sexta-feira, 13 de outubro de 2017

18/10/2017
 

LUCAS EVANGELISTA
18 de Outubro

Primeira Leitura: 2Tm 4,10-17b
Caríssimo:10 Porque Demas preferiu amar este mundo e me abandonou. Foi para Tessalônica. Crescente partiu para a Galácia e Tito para a Dalmácia. 11 Somente Lucas está comigo. Procura a Marcos e traze-o contigo, porque poderá me ajudar no ministério. 12 Enviei Tíquico a Éfeso. 13 Quando vieres, traze a minha capa que deixei na casa de Carpo em Trôade, e também os livros, principalmente os pergaminhos.14 Alexandre, o fundidor, me tem dado provas de grande malvadeza. O Senhor lhe retribuirá de acordo com as suas obras. 15 Também tu, toma cuidado com ele, porque fez violenta oposição às nossas pregações. 16 Em minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado. Todos me abandonaram. Que Deus não leve isso na devida conta.17 Mas o Senhor veio me ajudar e me deu forças para que, por meio de mim, se realizasse plenamente a pregação e todos os não judeus a ouvissem.

Evangelho: Lc 10,1-9
Naquele tempo, 1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”
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I. Evangelista Lucas

Não temos autobiografia do evangelista Lucas. Mas através de suas duas obras (o evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos) podemos saber e conhecer quem é Lucas. Aqui coloquei apenas algumas pinceladas sobre o perfil do evangelista Lucas. Tudo fica aberto para qualquer acréscimo.

Lucas é um homem culto. O seu grego é um dos mais apurados do Novo Testamento. É um escritor de bom gosto. Em vez de usar palavra “prostituta” ele usa a expressão “mulher pecadora”.

É um homem da cidade. Nas suas obras ele fala constantemente de cidades (40 vezes. Hoje em dia mais de dois terços da população mundial moram nas cidades, o que exige a coragem de ousar novos caminhos na nova evangelização).

Ele tem certa visão universal. Em vez de usar a expressão “o mar da Galiléia”, ele usa a expressão “o lago da Galileia” (o lago da Galileia tem 13 km por 8 km de tamanho).

É um homem muito sensível para a questão social: ele ataca as desigualdades entre os ricos e os pobres, defende a dignidade da mulher (mulher era inferior em tudo), se preocupa com o faminto, com o pobre, com aquele que chora.

Ele é um homem de extrema bondade e compaixão em relação aos fracassados na vida em todos os sentidos. Podemos encontrar tudo isso, como exemplo, a parábola do filho pródigo que é uma das grandes peças da literatura universal e uma das mais conhecidas parábolas jamais contadas, quase que é um evangelho dentro do evangelho. Ele crê que o fracasso não deva vencer o homem; deve-se dar sempre um salto por cima de todos os fracassos e “começar” sempre confiando na misericórdia de Deus sem limites (“começar” é o termo que Lucas usa). Para Lucas, a misericórdia é o critério supremo da vida cristã. A misericórdia supera ou vence o próprio juízo de Deus.

Lucas é um homem extremamente ecumênico. Na sua orientação ecumênica ele envolve os próprios judeus. Ele mostra para com os judeus a mais profunda simpatia e preocupação. Ele tem uma profunda clareza sobre a salvação trazida por Jesus. A salvação é para todos, sem fronteiras nem preconceitos.

Lucas é chamado de “o evangelista da oração”. O evangelho de Lucas é o único que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da oração. Neste evangelho, Jesus orou em cada decisão importante e em todo momento decisivo de sua vida. Ele orou no batismo (3,21), antes de escolher os discípulos (6,12), em Cesaréia de Filipe na profissão da fé de Pedro (9,8), no monte Tabor na transfiguração (9,28s), no Jardim de Getsêmani (22,39-46), na cruz (23,34.46)e ensinou aos discípulos o Pai-Nosso (11,1ss). Neste evangelho podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (1,46-56); o Benedictus (1,67-79); o Glória (2,14); o Nunc Dimittis (2,29-32). Além disso, Lucas ainda coloca três parábolas sobre oração (11,5-13;18,1-8;18,9-13). A oração é a expressão mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora porque tem fé. A oração é também o lugar da revelação. Deus se manifesta quando alguém está em sintonia com Deus e com a realidade. Na oração verdadeira Deus se revela. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. No seguimento de Jesus, a oração sustenta a caminhada do cristão. Na medida em que ele reza verdadeiramente, a sua vida se transforma. A vida e a oração se tornam uma unidade. Quem reza desligando-se da realidade é uma alienação, é uma fuga. Um verdadeiro cristão reza aquilo que ele vive e vive aquilo que ele reza. Por isso, quem sabe viver bem sabe também rezar bem e quem sabe rezar bem também sabe viver bem.

O evangelho de Lucas é o evangelho de alegria. O verbo “alegrar-se” ocorre 7 vezes em Lucas e nunca nos demais evangelhos. O substantivo “alegria” ocorre 12 vezes em Lucas, e 16 vezes nos três outros evangelhos (1,14.44.47.58;2,10;10,17.20.21;15,8-10.11-36;19,6.37;24,52-53. A alegria é o fruto de uma oração profunda. A alegria é a característica do cristão verdadeiro que vive na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição; que vive na certeza de uma vitória sobre o fracasso. A alegria é em Lucas um mandamento de Jesus: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20). A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.

O evangelho de Lucas é o evangelho do Espírito. Lucas - Atos (dos Apóstolos) seria “um verdadeiro tratado de pneumatologia” (ciência sobre o Espírito Santo), segundo Lina Boff. Lucas divide a história da salvação em três etapas: 1). O tempo de Israel; 2). O tempo de Jesus; 3). O tempo da Igreja. E como fio condutor destes três tempos ou etapas é o Espírito Santo. O Espírito Santo é que conduz e guia todos estes tempos. O Espírito Santo funda a missão de Jesus e funda a missão da Igreja. O Espírito Santo é o ponto de união entre o Antigo testamento e o Novo Testamento. O Espírito Santo está no início e no decurso do ministério de Jesus. Ele está no início e na caminhada da Igreja: as comunidades são fruto e manifestação do Espírito Santo. O Espírito Santo é dinamismo, abertura para o novo, dom e compromisso, força que leva a enfrentar o novo e o desconhecido.

Símbolo do Evangelho de Lucas é TOURO- Refere-se ao ofício de Zacarias. Como sacerdote Zacarias oferecia sacrifícios. Jesus vem suprimir esses sacrifícios de animais (Cf. Hb 9,11-14).

II. Mensagem do Evangelho do Dia

O texto do evangelho de hoje nos relata que Jesus envia 70 (e dois) discípulos para a missão. Com o número setenta (e dois) Lucas quer nos dizer que a missão não é apenas exercida por um pequeno grupo de pessoas, mas todos os que  seguem a Jesus têm a mesma missão de continuar a obra de Jesus. Todos os cristãos tem a mesma missão. Missão significa que alguém é enviado. Jesus envia todos os cristão ao mundo para serem testemunhas de tudo o que Jesus fez e disse, especialmente de sua morte e ressurreição. Infelizmente, porém, fizemos e fazemos da Igreja, muitas vezes, não uma estrutura aberta a serviço do mundo, mas uma arca da salvação. Pensamos em nós mesmos como o povo escolhido, separado do resto, salvo do mundo malvado. Se o cristianismo é simplesmente um caminho de vida para nós, ficamos felizes por viver e deixar de viver: tolerantes e conciliadores. Se, porém, pensarmos em nós como sal ou fermento, então buscaremos não apenas estar presentes mas também transformar.

Os setenta (e dois) são enviados como cordeiros entre os lobos. O lobo é o símbolo da violência e da arrogância, símbolo da vontade de dominar e de corromper os outros. O cordeiro simboliza a mansidão, a fraqueza, a fragilidade. O cordeiro   só consegue se salvar da agressão do lobo se o pastor intervém na sua defesa. Os discípulos não podem contar com a força, o poder e a violência. Devem estar sempre desarmados. Para isso, é necessário que os discípulos estejam vigilantes para que eles não sejam conduzidos a cumprir as ações dos lobos como o abuso de poder, as agressões, as violências etc.  Além disso, eles devem estar conscientes de que a calúnia, a perseguições e até a morte são o resultado de quem trabalha na messe do Senhor porque diante dos poderosos deste mundo que se preocupam com o próprio poder, os discípulos precisam falar da justiça, da vida, do bem e do plano de Deus a respeito do universo e do destino do homem. Aparentemente o uso da força dá resultados, mas sempre se trata de resultados efêmeros. Jesus salvou o mundo, comportando-se como cordeiro, não como lobo.

Os setenta (e dois) discípulos são enviados na pobreza por um bem superior. Quando se fala da pobreza sublinha-se principalmente a pobreza do ser. Esta pobreza nos faz vinculados essencial e existencialmente a um outro ser, no caso, a Deus. Esta pobreza é a raiz e causa de toda e qualquer outra pobreza, especialmente a pobreza voluntária. Aceitar a pobreza voluntária significa viver sem segurança. Aceitar a pobreza é um verdadeiro desprendimento, uma espécie de morte.

Outras recomendações:

Primeiro, Deus quer que mudem as relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem como irmãos. Por isso, eles têm que viver como uma família, sem competições e sem ambições. O Reino não é tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia os 70 (e dois) de dois em dois para que se ajudem, se confrontem e se complementem. Quando se compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a experiência do grupo de Jesus e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.

Segundo, o Reino de Deus que eles anunciarão vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última palavra e não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham vida (Jo 10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte eterna, e pelo bem e não pelo mal.

Terceiro, todos devem pôr toda sua confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição fundamental para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no espírito. Essa pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho maior do que mil palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se oferece como amor e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a reconstruir as relações de confiança formando uma comunidade de irmãos como o próprio Deus quer. Devemos abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência e nos entregar nas mãos de Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora.

O fundamental que os discípulos devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina.

O envio dos 70 (e dois) tem, então, como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus.

A missão serve tanto para formar missionários como para despertar os que são visitados para serem também missionários. Todos são enviados para fazer missão.

É bom cada um perguntar-se: “O que é que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”.
P. Vitus Gustama,svd

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