sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Domingo,06/08/2017
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TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR NA NOSSA VIDA


I Leitura:  Dn 7,9-10.13-14
9 Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10 Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos. 13 Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho do homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14 Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.


II Leitura: 2Pd 1,16-19
Caríssimos, 16 não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. 17 Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer”. 18 Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte Santo. 19 E assim se nos tornou ainda mais firme a palavra da profecia, que fazeis bem em ter diante dos olhos, como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações.


Evangelho: Mt 17,1-9
Naquele tempo, 1 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2 E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3 Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. 5 Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” 6 Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7 Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. 8 Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9 Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
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Os evangelhos que relatam o episódio da Transfiguração do Senhor querem nos dizer que Jesus que caminha até a Cruz, é realmente o Senhor. Precisamente, neste Jesus que caminha até a Cruz encontramos o cumprimento de todas as esperanças. A transfiguração se transforma na revelação não somente do que será Jesus depois da Cruz, mas ao longo de sua viagem para Jerusalém. A transfiguração de Jesus revela a verdadeira natureza de Jesus como Senhor (título pós-pascal). A transfiguração quer revelar aos discípulos que atrás da Cruz há a glória. E para os discípulos, representados por Pedro, João e Tiago, é concedida a graça de contemplar a glória de Jesus, por um instante. A transfiguração é a Páscoa antecipada por um instante.


Para o evangelista Mateus a cena da transfiguração de Jesus tem um sentido teológico profundo: Deus mais uma vez, revela a glória messiânica de Jesus. Jesus é identificado como “o meu Filho amado”. É a mesma fórmula do Batismo (cf. Mt 3,17), influenciada por Is 42,1 e Sl 2,7. A fórmula final “Escutai-O” é uma alusão clara a Dt 18,15, um texto que anunciava o envio de um novo Moisés encarregado de transmitir as palavras de Deus. Na perspectiva de Mateus, Jesus é esse novo Moisés. Ele deve formar o novo povo de Deus e revelar a esse novo povo os segredos de Deus (cf. Jo 15,15b).


Reflitamos alguns pontos do texto do evangelho sobre a transfiguração na versão do evangelho de Lucas!


1. Jesus Na Alta Montanha


Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha


No Antigo Testamento a montanha é o lugar preferido do encontro com o Deus santo. Jesus se encontra na alta montanha com os três discípulos. Esta expressão não quer sublinhar apenas que Jesus está na presença de Deus. Os evangelistas querem nos dizer que Deus está na presença de Jesus. Jesus deixa-nos entrever o mistério de Deus na sua existência igual à nossa. Jesus se deixa habitar por Deus e por isso, ele se torna uma presença divina diante dos homens.


As montanhas na vida de Jesus são diversamente consideradas pelos sinóticos (Mc, Mt, Lc). Todos eles concordam em mostrar que Jesus gostava de retirar-se à montanha para orar (Mt 14,23; Lc 6,12; 9,28) e que ali ele busca um refúgio contra a publicidade ruidosa (Jo 6,15).


Para o evangelista Mateus, as montanhas da Galileia são o lugar privilegiado das manifestações do Salvador. A vida de Jesus está marcada por duas cenas sobre a montanha. No início de sua vida pública Satanás oferece a Jesus o poder sobre o mundo inteiro (Mt 4,8). E ao fim de sua missão terrena, Jesus confere a seus discípulos o poder que recebeu do Pai (Mt 28,16). Entre estas duas cenas, também é em tal montanha ou em outra Jesus ensina as multidões (Mt 5,1), cura muitos doentes e lhes dá um pão maravilhoso (Mt 15,29...) e finalmente, aparece transfigurado, como lemos no texto do Evangelho de hoje (Mt 17,1s). Nenhuma destas montanhas leva um nome preciso. Como se o discípulos de Jesus fosse libertado contra a tentação de plantar para sempre sua tenda em alguma destas montanhas. Jesus vincula sua mensagem não a um lugar da terra e sim à sua pessoa.


Na montanha se encontra o silêncio. Neste silêncio é que Jesus se comunica com o Pai. A função do silêncio é nos mergulharmos na comunhão divina e nos pôr numa situação em que o próprio Deus possa se revelar a nós. Deus habita o silêncio porque sua vitalidade interior é “silêncio”. Nosso comportamento de silêncio sublinha a urgência de nosso coração habitar em Deus para contemplar sua luminosidade. Fazer silêncio gera uma sede viva da Palavra. O silêncio é o ambiente normal no que se vive e se desenvolve a comunhão com Deus.


2. Quem Anda Com o Senhor Se transfigura e Experimenta a Glorificação


A transfiguração é uma mensagem da esperança com intenção de animar qualquer um de nós em qualquer situação onde nos encontramos.


Jesus percebe o desânimo dos seus discípulos por causa das dificuldades. Com Jesus eles são criticados, muitos os recusaram. Além disso, ainda ouviram de Jesus três vezes o anúncio da morte iminente de Jesus com muito sofrimento. Com certeza, surge uma pergunta no seu coração: Será que vale a pena seguir esse Jesus que se diz o Messias esperado?


Para resolver o problema do desânimo dos discípulos Jesus leva os três representantes para o topo de uma montanha: Pedro, Tiago e João. No topo da montanha é que Jesus se transfigura diante deles. Com essa transfiguração Jesus quer dizer aos três: quando caminha comigo, mesmo que enfrente muitas dificuldades, muitas críticas, bastante recusas, experimentará a vida glorificada, terá uma vida transfigurada. Jesus quer lhes dizer: “Comigo não tenham medo de nada e de ninguém, pois a minha Palavra será a última palavra!”. Quando as forças humanas se esgotarem, a fé em Jesus vai surgi-las novamente.


3. Deus Quer Ficar Em Nossa Casa e Habitar Em Nosso Coração


É bom estarmos aqui, Senhor. Vamos fazer três tendas: uma para Ti, outra para Moises e outra para Elias”, disse Pedro a Jesus. O projeto da tenda de Pedro responde ao desejo inconsciente de ter Deus a distância, de marcar limite da presença de Deus em lugares e tempos bem definidos. Mas Deus não aceita nosso jogo. Com sua encarnação Deus escolheu outro jogo, que é muito mais sério: o jogo de nossa realidade de todos os dias.


Jesus não aceita pousada para ele. A hospitalidade que Ele pretende é a doméstica. Por isso, ele, com seus discípulos, desceu da montanha.


É curioso como o homem se preocupa sempre em construir algum lugar para Deus para deixar Deus instalado, para imobilizar Deus num lugar. Ao contrário, Deus desceu para a terra precisamente para habitar na casa do homem. Deus não habita nas paredes de uma igreja. Ele quer instalar-se em nossa casa, em sua casa, em minha casa. Deus quer instalar-se em nossa vida, em cada família, no centro de nossos trabalhos cotidianos. Que adiante visitarmos Deus nas igrejas que construímos, se Ele não tem nenhum cantinho na sua casa, na sua família, no nosso trabalho, nas nossas conversas? As igrejas que construímos deve ser manifestação de nossa vida de fraternidade, mostrando que somos todos irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai celeste. O coração do homem é o lugar preferido de Deus. Um coração que ama é a melhor morada de Deus: “Se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Se cada um tiver lugar para Deus na sua família, essa família vai experimentar também a transfiguração, a glorificação.


4. É Preciso Escutarmos a Jesus Permanentemente Para Orientar Nossa Vida e Para Termos a Paz


Este é o meu Filho, o amado, escutai-O


Na verdade, cada um de nós é vítima da agressão externa de hordas de palavras, de sons muito altos, de clamores que ensurdecem o nosso coração, o nosso dia e até mesmo, às vezes, a nossa própria noite. A pessoa que expulsa de seus pensamentos o Deus vivo, Aquele que é o único capaz de encher todos os espaços, o Único capaz de satisfazer seus anseios se torna uma pessoa vazia. Para preencher esse vazio, ele quer só barulho, pois aquilo que não temos dentro de nós somos obrigados a buscá-lo fora de nós.


A voz do Pai do céu fala para nós hoje sobre Jesus: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”.  Por que precisamos escutar a Jesus permanentemente? Porque ele tem uma palavra para mim, para minha família, para meu casamento, para meu trabalho, para meus problemas, para minha angústia, para minha depressão, para minha confusão até para a minha doença e dor e assim por diante. Eu posso escutar esta palavra no silêncio e na paz. Eu preciso me alimentar desta escuta para que eu cresça na fé e me realize como pessoa muita humana.


Para termos a capacidade e uma atitude de escuta, temos que saber primeiro criar o silêncio. O silêncio possibilita a presença da eternidade. Todas as obras primas da história foram frutos do silêncio. Quem fala muito é porque não tem tempo para pensar. E a Palavra de Deus nos diz que quem fala muito a possibilidade de pecar é muito grande, pois no falar muito está o pecado. O silêncio nos ajuda a calarmos em nós a fantasia para viver a vida na sua profundidade, na sua originalidade que é dom de Deus.


Portanto, vale a pena cada um se perguntar: De que modo você escuta Jesus Cristo diariamente? Quais são seus momentos de silêncio e de escuta da Palavra de Deus no seu dia a dia? Você é uma pessoa que sabe escutar os outros? Escutar o outro também faz parte da espiritualidade cristã.


Jesus foi transfigurado. A transfiguração do homem é um sonho tão antigo quanto a humanidade. Na cena da transfiguração de Jesus o verbo se usa na voz passiva: “foi transfigurado”. Isto significa que o sujeito que transfigura o homem é o próprio Deus. Na cena que contemplamos, Deus realiza na nossa terra, na nossa história a transfiguração ou a glorificação de quem vive dentro da vontade ou plano de Deus. Na vivência da Palavra de Deus fielmente, a fragilidade de nossa carne receberá a investidura da glória de Deus. No corpo transfigurado de Jesus de Nazaré estamos contemplando a transfiguração da nossa humanidade. Vale a pena seguir a Jesus para chegar à transfiguração de nossa vida.


Há várias maneiras para uma pessoa transformar-se. A pessoa pode transformar-se com uma ideia positiva e muito feliz, com uma surpresa agradável, a tal ponto de perder a cor, conservando uma face tranquila e quase infantil. A partir da ideia bíblica, a transfiguração tem esse último sentido, em que o divino, fazendo-se ver de modo palpável e feliz, transforma a pessoa de tal modo que ela chega até a perder peso e levitar. Dizem que os santos, que adquirem alto grau de mística, passam por experiência semelhante, de levitação e transfiguração.


Quais são momentos que você cria diariamente para que o divino possa se revelar para os outros através de sua vida? Quais são momentos de “montanha” (silêncio para se comunicar com o divino) na sua vida diária?

P. Vitus Gustama,svd

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