sexta-feira, 30 de junho de 2017

Domingo, 02/07/2017


Observação inicial:  Nesta página são encontradas duas reflexões:
1. Solenidade de São Pedro e São Paulo (para os lugares onde esta solenidade é celebrada neste domingo).
2. XIII Domingo do Tempo Comum "A" (para os lugares onde a Solenidade de São Pedro e São Paulo foi celebrada no dia 29 de Junho).




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SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO



Primeira Leitura: At 12,1-11
Naqueles dias, 1 o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. 2 Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. 3 E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos. 4 Depois de prender Pedro, Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um. Herodes tinha intenção de apresentá-lo ao povo, depois da festa da Páscoa. 5 Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. 6 Herodes estava para apresentá-lo. Naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes; e os guardas vigiavam a porta da prisão. 7 Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: “Levanta-te depressa!” As correntes caíram-lhe das mãos. 8 O anjo continuou: “Coloca o cinto e calça tuas sandálias!” Pedro obedeceu e o anjo lhe disse: “Põe tua capa e vem comigo!” 9 Pedro acompanhou-o, e não sabia que era realidade o que estava acontecendo por meio do anjo, pois pensava que aquilo era uma visão. 10 Depois de passarem pela primeira e segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. O portão abriu-se sozinho. Eles saíram, caminharam por uma rua e logo depois o anjo o deixou. 11 Então Pedro caiu em si e disse: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”.


Segunda Leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
Caríssimo: 6 Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. 7 Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. 8Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. 17 Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.


Evangelho: Mt 16,13-19
Naquele tempo, 13 Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” 14 Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15 Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16 Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. 17 Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18 Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
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Celebramos neste domingo a solenidade de duas colunas principais da Igreja: São Pedro e São Paulo. Os dois servem o mesmo Cristo embora de maneira diferente. Não há uma maneira só para servir Cristo e sua Igreja. Cada um dos dois tem suas qualidades. Mas como seres humanos eles também têm suas debilidades ou fraquezas. No entanto essas debilidades jamais deixam os dois de servir o Senhor e Sua Igreja.


1. Quando sou fraco, então é que sou forte


Estas palavras foram ditas pelo próprio Paulo na sua Segunda Carta aos Coríntios (2Cor 12,10). O “Quando sou fraco, então é que sou forte” reflete a vida destes dois grandes santos: Pedro e Paulo.


Pedro foi chamado de homem de pouca fé (Mt 14,31), de Satanás (Mt 16,23). Ele falhou em vigiar e orar junto com Jesus apesar do aviso de Jesus (cf. Mt 26,37-44; Mc 14,33-41). No momento da prisão de Jesus, numa atitude impetuosa, cortou a orelha de Malco, empregado do sumo sacerdote (Jo 18,10). No pátio de Caifás, a determinação de Pedro (cf. Mt 26,33-35) entrou em colapso, não diante de um tribunal, mas diante da pergunta de uma jovem empregada. Ele negou ser discípulo de Jesus (Mt 26,58.69-75). Mas apesar de tudo, ele reconhece que somente Jesus tem palavras de vida eterna (Jo 6,69). Ele sempre encabeça a lista dos discípulos (cf. Mt 10,2; Mc 3,16; Lc 6,14). Faz parte do círculo mais íntimo dos discípulos (Mc 5,37;9,2;13,3; Lc 8,51), e é o primeiro entre os discípulos (Mt 16,23; Jo 21,19). Ele admite sua ignorância (Mt 15,15; Lc 12,41; cf. também Jo 13,6-10 sobre o lava-pés) e a própria pecaminosidade (Lc 5,8). Ele questiona sobre o perdão e é advertido sobre as consequências do não- perdão (Mt 18,21-35).


Uma piedosa tradição conta que, durante a perseguição cruel de Nero, Pedro saía de Roma, abandonando a própria comunidade cristã em busca de um lugar mais seguro. Junto às portas da cidade, cruzou-se com Jesus que carregava a Cruz. Quando Pedro lhe perguntou: “Aonde vais, Senhor (Quo vadis, Domine)?” ouviu a resposta do Mestre: “Vou a Roma para deixar-me crucificar novamente”. Pedro entendeu a lição e voltou para a cidade onde o esperava a sua cruz. Um historiador antigo refere que Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por sentir-se indigno de morrer como o seu Mestre, de cabeça para o alto. Apesar das suas fraquezas, Pedro foi fiel a Cristo, até dar a vida por Ele.


Ficamos perguntando, por que Pedro, homem que demonstra um pouco de volubilidade e que tem tantos defeitos, foi eleito por Jesus para ser rocha sobre a qual edifica sua Igreja e para apascentar as ovelhas de Jesus? (Cf. Jo 21,5-17). Até o próprio Pedro questiona Jesus sobre essa eleição (cf. Jo 21,21). Será que, ao reconhecer os próprios defeitos e fraquezas, Pedro terá condições de compreender os defeitos e fraquezas dos outros sem condená-los, mas ajudá-los a saírem destes? Pois aquele que já passou por uma experiência de miséria, normalmente, sabe repartir o que tem para quem não tem nada para viver. Nunca podemos compreender completamente os mistérios de Deus. Talvez o profeta Isaías tenha razão quando coloca estas palavras na boca de Deus: “Pois meus pensamentos não são os vossos, e o vosso modo de agir não é meu... meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55,8.9b). Por isso, junto com o salmista podemos rezar: “Ensina-me, Senhor, vosso caminho...!” (Sl 26,11), pois “os caminhos de Deus são perfeitos” (2Sm 22,31).


Paulo também passou por uma experiência dolorosa antes de conhecer Jesus Cristo. A queda de Paulo na estrada de Damasco foi a linha divisória para sua vida entre antes e depois (At 9,1ss). Essa queda é a chave geral para entender Paulo e toda a sua luta incansável.


Paulo sempre foi um homem profundamente religioso, judeu praticante, irrepreensível na mais estrita observância da Lei (Fl 3,6;At 22,3) cheio de zelo pelas tradições paternas(Gl 1,14). Para defender essas tradições, chegou a perseguir os cristãos e isso com o apoio do Sinédrio.


Mas na estrada de Damasco Paulo, em vez de perseguir, ele foi perseguido por Cristo. A entrada de Jesus na vida de Paulo não foi pacífica, mas sim de uma maneira violenta.


Deus não pediu licença a Paulo. Ele entrou e o derrubou (At 9,4;22,7;26,14). Caído no chão, Paulo se entregou. Lucas não diz que Paulo caiu do cavalo, mas “cai por terra”, porque essa é a fraseologia usada em alguns textos bíblicos para descrever a reação humana diante da manifestação divina. Paulo é interpelado duas vezes pelo seu nome hebraico, transcrito em grego: “Saoúl, Saoúl” (v.4). A repetição do nome corresponde ao esquema de diálogos de revelação aos patriarcas bíblicos: Abraão, Jacó, Moisés (Gn 22,1;46,2; Ex 3,4). A novidade na experiência de Paulo é a pergunta: “Por que você me persegue?” (v.4). Ela revela uma situação singular. Aquele que fala com Paulo, no contexto de uma luz divina, se identifica com aqueles que Paulo está perseguindo (v.5 ). A identificação de Jesus com os seus discípulos perseguidos coloca Paulo diante de uma escolha sem alternativas (cf. Mt 25,40.45). Ele precisa mudar radicalmente os seus projetos.


Uma luz o envolveu (v.3) e era tão forte que Paulo ficou cego. Ele começou a enxergar até que Ananias interveio para dar-lhe o sentido da sua aceitação na Igreja e da certeza de caminhar na via que leva a Deus. Paulo ressuscitou no exato momento em que foi acolhido na comunidade como irmão(v.18).


Paulo ganhou novos olhos. Ele via as mesmas coisas de sempre: a vida, as pessoas, a Bíblia, o povo, a sinagoga, o trabalho e tudo que pertencia ao seu mundo. Mas a nova experiência do amor de Deus em Jesus (Rm 8,39) mudou os olhos, e o ajudou a descobrir novos valores que antes não via. A visão de Deus é luz, mas para a carnalidade do homem é motivo de espanto e faz com que o homem perceba toda a escuridão em que se encontra. Em contato com Deus que é luz, o homem se reconhece que é trevas.       


O nascimento de Paulo, segundo 1Cor 15,8, para Cristo não foi normal. Deus o fez nascer de maneira forçada. Paulo foi arrancado de dentro de seu mundo, como se arranca uma criança do seio da mãe por meio de uma operação.


A partir da experiência de Damasco, Paulo não consegue confiar naquilo que ele faz por Deus, mas só naquilo que Deus fez por ele. Já não coloca sua segurança na observância da Lei, mas sim no amor de Deus por ele (Gl 2,20s; Rm 3,21-26). Essa experiência chama-se Gratuidade. Essa foi a marca de experiência de Paulo na estrada de Damasco que renova por dentro todo o seu relacionamento com Deus. Essa experiência da gratuidade do amor de Deus vai dar rumo à vida de Paulo e vai sustentá-lo nas coisas que virão. Essa experiência é a nova fonte da sua espiritualidade que faz brotar nele uma “poderosa energia” (Cl 1,29), energia muito mais forte e muito mais exigente do que a sua vontade anterior de praticar a Lei e de conquistar a justificação. Essa experiência levou Paulo a desocupar o barraco da sua vida para deixar Jesus entrar nela.  Ele cresce tanto no amor de Cristo, a ponto de dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Essa “desapropriação” de si mesmo, porém, não lhe tira a liberdade. Pelo contrário, ele diz: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1;2,4). A experiência da gratuidade do amor de Deus faz Paulo suportar lutas e perseguições, viagens e canseira, o peso do dia-a-dia (2Cor 11,23-27); sofrer com aqueles que sofrem (2Cor 11,29). Essa experiência mudou os olhos de Paulo e o ajudou a descobrir novos valores que antes não via.    


Pálido, doente e acabado, Paulo foi levado a um vale solitário chamado Aquae Salviae em Roma. Seu corpo foi açoitado pela última vez. Inclinou a cabeça à espera da espada que o conduziria ao martírio. O lugar onde ele foi martirizado, hoje chama-se Tre Fontane como recordação de Cabeça de Paulo que por três vezes bateu no chão antes de parar no instante dramático da morte. Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).


O Deus do Evangelho e da misericórdia é Aquele que no instante em que me faz compreender que errei completamente com relação a Ele, porque me coloquei em seu lugar, demonstra-me a sua misericórdia ao perdoar-me e me dá confiança ao chamar-me ao seu serviço, confiando-me a sua própria Palavra.


Este instante resume para Paulo tudo o que ele sabia de Deus de maneira errada. O escuro se torna claro, o violento se torna misericordioso.


O evento de Damasco é algo tão rico que devemos aproximar-nos com muita humildade e reverência, convencidos de que compreendemos pouco, que sabemos pouco com relação a isto, mas que poderemos conhecer muito mais pela graça de Deus. Então, compreenderemos melhor a nós mesmos, o caminho da nossa vida e as nossas conversões.


A experiência de Paulo nos faz perguntar: “Quando foi que me converti? Existe em minha vida um “quando” da conversão ao qual posso referir-me como momento histórico? Mesmo que não tenha havido um “quando” temporal, certamente aconteceram momentos de mudança, de transformação, de crise que nos levaram a uma nova compreensão do mistério de Deus.


Se nunca realizamos a fundo esta mudança de mentalidade que é essencial para a vida cristã, ainda não chegamos a compreender o que é a novidade do caminho cristão. Se não compreendo bem as coisas ditas sobre Paulo, provavelmente é difícil que compreenda o que aconteceu em mim. 


2. Pedro e Paulo revelam face institucional e carismática da Igreja


Pedro e Paulo são chamados as duas colunas da Igreja. Os dois revelam, de maneira expressiva, as duas faces da Igreja: a institucional e a carismática. Por um lado, a Igreja é um dom que recebemos de Cristo e da Tradição. Aqui não se inventa nem se acrescenta; acolhe-se com gratidão. Entretanto ela pode conter perigos; favorece a acomodação, facilmente se incorre no legalismo, no moralismo e na rigidez dogmática que impede ou suspeita de toda novidade. Pedro corporifica a face institucional da Igreja.


Mas estes limites são superados ou equilibrados por outra face: a face carismática. Porque, a Igreja é resposta humana, criatividade face aos desafios de cada geração, adaptação aos valores das culturas, inovação nos modos de pensar a fé, de rezar a Deus e de viver o Evangelho. Mas esta face tem também seus limites: a invenção não pode adulterar a substância da fé apostólica; cumpre guardar uma fidelidade essencial ao espírito de Jesus e dos Apóstolos. Paulo corporifica a face carismática da Igreja. A Igreja que hoje possuímos é fruto desta síntese feliz. A festa de Pedro e Paulo nos quer recordar os bons frutos que nos vêm desta tensão conservando a unidade dentro da pluralidade.


3. Pedro e Paulo Nos Trazem a Mensagem da Esperança


Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte”, contou-nos São Paulo sua experiência (2Cor 12,10).


As duas figuras, Pedro e Paulo, nos trazem uma mensagem de esperança. Na vida podemos ter muitos defeitos e fraquezas a ponto de não conseguirmos sair deles, mas ninguém pode escapar do amor de Deus desde que acolhamos este amor com muita humildade. Pedro e Paulo são testemunhas de tudo isto. Como se os dois quisessem nos dizer: “Não desista! Tudo tem seu tempo e sua solução, pois Deus te ama”. 


Deus conta com o tempo para formar cada um de nós, seus instrumentos, como conta também com a nossa boa vontade. Se tivermos a boa vontade de Pedro e de Paulo, se formos dóceis à graça de Deus, iremos convertendo-nos em instrumentos idôneos para servir o Mestre e para levar a cabo a missão que nos confiou. Até os acontecimentos que parecem mais adversos, os nossos próprios erros e vacilações, se recomeçarmos uma vez e outra, se abrirmos o coração ao Senhor e às pessoas capacitadas na direção espiritual, haverão de ajudar-nos a estar mais perto do Senhor que não se cansa de suavizar os nossos modos rudes e toscos. É provável que, em momentos difíceis de nossa vida, cheguemos a ouvir como Pedro: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31). E veremos Jesus ao nosso lado, estendendo-nos a mão para nos ajudar.


Todos nós recebemos, de diversas maneiras, uma chamada concreta para servir o Senhor. E ao longo da vida chegam-nos novos convites para segui-lo, e temos de ser generosos com Ele em cada novo encontro. Temos de saber perguntar a Jesus na intimidade da oração, como São Paulo: “Que devo fazer, Senhor? Que queres que eu deixe por Ti? Em que desejas que eu melhore? Neste momento da minha vida, que posso fazer por Ti?


Pedimos hoje a São Pedro e ao Apóstolo dos pagãos, Paulo, um coração como o deles, para sabermos passar por cima das pequenas humilhações ou dos aparentes fracassos que acompanham necessariamente a ação apostólica, ou a nossa vida em geral. E dizemos a Jesus que estamos dispostos a conviver com todos, a oferecer a todos a possibilidade de conhecê-lo e amá-lo, sem nos importarmos com os sacrifícios nem pretendermos êxitos imediatos. Assim seja!


P. Vitus Gustama,svd


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AS EXIGÊNCIAS  E AS RECOMPENSAS DO SEGUIMENTO


XIII Domingo Comum “A”


I Leitura: 2 Re 4,8-11.14-16ª
Certo dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia lá uma distinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a refeição. A senhora disse ao marido: “Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe fazer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar”. Um dia, chegou Eliseu e recolheu-se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao seu servo Giezi: “Que podemos fazer por esta senhora?” Giezi respondeu: “Na verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada”. “Chama-a” – disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta: “No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços”.


II Leitura: Rom 6,3-4. 8-11
Irmãos: Todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, para glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.


Evangelho:  Mt 10,37-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.
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O evangelho de hoje é a parte final do discurso de Jesus sobre a missão. Mt colocou aqui diversos elementos que ele tomou de diferentes contextos. Dividimos o texto em duas partes. A primeira parte(vv.37-39) apresenta as exigências que Jesus propõe para quem quer segui-lo. Na segunda parte (vv.40-42) Jesus promete recompensar todos aqueles que acolherem os seus enviados.


I. AS EXIGÊNCIAS DE JESUS (vv.37-49)


Jesus é terrivelmente exigente. Ele exige renúncia de uma radicalidade inaudita e conclui cada exigência com o mesmo refrão: “não é digno de mim!” Ele pede uma adesão total e indivisível à sua pessoa.


1. A primeira exigência: Jesus deve ser preferido aos vínculos humanos mais sagrados


Aquele que ama pai e mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que ama o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim” (v.37).


Jesus usa aqui a palavra mais sagrada: “amar”. Certamente a primeira das renúncias se refere ao que há de mais caro a Deus e aos homens: o amor. O mundo inteiro é fruto do amor de Deus. O amor é o porquê da encarnação de Jesus Cristo. A redenção encontra sua resposta no amor de Deus pela humanidade. Todo o NT se fundamenta no amor. E todos nós reconhecemos que nascemos de um momento fecundo do amor. Nenhum preceito que fira o amor tem legitimidade para Jesus e para os cristãos. No entanto, o primeiro e maior amor se deve a Deus (Mt 22,38), porque de Deus provêm todas as expressões do amor e a Deus retornam todos os nossos gestos de amor. Portanto, Jesus não manda não amar pai e mãe e filhos, mas deve amá-los dentro do grande amor que devemos a Deus e devemos renunciá-los sempre que forem empecilho. Trata-se, então, de estruturar a vida inteira a partir desse amor maior que dá sentido a todos os outros. A partir desse amor maior todos os outros amores se enriquecem. Se amarmos os pais e irmãos com o coração cheio do amor de Deus, esse amor se torna digno de confiança. Por isso, embora Jesus insista nas obrigações de seus seguidores aos pais (Mt 15,3ss) e à família (cf. Mt 5,27ss;19,1ss), contudo esse relacionamento não pode, de modo algum, impedir ou prejudicar a obediência do homem diante das exigências de Deus, o Bem Absoluto, o Maior Amor (cf. Mt 8,21s). Todos devem ser dispostos a qualquer sacrifício quando está em jogo a causa de Deus e a própria salvação. Precisamos estar conscientes de que há amores familiares que matam, principalmente do ponto de vista espiritual. Portanto, vivemos em contínua renúncia e permanente abertura às manifestações do amor de Deus.


Mas cada um de nós, a partir desta exigência, precisa se perguntar: Que lugar ocupa Jesus na sua vida? Ele ocupa o primeiro lugar ou em segundo lugar na sua vida?


2. A segunda exigência é carregar a cruz e renunciar à própria vida


“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (v.38).


“Tomar sua cruz” é uma expressão metafórica para a prontidão para a morte, para o movimento de partida de si mesmo em direção a Deus. Cada partida em direção a Deus sempre representa uma morte de si mesmo. A vida que se entrega a Deus tem algo desse morrer em si e será uma nota característica de nossas mais sinceras intenções em seguir a Jesus. Não se ama a cruz em si mesmo, mas ao seguir a Jesus incondicionalmente encontra-se a cruz.


Cada história tem sua própria cruz e cada cruz tem sua própria história. Todos nós, de alguma forma, carregamos alguma cruz na nossa vida. Mas existe cruz com Cristo, como também existe cruz sem Cristo. Para alguns, a cruz pode ser vivida como tribulação, para os outros ela pode ser vivida como libertação. A cruz sem Cristo é a cruz-condenação. É a cruz de quem deseja ser um deus. É a cruz que não tem finalidade em si mesmo. É a cruz sem fé, sem amor, sem sentido da vida, sem renúncia por amor. É a cruz de quem deseja viver numa liberdade sem responsabilidade. Jesus Cristo, que foi crucificado, transformou a cruz de castigo em bênção. Por isso, se procuramos Cristo sem sua cruz acabamos encontrando a cruz sem Cristo. Mas se procuramos Cristo com sua cruz acabamos encontrando a salvação. Que tipo de cruz que você carrega: com Cristo ou sem Cristo?


E Jesus acrescenta: “Quem procura conservar a sua vida, vai perde-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (v.39). Buscar a vida era o ideal dos sábios do Antigo Testamento. Mas Jesus convida a mudar esta sabedoria por outra mais profunda que consiste em imitar sua entrega a fim de alcançar a vida em plenitude: a vida sem fim com Deus. A vida vem de Deus e somente ele é capaz de dar a vida. Se a vida é totalmente de Deus e para Deus, então, todas as vezes que o homem se fecha em si mesmo, ele se desliga da sua fonte, da sua razão de ser e da sua única meta possível. Só salva sua vida quem não confia na sua mortalidade, mas se inclui na imortalidade de Deus; mas isto significa morrer para viver eternamente. Certamente, aqui é que está a grandeza maior do homem. A proposta de Jesus é levar a vida a sério, enfrentar com dignidade os desafios, mas sempre se abrir à fonte da vida: Deus. É preciso sair de si mesmo, ultrapassar-se a si mesmo em direção à vida por excelência: Deus. Se renunciarmos aos nossos interesses pessoais, acolheremos os interesses de Deus. Se renunciarmos às falsas propostas da vida, acolheremos a cruz redentora de cada dia, que nos traz consigo o Cristo Salvador.


II. A PROMESSA DE JESUS A QUEM ACOLHE SEUS ENVIADOS/MISSIONÁRIOS (vv.40-42)


 Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo... até um copo de água fresca dada a um dos pequeninos não perderá a sua recompensa” (vv.41-42).


Encontramos aqui, pelo menos, três grupos na comunidade de Mateus. Os profetas exerciam um ministério itinerante que consistia, sobretudo, na pregação; eram homens suscitados por Deus. Os justos eram homens de virtude comprovada na comunidade, quer pela sua vida exemplar, quer pela fé praticada na caridade. Eram homens fiéis aos mandamentos de Deus. Os pequeninos eram os simples discípulos de Jesus, não ocupavam nenhuma posição destacada na comunidade.


Qual será a recompensa prometida por Jesus? O texto não especifica a recompensa. Mas se olharmos para o cap. 25 de Mateus, saberemos que uma obra boa feita para os mais insignificantes, mesmo sem consideração de quem ele é ou sem saber se está servindo a Cristo nele, a recompensa será grande: a alegria eterna (Mt 25,31-46). Na atitude adotada diante de um pobre, mostramos a verdadeira generosidade de nosso coração. Partilhar o que temos para os mais pobres é uma forma de prolongar a generosidade do Deus-Criador que criou tudo gratuitamente para os homens. Nós que acreditamos no Deus-Criador devemos manter viva esta generosidade através da partilha daquilo que temos e somos.


Que as pessoas percebam a marca do amor de Deus nos nossos gestos, palavras e obras para que possam acreditar que Deus existe e que esse Deus é Amor. Assim seja.


P. Vitus Gustama,SVD





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