de hoje nos fala das exigências ou das condições no seguimento de Jesus. No texto Jesus coloca três exigências para segui-Lo: Negar-se a si mesmo, Carregar a cruz e Seguir a Jesus. O cristão é chamado à suprema dignidade e ser coerente até o fim. Vivendo tudo isto, ele terá a eficácia no trabalho e no testemunho como seguidor de Cristo.

1. Renunciar A Si Mesmo

“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo”.

“Renunciar a si mesmo” ou “negar-se a si mesmo” significa renunciar à própria segurança pessoal onde pendura a própria vida aqui neste mundo que inclui a segurança econômica, social, religiosa e assim por diante. A expressão “Renunciar a si mesmo” tem um sentido totalizante no sentido de que ela atinge todas as dimensões da pessoa. A condição para seguir Jesus exige um rompimento de tudo e de qualquer laço ou ligação que prenda a pessoa a si mesma. O centro da vida da pessoa que quer seguir a Jesus não é mais na própria pessoa, e sim fora dela. O seu “eu” não mais gira em torno de si próprio, de seus próprios interesses, dos próprios gostos individuais, dos projetos pessoais, e sim em torno de Jesus e seu projeto. Jesus se torna a razão de viver daquele que quer seguir a Jesus.

“Renunciar a si mesmo” é viver para Deus e Seu projeto que implica viver para os demais; é fazer da entrega e da solidariedade uma norma de vida de cada dia. Esta exigência recorda o mandamento de amor a Deus e ao próximo. Não há vida cristã sem renúncia de si mesmo. O sacrifício cristão não é o fim em si mesmo e sim o sacrifício para ganhar a vida de qualidade divinamente.

A renúncia pode ser negativa, mas no pensamento de Jesus é a conseqüência de um estilo de vida vivida conforme os valores cristãos reconhecidos universalmente. Por isso, trata-se de uma renúncia para ganhar a verdadeira vida. O que se busca não é o prestigio, e sim a solidariedade com a humanidade para salvá-la. É anular a busca dos próprios interesses. Quem alimenta ambições em função dos próprios interesses, não pode trabalhar para o bem da humanidade ou para o bem comum.

2. Carregar A Cruz

“Se alguém me quer seguir, tome a sua cruz...”

Depois que falou da cruz para si como fruto de sua seriedade em levar até o fim a vontade de Deus (Mc 8,31), Jesus fala imediatamente da cruz para todos os seus discípulos: “Se alguém me quer seguir, tome a sua cruz...”. Este “alguém” é qualquer pessoa. Isto significa que esta exigência não é somente para os Doze e sim para a multidão. Para Jesus não há categorias de cristãos. Todos são iguais no seu seguimento.

No Antigo Testamento e no judaísmo não existia o castigo da cruz, isto é, o culpado não era crucificado. Somente os romanos usavam a cruz (crucificação) para condenar escravos e revolucionários. Sem dúvida nenhuma de que Jesus e seus discípulos conheciam este tipo de condenação.

Jesus usa a expressão “tomar ou carregar a cruz” como símbolo do seguimento. Jesus quer dizer que o seguidor deve estar disposto a ir até as ultimas conseqüências do seguimento, mesmo até ao suplício da cruz. Lendo dentro do contexto da Paixão de Jesus “carregar a cruz” significa seguir a Jesus fielmente em todas as situações da própria vida a exemplo de Jesus. É estar disposto a aceitar todas as conseqüências para realizar a vontade de Deus que salva, pois “de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida?”. “Tomar a cruz” é assumir com valentia as conseqüências que implica o seguimento.

“Se alguém me quer seguir, tome a sua cruz...” A cruz aqui evoca a perseguição por causa da vivência dos valores cristãos. Para os primeiros leitores de Marcos em Roma isto significava precisamente que um candidato ao batismo era, por sua vez, um candidato ao martírio: ser cristão, na época, implicava um certo perigo, e a decisão devia fazer-se com pleno conhecimento da causa.

3. Seguir a Jesus

“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.

A expressão “Siga-me“ ou “seguir a Jesus” literalmente significa ir atrás de alguém. Seguir a Jesus não significa apenas aceitar sua doutrina (ensinamentos), mas também entregar-se incondicionalmente à sua pessoas, colaborar na sua missão, levar adiante sua causa, partilhar do seu destino que inclui a morte e glorificação.

A existência do cristão está definida pela existência de Jesus Cristo: seguir e imitar, reproduzir e estar em comunhão. Em outras palavras: vir a ser outro Cisto.

Para aprofundar mais o sentido das exigências Jesus usa as expressões sapienciais como esta: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la. Com efeito, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida?”.  Esta expressão faz o eco do refrão que diz: “Às vezes, perder é ganhar”. É preciso que estejamos atentos para que não vivamos preocupados em ter, em acumular, em nos enriquecer, que acaba empobrecendo nosso ser e perdendo assim a capacidade de dar e receber a vida. “A posse das riquezas tem malhas invisíveis em que, insensivelmente, o coração fica preso” (Bossuet). As coisas continuam sendo alheias a nós. Durante a nossa passagem neste mundo consumimos aquilo que podemos. 

Jesus põe paralelamente “o mundo inteiro” e “cada homem”: “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida?”. O homem não pode se esquecer de que ele é mais importante do que o mundo inteiro (Jo 3,16; Sl 8,4-5). No princípio Deus pediu para que o homem dominasse sobre todas as coisas do mundo e não para ser dominado por elas (cf. Gn 1,28). Ao renunciar ao mundo inteiro por causa do Evangelho ou por causa de Cristo o homem acabará ganhando o mundo inteiro, pois tudo isso pertence a Deus dado ao homem para a sua felicidade juntamente aos demais filhos de Deus. Nisto o homem chegará à sua plenitude. Também nisto o homem não envergonhará seu Criador nem a si próprio e também não será envergonhado pelo Criador, isto é, perder a salvação eternamente.

Seguir a Jesus comporta conseqüências. É uma opção radical. Crer em Jesus é algo muito mais que saber coisas ou responder às perguntas do catecismo ou da teologia. É segui-lo existencialmente. Jesus não nos promete êxitos nem segurança, mas a salvação: “Quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la”. Ele nos adverte que seu Reino exige um estilo de vida difícil, com renúncias, com cruz.

Cada cristão é chamado a ser livre. O cristão foi libertado para ser livre, mas muitas vezes ele não sabe lidar com a própria liberdade. O cristão é chamado à suprema dignidade e ser coerente até o fim. Vivendo tudo isto, ele terá a eficácia no trabalho e no testemunho como seguidor de Cristo.

Atrás destas exigências duras há uma suavidade das palavras de Jesus. Quando Jesus pede que saibamos nos renunciar é para nosso bem, para não sermos escravos de muita coisa. Para não vivermos uma vida vazia, sem sentido, pois a vida vazia pesa muito para quem a vive e para os que o rodeiam. Quando vivemos o Evangelho de Jesus de verdade, entre Ele e nós se dá um verdadeiro encontro de fé e de amor e nesse mesmo instante se inicia o processo de compromisso para toda a nossa vida. E se nos comprometermos de verdade com a defesa da justiça, da verdade, da paz, da solidariedade, do amor, cedo ou tarde este estilo de vida complicará a vida. Mas trata-se da cruz que terminará na ressurreição.

P. Vitus Gustama,svd

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