terça-feira, 25 de abril de 2017

29/04/2017
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CAMINHAR COM O SENHOR E SERVIR OS NECESSITADOS POR AMOR NOS MANTÉM NA UNIDADE E NA PAZ


Sábado da II Semana da Páscoa


Primeira Leitura: At 6,1-7


1 Naqueles dias, o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se dos fiéis de origem hebraica. Os de origem grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. 2 Então os Doze Apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: “Não está certo que nós deixemos a pregação da Palavra de Deus para servir às mesas. 3 Irmãos, é melhor que escolhais entre vós sete homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa. 4 Desse modo nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra”. 5 A proposta agradou a toda a multidão. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um pagão que seguia a religião dos judeus. 6 Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. 7 Entretanto, a Palavra do Senhor se espalhava. O número dos discípulos crescia muito em Jerusalém, e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé.


Evangelho: Jo 6,16-21


16Ao cair da tarde, os discípulos desceram ao mar. 17Entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo ao encontro deles. 18Soprava um vento forte e o mar estava agitado. 19Os discípulos tinham remado mais ou menos cinco quilômetros, quando enxergaram Jesus, andando sobre as águas e aproximando-se da barca. E ficaram com medo. 20Mas Jesus disse: “Sou eu. Não tenhais medo”. 21Quiseram, então, recolher Jesus na barca, mas imediatamente a barca chegou à margem para onde estavam indo.
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Servir Os Pobres Por Amor


O número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se dos fiéis de origem hebraica. Os de origem grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário”.


Com o relato da Primeira Leitura começa uma nova etapa na comunidade cristã primitiva: o crescente número cada vez maior dos cristãos. Com este crescimento, aparecem também tensões que humanamente são compreensíveis. Com isso cresce a responsabilidade e solicitude dos Doze Apóstolos.


Na primeira comunidade cristã de Jerusalém havia dois grupos ou partidos: os helenistas e os hebreus. Ambos grupos são israelitas. Mas a língua e a forma de vida diferenciam os dois.


Os helenistas procediam da emigração judia (da diáspora) falavam o grego. Com a palavra “helenista” se alude aos judeus que se formaram com uma estreita vinculação à cultura helenista (grega). Os helenistas se mostravam mais abertos. O grupo judeu-helenista estava disseminado por todo o mundo mediterrâneo. Ou seja, aqueles que viveram naqueles territórios de Palestina e ao seu redor nos quais, desde a expansão da cultura helenista sob Alexandre Magno, predominavam a língua grega e a maneira de viver dos gregos. Paulo/Saulo (de Tarso de Cicília) e Barnabé (natural de Chipre- cf. At 4,36) eram helenistas. Os hebreus nascidos na Palestina falavam o hebraico (isto é, o aramaico).


As queixas dos helenistas são dirigidas aos hebreus porque estes não atendem às viúvas (e pobres) helenistas. Não se trata aqui apenas de desatendimento, mas trata-se de marginalizar todo o grupo helenista. Enquanto a comunicação dos bens era entendida como expressão de uma mesma comunhão de fé. Isto significaria estar contra a própria fé da comunidade cristã primitiva.


Os Apóstolos percebem o perigo e buscam ajudantes e colaboradores para o serviço da comunidade. Assim começa uma memorável evolução. A Igreja penetra no tempo e no espaço da história.  


Nenhuma comunidade está livre de tensões, por perfeita que pareça ser e por muito conjuntada que ela viva. Inclusive podemos dizer que as tensões são necessárias e ajudam a comunidade a crescer. Assim sucedeu na primitiva comunidade cristã. As queixas de um dos grupos deu origem a um melhor estudo da realidade. Apareceu a oportunidade de dividir as tarefas e responsabilidades.


Os apóstolos propõem aos discípulos para que a comunidade escolham sete homens para cuidar da administração e serviço aos pobres, pois eles passarão a ser dedicado exclusivamente à oração e à pregação do evangelho. Com o capítulo 6 do Livro dos Atos dos Apóstolos começa, então, um tema novo. Aparecem-nos as testemunhas para o serviço da caridade, os que depois foram os “diáconos”. Estas testemunhas, homens cheios do Espirito Santo e de sabedoria, são os sete primeiros colaboradores dos Apóstolos, com Estevão como chefe.


Ao ler o relato dos sete colaboradores constatamos que algo mudou na comunidade cristã primitiva. A crise (entre os hebreus e os helenistas), bem conduzida, leva a uma descentralização: “Não está certo que nós deixemos a pregação da Palavra de Deus para servir às mesas”, disse o grupo dos Apóstolos. O motor dessa descentralização é uma exigência da fidelidade à missão apostólica na que tem de essencial: a oração e o serviço da Palavra. Esta oração apostólica e litúrgica, com o ensinamento, é um dos componentes básicos da comunidade cristã. Oração e serviço da Palavra são dois aspectos de uma mesma tarefa: a dedicação à Palavra de Deus, sem dualismo e sem subordinações desnecessárias.


Surge assim a instituição da “diakonia” (diaconia), o serviço da caridade ou a caridade feita serviço. A diakonia será uma das dimensões fundamentais da Igreja, junto ao culto e a Palavra.


O amor e o bom sentido cristão salvou a unidade e as diferenças. A comunidade elege e apresenta os eleitos, mas somente os Apóstolos impõem as mãos sobre os eleitos. A “imposição de mãos” é um rito sagrado e jurídico pelo qual se autoriza a exercer um serviço público na comunidade e também significa a comunicação do Espirito (Santo) ou força de Deus para exercer bem este serviço. Seguindo o exemplo de Moisés que impus as mãos sobre Josué, os rabinos ordenavam seus discípulos com o mesmo rito. Por certo que nesta ordenação, na qual se conferia o poder de ensinar e de julgar segundo a Lei, se requeria a presença de três rabinos que impuseram as mãos sobre um discípulo.


Vale a pena sublinhar que também neste caso a necessidade cria o órgão que a Igreja vai se organizando a partir de suas necessidades e que os novos ministérios são sempre novos serviços. Sobretudo é necessária sublinhar a participação da comunidade na designação (eleição) e apresentação de seus servidores.


Como é que uma comunidade resolve suas tensões? Será que desta tensões podem surgir um novo serviço ou causar apenas mais divisões?


Jesus Anda Sobre As Águas


O relato da caminhada de Jesus sobre as águas se encontra, curiosamente, entre a multiplicação dos pães (cf. Jo 6,1-15) e o discurso sobre o Pão da vida (Jo 6,26-66). O “sinal” da caminhada sobre as águas está estreitamente ligado com a multiplicação dos pães (cf. Jo 6.1-15). A multiplicação dos pães prepara a parte principal do discurso sobre o Pão da vida: “O verdadeiro pão de Deus, Sou Eu, é meu Corpo e meu Sangue... dados em alimento”, assim Jesus disse.


A caminhada sobre as águas inicia o final do discurso (Jo 6,60-71): nele aparece Jesus andando sobre as águas, mostrando seu domínio sobre a natureza. E isto é uma resposta às dificuldades dos que não aceitam o discurso de Jesus sobre o Pão de vida que é Ele próprio.


Ao cair da tarde, os discípulos desceram ao mar. Entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo ao encontro deles”.  Jesus fica só. Por que não embarcou com os discípulos? Parece que foi muito intencional da parte de Jesus. O evangelista João ao empregar determinado(s) termo(s) é porque tem algum valor. A “noite”, as “trevas” têm um significado: Jesus está ausente. Onde Jesus estiver ausente ou for excluído as trevas começam a dominar a vida dos homens. Jesus é a Luz do mundo (Jo 8,12) e por isso, sua ausência significa a desorientação total. Sem a luz o ser humano vive apalpando. Através do mundo sensível o evangelista João sugere ou nos leva para o mundo espiritual. Tudo é símbolo. O evangelista João nos sugere que cultivemos nosso espírito de contemplação para captar o significado profundo das coisas e dos acontecimentos.


“Já estava escuro” ou “já era noite”, assim nos relatou o evangelista João. Esta noite era algo muito real. Mas, ao mesmo tempo, para o evangelista João “noite” significava a ausência de Jesus, Luz do mundo.


1. “Não tenham medo… Sou Eu”.      


Consciente ou inconscientemente temos medo de algo ou de alguém. Em outras palavras, convivemos com o medo, ou melhor, com os medos. Não estamos errados em sentir medo, porque somos criaturas expostas a perigos e ameaças. Sentir medo é vivenciar a nossa condição de criatura. O medo é uma manifestação de nosso instinto fundamental de conservação. É a reação a uma ameaça para nossa vida, a resposta a um verdadeiro ou suposto perigo: desde o perigo maior, que é o da morte até os perigos particulares que ameaçam a tranquilidade física ou nosso mundo afetivo.


Existem medos justificados como também os injustificados ou patológicos. Os nossos medos são um sinal de alarme que podem nos ajudar a evitar o perigo. O imprudente geralmente suprime o medo e se atira inutilmente ao perigo. O covarde teme tudo, se paralisa e não se atreve a correr nenhum risco. Não podemos nos torturar aumentando os nossos medos com nossa fantasia. O homem sadio usa seus medos para agir prudentemente.


“Não tenham medo… Sou Eu!”. Cristo dirigiu muitas vezes este convite aos homens com os quais se encontrava. Esta frase foi dita pelo Anjo do Senhor a Maria: “Não tenhas medo, Maria” (Lc 1,30). Foi dita ao São José: “Não tenhas medo, José” (Mt 1,20), e assim por diante.


O evangelho ou a Palavra de Deus, a Palavra daquele que é maior do que a morte nos ajuda a libertar de todos os nossos medos, revelando o caráter relativo, não absoluto dos perigos que os provocam. Há algo de nós que ninguém nem nada no mundo possa nos tirar: trata-se da alma imortal: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10,28ª).


De que não devemos ter medo? Não devemos ter medo da verdade sobre nós mesmos, sobre nossa vida, sobre nossas fraquezas, sobre nossos defeitos e limitações, sobre nossas dificuldades, sobre nossas incapacidades. Não podemos fingir como se fossemos super homens. Somente uma pessoa forte é que capaz de reconhecer suas próprias fraquezas e pede, sem medo nem vergonha a ajuda dos que mais competentes na área.


2. Em tudo devemos contar com Jesus


Os discípulos navegam pela noite sem “a Luz do mundo” (Jesus). Confiados no poder e na força próprios, eles pensavam que pudesse controlar as circunstâncias. De fato, sua força é insuficiente. O mar que eles acreditam poder dominar se torna incontrolável. Nessa altura, normalmente vem a pergunta na cabeça: Onde está o Senhor? Acaso, Ele nos abandonou? O Senhor jamais abandona os seus mesmo que eles O abandonem: “Não temais! Sou Eu!”.


Quantas vezes cada um de nós quer fazer as coisas sozinho, à sua maneira e não como o Senhor quer. Quantas vezes cada um de nós caiu na tentação de pensar: “Sou uma pessoa forte e independente, posso tudo!”. Mas cedo ou tarde vai cair no fracasso. Lança-se, então, a pergunta: “Senhor, por que me abandonaste?”. Mas, na realidade, fui eu quem abandonou o Senhor; esqueci-me dele. Sem o Senhor, nada podemos fazer (cf. Jo 15,5). Mas com Ele não há nada que possa me separar dele (cf. Rm 8,31-39). Se caminharmos com o Senhor nesta vida, se vivermos em comunhão com Ele, a nossa vida será mais leve, pois o jugo do Senhor é suave e sua carga é ligeira (cf. Mt 11,30).


Como na pesca milagrosa, o texto do evangelho deste dia quer nos transmitir uma verdade de que sem Jesus é inútil qualquer esforço na missão e não haverá paz. Mas quando Jesus se aproxima, volta novamente a calma, e o trabalho resulta plenamente eficaz. É preciso colaborar com a graça de Deus para que ela possa operar em nós e através de nós para um trabalho frutífero.


3. Colaborar com o Senhor a partir de nossas condições


Não pedimos a Deus uma vida sem dificuldades, porque elas fazem parte de um verdadeiro crescimento. Não há crescimento sem dificuldades e obstáculos. Pedimos a Deus, sim, a força e a serenidade para encarar tudo na vida com ele. A partir do evangelho deste dia percebemos que a dificuldade não é um lugar vazio e desabitado, porque no meio da dificuldade está o Senhor. Ele está no centro da vida.  Tenhamos sagacidade para saber converter as dificuldades em lugar de encontro com Jesus, o Senhor que caminha sobre as águas dessas dificuldades. Basta escutá-lo em silêncio no meio do ruído do medo, e reconhecê-lo: “Não tenha medo, sou Eu”. E essas contrariedades serão esplêndida ocasião para o exercício contemplativo. Somente assim se produz o milagre.


Toda vez que celebramos a Eucaristia, o Ressuscitado se faz presente na comunidade reunida, nos é dada a Palavra salvadora e nos alimenta com o Pão da vida. É verdade que sua presença é sempre misteriosa como para os discípulos de então. Mas pela fé temos que saber ouvir a frase que tantas vezes se repete com suas variações na Bíblia: “Eu sou, não tenha medo!”. Com isso, de cada missa ganharemos mais ânimo e convicção para o resto da jornada, porque o Senhor nos acompanha, ainda que nós não O vejamos com os nossos olhos humanos. Por nossa vez, que se encarne na nossa vida a Palavra de Jesus: “Não tenha medo!”, isto é, que nossa presença não represente uma ameaça para os outros e sim a paz e a harmonia. Que não tiremos a alegria e o sucesso dos outros e sim que sejamos irmãos solidários com todos.


P. Vitus Gustama,svd

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