domingo, 9 de abril de 2017

Quinta-Feira Santa,13/04/2017

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QUINTA-FEIRA SANTA DE AMOR


Jo 13,1-15


O texto Jo 13,1-15 faz parte do discurso da despedida de Jesus (Jo 13,1-17,26). Na realidade, o discurso de despedida se encontra apenas nos capítulos 13,31-14,31. A continuação lógica de Jo 14,31 encontramos em Jo 18,1, no relato da paixão. Jo 15-17(três capítulos) havia sido introduzido neste espaço aberto por evangelista-redator para incluir no evangelho o material precioso que até agora não tem encaixado dentro do esquema do evangelista.


Amar Até o Fim        


O texto começa com esta frase: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Este primeiro versículo do capítulo 13 é muito solene; e é uma abertura e uma espécie de síntese de toda a segunda parte do Evangelho de João (Jo 13,1-20,29).


Fala-se neste versículo a chegada da hora de Jesus que vinha sendo preparado passo a passo na parte anterior (Jo 2,4; 7,6.30; 8,20;9,3-5; 12,23). Jesus vive em função dessa “hora”. “Chegou a hora” significa chegou o momento da glorificação. A morte para Jesus não é o fim e sim é um momento de glorificação.


Por isso, fala-se também da páscoa (passagem). Jesus vai passar ao Pai (páscoa, passagem). É uma passagem nova e diferente, porque para chegar ao Pai ele tem que passar pela cruz onde ele se entrega para dar a vida ao homem por amor. Por isso, a páscoa do Senhor se caracteriza pelo amor: “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.


O seu amor se expressa no máximo grau dando a vida por seus amigos (Jo 15,13). Por isso, Jo usa o termo ágape, aqui, quando se fala do amor. Ágape é o amor divino cujas características são estas: gratuita, total, imutável e definitiva. Estas características nos mostram que Jesus está totalmente com Deus, a ponto de ele amar como Deus ama. Jesus ama sem medida, ama até o fim.


Um ser humano que ama desta maneira significa que ele foi modelado por Deus de amor. Quem é modelado por Deus totalmente sempre tem vontade para fazer o bem em qualquer lugar e situação e para qualquer pessoa em necessidade. Quem é modelado totalmente por Deus somente tem amor no coração. Quem é modelado por Deus se torna simples e é capaz de simplificar o que é complicado. Este é a última etapa passada por Jesus. O que vem a seguir é explicação e aprofundamento do que significa “amar até o fim”.


Jesus quer que façamos esta páscoa (passagem). É uma passagem, na linguagem de São Paulo, do homem velho ao homem novo, do fermento da malícia aos pães não fermentados de pureza e de verdade (cf. 1Cor 5,8). Esta passagem é um modo de viver de um a um outro modo: do viver para o mundo e conforme o mundo, ao viver para o Pai. É uma passagem do “eupara Deus e do “eupara o outro.


A páscoa é caminhar em direção de Deus. É deixar-nos modelar por Deus e deixar-nos iluminar pela luz de Deus e expor nossa vida ao Seu Julgamento e ao seu perdão. É preciso abrirmos “as janelas” de nosso coração para deixar a luz divina entrar nele. Por isso, é uma passagem à liberdade e à alegria.


Se formos sinceros, somos ainda escravos de tantas coisas. E Deus nos convida a sairmos de tudo isto. Isto se chama a páscoa, uma passagem. Como é bom ser livre! Como é bom passar a vida fazendo o bem, pois isto significa passar para a vida de Deus mesmo que os pés ainda pisem sobre a terra.


A expressãoos seus” é característica nesta passagem. Ela indica a intensidade do amor, a predileção e a pertença a Cristo. Esta expressão é unida a outra: “que estavam no mundopara sublinhar a situação de solidão, de perseguição e de estranheza dos discípulos no mundo. A relação “discípulo-mundo” aparece com frequência nos capítulos 13-17.


A expressão até o fim” (eis telos), que significa duplamente: “total, absolutamente” e “até o último momento da vida, até a plenitude ou no mais alto grau”, prepara a exclamação de Jesus na cruz: “Está consumado (Jo 19,30; 19,28).


Jesus ama sem medida. Em Jo 15,13 se apresenta a morte voluntária como a expressão suprema do amor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”.


Depois da solene abertura segue-se a última ceia. Para a mentalidade semítica, partilhar uma ceia não é apenas comer juntos um mesmo alimento. Mais do que isto, é ter a ocasião de trocar ideias e de entrar profundamente em comunhão de sentimentos; sublinha-se uma relação íntima; assim, a convivialidade assume um valor social e espiritual. As alianças entre as pessoas eram, na maioria das vezes, firmadas durante um banquete (cf. Gn 26,30;31,54; Ex 24,9-11).


Servir Como Estilo de Vida


Em meio ao jantar, Jesus se levanta, tira o manto, pega uma toalha e a amarra na cintura e começa a lavar os pés dos discípulos.


Tirar o manto” significa abrir mão de todo privilégio ou posição social. O ato de “lavar os pés” (nos vv. 5-14 ocorre 8 vezes o verboniptein”, “lavar”, num total de 13 vezes no NT) era comum no Antigo Oriente para honrar um hóspede que viera por caminhos poeirentos. Este gesto fazia parte da hospitalidade. Quem prestava esse serviço podiam ser, com uma conotação de carinho, os filhos ou a esposa, ou, como manifestação de dedicação, o próprio anfitrião (cf. Lc 7,44), mas normalmente era feito por algum escravo. O gesto tinha uma conotação de humilhação tão forte até certos rabinos proibiam que os escravos judeus fossem obrigados a prestar esse serviço a seus patrões.


Jesus se põe a fazer o que faziam os escravos não-judeus ou as mulheres. Jesus garante que a felicidade não está nos títulos, honra, ou posição social que as pessoa ocupam, mas está em descobrir o caminho do serviço que entrega a vida por amor.


O evangelho não diz quem foi o primeiro a ter os pés lavados. Isso é sinal de que Jesus não privilegia ninguém. Todos recebem seu amor-serviço de modo igual e imparcial, inclusive o traidor, Judas.        


Simão Pedro reage com energia. Ele viu no gesto de Jesus lavar os pés um mero gesto de humilhação; Jesus, porém, a dedicação da própria vida. Ele continua acreditando que é muito normal que numa comunidade alguns sejam senhores e outros sejam servos, os primeiros cheios de direitos e privilégios e os segundos cheios de deveres. Ele crê piamente numa sociedade de desiguais. Por isso, ele representa aquelas que seguem a Jesus mas ainda não se encontraram.


Diante da reação de Pedro Jesus disse: “Se não te lavo os pés, não terás parte comigo” (v.8). A resposta de Jesus a Pedro quer lhe afirmar que o sacrifício da cruz purifica muito mais eficazmente que as abluções antigas. O lava-pés simboliza toda a missão de Jesus: a entrega de sua vida; não somente o serviço prestado aos demais, e sim o serviço supremo prestado aos homens pelo Servo de Deus por excelência.


Jesus diz que sem lavar os pés, Pedro não terá parte com Jesus. “Ter parte” é uma expressão semítica. A parte é a herança que Deus concede ao seu povo (Gn 31,14;2Sm 20,1;1Rs 12,16). Na meditação judaica, o tema da herança aprofundou-se em três direções: individual, espiritual e escatológica. A herança, por isso, não é mais simplesmente a Terra Prometida, mas a comunhão com Deus, a salvação ou a vida, na linguagem de João; e não mais uma realidade presente, mas futura. O gesto de Jesus, então, deve ser compreendido no sentido de participar do dom escatológico. E não é possível comungar da vida de Jesus sem aceitar sua lógica do serviço radical.


Deixar-Se Purificar Por Amor


No diálogo com Pedro, Jesus afirma: Também vós estais limpos, mas não todos (v.10b). Jesus está falando do traidor(Judas). Por isso, é bom ler o v.21 logo depois do v.11 para ver sua sequência lógica. Cristo não exclui o traidor do benefício do rito do lava-pés. Todavia, o rito não terá para ele nenhuma utilidade. Mas mesmo diante daquele que o trairá, o Senhor se abaixa.


Ao dizer “nem todos estão limpos” Jesus se refere à pureza que nasce do coração da acolhida à Palavra e que cresce na .


No relato mais adiante, Jesus identificará o traidor com estas palavras: “É aquele a quem eu der pão que vou umedecer no molho” (Jo 13,26). O ato de Jesus de oferecer o pão umedecido no molho a Judas é o sinal de carinho especial. Isto quer dizer que até o traidor Jesus ama até as últimas consequências, de maneira extraordinária e quer sua salvação. Mas Deus continua respeitando a liberdade de escolha do homem. Deus sempre provoca as pessoas à tomada de decisão. A única coisa que Deus faz é oferecer o seu amor ao ser humano até o fim, poisDeus é amor”(1Jo 4,8.16). E infelizmente, Judas não aceita esta oferta de amor. É duro não querer ser amado. É incompreensível não querer aceitar o carinho. Aquele que é capaz de receber amor do Outro e dos outros, é capaz também amar os outros.


Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus retoma o manto e senta de novo à mesa, ou seja, volta à condição de pessoa livre pois os dois gestos “retomar as vestes” e “sentar-se” indicam a condição da pessoa livre (os escravos permaneciam de pé, prontos para executar as ordens do seu senhor).


Aqui há um detalhe importante: o evangelho não diz que Jesus tenha tirado a toalha, símbolo do serviço por amor. Esse pormenor é muito significativo, pois o serviço de Jesus continuará até a cruz.


A toalha ou o avental é o símbolo do serviço ao irmão. O serviço ao irmão é o distintivo que o cristão jamais pode depor, deve vesti-lo vinte quatro horas por dia, pois a todo momento pode haver um irmão que precisa dele e ele deve estar sempre pronto a prestar-lhe o seu serviço. Se não aceita gastar a vida no humilde serviço aos necessitados, nada tem em comum com Jesus: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (v.15). É um indicativo e um imperativo ao mesmo tempo. O que devemos fazer (imperativo) está fundado sobre algo que nos foi dado por Cristo(indicativo), algo que é anterior à nossa obrigação. Antes da obrigação moral vem o dom de Deus em Jesus. Importa “deixar lavar os pés (ser salvo) por Jesus, mas devemos tambémlavar os pés uns dos outros”(serviço fraterno). Jesus amou primeiro (cf. 1Jo 4,10.19), mas a partir daí é nossa vez. Continuar as ações de Cristo não é repetir ritos mas atitudes: amor e serviço. O amor sincero e o serviço alegre, ao estilo de Jesus, há de ser o modo de presença de cada cristão neste mundo.


O serviço pode ser animado pelo amor devotado (o dos pais pelos filhos). Mas muitas vezes esse mesmo amor pode ser corrompido pela vontade de poder que se aninha no coração do homem, tornando-se o serviço prestado uma maneira de levar o outro a depender da pessoa em questão. Não podemos esquecer que a morte de Jesus é um grande dom para nós porque nos liberta. quando tivermos assimilado esse fato de esvaziamento de Deus para nós, seremos capazes de “lavar os pés” uns aos outros sem nos tornarmos importantes ou impormos nossacaridade”. Imitar Jesus é imitar Deus que se esvazia por nós.


De que modo podemos traduzir em gestos concretos o lava-pés na nossa vida cotidiana e o amar até o fim? Você será capaz de amar até o fim? Não poderemos exercer o amor até o fim, se nosso coração não estiver despojado.


Somos Uma Igreja No Amor Fraterno


A Quinta-Feira Santa está carregada de sentido eclesial. É um dia em que se congrega a Igreja como uma comunidade maior, como uma comunidade diocesana em torno de seu pastor, o bispo, para a consagração dos santos óleos com os quais se realizará durante a celebração dos sacramentos. O bispo, como pai e bom pastor, nos convoca e nos congrega num rebanho como sacramento do verdadeiro Bom Pastor que é o Senhor Jesus Cristo.


Mesmo que por razoes pastorais esta celebração (dos santos óleos) seja feita em outro dia, ainda assim, ao receber em nossas comunidades os santos óleos nós reconhecemos o sinal de nossa eclesialidade.  


Os santos óleos serviram sempre na Igreja para realizar a mediação sacramental da doação do Espirito Santo em diversas circunstancias da vida; simbolizaram fortaleza, agilidade, medicina, bom odor. Todas as significações que podem ser relacionadas com os óleos santos nos remitem ao Espirito de Deus que na Igreja é nos comunicado permanentemente pelo Senhor Jesus Cristo.


O sacramento do serviço (lava-pés) como mandato do Senhor, é realizado neste dia como expressão vivida do Espirito que tem que animar os seguidores do Mestre que não vem para ser servido e si para servir (cf. Mc 1045).


Na presidência do bispo celebramos com especial solenidade a Ceia do Senhor, o Sacramento da fraternidade, congregados pela memória do Senhor que morre e ressuscita e que quer que sejamos a Igreja. A Eucaristia faz a Igreja, pois somos alimentados pelo mesmo Pão da Palavra de Deus e pelo Pão Eucarística. Na Eucaristia todos nós formamos uma comunidade de irmãos e por isso, de iguais.


Dom Do Sacerdócio


E ao mesmo tempo, o sacramento do sacerdócio foi sempre proclamado neste dia como a mediação da presença de Jesus Cristo, o Bom Pastor. Celebramos a instituição do sacerdócio neste dia. Qual é o valor deste sacramento? O Papa Francisco nos relembra com as seguintes palavras:


·        O Senhor ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel é chamado o sacerdote para ser ungido e ao mesmo povo é enviado para ungir. Na nossa alegria sacerdotal, encontro três características significativas: uma alegria que nos unge (sem nos tornar untuosos, sumptuosos e presunçosos), uma alegria incorruptível e uma alegria missionária que irradia para todos e todos atrai a começar, inversamente, pelos mais distantes.
·        Uma alegria que nos unge. Quer dizer: penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o sacramentalmente. Os sinais da liturgia da ordenação falam-nos do desejo materno que a Igreja tem de transmitir e comunicar tudo aquilo que o Senhor nos deu: a imposição das mãos, a unção com o santo Crisma, o revestir-se com os paramentos sagrados, a participação imediata na primeira Consagração... A graça enche-nos e derrama-se íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até aos ossos... e a nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.
·        Uma alegria incorruptível. A integridade do Dom – ninguém lhe pode tirar nem acrescentar nada – é fonte incessante de alegria: uma alegria incorruptível, a propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16, 22). Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da vida, mas, no fundo, permanece intacta como o tição aceso dum cepo queimado sob as cinzas, e sempre se pode renovar. Permanece sempre atual a recomendação de Paulo a Timóteo: reaviva o fogo do dom de Deus, que está em ti pela imposição das minhas mãos (cf. 2 Tm 1, 6).
·        Uma alegria missionária. Sobre esta terceira característica, quero alongar-me mais convosco sublinhando-a de maneira especial: a alegria do sacerdote está intimamente relacionada com o povo fiel e santo de Deus, porque se trata de uma alegria eminentemente missionária. A unção ordena-se para ungir o povo fiel e santo de Deus: para batizar e confirmar, para curar e consagrar, para abençoar, para consolar e evangelizar (Basílica Vaticana Quinta-feira, 17 de Abril de 2014).


P. Vitus Gustama,svd

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