sábado, 17 de junho de 2017

19/06/2017
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VIVER COMO COMPASSIVOS E RECONCILIADOS


Segunda-Feira da XI Semana Comum


Primeira Leitura: 2Cor 6,1-10


1 Na qualidade de colaboradores seus, exortamo-vos que não recebais a graça de Deus em vão. 2 Pois ele diz: “Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação”. Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação. 3 A ninguém damos qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja criticado. 4 Mas em todas as coisas nos apresentamos como ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, 5 nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações; 6 pela pureza, pela ciência, pela longanimidade, pela bondade, pelo Espírito Santo, por uma caridade sincera, 7 pela palavra da verdade, pelo poder de Deus; pelas armas da justiça ofensivas e defensivas, 8 através da honra e da desonra, da boa e da má fama. 9 Tidos por impostores, somos, no entanto, sinceros; por desconhecidos, somos bem conhecidos; por agonizantes, estamos com vida; por condenados e, no entanto, estamos livres da morte. 10 Somos julgados tristes, nós que estamos sempre contentes; indigentes, porém enriquecendo a muitos; sem posses, nós que tudo possuímos!


Evangelho: Mt 5,38-42


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40 Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41 Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42 Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado”.
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Nós Existimos e Vivemos Por Causa De Deus, Criador Da Existência


Exortamo-vos que não recebais a graça de Deus em vão. Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação”.


Lendo ou escutando atentamente as palavras de São Paulo parece claro que cada um de nós tem que mostrar fidelidade a Deus nas circunstancias concretas de nossa existência, pois existimos por causa de Deus, sem nenhum mérito de nossa parte. Como escreveu São Lucas: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). A vida que possuímos não somos nós que damos a nós mesmos. Esta vida é outorgada a nós como um dom excelente para cultivá-la e protege-la como um tesouro, no sentido de não a usarmos para os prazeres do mundo, pois a vida não é nosso e sim é de Deus. A vida é dada para ser doada. A vida é um dom para ser dom para os demais na convivência. Cada um é dom de Deus para a humanidade. “Que não recebais a graça de Deus em vão”, exorta São Paulo. Assumir o fato de que existimos como dom de Deus nos permite experimentarmos a plenitude da vida, pois na vida existe Deus, o Doador da vida. As boas obras se tornam uma dádiva. Assumir o fato de que somos dom de Deus nos motiva a investirmos na generosidade e na partilha do que somos e temos para os outros seres humanos.


Se começarmos o dia, mal humorados, desconfiados e tristes, nem mesmo o próprio sol, nem as fogueiras, nem as lâmpadas coloridas acesas pelo consumismo conseguirão substituir a luz que nós mesmos deveríamos irradiar, pois existe uma luz que o sol e as centrais elétricas não podem gerar: É a luz do nosso coração, de nossa alma, de nosso interior. É a luz que vem do Alto. É a luz, que muitas das vezes, abávamos com os prazeres mundano e acabamos não vendo o sentido de nossa existência neste mundo. Somos a luz do mundo (Mt 5,14), isto é, somos aquelas pessoas que ajudam os outros a enxergarem melhor a vida e seu sentido. Quando uma pessoa começar a enxergar a vida, ela não vai querer mais tempo para viver e conviver bem.


O Momento Presente É a Nossa Própria Vida


Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação”, acrescentou São Paulo. A única realidade que temos é o presente. Este instante é tudo que temos. Só podemos agir no momento presente ou nunca mais. E não há como apressar a chegada do próximo instante nem segurar o tempo que está fugindo de nós. É possível que tenhamos tido tempos no passado que foram especiais ou ruins para nós; pode ser que o futuro nos reserve momentos preciosos. Porém, o único tempo realmente “nosso” é este instante em que estamos agora. Cabe a nós decidir o que fazer com ele. Cada momento é meu para torná-lo belo ou doloroso de acordo com minha escolha. A consciência de que hoje ou agora é o tempo favorável me leva a viver uma total responsabilidade pelas minhas atitudes, ações e a ter coragem de aceitar o que somos e de encarar todo tipo de sofrimento, pois agora é o meu tempo favorável de salvação.


Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação”. Não importa o quanto somos ocupados. Todos nós precisamos usar o tempo para gastá-lo em coisas que tornam a vida digna de ser vivida e convivida. Gaste o tempo para criar amigos, pois “Um amigo é um presente que você dá a si mesmo” (Robert Louis Stevenson). Ser bom para os outros é ser bom para si mesmo. Dar o melhor para os outros é uma forma de dar o melhor para si próprio. Quando limitarmos nossa bondade paralisaremos nosso crescimento para o bem.


Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação”. Vamos nos concentrar no HOJE, pois é tudo que temos. Dentro deste dia há muitas escolhas e uma rica gama de experiências que teremos. Não podemos controlar os resultados, pois somente este instante, este hoje, este agora que está ao nosso alcance. Devemos saborear o momento presente e aprender com ele, pois este momento é a própria vida. Os próximos momentos não pertencem a nós, pois a vida não é uma bola de cristal. Fomos feitos para viver agora, pois “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação”.


A Misericórdia Divina Pede Para Vivermos Reconciliados


O texto do evangelho lido neste dia se encontra no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Este texto é conhecido como a quinta antítese nesse Sermão que nos fala sobre como devemos nos relacionar com quem nos ofendeu. Para entender o significado desta antítese precisamos conectá-la com as bem-aventuranças na abertura do Sermão da Montanha. Em algumas das bem-aventuranças Jesus declara: “Bem-aventurados os mansos... Bem-aventurados os misericordiosos... Bem-aventurados os que promovem a paz...”. É isto que Jesus nos ensina agora e nos ensinará também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). Na Paixão, Jesus pedirá o perdão ao Pai para os malvados (cf. Lc 23,34). São Pedro na sua primeira Carta escreveu: “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23).


Nesta quinta antítese, Jesus faz seu comentário sobre a lei de talião do Antigo Testamento. No Livro do Êxodo lemos: “Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,23-25; cf. Lv 20,17-22). Aqui se acentua a vingança proporcional ou a vingança na mesma medida.
   

A lei de talião era conhecida em todo o Oriente Antigo. Ela é encontrada no Código Hammurábi, nas leis assírias, na Torá bem como também entre os gregos e os romanos.


No famoso Código de Hammurábi (século XVIII a.C) encontramos os seguintes artigos referentes à Lei de talião:
  • O artigo 196: “Se alguém arrancar um olho de outro, também seu olho será arrancado”.
  • O artigo 197: “Se alguém quebrar um membro de outro, também um de seus membros será quebrado”.
  • O artigo 200: “Se alguém quebrar um dente de outro, um de seus dentes será quebrado”.
     
    A finalidade primordial dessa lei era colocar um limite a uma vontade desenfreada de vingança em uma sociedade em que a vingança era quase que institucionalizada (cf. Gn 4,23-24). Portanto, a intenção dessa lei era proteger os direitos das pessoas contra os excessos de violência.
     
    Na quinta antítese do Sermão da Montanha Jesus faz uma reflexão sobre a lei de talião e oferece uma solução: “Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante um quilômetro, caminha dois com ele. Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado” (Mt 5,38-42).
           
    Com esta antítese Jesus coloca como alternativa à violência, não a lei de talião, mas a não-violência. Na verdade, Jesus já colocou nas Bem-aventuranças a atitude certa contra a violência: “Bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os que promovem a paz”. Jesus nos ensina também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). E São Pedro na sua Carta escreveu que Cristo “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23).
     
    A reação paradoxal que Jesus sugere aos cristãos, diante da violência, tem uma finalidade concreta: mostrar as possibilidades extremas de aplicação do seu mandamento de amor. Quem é movido por um amor incondicional ao próximo será capaz de fazer gestos radicais para coibir a violência, sem responder com a mesma moeda. Tudo supõe que se tenha um coração limpo (cf. Mt 5,8). A lei de talião é excluída pela pureza de coração e pela compaixão. O cristão é chamado a não entrar na engrenagem infernal de um violento e não reagir com a violência à violência.
           
    Segundo Jesus não basta “aguentar” os maus; devemos fazer, por eles, algo de positivo. Jesus não quer bobos, mas fortes, capazes de fazer algo para que o mundo mude ou melhore. Não é suficiente sofrer, enquanto tivermos ainda uma possibilidade de fazer positivamente o bem.
     
    Não é possível viver odiando em inimizade profunda e irreversível. O dano interior provocado por uma relação esfarrapada corrói nossas melhores energias e o Templo de Deus em nós se deteriora (cf. 1Cor 3,16-17) e os sentimentos de vingança o deformam lentamente. O perdão é o testamento escrito por Jesus na cruz. Da cruz Jesus pede perdão por todos aqueles que o crucificaram: “Pai, perdoa-lhe porque sabem o que fazem” (Lc 23,34).
     
    Vamos olhar para nossa realidade, tanto dentro da Igreja como fora dela, na sociedade, e vamos nos perguntar: a Lei de Talião ainda continua sendo praticada? Será que abandonamos a cultura que o Papa Francisco denomina a Cultura do encontro em que um se torna próximo do outro e por isso, um tem que cuidar do outro? A cultura do encontro freia até elimina a cultura de violência em que tudo se resolve com a briga e a vingança? Não temos tentação em fazer vingança contra o outro que não está de acordo com nosso pensamento e nossa maneira de viver? Viver uma vida de uma maneira só é uma grande pobreza e mata toda a criatividade.
     
    Deveríamos realizar um progressivo desarme intelectual, moral e religioso. É não justificar o injustificável. É crer na força do amor. É tirar da Eucaristia a certeza de curar nossas feridas profundas. Toda vez que fazemos memória da morte e ressurreição de Cristo, o mesmo Senhor nos introduz, pelo Espírito, na plenitude de sua existência pascal.
     
    Quando o amor for “excesso” o mal é obrigado a não se produzir e sua existência se extingue. Não é uma petição aos heróis e sim para todos os cristãos para que imitem o exemplo do seu Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos que pedir permanentemente ao Senhor sua graça e força que vem de Seu Espírito para acontecer uma transformação profunda no nosso modo de viver com os demais homens. Mas “Empregar o nome de não-violência quando existe uma espada em vosso coração é, não somente hipocrisia e desonesto, mas, ainda, covardia. Se permanecermos não-violentos, o ódio ficará sem efeito. O primeiro princípio da ação não-violenta é o da não-cooperação com tudo que é humilhante” (Mahatma Gandhi).
     
    Reflitamos as seguintes palavras do escritor e psicólogo argentino, René Juan Trossero:
     
    “Não me importam as suas teorias sobre a violência;
    O que me interessa saber é como você vive
    No meio da violência que nos cerca por todas as partes.
     
    Se você nunca foi vítima da violência,
    Fale sobre ela com prudência
    Por respeito aos que a sofrem na pele.
     
    Provocar a violência em nome de Deus
    E do Evangelho é um sacrilégio.
    Pregar a resignação para os que sofrem a violência,
    Invocando Deus e o Evangelho, é uma trapaça.
     
    Não acabará a violência quando houver menos armas,
    E sim quando houver mais amor.
     
    Destruir a violência com a violência
    É como apagar um incêndio com gasolina.
    A única maneira de lutar contra a violência
    É não provocá-la”.   (René Juan Trossero)
     
    São Pedro descreve Jesus da seguinte maneira: “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23).
     
    O ser humano não deve responder ao mal com o mal, pois gerará mais violência. Ele deve trabalhar pela paz e, para isso, ele tem que interromper a cadeia de vingança. Ele tem que surpreender com amor e generosidade ao próximo que o ofende. Somente assim poderemos criar uma sociedade nova.
     
    Diante deste Jesus precisamos olhar para nossa maneira de viver e de conviver, pois adotamos a maneira de viver de Jesus como nossa e assumimos seus ensinamentos para nossa vida cotidiano, pois somos cristãos? Será que podemos nos dizer como somos cristãos, ou estamos cristãos ainda?
     
    P.Vitus Gustama,svd

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